tag:blogger.com,1999:blog-17371386558029244142024-03-26T23:36:53.096-07:00Geografia - isso não serve para fazer nadaGeografia - isso não serve para fazer nada é um fórum de discussão sobre a atualidade da geografia, sociedade e natureza.João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.comBlogger159125tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-79376794054886547482024-03-01T14:40:00.000-08:002024-03-01T14:57:47.227-08:00A resolução dos rebeldes de Kronstadt<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrttdARqw9myaqj1DkgUbK4wXD-Wv1KMiM95atb25gpYIH9czNh2sEtT4cab34_CCeQIypzXMyK3u23LmZ8JtR2720JgyDtsMp04oy_sE3HqOlNMePW6EO23hpkYG5QRXvjJu8OJ7n5tkFliOmNF2PLh_cIWLgE7mgNXzyR7LciqCiD-aYT6ScXyDYsa20/s882/resolu%C3%A7%C3%A3ok.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="882" data-original-width="452" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrttdARqw9myaqj1DkgUbK4wXD-Wv1KMiM95atb25gpYIH9czNh2sEtT4cab34_CCeQIypzXMyK3u23LmZ8JtR2720JgyDtsMp04oy_sE3HqOlNMePW6EO23hpkYG5QRXvjJu8OJ7n5tkFliOmNF2PLh_cIWLgE7mgNXzyR7LciqCiD-aYT6ScXyDYsa20/s16000/resolu%C3%A7%C3%A3ok.png" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Do dia 1 a 18 de março
de 1921, ocorreu um levante na base naval da Frota do Báltico, situada na
cidade-fortaleza de Kronstadt, fundada por Pedro I, na ilha de Kotlin, Golfo da
Finlândia, que entrou para a história da Guerra Civil na Rússia Soviética como
a “Rebelião de Kronstadt”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 28 de fevereiro de
1921, em uma assembleia geral das equipes dos navios de guerra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sevastopol</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Petropavlovsk</i>, foi adotada uma resolução exigindo a reeleição do
conselho em Kronstadt (soviete) e reivindicado a remoção do Partido Comunista
Bolchevique do poder.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No dia 1º de março, uma
resolução foi aprovada por uma manifestação da guarnição e dos moradores da cidade
que se reuniram para comemorar o aniversário da Revolução de Fevereiro de 1917,
na Praça da Âncora, em Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 2 de março, foi
realizada uma reunião geral de representantes das tripulações de navios e
unidades do Exército Vermelho, na qual foi decidido a criação de um Comitê
Revolucionário Provisório (CRP), em Kronstadt, para organizar "eleições
livres e justas para um novo conselho" da cidade fortaleza.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No apelo lançado pelo
Comitê Militar Revolucionário, os bolcheviques foram acusados de serem
responsáveis pela ruína econômica, fome e frio no país, causando, por
conseguinte, agitação entre os trabalhadores de Petrogrado e Moscou. Com o
início do levante, cerca de 900 comunistas da guarnição de Kronstadt deixaram o
PCR.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O governo se recusou a
negociar com a guarnição insurgente de Kronstadt e, no dia 4 de março de 1921,
em nome do Comitê de Defesa de Petrogrado, foi lançado um ultimato, denominado
“Kronstadt enganada”, que exigia o fim da rebelião. Trotsky confiou a liderança
direta da operação militar ao comandante do Exército Vermelho Tukhachevsky. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A guarnição de Kronstadt
consistia de um efetivo de 17.961 homens, 134 canhões pesados, 62 canhões
leves, 24 canhões antiaéreos e 126 metralhadoras. Era uma força formidável
capaz de se defender com sucesso. Além disso, os participantes do levante
esperavam que “Makhno e Antonov insurgissem em seu apoio”, ou seja, dando
início de uma série de revoltas camponesas na Ucrânia e na província de Tambov.
Em contrapartida, sob o comando de Tukhachevsky, as forças reunidas eram bem
mais modestas - cerca de 11.000 pessoas, com 96 metralhadoras e 84 canhões.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O poder em Kronstadt
estava concentrado nas mãos do Comitê Revolucionário Provisório, formado por 15
veteranos e chefiado pelo escrivão sênior do encouraçado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Petropavlovsk</i>,</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Stepan
Maximovich Petrichenko, que demonstrava simpatia política aos Socialistas Revolucionários
de esquerda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Segundo os
bolcheviques, a defesa de Kronstadt durante a revolta estava sob o comando do
Quartel-General da Fortaleza, supervisionado por especialistas militares,
incluindo o chefe da artilharia, o ex-major-general do exército czarista A.N.
Kozlovsky. Para o governo, a grande maioria dos comandantes e oficiais da
guarnição da fortaleza concordou em participar voluntariamente da rebelião.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O programa político do
levante foi formulado em 1º de março de 1921, através da resolução aprovada pela
reunião dos marinheiros dos encouraçados <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Petropavlovsk</i>
e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sevastopol</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Possui 15 itens:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“1) Tendo em vista que
os sovietes não expressam mais a vontade dos operários e camponeses, requer-se
a realização imediata de eleição para os sovietes por voto secreto e
campanha<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>preliminar livre com a
participação de todos os operários e camponeses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">2) Liberdade de
consciência e de imprensa para operários, camponeses, anarquistas e partidos
socialistas de esquerda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">3) Liberdade de reunião
e de associação camponesa e sindical.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">4) Convocação de uma
conferência não partidária de operários, camponeses, soldados do Exército Vermelho
e marinheiros das montanhas, de Kronstadt e de Petrogrado e província, até 10
de março de 1921, o mais tardar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">5) Libertação de todos
os presos políticos de partidos socialistas, bem como todos os trabalhadores e
camponeses, soldados do Exército Vermelho e marinheiros envolvidos em
movimentos operários e camponeses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">6) Eleição de uma
comissão para analisar os casos de prisioneiros em campos de concentração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">7) Abolir todos os
departamentos políticos, pois nenhum partido pode gozar de privilégios para
propagar suas ideias e receber fundos do Estado em sua própria causa. Em vez
disso, estabelecer comissões culturais e educacionais eleitas localmente, para
as quais os fundos devem ser alocados pelo Estado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">8) Remoção imediata de
todos os destacamentos de estradas (blitz).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">9) Uniformizar as
porções de ração para todos os trabalhadores, com exceção daqueles que exercem
atividade insalubre nas oficinas de alto risco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">10) Abolir os
destacamentos de combate comunista em todas as unidades militares, bem como em
fábricas e usinas; se tais destacamentos forem necessários, no entanto, estes
podem ser designados para unidades militares de empresas, fábricas e usinas,
seguindo critérios estipulados por trabalhadores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">11) Pleno direito de
usufruto dos camponeses sobre suas terras e também <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o gado, salvo em caso de uso de mão de obra
assalariada que está proibida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">12) Pedimos a todas as
unidades militares, bem como aos colegas cadetes militares, para que apoiem à
nossa resolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">13) Exigimos que todas
as resoluções sejam amplamente divulgadas na imprensa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">14) Nomeação de uma
agência de inspeção para controle.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">15) Permitir a livre
produção de artesanato por meio de mão de obra própria e não assalariada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O significado geral do
programa da guarnição rebelde era o de rejeitar a política do “comunismo de
guerra”. Ao mesmo tempo, no bloco econômico, a maioria dos requisitos não
contradizia com as novas diretrizes econômicas – a NEP – que já havia sido
aprovada pela liderança bolchevique nas vésperas do X Congresso do PCR. Mas a
parte política do programa estava permeada pela aspiração de apear os bolcheviques
do poder. O lema “Todo poder aos sovietes, não aos partidos” tornou-se o
principal slogan do movimento de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Tendo em vista a
escassez de alimentos, a CRP estabeleceu normas fixas para a distribuição
diária de alimentos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O primeiro assalto à
fortaleza teve início em 7 de março de 1921. O ataque falhou devido à rendição
do batalhão do 561º regimento, que participava da ofensiva. Em 10 de março,
unidades da 27ª divisão, com obuses e artilharia pesada, foram transferidas da
Frente Ocidental. No dia 17 de março iniciou-se um novo assalto e a queda da
fortaleza. Uma parte significativa dos rebeldes, incluindo a maioria dos
membros do Comitê Militar Revolucionário, deixou Kronstadt através do Golfo da
Finlândia, evadindo-se para a Finlândia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As perdas das tropas
soviéticas totalizaram 3 mil e 143 pessoas; enquanto as perdas dos rebeldes
ultrapassaram mil pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Três mil “participantes
ativos na rebelião” foram presos, alguns dos quais condenados à morte, outros a
cinco anos de trabalhos forçados e cerca de um terço deles foi libertado ou
condenado a um ano de serviço comunitário em liberdade condicional. Os
encouraçados rebeldes foram renomeados: o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sevastopol</i>
se tornou “Comuna de Paris” e o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Petropavlovsk</i>,
"Marat".<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Presidente da Rússia
baixou um decreto datado de 10 de janeiro de 1994, nº 65: “Sobre os eventos em
Kronstadt na primavera de 1921”. Segundo o documento, os participantes do
levante foram reabilitados e foi tomada a decisão de erguer um memorial para
todas as suas vítimas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A memória histórica registrou
o levante de Kronstadt como um símbolo de ideais da aspiração por uma sociedade
livre e de autogoverno, de um sistema de poder desprovido de conteúdo
político-partidário e da liberdade própria da revolução russa como um todo.</span></p><p></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-46610953457215002572024-02-02T18:47:00.000-08:002024-02-02T18:58:28.102-08:00O Congresso Camponês, por John Reed<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNLi3Fd04mg7X27nXjgtBmVNd5T7vmaURXJnC7I8WRmzEl9QQnT39wawlqYsO21QurHupH3BtID0Os_zmrgmkSxBzF3Geu3X37oLghOFlK4IP7g7_J1bN49XMpK2KaI0poE9HQTSdw50PNMiYdIZGsuBB4EL_c1S6-3v2o2Uv9C36SZ9yfCfkI_wuN2sd4/s268/10%20dias.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="188" data-original-width="268" height="449" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNLi3Fd04mg7X27nXjgtBmVNd5T7vmaURXJnC7I8WRmzEl9QQnT39wawlqYsO21QurHupH3BtID0Os_zmrgmkSxBzF3Geu3X37oLghOFlK4IP7g7_J1bN49XMpK2KaI0poE9HQTSdw50PNMiYdIZGsuBB4EL_c1S6-3v2o2Uv9C36SZ9yfCfkI_wuN2sd4/w640-h449/10%20dias.jpg" width="640" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 18 de novembro,
começou a nevar. Quando acordamos, de manhã, os beirais das janelas estavam
cobertos de branco, e os flocos caíam com tanta densidade, que era impossível
enxergar para além de dez passos. A lama desaparecera; em um piscar de olhos, a
cidade escura se tornara toda branca, cintilante. Os droshki, com seus
cocheiros agasalhados e as barbas salpicadas de branco, tinham se transformado
em verdadeiros trenós, deslizando a toda velocidade, aos solavancos, pelas ruas
desniveladas… Apesar da Revolução e de que a Rússia estivesse mergulhando
vertiginosamente em um futuro terrível e desconhecido, a chegada da neve encheu
de alegria a cidade. Todos sorriam; as pessoas saíam para as ruas, esticando os
braços, sorridentes, para alcançar os flocos de neve em sua queda. Tudo o que
era cinzento desaparecera; apenas as flechas e cúpulas douradas e coloridas,
com seu maravilhoso esplendor potencializado, brilhavam em meio à neve branca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Até mesmo o sol
resolveu aparecer, pálido e lavado, ao meio-dia. Os resfriados e reumatismos
dos meses de chuva iam embora. Alegrou-se a vida na cidade e a Revolução começou
a se acelerar…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Uma noite, eu estava em
um traktir — uma espécie de cabaré popular — em frente ao Smolny, do outro lado
da rua; era um local barulhento e com pé-direito baixo, chamado “A Cabana do
Pai Tomás”, frequentada principalmente por Guardas Vermelhos. Eles lotavam o lugar
naquela noite, amontoados em torno de pequenas mesas com toalhas manchadas e enormes
chaleiras de porcelana, enchendo o ar de fumaça, enquanto os garçons, exaustos,
corriam para todos os lados gritando “Seichass! Seichass! Já vou! Já vou!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em um dos cantos, um
homem sentado, com uniforme de capitão, se dirigia a um grupo, que o
interrompia a todo instante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Vocês não passam de
uns assassinos!”, gritava ele. “Atirando nos seus próprios irmãos russos no
meio das ruas!” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Quando foi que fizemos
isso?”, perguntou um operário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“No domingo passado,
quando os yunkers…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Pois bem, e eles não
atiraram em nós?” Um dos homens exibiu o braço pendurado em uma tipoia. “E eu,
não tenho algo aqui para guardar de lembrança desses demônios?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O capitão então gritou
com a força máxima de sua voz. “Vocês deveriam ficar neutros! Vocês deveriam
ficar neutros! Quem vocês pensam que são para derrubar o governo legal? Quem é
Lênin? Um alemão…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Quem é você? É um
contrarrevolucionário! Um provocador!”, bradaram os outros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quando o grupo se
acalmou um pouco, o capitão se levantou. “Muito bem!”, disse ele. “Vocês dizem
que são o povo russo. Mas vocês não são o povo russo. O povo russo são os
camponeses. Esperem só, até que os camponeses…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Sim”, gritaram,
“esperemos até que os camponeses se pronunciem. Nós sabemos o que eles vão
dizer… Pois não são trabalhadores, como nós?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em resumo, tudo
dependia dos camponeses. Embora politicamente atrasados, tinham suas próprias
ideias e formavam mais de 80% da população russa. Os bolcheviques contavam com relativamente
poucos seguidores entre os camponeses; e seria impossível durar para sempre, na
Rússia, uma ditadura dos operários industriais… O partido camponês tradicional
era o Partido Revolucionário Socialista; de todos os partidos que agora apoiavam
o governo soviético, os Socialistas Revolucionários de Esquerda seriam, pela lógica,
os herdeiros da liderança camponesa — e os Socialistas Revolucionários de Esquerda,
por sua vez, colocados à mercê do proletariado urbano organizado, precisavam
desesperadamente de apoio em meio aos camponeses…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nesse entretempo, o
Smolny não negligenciara o peso dos camponeses. Depois do Decreto sobre a
Terra, um dos primeiros atos do Tsik foi convocar um Congresso Camponês,
passando por cima do Comitê Executivo dos Sovietes de Camponeses. Poucos dias
depois, divulgou-se o regulamento detalhado dos Comitês Agrários de Volost
(distritos), seguido da Instrução aos Camponeses de Lênin, que explicava, em
palavras simples, a revolução bolchevique e o novo governo; no dia 16 de
novembro, Lênin e Mily utin divulgaram as Instruções aos Emissários Provisórios,
enviados aos milhares às províncias pelo governo soviético:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">1.
Assim que chegar à província da qual foi encarregado, o emissário deverá
convocar uma reunião conjunta de todos os Comitês Executivos dos Sovietes de
Deputados Operários, Soldados e Camponeses, para os quais deve fazer um relato
a respeito das leis agrárias e em seguida pedir a convocação de uma reunião
plenária dos sovietes…<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">2.
Ele deve estudar os diversos aspectos da questão agrária da província.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">(a)
Foram os grandes proprietários afastados? Se sim, em quais distritos?<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">(b)
Quem administra as terras que foram confiscadas? Os antigos proprietários ou os
comitês agrários?<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">(c)
O que foi feito dos equipamentos de uso rural e dos animais das fazendas?<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">3.
Houve aumento da área cultivada pelos camponeses?<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">4.
Em quanto a quantidade de terra cultivada difere da quantidade média mínima determinada
pelo governo?<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">5.
O emissário deve insistir em que, depois de os camponeses receberem a terra, é imperativo
que incrementem a área cultivada o mais rápido possível e que acelerem o envio de
grãos para as cidades, como única forma de combater a fome.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">6.
Quais são as medidas previstas ou já executadas para a transferência da terra
dos grandes proprietários para os comitês agrários ou organizações similares
designadas pelos sovietes?<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">7.
É desejável que as propriedades rurais bem conduzidas e bem equipadas sejam administradas
pelos sovietes compostos pelos funcionários regulares dessas propriedades sob a
supervisão de engenheiros agrônomos.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Espalhou-se por todos
os vilarejos o fermento da mudança, estimulado não só pelo impacto eletrizante
do Decreto sobre a Terra, mas também pela presença de milhares de camponeses soldados
adeptos da Revolução que retornavam do front… Esses homens, em especial, receberam
muito bem a convocação do Congresso Camponês.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Como o antigo Tsik
fizera em relação ao segundo Congresso de Sovietes de Operários e Soldados, o
Comitê Executivo tentou esvaziar o Congresso Camponês convocado pelo Smolny. E,
assim como o antigo Tsik, verificando a inutilidade de sua resistência, o
Comitê Executivo espalhou telegramas frenéticos orientando que se elegessem
delegados conservadores. Divulgouse até mesmo, entre os camponeses, que o
Congresso seria realizado em Moghilev, e alguns delegados chegaram a ser
mandados para lá; mas, em 23 de novembro, cerca de quatrocentos deles estavam
em Petrogrado, e tiveram início as reuniões dos partidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A primeira sessão se
realizou na sala Alexander do edifício da Duma, e a primeira votação mostrou
que metade dos delegados era de Socialistas Revolucionários de Esquerda,
enquanto os bolcheviques controlavam cerca de 20%, os socialistas revolucionários
conservadores cerca de 25%, e o restante se unia apenas em torno da oposição ao
antigo Comitê Executivo, dominado por Avksentiev, Tchaikovski e Peshekhonov…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A grande sala,
abarrotada, se agitava com os clamores incessantes; um profundo e permanente
amargor dividia os delegados em grupos raivosos. À direita, viam-se as
ombreiras cintilantes dos oficiais e os rostos patriarcais e barbudos dos camponeses
mais velhos e abastados; ao centro, alguns poucos camponeses, suboficiais e
soldados; e, à esquerda, quase todos os delegados usavam uniformes de soldados
comuns. Estes representavam a nova geração, que estivera servindo o Exército…
As galerias estavam lotadas de operários — que, na Rússia, ainda se lembravam
bem de sua origem camponesa…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Diferentemente do que
fizera o antigo Tsik, o Comitê Executivo não reconheceu o Congresso como
oficial — o Congresso oficial estava convocado para 13 de dezembro. Em meio a
uma tempestade de aplausos e gritos irados, o representante do Comitê Executivo
anunciou que aquele encontro era apenas uma “Conferência Extraordinária…”. A tal
“Conferência Extraordinária”, porém, logo mostrou como via o Comitê Executivo,
elegendo Maria Spiridonova, líder dos Socialistas Revolucionários de Esquerda,
para presidir os trabalhos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A maior parte do
primeiro dia de trabalho foi tomada por um violento debate sobre se os representantes
dos sovietes distritais também seriam admitidos, ou se seriam apenas os dos sovietes
das províncias. Como ocorrera no Congresso dos Operários e Soldados, a imensa
maioria se declarou favorável à mais ampla representação possível, o que levou
o velho Comitê<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Executivo a se retirar
do encontro…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em seguida, ficou
evidente que a maioria dos delegados era hostil ao governo dos Comissários do
Povo. Zinoviev, tentando falar em nome dos bolcheviques, foi enxotado, e, sem
conseguir falar, ao deixar a tribuna em meio a muitos risos ouviu gritos de
“Vejam como fugiu da raia nosso comissário do Povo!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Nós, Socialistas
Revolucionários de Esquerda”, disse Nazariev, um delegado das províncias, “nos
recusamos a reconhecer esse autodenominado Governo Operário e Camponês enquanto
os camponeses não estiverem realmente representados nele. Até o momento, ele
não é outra coisa senão uma ditadura dos operários… Insistimos na necessidade
da formação de um novo governo que represente a democracia como um todo!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os delegados
reacionários estimularam habilmente essa atitude, declarando, diante dos protestos
das fileiras dos bolcheviques, que o Conselho dos Comissários do Povo estava procurando
ou controlar o Congresso ou então dissolvê-lo com o uso da força — afirmação
que foi recebida com grande fúria pelos camponeses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No terceiro dia, Lênin
subiu de repente à tribuna. Durante dez minutos, a sala foi à loucura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Tirem-no daí!”,
gritavam. “Não ouviremos nenhum de seus comissários do Povo! Não reconhecemos
seu governo!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Lênin permaneceu ali,
calmo, segurando o púlpito com as duas mãos, pensativo, os olhos pequeninos
observando o tumulto à sua frente. Finalmente, com exceção da ala direita, as manifestações
cessaram por si só, quase por inteiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Não estou aqui como
membro do Conselho dos Comissários do Povo”, disse Lênin, e aguardou novamente
que o silêncio voltasse. “Mas sim como membro da facção bolchevique, devidamente
eleita para este Congresso.” E ergueu sua credencial, de modo a que todos pudessem
vê-la.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“No entanto”, retomou
com uma voz monocórdia, “ninguém poderá negar que o atual governo da Rússia foi
formado pelo Partido Bolchevique” — teve de aguardar um momento — “o que, para
todos os propósitos, dá na mesma…” Nesse instante, das fileiras da direita
emanou uma barulheira ensurdecedora, mas o centro e a esquerda, que se
mostravam curiosos, impuseram o silêncio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O argumento de Lênin
era simples. “Digam-me francamente, vocês, camponeses, a quem nós transferimos
as terras dos pomieshchiki. Vocês gostariam de impedir que os operários assumissem
o controle das fábricas? Trata-se de uma guerra de classes. É evidente que os pomieshchiki
se opõem aos camponeses assim como os industriais se opõem ao operários. Vocês permitirão
que as fileiras do proletariado se dividam? De que lado vocês ficarão?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Nós, bolcheviques,
somos o partido do proletariado — tanto do proletariado camponês quanto do
proletariado industrial. Nós, bolcheviques, somos defensores dos sovietes,
tanto dos sovietes camponeses quanto dos sovietes operários e de soldados. O
atual governo é um governo dos sovietes; não apenas convidamos os sovietes
camponeses a integrar esse governo, como também convidamos representantes dos
Socialistas Revolucionários de Esquerda a integrar o Conselho dos Comissários
do Povo…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Os sovietes são a
forma mais perfeita de representação do povo — dos operários das fábricas e das
minas e dos trabalhadores do campo. Quem quer que procure destruir os sovietes
é culpado de ato antidemocrático e contrarrevolucionário. E devo alertá-los
aqui, camaradas Socialistas Revolucionários de Direita — e também aos senhores
do Cadete —, de que, se a Assembleia Constituinte tentar acabar com os
sovietes, não permitiremos, em hipótese alguma, que ela o faça!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Na tarde de 25 de
novembro, Tchernov chegou esbaforido de Moguilev, chamado pelo Comitê
Executivo. Considerado apenas dois meses antes um revolucionário radical, e
bastante popular entre os camponeses, fora chamado, agora, para evitar o
perigoso deslocamento operado pelo Congresso para a esquerda. Assim que chegou,
Tchernov foi preso e levado ao Smolny, onde, depois de uma breve conversa, foi
liberado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Seu primeiro ato foi
repreender severamente os membros do Comitê Executivo pela decisão de se
retirar do Congresso. Eles concordaram, então, em retornar, e Tchernov adentrou
a sala, recebido com fortes aplausos pela maioria e com gritos e vaias pelos
bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Camaradas! Eu estava
fora, participando da Conferência do 12º. Exército sobre a questão da convocação
de um congresso de todos os delegados dos exércitos da frente ocidental, e sei
muito pouco a respeito da insurreição que ocorreu aqui…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Zinoviev se levantou e
gritou: “Sim, você estava fora… por alguns minutos!”. Um tumulto enorme, e
gritos de “Abaixo o bolchevique!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Tchernov prosseguiu
falando. “A acusação de que ajudei a conduzir um exército contra Petrogrado não
tem fundamento e é absolutamente mentirosa. De onde veio essa informação?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Digam-me qual é a
fonte!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Zinoviev: “Do Izvestia
e do Dielo Naroda — seu próprio jornal. Daí que veio a informação!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O rosto de Tchernov,
grande, com olhos pequeninos, cabelos ondulados e barba grisalha, ficou corado
de raiva, mas ele conseguiu se controlar e seguiu em frente. “Repito que não
sei quase nada sobre o que se passou aqui, e que não liderei nenhum exército, a
não ser este [e indicou os delegados camponeses], por cuja presença, aqui, sou
amplamente responsável!” Risos e gritos de “Bravo!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Assim que cheguei,
estive no Smolny. Essa acusação não foi feita a mim ali… Saí de lá depois de
uma rápida conversa — e é só! Que alguém presente nesta sala tenha a ousadia de
repetir tal acusação!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Seguiu-se um tumulto
generalizado, durante o qual os bolcheviques e alguns Socialistas Revolucionários
de Esquerda se mantiveram de pé brandindo os punhos e gritando, enquanto o restante
da assembleia tentava calá-los gritando ainda mais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Isto é uma vergonha,
não uma reunião!”, exclamou Tchernov, deixando a sala. Devido ao tumulto e à
desordem que se instalou, o encontro foi suspenso…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Enquanto isso, a
questão do papel e das atribuições do Comitê Executivo ocupava todas as cabeças.
Ao se chamar a reunião de “Conferência Extraordinária”, a intenção era impedir
uma nova eleição para o Comitê Executivo. Tal postura, porém resultou em uma
faca de dois gumes: os Socialistas Revolucionários de Esquerda decidiram que,
uma vez que o Congresso não teria poderes sobre o Comitê Executivo, este,
então, também não poderia ter poderes em relação ao Congresso. Em 25 de
novembro, a assembleia aprovou que os poderes do Comitê Executivo seriam
assumidos pela Conferência Extraordinária, na qual apenas membros do comitê
eleitos como delegados teriam direito a voto…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No dia seguinte, a
despeito da forte oposição dos bolcheviques, a resolução sofreu uma emenda que
dava aos membros do Comitê Executivo, eleitos delegados ou não, o direito de
voz e de voto na assembleia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No dia 27, deu-se o
debate sobre a questão da terra, no qual se revelaram as diferenças entre os
programas agrários dos bolcheviques e dos Socialistas Revolucionários de
Esquerda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kolchinski, falando
pelos Socialistas Revolucionários de Esquerda, traçou um panorama histórico de
como a questão da terra se desenvolveu no decorrer da Revolução. O I Congresso dos
Sovietes de Camponeses, disse ele, aprovara uma resolução oficial explícita a
favor da imediata transferência dos domínios dos proprietários rurais para as
mãos dos Comitês Agrários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas os dirigentes da
Revolução, e os burgueses do governo, insistiram em que nada fosse decidido
sobre a questão até que a Assembleia Constituinte se reunisse… O segundo
período da Revolução, o período do “compromisso”, foi marcado pela entrada de
Tchernov no Ministério.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os camponeses estavam
convencidos, então, de que finalmente a questão da terra seria tratada; mas,
apesar da decisão impositiva aprovada pelo I Congresso Camponês, os
reacionários e conciliadores do Comitê Executivo impediram qualquer passo nesse
sentido. Essa política provocou uma série de levantes rurais, que surgiram como
uma expressão natural da impaciência e da energia reprimida dos camponeses.
Estes compreenderam o claro sentido da Revolução e tentaram transformar as
palavras em ações…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Os últimos
acontecimentos”, disse o orador, “não foram um simples levante ou uma ‘aventura
bolchevique’, mas, ao contrário, uma verdadeira insurreição popular, recebida
com simpatia em todo o país…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Os bolcheviques, de
modo geral, adotaram uma postura correta em relação à questão da terra; porém,
ao recomendar que os camponeses tomassem as terras à força, cometeram um grave
erro… Desde o primeiro dia, os bolcheviques declararam que os camponeses
deveriam ocupar as terras ‘pela ação revolucionária das massas’. Isso não é
outra coisa senão a anarquia; a terra pode ser tomada de forma organizada… Para
os bolcheviques, o que importava era que os problemas da Revolução fossem
resolvidos da maneira mais rápida possível — e não estavam interessados em
saber como essas questões seriam resolvidas…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“O decreto do Congresso
dos Sovietes sobre a terra é idêntico, em seus fundamentos, às decisões do I
Congresso Camponês. Por que, então, o novo governo seguiu as táticas delineadas
por aquele Congresso? Porque o Conselho dos Comissários do Povo queria acelerar
a resolução da questão agrária, de modo a que a Assembleia Constituinte já não
pudesse fazer mais nada a respeito…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Mas o governo também
percebeu que era preciso adotar medidas práticas. Então, sem muito refletir,
adotou a Regulamentação dos Comitês Agrários, criando, com isso, uma situação estranha;
pois, se o Conselho dos Comissários do Povo abolira a propriedade privada da
terra, a regulamentação definida para os Comitês Agrários se baseava na
propriedade privada… Isso, no entanto, não ocasionou maiores problemas, porque
os Comitês Agrários não deram muita atenção aos decretos do soviete, optando
por colocar em prática suas próprias decisões — decisões baseadas nos anseios
da ampla maioria dos camponeses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Esses Comitês Agrários
não buscavam tratar da questão legislativa relacionada às terras, que deve ser
vista pela Assembleia Constituinte… Mas será que a Assembleia Constituinte
agirá conforme o desejo dos camponeses russos? Não podemos ter nenhuma certeza
em relação a isso… Tudo o que podemos dizer é que a determinação revolucionária
dos camponeses agora aflorou, e que a Constituinte se verá forçada a tratar da
questão agrária da maneira como os camponeses querem que ela trate… A
Assembleia Constituinte não se atreverá a se chocar com os anseios do povo…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Lênin falou em seguida,
sendo ouvido, dessa vez, com uma atenção intensa. “Neste momento, não estamos
tentando resolver apenas a questão agrária, mas também a questão da Revolução Social
— e não apenas aqui, na Rússia, mas em todo o mundo. A questão da terra não
pode ser solucionada separadamente dos outros problemas da Revolução Social…
Por exemplo, o confisco das grandes propriedades de terra provocarão resistência
não apenas por parte dos grandes proprietários russos, mas também do capital
externo, ao qual os grandes proprietários de terras estão vinculados por
intermédio dos bancos…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“A propriedade da terra
na Rússia está na base de uma grande opressão, e o confisco da terra pelos
camponeses é o passo mais importante de nossa Revolução. Mas ele não pode ser
visto em separado dos outros passos, como ficou claramente demonstrado nos
diferentes estágios pelos quais a Revolução teve de passar. O primeiro estágio
foi aniquilar a autocracia e o poder dos capitalistas industriais e grandes
proprietários rurais, cujos interesses estão estreitamente ligados entre si. O
segundo estágio foi o fortalecimento dos sovietes e o compromisso político estabelecido
com a burguesia. O erro dos Socialistas Revolucionários de Esquerda, naquele momento,
foi não se terem oposto à política de compromisso, por defenderem a teoria de
que a consciência das massas ainda não estava suficientemente desenvolvida…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Se o socialismo só
puder ser concretizado quando o desenvolvimento intelectual de todo o povo o
tornar possível, então não teremos socialismo pelo menos nos próximos
quinhentos anos… O partido político socialista constitui a vanguarda da classe
operária; não pode frear a si mesmo por causa da ausência de educação da média
das massas, e sim liderar as massas, usando os sovietes como órgãos que adotam
iniciativas revolucionárias… Mas, para arrastar consigo aqueles que vacilam, os
Socialistas Revolucionários de Esquerda têm de acabar com suas próprias
hesitações…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“No último mês de
julho, iniciou-se uma série de conflitos abertos opondo as massas populares aos
‘conciliadores’; mas mesmo agora, em novembro, os Socialistas Revolucionários de
Esquerda ainda estendem suas mãos a Avksentiev, que, com o dedo mindinho, puxa
o povo junto… Se a política do compromisso permanecer, é a Revolução que irá
desaparecer. Nenhuma conciliação com a burguesia é possível; seu poder deve ser
totalmente aniquilado…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Nós, bolcheviques, não
mudamos nosso programa agrário; não abrimos mão da abolição da propriedade
privada da terra, e não pretendemos fazê-lo. Adotamos as regulamentações para
os Comitês Agrários — que não são, de modo algum, baseadas na propriedade
privada — porque queremos fazer cumprir os anseios populares da maneira como o
próprio povo decidiu fazer isso, como uma forma de aproximar as forças de
coalizão de todos os elementos que estão em luta pela Revolução Social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Convidamos os
Socialistas Revolucionários de Esquerda a fazer parte desta coalizão, insistindo,
no entanto, em que parem de ficar olhando para trás e rompam com os
‘conciliadores’ de seu partido…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“No que concerne à
Assembleia Constituinte, é verdade, como disse o orador que me precedeu, que os
trabalhos da Assembleia Constituinte dependerão da determinação revolucionária
das massas. Pois eu afirmo: ‘Conte com a determinação revolucionária, mas não esqueça
de levar o fuzil!’.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em
seguida, Lênin passou a ler a proposta de resolução dos bolcheviques:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
Congresso Camponês aprova irrestritamente o Decreto sobre a Terra de 8 de
novembro […] aprovado pelo Governo Provisório de Operários e Camponeses da
República Russa, instituído pelo II Congresso Pan-Russo dos Sovietes de
Deputados Operários e Soldados.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
Congresso Camponês […] conclama todos os camponeses a dar apoio a esta lei e a implementá-la
imediatamente, por conta própria; ao mesmo tempo, convida os camponeses a eleger
para os postos e posições de responsabilidade apenas pessoas que tenham
provado, não em palavras mas por meio de atos, sua absoluta devoção aos
interesses dos trabalhadores explorados do campo, seu desejo e sua habilidade
para defender esses interesses contra toda e qualquer resistência por parte dos
grandes proprietários, dos capitalistas, seus acólitos e cúmplices.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
Congresso Camponês, ao mesmo tempo, exprime sua forte convicção de que a realização
completa de todas as medidas previstas no Decreto sobre a Terra só poderá ter sucesso
em conjunto com a Revolução Social dos Operários, que teve início em 7 de novembro
de 1917; pois apenas a Revolução Social pode consolidar de modo definitivo, sem
possibilidade de retorno, a transferência da terra para os trabalhadores do
campo; o confisco das fazendas-modelo e sua entrega às comunas; o confisco das
máquinas pertencentes aos grandes proprietários; a proteção dos interesses dos
trabalhadores agrícolas através da abolição completa da escravidão assalariada;
a distribuição regular e sistemática, para todas as regiões da Rússia, dos
produtos industriais e agrícolas; e a tomada dos bancos (sem o que a tomada da
terra pelo povo se tornará impossível após a abolição da propriedade privada),
e [consolidar] todo tipo de apoio, por parte do Estado, aos operários…<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Por
essas razões, o Congresso Camponês decide apoiar integralmente a revolução de 7
de novembro […] como uma revolução social, e expressa seu inabalável desejo de
colocar em ação, com todas as modificações que se fizerem necessárias, mas sem
hesitação, a transformação social da República Russa.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As
condições indispensáveis para a vitória da Revolução Socialista, única capaz de
assegurar o êxito duradouro e a completa aplicação do Decreto sobre a Terra,
são a forte união dos trabalhadores do campo com a classe operária industrial e
com o proletariado de todos os países avançados. A partir de agora, em toda a
República Russa, toda a organização e a administração do Estado, de alto a
baixo, deve estar baseada nessa união. Somente essa união, ao sufocar qualquer
tentativa direta ou indireta, aberta ou dissimulada, de retorno à velha
política de conciliação com a burguesia — conciliação já condenada pela
experiência prática—, poderá garantir a vitória do socialismo no mundo inteiro.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os reacionários do
Comitê Executivo já não se atreviam a se expor abertamente. Tchernov, porém,
falou várias vezes, com uma imparcialidade modesta e cativante. Foi convidado a
tomar parte da mesa… Na segunda noite do Congresso, um texto anônimo chegou às
mãos do presidente dos trabalhos, propondo que Tchernov fosse eleito presidente
honorário. Ustinov leu a nota em voz alta. Imediatamente, Zinoviev se ergueu,
gritando que se tratava de uma manobra do velho Comitê Executivo para controlar
o encontro; de uma hora para outra, a sala se tornou um mar de braços em
movimento e de rostos irados. Ainda assim, Tchernov manteve sua forte popularidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No decorrer dos
acirrados debates sobre a questão agrária e a resolução de Lênin, por duas vezes
os bolcheviques estiveram prestes a deixar a sala, sendo contidos por suas
lideranças… Parecia-me que o Congresso se encontrava em um impasse inescapável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas nenhum de nós sabia
que, àquela altura, uma série de reuniões secretas já estava se realizando no
Smolny entre os Socialistas Revolucionários de Esquerda e os bolcheviques. Inicialmente,
os Socialistas Revolucionários de Esquerda exigiam que fosse constituído um governo
composto por todos os partidos socialistas, estivessem ou não dentro dos
sovietes, que responderia a um Conselho do Povo composto em igual número de
delegados das organizações operárias e dos soldados, além das organizações dos camponeses,
e complementado por representantes das Dumas municipais e dos zemstvos; Lênin e
Trótski ficariam de fora, e o Comitê Militar Revolucionário, juntamente com
outros órgãos repressivos, seria dissolvido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Na quarta-feira de
manhã, 28 de novembro, após uma noite inteira de fortes disputas, chegouse a um
acordo. O Tsik, composto por 108 membros, seria ampliado para mais 108 membros eleitos
proporcionalmente pelo Congresso Camponês; por cem delegados eleitos
diretamente pelo Exército e pela Marinha; e por cinquenta representantes dos
sindicatos (35 das federações nacionais, dez dos ferroviários, e cinco dos
Correios e Telégrafos). As Dumas e os zemstvos não participariam. Lênin e
Trótski permaneciam no governo, e o Comitê Militar Revolucionário continuaria a
existir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As sessões do Congresso
tinham sido agora transferidas para o prédio da Faculdade Imperial de Direito,
no número 6 do cais de Fontanka, sede dos sovietes camponeses. Os delegados se reuniram
ali, quarta-feira à tarde, na grande sala de assembleias. O antigo Comitê
Executivo, que fora destituído, fazia uma reunião própria, paralela, em uma
sala do mesmo edifício, com a participação de delegados dissidentes e
representantes dos Comitês do Exército.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Tchernov circulava
entre as duas reuniões, observando de perto o desenrolar de cada uma. Ele sabia
que um acordo com os bolcheviques estava sendo discutido, mas não sabia que
este já tinha sido feito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Tomou a palavra, na
reunião paralela, dizendo: “Agora que todos se colocam a favor da formação de
um governo com todos os socialistas, muitos se esquecem do primeiro ministério,
que não era um governo de coalizão, que tinha no seu seio apenas um socialista
— Kerenski — e que foi, ao seu tempo, bastante popular. Agora as pessoas atacam
Kerenski; esquecem que ele foi levado ao poder não só pelos sovietes, mas
também pelas massas populares…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Por que a opinião
pública mudou em relação a Kerenski? Os selvagens inventam deuses para os quais
rezam, mas também punem esses deuses caso não atendam a suas orações… É isso
que está acontecendo agora… Ontem era Kerenski; hoje, Lênin e Trótski; amanhã
serão outros…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Nós propusemos aos
dois lados, Kerenski e os bolcheviques, que deixassem o poder. Kerenski aceitou
— hoje mesmo ele anunciou, de seu esconderijo, a renúncia ao posto de primeiro ministro;
mas os bolcheviques querem manter o poder, sendo que não sabem o que fazer com ele…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Sejam ou não
bem-sucedidos os bolcheviques, o destino da Rússia não vai se alterar. Os camponeses
de toda a Rússia sabem perfeitamente o que querem, e estão tomando suas
próprias medidas… Ao final, serão eles que nos salvarão a todos…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nesse entretempo, na
grande sala, Ustinov anunciava o acordo selado entre o Congresso Camponês e o
Smolny, que foi recebido pelos delegados com uma alegria selvagem. Subitamente,
Tchernov apareceu e pediu a palavra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Entendo”, começou,
“que um acordo está sendo concluído entre o Congresso Camponês e o Smolny. Esse
acordo, porém, seria ilegal, visto que o verdadeiro Congresso dos Sovietes Camponeses
só se reunirá a partir da próxima semana…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Mais do que isso,
gostaria de alertá-los de que os bolcheviques jamais aceitarão suas exigências…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Foi interrompido,
então, por enormes gargalhadas, e, percebendo a situação, deixou a tribuna e a
sala, levando junto sua popularidade…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No final da tarde de 29
de novembro, o Congresso promoveu uma sessão extraordinária. Havia no ar um
clima de festa; em todos os rostos se via um sorriso… Aceleraram-se as demais questões
da ordem do dia, e então o velho Nathanson, o decano de barbas brancas da ala esquerda
dos socialistas revolucionários, com a voz trêmula e lágrimas nos olhos, passou
a ler o relatório sobre o “casamento” dos sovietes camponeses com os sovietes
dos operários e soldados. A cada vez que mencionava a palavra “união”, choviam
aplausos de êxtase… Ao final, Ustinov anunciou a chegada de uma delegação do
Smolny, acompanhada de representantes da Guarda Vermelha, recebidos com uma
enorme ovação. Um operário, um soldado e um marinheiro sucederam-se na tribuna
para saudar todos os presentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Falou em seguida Boris
Reinstein, delegado do Partido Trabalhista Socialista NorteAmericano: “O dia da
união do Congresso Camponês e dos Sovietes de Deputados Operários e Soldados é
um dos grandes dias da Revolução. O som deste encontro ecoará em todo o mundo —
em Paris, em Londres e, atravessando o oceano, em Nova York. Esta união encherá
de alegria os corações de todos os trabalhadores do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“É o triunfo de uma
grande obra. O Ocidente e a América esperavam do proletariado russo algo
grandioso… O proletariado internacional aguarda a Revolução Russa, aguarda os
grandes feitos que ela está consolidando…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sverdlov, presidente do
Tsik, veio então saudar a todos. E ao grito de “Viva o fim da guerra civil!
Viva a Democracia Unida!”, os camponeses foram deixando o edifício.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Já era noite, e a luz
pálida da lua e das estrelas se refletia na neve branca. Ao longo do canal, marchavam
enfileirados os soldados do regimento de Pavlovski, com sua banda, que tocava a
Marseillaise. Recebidos pelos gritos roucos e profundos dos soldados, os
camponeses também se enfileiravam, portando o grande estandarte vermelho do Comitê
Executivo Pan-Russo dos Sovietes Camponeses, recém-bordado em dourado com os
seguintes dizeres: “Viva a união das massas revolucionárias e trabalhadoras!”.
Seguiam-se outros estandartes, dos sovietes distritais e também da fábrica
Putilov, que dizia: “Saudamos esta bandeira, garantia da fraternidade de todos os
povos!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Tochas apareceram,
tingindo a noite de uma coloração alaranjada e refletindo-se milhares de vezes,
espalhando-se em nuvens de fumaça entre a multidão, enquanto esta avançava ao
longo do canal Fontanka cantando em meio a espectadores que se mantinham em
silêncio, perplexos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Longa vida ao Exército
Revolucionário! Longa vida à Guarda Vermelha! Longa vida aos camponeses!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A enorme passeata
percorreu a cidade, aumentando aos poucos e empunhando mais estandartes com
dizeres bordados a ouro. Dois velhos camponeses, os corpos encurvados de tanto trabalho
acumulado, caminhavam de mãos dadas, os rostos iluminados por uma alegria
infantil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Bem”, disse um deles,
“agora é que eu quero ver eles tomarem de volta as nossas terras!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nas proximidades do
Smolny, a Guarda Vermelha estava alinhada nos dois lados da rua, esfuziante de
felicidade. O outro camponês idoso se dirigiu a seu camarada: “Não me sinto cansado”,
disse ele, “andei o dia inteiro como se estivesse voando!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Na escadaria do Smolny,
agrupavam-se cerca de cem deputados operários e de soldados, com seu
estandarte, escuro em contraste com a luminosidade que se espalhava pelas
arcadas. Como uma onda, desceram correndo para receber os camponeses com beijos
e abraços; o cortejo então avançou para dentro do portão e subiu a escadaria,
produzindo o som de um turbilhão…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Na imensa sala branca
de reuniões, o Tsik aguardava, em conjunto com todo o Soviete de Petrogrado e
cerca de mil espectadores, tomados pela solenidade que acompanha os grandes momentos
da história quando seus protagonistas têm consciência dele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Zinoviev anunciou o
acordo selado com o Congresso Camponês, sendo saudado por uma vibração que
fazia tremer as paredes e que se transformou em verdadeira tempestade de ovações
quando chegou do corredor o som da banda e, atrás dela, os que encabeçavam o cortejo.
Na tribuna, a mesa dos trabalhos se levantou e abriu espaço para acomodar a mesa
dos camponeses, todos se abraçando uns aos outros. Atrás deles, as duas
bandeiras se entrelaçavam tendo como pano de fundo a parede branca, de onde
fora retirado o retrato do tsar…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Abriu-se, então, a
“sessão solene”. Depois de algumas palavras de boas-vindas pronunciadas por
Sverdlov, subiu à tribuna Maria Spiridonova, esquálida, pálida, com óculos
enormes e os cabelos lisos sobre os ombros e um ar de professora universitária
da Nova Inglaterra — era a mais amada e mais poderosa mulher de toda a Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Abrem-se para os
trabalhadores da Rússia novos horizontes, jamais vistos pela História… Todos os
movimentos de trabalhadores foram derrotados no passado. Mas o atual movimento
é internacional, e por isso mesmo se torna invencível. Não há força no mundo
capaz de apagar o fogo da Revolução! O velho mundo desaba, o novo mundo
começa…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Veio então Trótski,
altamente inflamado: “Dou-lhes as boas-vindas, camaradas camponeses! Vocês
estão aqui não como visitantes, mas como senhores desta casa, que abriga o
coração da Revolução Russa. Os anseios de milhões de trabalhadores estão agora
concentrados nesta sala… Só existe um senhor da terra russa: a união dos
operários, soldados e camponeses…”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Com um sarcasmo amargo,
ele prosseguiu falando dos diplomatas dos Aliados, que até então vinham
desdenhando a proposta de armistício feita pela Rússia, proposta que fora
aprovada pelas Potências Centrais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Uma nova humanidade
nascerá desta guerra… Diante desta sala, juramos aos trabalhadores de todos os
países que nos manteremos em nosso posto revolucionário. Se formos derrotados, será
lutando em defesa de nossa bandeira…”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em seguida falou Kry
lenko, relatando a situação no front, onde Dukhonin preparava a resistência ao
Conselho dos Comissários do Povo. “Logo faremos Dukhonin e seus aliados entenderem
muito bem que não trataremos com delicadeza aqueles que querem obstaculizar o caminho
para a paz!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dy benko saudou os
presentes em nome da Marinha, e Krushinski, membro do Vikzhel, afirmou: “A
partir de agora, quando se consolida a união de todos os verdadeiros
socialistas, o exército de ferroviários se coloca totalmente à disposição da
democracia revolucionária!”. Falaram em seguida Lunatcharski, com lágrimas nos
olhos, e Proshian, em nome dos Socialistas Revolucionários de Esquerda, e, por
fim, Saharashvili, pelos Social-Democratas Internacionalistas Unidos, formados
pelos grupos de Martov e de Górki, que declarou:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Nós nos retiramos do
Tsik por causa da política intransigente dos bolcheviques e para forçálos a
concessões para se forjar a união de toda a democracia revolucionária. Agora
que essa união se realizou, consideramos um dever sagrado de nossa parte voltar
a integrar o Tsik… Defendemos que todos aqueles que haviam se retirado do Tsik
devem agora retornar”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Stachkov, um velho e
venerável camponês, integrante da mesa de trabalhos do Congresso Camponês,
voltou o olhar para os quatro cantos da sala. “Saúdo a todos com o batismo de
uma nova vida e de uma nova liberdade na Rússia!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Seguiram-se Gronski, em
nome da Social-Democracia da Polônia; Skripnik, pelos Comitês de Fábrica;
Tifonov, pelos soldados russos de Salonika; e outros, interminavelmente,
falando com o coração aberto, com a alegre eloquência da esperança realizada…<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Já era tarde da noite
quando foi submetida, e aprovada por unanimidade, a seguinte resolução:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
Tsik, reunido em sessão extraordinária com o Soviete de Petrogrado e com o
Congresso Camponês, reafirma os Decretos sobre a Terra e a Paz aprovados pelo
II Congresso dos Sovietes de Deputados Operários e Soldados, bem como o Decreto
sobre Controle Operário aprovado pelo Tsik.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A
sessão conjunta do Tsik e do Congresso Camponês expressa sua firme convicção de
que a união dos operários, soldados e camponeses — essa fraterna união de todos
os trabalhadores e de todos os explorados — consolidará o poder por ela
conquistado para em seguida adotar todas as medidas revolucionárias necessárias
para acelerar a transferência do poder para as mãos da classe operária em
outros países e dessa maneira assegurar a consolidação duradoura de uma paz
justa e a vitória do socialismo.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><b><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Fonte</span></b><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">: John Reed, “O congresso
camponês” (capítulo 12), in: <i>Dias que
Abalaram o Mundo</i>. Tradução: Bernardo Ajzenberg. Editora Companhia das
Letras (Pinguim), São Paulo. </span></span></i></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-43022688044876150952023-12-01T03:00:00.000-08:002023-12-01T03:00:00.134-08:00Memorial ao 100º aniversário da Revolta de Kronstadt<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjoU7IlNVaTE16K5ZkUbZ7qa0dl9Nm8_qaX6MeF8by5KoZXNfsYp9eqZhrbTw5eBpQI9xU2M1Q8HgET8a-UKC-x4nBmZ9T1z_2Xr_Y3QSAnhoc7tvpiWJmZiq5_5-PgicNJEdWR2uuEwrTzWft7vGE7JSvrCOWqVAzgRY0ihyphenhyphen1MRCW6oJhayskGPKmz5R0/s1217/memorialkronstadt.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1217" data-original-width="900" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjoU7IlNVaTE16K5ZkUbZ7qa0dl9Nm8_qaX6MeF8by5KoZXNfsYp9eqZhrbTw5eBpQI9xU2M1Q8HgET8a-UKC-x4nBmZ9T1z_2Xr_Y3QSAnhoc7tvpiWJmZiq5_5-PgicNJEdWR2uuEwrTzWft7vGE7JSvrCOWqVAzgRY0ihyphenhyphen1MRCW6oJhayskGPKmz5R0/w474-h640/memorialkronstadt.jpg" width="474" /></a></div><p></p><p><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt; text-align: justify;">“Esta tragédia do
passado deve nos unir em torno do pensamento de que nada disso deve acontecer
novamente” (V. Putin).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A revolta dos
marinheiros de Kronstadt (28 de fevereiro a 18 de março de 1921) foi motivada
pela ditadura dos bolcheviques e pela política do “comunismo de guerra”,
durante a Guerra Civil na Rússia Soviética. Durante a repressão do levante de
Kronstadt, no Golfo da Finlândia, mais de 2.000 pessoas morreram e mais de
6.000 foram enviadas para a prisão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 2020, o RVIO anunciou
um concurso para eleger o melhor design de um memorial dedicado ao 100º aniversário
da revolta de Kronstadt. Cinco projetos arquitetônicos e artísticos foram
apresentados. O Conselho Criativo RVIO, presidido por A.S. Konchalovsky,
escolheu um projeto de Denis Stritovich e Timur Yurchenko. Os autores
descreveram a ideia de seu memorial da seguinte forma:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O espaço da composição
arquitetônica metafórica forma um volume triangular de mármore branco com uma
diagonal dominante. O ritmo progressivo dos pilares de mármore localizados nas
laterais aumenta a dinâmica do movimento. Os pilares são cobertos por contrarrelevos
tingidos de preto – figuras de marinheiros armados com rifles em casacos e
boinas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNDffYn4k1GQJp8s61Wi5_vEMAJUHxGdU8WVHezoSQJ4Z02OXm_MABQxMxszwg8YJeiUrrMxKTPkI-CqPgPU9eXqi7lIIEz2vOBP_UdH3qWuDU6oeVsYWDktbqEtLEv-Xt8JTzlqqrJqEdYzIfRU3avxJZhCmtAA9yz2q3BUeKZ9dwcytp6l5OisJUiff8/s300/memorialkronstadt3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="224" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNDffYn4k1GQJp8s61Wi5_vEMAJUHxGdU8WVHezoSQJ4Z02OXm_MABQxMxszwg8YJeiUrrMxKTPkI-CqPgPU9eXqi7lIIEz2vOBP_UdH3qWuDU6oeVsYWDktbqEtLEv-Xt8JTzlqqrJqEdYzIfRU3avxJZhCmtAA9yz2q3BUeKZ9dwcytp6l5OisJUiff8/w400-h224/memorialkronstadt3.jpg" width="400" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A solução plástica é
lacônica, as imagens são desprovidas de individualidade, despersonalizadas,
generalizadas e quase simbólicas. As figuras retratadas fizeram sua escolha,
estão avançando para seu destino predeterminado - para onde as bordas
convergentes do mármore se assemelham aos contornos da popa de um navio ou aos
montes erguidos pelo elemento relativo ao ambiente gelado. O olhar do
espectador capta apenas reflexos negros no ‘gelo’ branco do mármore.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8IUrwPtrmqeLSmo_iiMSRYNdb52SNqM_Otl1WyAvVRShoB_HWhAHmfSezJKOs5vfQc_A_YDkjngxYCpMQds1FT-jWgNLuJ7Ry1TxBCx6xRO0mKiN-sYGomxX3FoF5gzluvAV-sYQgs7_SpXRRfUzyLAUQeNWzaoodjwZgXXX6jfGzeAHBdl8ObqipGlbE/s275/memorialkronstadt1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8IUrwPtrmqeLSmo_iiMSRYNdb52SNqM_Otl1WyAvVRShoB_HWhAHmfSezJKOs5vfQc_A_YDkjngxYCpMQds1FT-jWgNLuJ7Ry1TxBCx6xRO0mKiN-sYGomxX3FoF5gzluvAV-sYQgs7_SpXRRfUzyLAUQeNWzaoodjwZgXXX6jfGzeAHBdl8ObqipGlbE/w400-h266/memorialkronstadt1.jpg" width="400" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Da frente do monumento,
uma via branca como a neve, cortada por uma rachadura, se abre para o futuro.
Essa quebra no gelo é uma metáfora para a divisão da sociedade, o trágico
colapso de ideais, a quebra de destinos.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ5A6fXFCacgL4AjCvlqb1oW_1QYHpd75vpT1_eIBtaAGo-aWcrYfd3w8rZKr3s6MoBc3s0I994SKPOjYdEQi__pvsh9uWu3zxqpXS-nvU2VArjWWhc0X9_nHnQe5hyphenhyphenAnWVVYl13P8YJHnPBRQpBTKjoZ4E5gGTNiW74KrZerc5TxbZFlFhp2FNkU1zD5y/s220/memorialkronstadt2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="165" data-original-width="220" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZ5A6fXFCacgL4AjCvlqb1oW_1QYHpd75vpT1_eIBtaAGo-aWcrYfd3w8rZKr3s6MoBc3s0I994SKPOjYdEQi__pvsh9uWu3zxqpXS-nvU2VArjWWhc0X9_nHnQe5hyphenhyphenAnWVVYl13P8YJHnPBRQpBTKjoZ4E5gGTNiW74KrZerc5TxbZFlFhp2FNkU1zD5y/w400-h300/memorialkronstadt2.jpg" width="400" /></a></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O centro semântico da
composição é a figura de um marinheiro. Ele é jovem, cheio de energia, tem toda
uma vida pela frente, mas também caminha por esta via simbólica para o Gólgota.
Mas algo o fez parar e se virar para nós. E neste movimento para o espectador;
neste olhar pensativo reside a nossa esperança de que a sociedade tire
conclusões das trágicas lições da história e das convulsões revolucionárias,
que caminhe para o desenvolvimento e a consolidação da democracia e que não
permita a repetição de situações em que o próprio povo mate a si mesmo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_6l3z4lRLEIGTN8rhGxvH6gcFcB2DG5srm8DTUB8c-uLr58J7oE0HkqMEBeHbR7N27XrIwmVfCkqKTuJrw7kaddp1sbq8KAreQ9TLCadVqDRNys4584NaahGsSE2sVq3Tp2xz0RLN5-D7f9wgVQQi7vi5ygUGUjYdVX2c7jH3GYGA4Z0SkQ2TAGVo878t/s550/memorialkronstadt7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="343" data-original-width="550" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_6l3z4lRLEIGTN8rhGxvH6gcFcB2DG5srm8DTUB8c-uLr58J7oE0HkqMEBeHbR7N27XrIwmVfCkqKTuJrw7kaddp1sbq8KAreQ9TLCadVqDRNys4584NaahGsSE2sVq3Tp2xz0RLN5-D7f9wgVQQi7vi5ygUGUjYdVX2c7jH3GYGA4Z0SkQ2TAGVo878t/w320-h200/memorialkronstadt7.jpg" width="320" /></a></div><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Que este memorial sirva
de lembrança da tragédia da Guerra Civil, que dividiu o povo e deixou inúmeras
vítimas.<o:p></o:p></span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">O memorial foi
erguido pela Sociedade Histórica Militar Russa com o apoio do Governo de São
Petersburgo em dezembro de 2021.</span><div><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No entanto, meses
antes, no dia 18 de março de 2021, já havia sido inaugurado um monumento em
memória ao levante de Kronstadt, na ponta oeste da Ilha de Kotlin, perto do Forte
Rif – local por onde teriam fugido os marinheiros para a Finlândia no final do conflito. O autor
da escultura, Pavel Ignatiev, criou a instalação a partir de fragmentos de
metal descobertos nos arredores do forte. Os objetos encontrados, com a sua
estética brutal, superfícies curvas e perfuradas, contam mais do que palavras e
slogans os trágicos acontecimentos de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Na cerimônia de
inauguração do memorial, o prefeito de Kronstadt, Oleg Dovganyuk, discursou com
espírito conciliatório, enfatizando que os dois lados beligerantes possuíam sua
própria verdade. Não é por acaso que o evento solene foi programado para
coincidir com o fim do levante - 18 de março, e não com seu início - 28 de
fevereiro de 1921.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaZMBvOdTf7ccchk8ic2ABo0CnGFYjIhHbyd8b8R8bIhQqfov7zilK95Kt57Lp1Mg3bSfpDjtJQsLJyRUkxoGau9H4gKR5EIufOHK_dwUwnUTm1hSlJKnGp0fvcCmQhzfTV61c6KB_LwiB1g58p84Md2rGIx1Fa2xrAIMdgy39wIp2-troOJ1q4sYW8DkE/s1280/memorialkronstadt5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaZMBvOdTf7ccchk8ic2ABo0CnGFYjIhHbyd8b8R8bIhQqfov7zilK95Kt57Lp1Mg3bSfpDjtJQsLJyRUkxoGau9H4gKR5EIufOHK_dwUwnUTm1hSlJKnGp0fvcCmQhzfTV61c6KB_LwiB1g58p84Md2rGIx1Fa2xrAIMdgy39wIp2-troOJ1q4sYW8DkE/w640-h480/memorialkronstadt5.jpg" width="640" /></a></div><br /><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><br /></span><p></p><br /></span></div>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-89019774095287000542023-10-02T20:05:00.000-07:002023-10-02T20:07:39.383-07:00A repressão ao anarquismo na rússia soviética<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixXCb8iiS6GnMOPdGEEAkoJGHaQEguwAoTv-FHZS7HrWbxndYcuxJt7oqCZBgChkn4cwaHegdqeUrP1BuqSkDqCTde6gsbJw2uR1pRDPBxU2aFoJZdg-vp3tDpj0v6p1VpNfhAiji48fOXz6nq0OFA7qU3o0YW7R58OOiwZZuArBcF0as1yT5qlPJeaWHQ/s255/anarq.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="198" data-original-width="255" height="311" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixXCb8iiS6GnMOPdGEEAkoJGHaQEguwAoTv-FHZS7HrWbxndYcuxJt7oqCZBgChkn4cwaHegdqeUrP1BuqSkDqCTde6gsbJw2uR1pRDPBxU2aFoJZdg-vp3tDpj0v6p1VpNfhAiji48fOXz6nq0OFA7qU3o0YW7R58OOiwZZuArBcF0as1yT5qlPJeaWHQ/w400-h311/anarq.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">por Anarquistas russos
exilados na Alemanha<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-size: 18.6667px;">Tradução do francês por Dorothea Voegeli Passetti</span></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os anarquistas russos
surpreenderam-se ao constatar, em 1917, que os bolchevistas, seus adversários
de sempre,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>voltaram<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>reencontrar<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>com<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>eles<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>para<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>pregar palavras de ordem libertárias como “todo o poder aos sovietes” ou
“a terra aos camponeses, a fábrica ao operário”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Daí a luta comum.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O primeiro divórcio
ocorreu em outubro, na criação do “governo soviético”. Quando anunciado no II
Congresso dos Sovietes, em outubro de 1917, Efim Yartchouk, delegado anarquista
de Kronstadt, exclamou: “Que governo? Nós não necessitamos de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nenhum<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>governo!”, e ainda, quando do anúncio do “soviete dos comissários do
povo”: “Que soviete dos comissários? Que invenção é esta? Todo o poder deve ir
aos comissários locais!...”[2]. A continuação não fez senão aumentar essa
divergência, que se transformou em um fosso quando houve o ataque das tropas
tchekistas [3] contra as comunas e os clubes anarquistas de Moscou, Petrogrado e
outras cidades, em abril de 1918, depois de um verdadeiro abismo criado em
sequência a numerosas repressões governamentais exercidas contra os libertários
de todas as tendências. Enquanto isso, os dissimulados do novo poder dividiam
muito o movimento anarquista russo. Certos anarquistas, e não os menores nem os
menos experientes, colaboraram com as autoridades oficiais, chegando a se
aliarem à tcheka: Alexandre<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Gay, que sempre
foi seguro e inabalável em suas convicções, dirigiu a tcheka em uma cidade do
Cáucaso;<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>um<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>certo<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Samsonov,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>anarquista emigrado aos
Estados Unidos, antes de 1917, retornou para se ocuparmais tarde da “seção dos
anarquistas” da tcheka, provavelmente em função de sua competência sobre o
assunto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esse fenômeno é traduzido
quantitativamente pela presença, em 1922, de 633 ex-anarquistas no seio do
partido comunista russo [4]. Contudo, um bom número de libertários continuou
consequente com suas convicções e foi objeto de contínuas perseguições do
poder. Mostraremos dois exemplos significativos dessa repressão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">I. S. Bleikhman,
operário funileiro tornado anarquista quando emigrou, volta para a Rússia à
época do czar. É preso e deportado para a Sibéria. Libertado pela Revolução de
Fevereiro, torna-se muito popular entre os operários de Petrogrado e os
marinheiros de Kronstadt. É eleito ao soviete de Petrogrado e sua atividade lhe
vale a perseguição de Kérensky. Ele de fato desempenha, com Efim Yartchouk,um
eminente papel nas jornadas insurrecionais de julho de 1917. Depois de outubro
ele é constantemente perseguido pelos bolchevistas, que o prendem em 1918 e o
deportam para um campo de concentração, forçando-o a trabalhos humilhantes e
penosos na lama e com a água até a cintura. Uma vez que já havia adoecido na
prisão czarista, sua saúde agora se arruína e morre em 1921. “Porque teríamos
necessidade de dinheiro — dizia I.S. Bleikhman — toda Petrogrado está nas mãos
dos operários; todos os apartamentos, todas as lojas de roupas, todas as usinas
e fábricas, as tecelagens, as lojas de comida, tudo está nas mãos das
organizações sociais. A classe operária não necessita de dinheiro” [5].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Essa era uma língua que
o novo poder não podia nem entender, nem tolerar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O outro exemplo vem da
feroz repressão submetida ao movimento makhnovista na Ucrânia, movimento insurrecional
de camponeses pobres de tendência libertária, defendendo os sovietes livres e a
livre organização das comunas autônomas. Em uma obra publicada há alguns anos
na França com o título Memórias de um bolchevista-leninista [6], o autor
relata:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Os bandos de Makhno se
abasteciam impunemente de armas nas cidades e vilas da região de Ekaterinoslav.
Era impossível descobrir os esconderijos desses bandidos e de seus chefes. Os
camponeses ricos simpatizavam comeles e os escondiam; o restante da população
estava aterrorizado e não ousava revelar que eles os escondiam em suas casas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nosso comando e os
soldados rasos estavam impacientes. Sob a iniciativa de nossos soldados, os
órgãos locais da tcheka com os destacamentos da seção especial e lançaram ao
trabalho. Um belo dia, eles detiveram e prenderam uma centena de reféns
escolhidos entre a população abastada, comerciantes, kulaks [7], padres etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Após o interrogatório,
foram levados ao pátio da prisão, e se exigiu que eles revelassem quem eram os
chefes dobando, escondidos em algum lugar: em suas casas, em suas granjas e em
outros esconderijos. Os reféns foram avisados de que se se recusassem a
colaborar, vinte e cinco deles seriam fuzilados ali mesmo, como responsáveis
por assassinatos e pilhagens.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os reféns se calaram.
Os vinte e cinco primeiros, por ordem alfabética, foram conduzidos a vinte
passos e fuzilados diante dos outros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No segundo dia a mesma
coisa se repetiu. Os reféns silenciaram outra vez e, de novo, vinte e cinco foram
fuzilados perante os olhos daqueles que sobraram. No terceiro dia, a mesma
cena.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando, no quarto dia,
os vinte e cinco reféns restantes foram levados ao pátio, disseram para eles
que a coragem de seus amigos fuzilados certamente seria digna de louvor se
tivessem permitido que pessoas boas e honestas pudessem escapar às
perseguições, mas que eles escondiam os assassinos de soldados inocentes do
exército vermelho, que vieram libertar o povo ucraniano dos proprietários
fundiários czaristas e dos generais que espezinhavam os libertos do povo russo
e ucraniano. Os reféns pediram um dia para pensar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No dia seguinte a essa
discussão, os reféns tiveram medo e deram os nomes dos chefes do bando de
Makhno e de seus esconderijos na região. Verificou-se que esses chefes eram
agentes de Makhno infiltrados nos órgãos do poder soviético e na direção local
do partido: particularmente o presidente do soviete da cidade, o secretário do comitê
da cidade do partido, que tinha reunido em torno de si os inimigos do poder soviético”
[8].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Qualquer comentário se
torna supérfluo. Assinalamos simplesmente que esse gênero de operação
reproduziu-se em uma escala muito maior, com o propósito de acossar e
exterminar os que estavam aliados por três vezes ao exército vermelho para
combater e vencer os brancos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alexandre
Skirda<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As perseguições aos
anarquistas pelo poder soviético começaram de determinada forma na primavera de
1918.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As causas fundamentais e
gerais dessas perseguições foram suficientemente esclarecidas acima, e nos
deteremos, portanto, apenas brevemente em seu histórico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O crescimento rápido do
sucesso do movimento anarquista irritava e assustava já havia algum tempo o
partido comunista, que acabava de se instalar no poder. Não se sentindo
suficientemente dono da situação e não tendo ainda conquistado completamente as
massas, o novo poder não se decidia a passar para a ofensiva. Foi apenas após o
tratado de Brest-Litovsk que sentiu o terreno firme e viu a possibilidade de
agir com muitas chances de sucesso. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Levando-se em consideração
que a revolução corria um perigo mortal e que necessitava de uma pausa para poder
criar um exército revolucionário, o poder comunista conseguiu aterrorizar as
massas, apoderar-se da vontade delas e submetê-las a sua própria, quando firmou
o tratado Brest-Litovsk, em despeito de seus desejos claramente expressos de
não assinar a paz com o imperialismo alemão e continuar a resistência
revolucionária, única capaz de fazer triunfar a revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O tratado Brest-Litovsk
foi assim imposto ao povo trabalhador pelo poder comunista. Este pôde, dessa maneira,
pela primeira vez, após uma longa e obstinada resistência dos operários e
camponeses, submeter grandes massas laboriosas e constrangê-las à passividade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Isto foi apenas um
primeiro passo, o mais difícil. Tendo tomado a iniciativa da ação e
transgredido impunemente a vontade das massas, o poder pôde sufocar a revolução.
Em seguida foi-lhe fácil continuar nesse caminho, aterrorizando e submetendo
mais e mais as massas, aumentando sua pressão sobre elas, para logo reduzir a
revolução aos limites de sua ditadura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os anarquistas
protestaram energicamente contra o tratado de Brest-Litovsk e a limitação das
perspectivas revolucionárias, que desvirtuava o próprio sentido da revolução. O
poder então resolveu desfechar um primeiro golpe decisivo aos anarquistas,
aproveitando-se da passividade adquirida pelas massas e dispondo já de uma
certa força militar organizada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sob uma ordem vinda de
cima, a imprensa comunista começou a dirigir dia após dia uma campanha recheada
de acusações mentirosas e de calúnias contra os anarquistas.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Um preparo sólido do terreno acontecia
igualmente nas usinas, nas assembleias, nas unidades militares etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As disposições das
massas também eram testadas na mesma ocasião. Pôde-se prever que o poder
poderia contar com suas tropas e que as massas permaneceriam mais ou menos
passivas. Finalmente, na noite de12 de abril de 1918, sob um pretexto absurdo e
completamente inventado, as organizações anarquistas de Moscou foram atacadas,
particularmente a Federação dos Grupos Anarquistas de Moscou. Esse ataque
serviu de sinal aos posteriores proferidos contra as organizações anarquistas
de toda a Rússia. Depois de ter preparado seu golpe e conduzido ele mesmo uma agitação
infringida nos regimentos contra os “anarcobandidos”, Trotsky pôde proferir com
satisfação sua famosa declaração: “Enfim o poder soviético varre o anarquismo
da Rússia com uma vassoura de ferro”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Entretanto, o poder
ainda não tinha declarado ser a ideia de anarquismo fora da lei: as liberdades
de palavra, de imprensa e de pensamento ainda não estavam definitivamente
suprimidas. Ainda era possível existir por todo lado uma certa atividade
libertária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os movimentos de protesto
dos operários e camponeses contra os procedimentos terroristas, esboçados em 1918
e empregados contra eles pelo poder comunista, cresceram em 1919 e 1920. O
poder, mais e mais cínico e despótico, respondeu com uma repressão obstinada e crescente,
não parando frente a nada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os anarquistas,
naturalmente, estavam de corpo e alma do lado das massas traídas e oprimidas
que lutavam contra seus novos mestres.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eles exigiam, com os
operários e suas organizações profissionais, o direito destes conduzirem
diretamente a produção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Com os camponeses
exigiam o direito de autoadministração e de manterem relações diretas com os operários.
Com uns e outros exigiram a restituição de tudo que os trabalhadores haviam
conquistado pela revolução e que o poder comunista lhes roubara: a restauração de
uma ordem soviética livre, o restabelecimento das liberdades civis para as
correntes revolucionárias...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em uma palavra: exigiam
a restituição das conquistas de Outubro ao próprio povo, por meio das
organizações de operários e camponeses. Evidentemente, assim desvendavam a
política criminosa do poder. Nisso residia a base da atividade revolucionária
dos anarquistas e foi somente isso que serviu de fundamento para a declaração
de uma guerra de morte ao anarquismo, e para declará-lo fora da lei.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Após o primeiro grande
ataque aos anarquistas na primavera de 1918, as perseguições sucederam-se em
uma cadeia ininterrupta, em toda a Rússia, durante os anos seguintes,
caracterizando-se cada vez mais como desenfreadas e sem pudor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim, ao final do mesmo
ano de 1918, numerosas organizações anarquistas do interior foram outra vez
atacadas. Das organizações que conseguiram se manter intactas, as autoridades
tiraram toda possibilidade de ação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 1919, ao mesmo tempo
em que as perseguições contra os anarquistas na Rússia continuavam a todo vapor,
começaram as repressões sistemáticas aos anarquistas da Ucrânia. Cidade após
cidade, vilarejo após vilarejo, seus grupos eram liquidados, seus militantes
presos, os jornais proibidos e as conferências suprimidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante o verão do
mesmo ano, após a famosa ordem nº. 1824 de Trotsky, que declarou fora da lei o
movimento makhnovista, anarquistas foram detidos e fuzilados ao mesmo tempo que
os makhnovistas. E assim por diante...<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Convém notar que na
maioria dos casos os ataques às organizações anarquistas eram acompanhados de
atos de extrema selvageria por parte dos tchekistas e de soldados vermelhos
iludidos, loucos de raiva e de ódio: agressões brutais a camaradas detidos,
destruição da literatura apreendida, demolição dos locais etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Fora essas repressões
constantes e cotidianas, o poder comunista organizava de tempos em tempos
ataques em grande escala aos anarquistas, semelhantes ao da primavera de 1918.
Assim, no verão de 1920, aconteceu a destruição geral, na Ucrânia, das
organizações anarquistas do Nabat [9].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No final de novembro de
1920, o poder comunista, obrigado a concluir, um pouco antes, um tratado de
aliança com Makhno e a parar com as perseguições antianarquistas, retomou com
toda a força sua repressão, fazendo deter em Kharkov a todos os anarquistas que
vinham para participar de um congresso legal, e simultaneamente prendendo todos
os anarquistas da Ucrânia, organizando uma verdadeira perseguição em meio a
emboscadas e buscas, detendo até mesmo adolescentes de quatorze a dezesseis anos
e tomando como reféns pais, mulheres e filhos. Para justificar esse comportamento,
o poder antecipou seu rompimento com Makhno e inventou um “fantástico complô anarquista”
contra o poder soviético [10].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em março de 1921,
durante as jornadas insurrecionais de Kronstadt, o poder procedia outra vez a
detenções maciças de anarquistas (e de anarcossindicalistas), e os acossou de
novo por toda a Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Todo movimento de
massas — seja uma greve, uma manifestação de camponeses ou até um movimento
dedes contentamento entre soldados ou marinheiros — produzia um efeito imediato
sobre a sorte dos anarquistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Doravante, prendia-se
qualquer um que cometesse o erro de partilhar ideias libertárias ou de ser
parente ou conhecido de anarquistas. O simples fato de ter ideias anarquistas e
de divulgá-las abertamente era com frequência o suficiente para alguém ser
preso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 1919 e 1921, as organizações
de juventude libertárias foram desmanteladas. A operação de 1921 foi provocada
pelo desejo de destruir na raiz a aspiração da juventude ao conhecimento dos
fundamentos do ensino libertário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No inverno de 1921, as
organizações de anarquistas universalistas de Moscou são atacadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Na primavera de 1922,
ocorrem novas detenções em massa de anarquistas em toda a Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nossa lista de
repressões está longe de se completar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É possível afirmar, sem
nenhum exagero, que durante esses últimos anos toda a Rússia revolucionária foi
presa ou assassinada, e teve os anarquistas em primeiro lugar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nessas condições, a
partir de 1919, foi-lhes impossível desenvolver a menor atividade: suas
reuniões, conferências e congressos não puderam ocorrer. Sua imprensa foi sufocada.
Toda tomada de posição pública tornou-se mesmo impensável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">De fato, o anarquismo,
as ideias libertárias e a palavra livre foram declaradas fora da lei após 1919
[11].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Uma tal infâmia não
poderia produzir-se sem provocar vivos protestos pessoais da parte de algumas
individualidades fortes. Perto do final de 1919, Casimir Kovalévitch, operário
das oficinas das ferrovias de Moscou, anarquista muito popular em seu bairro,
lançou uma bomba em uma assembleia de dirigentes comunistas, em Moscou, na travessa
Léontiev, com a ajuda de alguns camaradas [12]. Esse ato de protesto contra a
ditadura bolchevista não provocou nenhuma tomada de consciência no partido
dirigente.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Bem ao contrário, ele começou
a perseguir os anarquistas e todos os revolucionários em geral com mais obstinação
ainda, recorrendo aos mais escandalosos meios de fraude e de inquisição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Se atualmente subsiste,
na Rússia, uma atividade anarquista clandestina, e se essa atividade pode levar
a atos de terror antigovernamental, convém entender que esses atos sempre
aconteceram e inevitavelmente serão produzidos ali onde reinam o arbítrio e um
monstruoso terror comandado do alto, ali onde todo pensamento é sufocado, toda
palavra é proscrita e ali onde todo outro meio de luta é impossível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os horrores cometidos
na Rússia começam, enfim, a saltar aos olhos dos que chegam ao país e se tornam
pouco a pouco conhecidos além de suas fronteiras. Isto porque o poder comunista
recorre a toda sorte de meios a fim de criar uma justificativa aos seus
crimes.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele não para diante dos meios
mais infames como, por exemplo, as “ciladas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Uma dessas ciladas tem
como protagonistas Leon Tcherny e Fanya Baron [13].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No verão de 1921, um
grupo de delegados anarquistas estrangeiros, vindos para o Congresso da
Internacional Sindical Vermelha, interpelou o governo soviético sobre os anarquistas
russos presos na Taganka [14], que faziam greve de fome para exigir sua
liberação assim como a de</span><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">todos
os anarquistas presos. Como os delegados insistiam sobre a liberação destes anarquistas,
Trotsky e outros representantes do poder lhes responderam: “São bandidos!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mesmo se o poder foi
obrigado a soltar finalmente esses anarquistas e de expulsá-los para o
estrangeiro, montou todo um caso para justificar frente aos operários estrangeiros
sua tática terrorista a respeito deles, um processo baseado em uma cilada da
tcheka, sobre delitos de direito comum relativos à fabricação de dinheiro
falso, e que terminou por fuzilar dois dos mais honestos camaradas: Leon
Tcherny e Fanya Baron.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Revelou-se que não
somente os camaradas fuzilados eram inocentes desses delitos de direito comum,
mas ainda que a ideia de imprimir dinheiro falso veio da tcheka de Moscou. Dois
de seus agentes — Steiner (Kamenny) e um motorista tchekista — entraram em
contato com os falsificadores e depois se infiltraram em um grupo anarquista,
incitando-os a fazer dinheiro falso e a organizar expropriações. Tudo isso
desenvolveu-se com a concordância da tcheka que, em seguida, graças a essa
cilada, exigiu a vida dos libertários, manchando suas memórias [15].</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><i>Fonte</i></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">: "Verve", no. 11: 95-108,
2007.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Notas<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">1 Traduzido do russo
para o francês por Alexandre Skirda. Publicado em Berlim, em 1923.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">2<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>S.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>N.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>K anev.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Oktiabrskaya<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>revoliutsia<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>I<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Krakh<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>anarkhisma<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>[A<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Revolução<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>de Outubro e a derrocada do anarquismo]. Moscou, 1974, p. 103.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">3 Conforme Jacques
Baynac, “em dois anos o câncer policial tomou conta da revolução. Apenas dois
meses após o golpe de Estado bolchevista de 1917, foi promulgado o decreto —
mantido secreto durante sete anos — que criou a Vetcheka (abreviação de
Vserossiskaïa Tchesvytchainaia Komissia — Comissão Extraordinária Pan-russa). O
mal progrediu tão rapidamente que, no segundo<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>aniversário<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>da<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>tomada<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>do<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>poder,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Pravda<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>diagnosticou<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>que<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>‘todo<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o poder aos soviets’
transformou-se em ‘todo o poder aos tchekas’. Uma década mais tarde, a doença
tomou conta de tudo. Em 16 de dezembro de 1927, mais uma<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>vez<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>no<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pravda,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>historiador<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Pokrovsky<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>escreveu<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>que<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>polícia<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>secreta conserva a ‘essência da revolução proletária’, e que o terror é
uma ‘consequência inevitável’.” Jacques Baynac (org. en collaboration avec
Alexandre Skirda et<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Charles<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Urjewicz). La terreur sous Lénine. Paris, Le
Sagittaire, 1975. (NT)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">4 Idem, p. 383. O mesmo
fenômeno vale para as outras organizações operárias e revolucionárias;
bundistas mencheviques, socialistas-revolucionários de esquerda e outros. (Os
bundistas formaram movimentos revolucionários judeus, criados no final do
século XIX na Europa Oriental. NT).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">5 Ibidem, pp. 261-262.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">6<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Paris,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>1970.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">7 Kulak é um termo
soviético, identificando uma classe social de proprietários rurais russos e
ucranianos, donos de fazendas que usavam trabalho assalariado em suas terras.
Posteriormente, durante a coletivização stalinista de 1928 a 1932, os kulaks
foram desapropriados em benefício dos kolkozes (cooperativas agrícolas),
levando a deportações, prisões e à morte de 5 milhões de camponeses. (NT)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">8 Op. cit., pp. 38-39.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">9 Nabat foi um grupo
anarquista ucraniano ligado aos makhnovistas, que também mantinha uma
publicação com o mesmo nome. (NT)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">10 Necessitando da
cooperação do exército insurrecional revolucionário dos makhnovitas para lutar
contra Wrangel, o poder bolchevista firmou um acordo com Makhno no início de
outubro de 1920, acordo no qual uma cláusula estipulava que os anarquistas
teriam liberdade e o direito de manter<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>uma atividade<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>militante<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>livre. Após a vitória contra Wrangel, o poder
comunista atacou Makhno traiçoeiramente e ao mesmo tempo voltou-se, mais uma
vez, contra o movimento anarquista da Ucrânia. Assinalamos a seguinte
circunstância característica: alguns dias antes dessa nova repressão, uma vez
que a escapatória de Wrangel parecia ser certa, a estação central da rádio de
Moscou telegrafou a todas as estações de província a ordem governamental de
desligar seus aparelhos, salvo para as estações centrais de Kharkov e da
Criméia, que deveriam receber um telegrama secreto urgente. Um simpatizante
anarquista, empregado em uma estação de província, não executou a ordem de
desligamento. Interceptou o seguinte telegrama: “Estabelecer os efetivos dos
anarquistas na Ucrânia, em particular na região makhnovista.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Lênin.” Alguns dias depois, quase na véspera
da repressão, chegou um segundo telegrama nas mesmas condições: “Exercer
uma<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>vigilância reforçada sobre todos os
anarquistas e preparar os documentos, se possível de caráter de direito comum,
utilizáveis para acusar. Manter os documentos e as ordens em segredo. Divulgar
por toda parte as instruções necessárias.” Algumas horas mais tarde seguiu o
terceiro e último telegrama, desta vez lacônico. “Deter todos os anarquistas e
acusá-los.” Todos os telegramas eram endereçados ao presidente do soviete dos
comissários do povo da Ucrânia, Rakovsky, assim como ao nome de outros
representantes civis e militares do poder da Ucrânia. Após o terceiro
telegrama, um dos camaradas, tendo conhecimento dos fatos, partiu a Krakhov
para avisar os anarquistas locais sobre a ação que se preparava. Mas chegou
tarde demais: a ação já havia ocorrido. Esse foi o chamado “complô” dos
anarquistas ucranianos contra o poder soviético. O Barão Piotr Nikolayevich
Wrangel foi o último general a comandar o Exército Branco contra as forças
comunistas. Após o armistício da Rússia com a Polônia, em outubro de 1920, os
soviéticos conseguiram juntar mais forças, fazendo com que ele recuasse para a
Criméia e, em novembro, se retirasse com suas tropas para Constantinopla, dando
fim à Guerra Civil Russa (NT).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">11 Não podemos, nesta
obra, ocuparmo-nos do exame de todas as razões que permitiram ao poder
comunista destruir com certa facilidade (com exceção da Ucrânia) um movimento
anarquista russo bastante forte. Isso nos distanciaria muito de nosso
propósito. Limitamo-nos, pois, a dar aqui um breve esclarecimento do momento
decisivo da paz de Brest-Litovsk e de suas consequências. A questão como um
todo representa um tema particular, ao qual pretendemos consagrar um estudo
específico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">12 Pode-se encontrar
detalhes deste acontecimento assim como a identidade de seus participantes no
famoso Livro vermelho da Tcheka, rapidamente retirado de circulação pelo
próprio poder, pois, entre outros motivos, segundo as palavras do próprio
Lênin, “Fala-se demasiadas verdades a propósito destes anarquistas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">13 Sobre Fanya Baron
ver adiante o artigo de Emma Goldman (NE).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">14 Taganka, é uma prisão
localizada em um bairro com o mesmo nome, no centro de Moscou (NT).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">15 Segue uma lista de
182 nomes de anarquistas vítimas da tcheka. (NE da tradução<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>francesa<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>1975).<o:p></o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-27295325130410606562023-08-01T04:00:00.001-07:002023-08-01T04:00:00.132-07:00Emma Goldman<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_cy6npTj_C3Z46azvRGWCd1ocasEhRXHOT5hvsfRdqHa92enRcA11xCX0i0LI62lPP11dcJrZ7n962YJ9OSWxve6YFmQggerDHGlSN3Cu8Gb3EPiMGD0uzOYGxOSMmgNCJOTrRFfl0EViKiI3ltD15fCcI6_h1LjTavj-tAJdi_CbhjxfWEZVl_uHNfdU/s277/emma%20goldman.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="182" data-original-width="277" height="421" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_cy6npTj_C3Z46azvRGWCd1ocasEhRXHOT5hvsfRdqHa92enRcA11xCX0i0LI62lPP11dcJrZ7n962YJ9OSWxve6YFmQggerDHGlSN3Cu8Gb3EPiMGD0uzOYGxOSMmgNCJOTrRFfl0EViKiI3ltD15fCcI6_h1LjTavj-tAJdi_CbhjxfWEZVl_uHNfdU/w640-h421/emma%20goldman.jpg" width="640" /></a></div><br /><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por muitos anos, Emma
Goldman foi uma pedra no sapato do governo norte-americano. Mas também não dá
para dizer que seu relacionamento com o poder soviético fosse muito melhor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Proteste diante dos
palácios dos ricos; exija trabalho. Se não te derem trabalho, exija pão. Se
eles negarem ambos, tomem o pão”, proclamou Goldman, febrilmente, em uma
manifestação de trabalhadores em Nova York em 1893. Para ‘Emma Vermelha’, uma
das líderes mais reconhecidas do movimento anarquista do início do século 1920,
nenhum método de buscar a justiça social estava fora de questão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Seu ativismo
turbulento, direcionado ao regime norte-americano da época, a transformou em
inimiga de Estado. O primeiro diretor do FBI, John Edgar Hoover, chegou a se
referir a Goldman como “a mulher mais perigosa da América”.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Luta
contra o poder<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Emma Goldman nasceu em
uma família judia na periferia ocidental do Império Russo, mas aos 17 anos se
mudou para os EUA, onde imediatamente se juntou ao movimento anarquista local.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Goldman logo se tornou
uma oponente eloquente do poder tradicional e das instituições religiosas,
fazendo campanha pela igualdade de gênero e pela oposição ao casamento, que,
segundo ela, limitava os direitos das mulheres.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Eu quero liberdade, o
direito de expressão, o direito de todos a coisas bonitas e radiantes.
Anarquismo significava isso para mim, e eu o viveria apesar do mundo inteiro –
prisões, perseguições, tudo. Sim, apesar da condenação de meus companheiros
mais próximos, eu viveria meu belo ideal”, escreveu Emma em sua autobiografia
de 1931, “Vivendo minha Vida”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 1892, ela ajudou seu
amante e aliado, Alexander Berkman, a atentar contra a vida “do homem mais
odiado da América”, Henry Clay Frick – um industrialista cruel e pior pesadelo
dos sindicatos. A missão foi um fracasso, com Berkman condenado a 14 anos de
prisão. Goldman conseguiu se safar, mas depois foi detida várias vezes por
incitar tumultos, distribuir literatura proibida e tentar assassinar também o
presidente William McKinley (embora sua cumplicidade nunca tenha sido
comprovada).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Goldman foi destituída
da cidadania dos EUA em 1908, mas continuou a viver no país, lutando por seus
ideais. No entanto, o governo norte-americano enfim conseguiu encontrar uma
maneira de se livrar de sua “pior inimiga”.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Arca
soviética<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em junho de 1919, uma
série de ataques terroristas ocorreu em várias cidades dos EUA, perpetrados
pelos seguidores do anarquista italiano Luigi Galleani como uma demonstração de
oposição a juízes e promotores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Embora sem vítimas, o
pânico resultante dos acontecimentos deixou elevou a tensão em todo o país. O
período ficou conhecido como “O Primeiro Susto Vermelho”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Medidas emergenciais
sem precedentes foram aplicadas, que levaram aos chamados Invasões de Palmer –
por conta do nome de seu organizador, o procurador-geral Alexander Mitchell
Palmer. No total, 249 radicais da esquerda e anarquistas foram detidos; a
maioria deles, imigrantes russos sem cidadania americana, incluindo Goldman,
acusada de incitar um motim. Ela e seus companheiros foram rapidamente
colocados no USAT Buford e enviados para a Rússia Soviética. O navio ficou
conhecido na imprensa como a “Arca soviética”. Hoover, então assistente
especial do procurador-geral, foi uma voz importante na campanha para eliminar
Emma.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Desilusão
na URSS<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Embora o anarquismo de
Goldman tivesse há muito se separado do marxismo (uma ideologia que ela chamou
de “fórmula fria, mecânica e escravizadora”), ela ainda nutria grandes
esperanças na “terra do vitorioso socialismo”. Não demorou muito, no entanto,
para que essas esperanças também fossem frustradas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">‘Emma Vermelha’ não
ficou nada satisfeita com a campanha de intimidação bolchevique contra seus
camaradas-anarquistas, especialmente o aparato burocrático pesado que os
bolcheviques haviam criado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante encontro com
Vladímir Lênin, o “pai” da Revolução Russa, ela ficou desencantada com a
posição do líder sobre liberdade de expressão como algo que poderia ser
sacrificado diante de circunstâncias atenuantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A repressão da rebelião
dos marinheiros de Kronstadt em 1921 foi a gota d’água para Goldman, embora ela
mesmo não criticasse o uso de meios violentos para alcançar fins políticos.
“Não há como ser extremo demais ao lidar com os males sociais; além disso, o
extremo é geralmente o verdadeiro”, escreveu certa vez. Apesar desse
posicionamento, a violência registrada em Kronstadt foi demasiada para ela. “Eu
vi diante de mim o Estado bolchevique, formidável, esmagando os esforços
revolucionários construtivos, suprimindo, degradando e desintegrando tudo”,
descreveu Ema em outro ensaio, intitulado “Minha desilusão na Rússia”.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O
não retorno<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Depois de mais esse
caminho tortuoso, Goldman e Berkman deixaram a Rússia para nunca mais voltar.
Pela frente, foram anos perambulando em países estrangeiros em busca de um novo
lar. Paralelamente, a maioria dos seguidores de Goldman acabou se afastando
dela, por sua recusa em apoiar o regime bolchevique.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Emma Goldman faleceu em
14 de maio de 1940, em Toronto. O governo dos EUA fez as pazes com sua antiga
inimiga e deu permissão para que seus restos mortais descansassem em solo
norte-americano. Gravada em seu local de descanso final em Forest-Park, no
estado de Illinois, está uma de suas famosas citações: “A Liberdade não descerá
para um povo, um povo deve se elevar à Liberdade”.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzPZHUw5XSt6KJWRu0MKbxV--Dac6WLE3n8hfvdYefAeCWkBpuffFpJLkx_InO-OGeKUyPHu-X6a3r0-SeFDfmCWXK40-vzhbDcINlr59f2V6E0zsOJFpzir3tbQABDrANHlfcFx6ypJMxDGeFgnHjEpJ70aDOG-B5oysQ1BLItYIqiWrNrqbwU5QKQXwU/s275/alexander%20e%20emma.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="275" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzPZHUw5XSt6KJWRu0MKbxV--Dac6WLE3n8hfvdYefAeCWkBpuffFpJLkx_InO-OGeKUyPHu-X6a3r0-SeFDfmCWXK40-vzhbDcINlr59f2V6E0zsOJFpzir3tbQABDrANHlfcFx6ypJMxDGeFgnHjEpJ70aDOG-B5oysQ1BLItYIqiWrNrqbwU5QKQXwU/w400-h266/alexander%20e%20emma.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 18.6667px; text-align: justify;">Emma Goldman e Alexander Berkman</span></td></tr></tbody></table><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Fonte: <a href="https://br.rbth.com/historia/83982-emma-vermelha-anarquista-eua" rel="nofollow" target="_blank">"'Emma Vermelha', a anarquista que lutou pela liberdade nos EUA (e se tornou sua maior inimiga", do Russia Beyond.</a></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-72766711792743836032023-05-04T13:32:00.003-07:002023-07-30T18:56:51.977-07:00 “A Comuna de Kronstadt” de Ida Mett (prefácio para a edição inglesa)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjicWR0Pl0oxVN87dHFExaz1CsD03jwmS_5iWDRZXTQSTuEMVVhHUG_aQxmVXUhogwiyAit8eUrNXg6xEkZK5SI8RqqHyfWGTcM5kY0w3YonHiBt5ZrudJHuANvxYKkuntzY-egYlQkzu4NaHxFL1ZUZQlb6qyG6y1VY1p80MdGk2pwRPbexRuw7sXifQ/s265/idam.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="265" data-original-width="190" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjicWR0Pl0oxVN87dHFExaz1CsD03jwmS_5iWDRZXTQSTuEMVVhHUG_aQxmVXUhogwiyAit8eUrNXg6xEkZK5SI8RqqHyfWGTcM5kY0w3YonHiBt5ZrudJHuANvxYKkuntzY-egYlQkzu4NaHxFL1ZUZQlb6qyG6y1VY1p80MdGk2pwRPbexRuw7sXifQ/w287-h400/idam.jpg" width="287" /></a></div>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">por Maurice
Brinton<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">novembro de 1967<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tradução:
Daniel Menezes Delfino<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><a href="https://criticadesapiedada.com.br/2020/09/14/a-luta-de-classes-na-interpretacao-de-kronstadt-maurice-brinton/" rel="nofollow" target="_blank">Fonte: Crítica Desapiedada</a></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O quinquagésimo
aniversário da Revolução Russa será abordado, analisado, celebrado ou lamentado
de várias maneiras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Para os negociantes do
misticismo religioso e os advogados da “liberdade de empreendimento”, a
deserção sensacional (e bem cronometrada) de Svetlana Stálin(1) “provaria” a
resiliência de suas respectivas doutrinas, agora demonstradas como capazes de
florescer naquilo que à primeira vista pareceria solo infértil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Para os liberais
incorrigíveis, a recente e cautelosa reintrodução da motivação pelo lucro em
certos setores da economia russa(2) “provaria” que o laissez-faire econômico é
sinônimo da natureza humana e que uma economia racionalmente planejada seria
sempre um piedoso sonho impossível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Para aqueles
“esquerdistas” (como o falecido Isaac Deutscher) que viam na industrialização
da Rússia uma garantia automática de atitudes mais liberais nos dias vindouros,
a prisão de Daniel e Sinyavsky(3) por crime de pensamento (e a perseguição em
andamento daqueles que os apoiaram) veio como um retumbante tapa na cara.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Para os “marxistas-leninistas”
da China (e Albânia), a reaproximação da Rússia com os Estados Unidos, sua
passividade na recente crise do Oriente Médio,(4) sua assinatura do Tratado de
Interdição de Testes(5) e sua influência reacionária nos desenvolvimentos revolucionários
nos países coloniais dariam testemunho de seu acelerado deslizamento no pântano
do revisionismo, após a morte do Grande Stálin(6) (Stálin, será lembrado como o
autor de medidas tão revolucionárias e não revisionistas como a eliminação dos
Velhos Bolcheviques, os Julgamentos de Moscou, a Frente Popular, o Pacto
Nazi-Soviético, os Acordos de Teerã e Yalta e as dinâmicas lutas dos Partidos
Comunistas francês e italiano no imediato pós-guerra, lutas que levaram à sua
tomada direta do poder em seus respectivos países).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Para os iugoslavos,
reintegrados afinal depois de sua errância adolescente fora do conjunto, a
reemergência de “sanidade” em Moscou será vista como corroboração de suas
piores suspeitas. Os “problemas” de 1948 foram claramente todos devidos às
maquinações do maligno Beria.(7) Mihajlo Mihajlov(8) agora sucede Djilas(9)
atrás das grades de uma prisão do povo… apenas para lembrar hereges políticos
de que também na Iugoslávia, a “democracia proletária” está confinada àqueles
que se abstém de perguntar as questões constrangedoras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Para os trotskistas de
toda laia, ao menos para aqueles capazes de pensar por si mesmos, o mero fato
das celebrações do quinquagésimo aniversário deveria dar o que pensar. O que as
palavras significam? O quanto uma sociedade em transição pode ser
“transicional”? Quatro décadas de “bonapartismo” não podem fazer da palavra uma
ninharia insignificante? Como os cristãos inabaláveis carregando sua cruz, os
trotskistas inabaláveis vão seguir adiante carregando a marca da sua questão
(relativa à evolução futura da sociedade russa) pelo resto da sua existência
terrena? Pois por quanto tempo mais eles vão seguir adiante gargarejando com as
velhas palavras de ordem de “restauração capitalista ou avanço rumo ao
socialismo” propostas por seu mentor em sua Revolução Traída… trinta anos
atrás! Certamente apenas os cegos podem agora deixar de enxergar que a Rússia é
uma sociedade de classe de novo tipo, e tem sido por várias décadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Aqueles que descartaram
essas mistificações – ou que nunca foram cegados por elas – verão as coisas
diferentemente. Eles vão sentir que não pode haver vestígio de socialismo numa
sociedade cujos governantes são capazes de aniquilar fisicamente os conselhos
operários húngaros,(10) denunciar igualitarismo e controle operário da produção
como desvios “pequeno-burgueses” ou “anarco-sindicalistas”, e aceitar o
assassinato a sangue frio de toda uma geração de revolucionários como meras
“violações da legalidade socialista”, a serem retificadas – tão cautelosamente
e cheio de tato – pela técnica de “reabilitação póstuma seletiva”. Será óbvio
para eles que algo deu seriamente errado com a Revolução Russa. O que foi que
deu errado? E quando a “degeneração” começou?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Aqui também as
respostas diferem. Para alguns os “excessos” e “enganos” são atribuíveis a uma
lamentável paranoia se insinuando lentamente sobre um Stálin em envelhecimento.
Essa interpretação (além do fato de tacitamente aceitar o próprio “culto do
indivíduo” que seus defensores dizem condenar) falha, entretanto, em explicar a
repressão de revolucionários e a conciliação com o imperialismo perpetrados num
período muito anterior. Para outros a “degeneração” se estabeleceu com a
derrota final da Oposição de Esquerda como uma força organizada (1927), ou com
a morte de Lênin (1924), ou com a abolição das facções no 10º Congresso do
Partido (1921). Para os bordiguistas, a proclamação da Nova Política Econômica
(1921) irrevogavelmente carimbou a Rússia como “capitalismo de estado”. Outros,
rejeitando corretamente essa preocupação com as minúcias da datação
revolucionária, destacam fatores mais gerais, embora, em nossa opinião, alguns
dos menos importantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nosso propósito em
publicar este texto sobre os eventos de Kronstadt em 1921 não é esboçar um
calendário alternativo. Nem estamos procurando ancestrais políticos. A
construção de uma sucessão apostólica ortodoxa é a menor de nossas preocupações
(num mundo em constante transformação, isso apenas daria testemunho da nossa
esterilidade teórica). Nossa tarefa é simplesmente documentar alguns dos
enfrentamentos reais – mas menos conhecidos – que tiveram lugar contra a
burocracia crescente durante os primeiros anos pós-revolucionários, num momento
em que os críticos posteriores da burocracia eram eles mesmos parte integrante
do aparato.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O quinquagésimo
aniversário da Revolução Russa nos presenteia com a absurda visão de uma classe
dominante russa (que a cada dia se assemelha mais com sua contraparte
ocidental) solenemente celebrando a revolução que derrubou o poder burguês e
permitiu às massas, por um breve momento, visualizar um tipo totalmente novo de
ordem social.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O que tornou possível
esse trágico paradoxo? O que estilhaçou aquela visão? Como a revolução
degenerou?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Muitas explicações são
oferecidas. A história de como a classe operária russa foi despojada não é,
entretanto, uma questão de discussão esotérica entre facções políticas, que
compensam sua própria irrelevância por jornadas mentais no mundo encantado do
passado revolucionário. Um entendimento do que teve lugar é essencial para todo
socialista sério. Não é mero arquivismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nenhuma classe
dominante viável domina apenas pela força. Para dominar ela deve conseguir que
sua própria visão da realidade seja aceita pela sociedade de modo geral. Os
conceitos pelos quais ela tenta legitimar seu domínio precisam ser projetados
no passado. Os socialistas têm reconhecido corretamente que a história ensinada
nas escolas burguesas revela uma visão de mundo particular e distorcida. Que a
história socialista tenha permanecido na sua maior parte não escrita é uma
medida de fraqueza do movimento revolucionário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O que passa por
história socialista é frequentemente apenas uma imagem espelhada da
historiografia burguesa, uma infiltração dentro das fileiras do movimento
operário de métodos de pensamento tipicamente burgueses. No mundo desse tipo de
“historiadores”, os líderes e gênios substituem os reis e rainhas do mundo
burguês. Congressos famosos, rachas e controvérsias, a ascensão e queda de
partidos políticos ou sindicatos, a emergência ou degeneração dessa ou aquela
liderança substituem as batalhas mortíferas dos dominadores do passado. As
massas nunca aparecem independentemente no palco histórico, fazendo sua própria
história. No melhor caso elas “fornecem o vapor”, habilitando outros a dirigir
a locomotiva, como Stálin colocou tão delicadamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Na maior parte do
tempo, historiadores ‘oficiais’ não têm olhos para ver ou ouvidos para ouvir os
atos e palavras que expressam a atividade espontânea da classe operária… Lhes
faltam as categorias de pensamento – alguém poderia dizer até que faltam as
células cerebrais – necessárias para entender ou mesmo perceber essa atividade
como ela realmente é. Para eles uma atividade que não tem líder ou programa,
nem instituições e nem estatutos, pode apenas ser descrita como ‘problemas’ ou
‘desordens’. A atividade espontânea das massas pertence por definição ao que a
história suprime.”(11)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Essa tendência de
identificar a história da classe operária com a história de suas organizações,
instituições e líderes não é apenas inadequada – ela reflete uma visão
tipicamente burguesa do gênero humano, dividido de maneira quase pré-ordenada
entre os poucos que administram e decidem, e os muitos, a massa maleável,
incapaz de agir conscientemente em seu próprio interesse, e para sempre
destinada a permanecer o “objeto” (e nunca o “sujeito”) da história. A maioria
das histórias da degeneração da Revolução Russa raramente alcança mais do que
isso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A burocracia stalinista
foi única em ter apresentado uma visão da história baseada em mentiras
absolutas, ao invés da mistura mais usual de distorção sutil e
automistificação. Mas as revelações de Kruschev(12) e os desenvolvimentos
subsequentes na Rússia fizeram com que as versões oficiais dos eventos (em
todas as suas variações) fossem questionadas até mesmo por membros do Partido
Comunista. Até os graduandos do que Trotsky chamou de “escola de falsificação
de Stálin” estão agora começando a rejeitar as mentiras da era stalinista.
Nossa tarefa é levar o processo de desmistificação um pouco mais adiante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">De todas as
interpretações da degeneração da Revolução Russa a de Isaac Deutscher é a mais
amplamente aceita na esquerda. Ela ecoa a maioria das pressuposições dos
trotskistas. Apesar de ser uma melhoria em relação às versões stalinistas, está
longe de ser suficiente. A degeneração é vista como sendo devida a fatores
estritamente conjunturais (o isolamento da revolução em um país atrasado, a
devastação causada pela guerra civil, o peso esmagador do campesinato, etc.).
Esses fatores são indubitavelmente importantes. Mas o crescimento da burocracia
é mais do que apenas um acidente na história. É um fenômeno de escala mundial,
intimamente ligado a um certo estágio no desenvolvimento da consciência da
classe operária. É o terrível preço pago pela classe operária por seu atraso em
reconhecer que sua emancipação final e verdadeira só pode ser alcançada pela
própria classe operária, e não pode ser confiada a outros, alegadamente agindo
em seu nome. Se o “socialismo é autoconsciência total e positiva do homem”
(Marx, 1844), a experiência (e rejeição) da burocracia é um passo nessa
direção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os trotskistas negam
que as oposições iniciais ao desenvolvimento da burocracia tinham qualquer
conteúdo revolucionário. Ao contrário, eles denunciam a Oposição Operária e os
rebeldes de Kronstadt como basicamente contrarrevolucionários. Oposição real,
para eles, começa com a proclamação, dentro do partido, da Oposição de Esquerda
de 1923. Mas qualquer um ao menos familiarizado com o período saberá que em
1923 a classe operária já tinha suportado uma derrota decisiva. Já tinha
perdido o poder na produção para um grupo de gerentes apontados desde cima. Já
tinha também perdido poder nos conselhos,(13) que eram agora apenas um fantasma
da sua antiga forma, um carimbo para a burocracia emergente. A Oposição de
Esquerda lutou dentro dos limites do partido, que já estava ele mesmo altamente
burocratizado. Nenhum número substancial de operários marchou por sua causa. A
vontade de lutar dos operários já tinha sido consumida pelos longos
enfrentamentos dos anos precedentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A oposição às medidas
antioperárias tomadas pela liderança bolchevique nos anos imediatamente
seguintes à revolução tomou muitas formas e se expressou por muitos canais
diferentes e em muitos níveis. Ela se expressou dentro do próprio partido,
através de numerosas tendências de oposição, das quais a Oposição Operária
(Kollontai, Lutovinov, Shlyapnikov) é a mais conhecida.(14) Fora do partido a
oposição revolucionária encontrou expressão heterogênea, na vida de numerosos
grupos, frequentemente ilegais (alguns anarquistas, alguns
anarcossindicalistas, outros professando ainda uma fidelidade básica ao
marxismo).(15) Ela também encontrou expressão na atividade espontânea e
frequentemente “não organizada” da classe, como as grandes greves em
Leningrado(16) em 1921 e a revolta de Kronstadt. Ela encontrou expressão na
crescente resistência dos operários à política industrial bolchevique (e em
particular à tentativa de Trotsky de militarizar os sindicatos). Ela também
encontrou expressão na resistência proletária às tentativas bolcheviques de
expulsar todas as outras tendências dos conselhos, dessa forma efetivamente
amordaçando todos aqueles que buscavam reorientar a construção socialista
conforme linhas inteiramente diferentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Num estágio inicial,
várias tendências lutaram contra a degeneração burocrática da Revolução. Ao
excluí-los postumamente das fileiras revolucionárias, trotskistas, leninistas e
outros cometem uma dupla injustiça. Primeiramente eles excomungam todos aqueles
que previram e enfrentaram a burocracia nascente antes de 1923, dessa forma se
tornando surdos a algumas das mais pertinentes e válidas críticas já enunciadas
contra a burocracia. Secundariamente, eles enfraquecem sua própria causa, pois
se as demandas por conselhos livremente eleitos, por liberdade de expressão
(democracia proletária) e por gestão operária da produção estavam erradas em
1921, por que elas se tornaram parcialmente corretas em 1923? Por que são
corretas agora? Se em 1921 Lênin e Trotsky representavam os “reais interesses”
dos operários (contra os próprios operários), por que Stalin não poderia? Por
que Kadar(17) não poderia na Hungria em 1956? A escola trotskista de
santificação tem ajudado a obscurecer as verdadeiras lições da luta contra a
burocracia.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando se estuda
seriamente os anos cruciais após 1917, quando o destino da Revolução Russa
ainda estava em ebulição no caldeirão, tem-se a atenção repetidamente voltada
para os trágicos eventos da revolta de Kronstadt de 1921. Esses eventos são, de
uma maneira sangrenta e dramática, a epítome da luta entre dois conceitos de
Revolução, dois métodos revolucionários, dois tipos de ethos revolucionário.
Quem decide o que é e o que não é interesse da classe operária em longo prazo?
Quais métodos são permitidos para acertar as diferenças entre revolucionários?
E quais métodos têm dois gumes e são capazes de, na longa duração, prejudicar a
própria Revolução?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Há notavelmente pouco
de natureza detalhada disponível em inglês sobre os eventos de Kronstadt. As
histórias stalinistas, revisadas e reeditadas de acordo com as fortunas
flutuantes dos funcionários do partido, não valem o papel em que são escritas.
Elas são um insulto à inteligência de seus leitores, tratados como incapazes de
comparar os mesmos fatos descritos em edições anteriores e posteriores do mesmo
livro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os escritos de Trotsky
sobre Kronstadt são poucos e mais preocupados com justificação retrospectiva e
com a marcação de pontos no debate contra os anarquistas,(18) do que em
analisar seriamente esse episódio particular da Revolução Russa. Trotsky e os
trotskistas são particularmente atentos ao perpetuar o mito de que eles foram a
primeira e única tendência anti-burocrática coerente. Todos os seus escritos buscam
esconder o quanto a burocratização tanto do partido como dos conselhos já tinha
ido longe em 1921, isto é, o quanto já tinham ido longe durante o período em
que Lênin e Trotsky tinham controle total e indisputado. A tarefa para os
revolucionários sérios hoje é ver a ligação entre as atitudes e pronunciamentos
de Trotsky antes e durante o “grande debate sindical” de 1920-21 e a saudável
hostilidade ao trotskismo das camadas mais avançadas e revolucionárias da
classe operária industrial. Essa hostilidade se manifestaria, de armas na mão,
durante a revolta de Kronstadt. Ela se manifestaria também dois ou três anos
depois, dessa vez de braços cruzados, quando essas camadas avançadas deixaram
de marchar em apoio a Trotsky, quando ele finalmente decidiu desafiar Stálin,
dentro dos estreitos limites da máquina do partido, para cuja burocratização
ele tinha contribuído significativamente.(19)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Deutscher no “Profeta
Armado” retrata o pano de fundo da Rússia durante os anos da Guerra Civil, o
sofrimento, o deslocamento econômico, a exaustão física absoluta da população.
Mas o retrato é unilateral, ele se propõe a afirmar que a “vontade de ferro dos
bolcheviques” era o único elemento de ordem, estabilidade e continuidade numa
sociedade que estava pairando à beira do colapso total. Ele presta atenção
reduzida às tentativas feitas por grupos de operários e revolucionários, tanto
dentro do partido como fora de suas fileiras, de tentar a reconstrução social
numa base inteiramente diferente, desde baixo.(20) Ele não discute a permanente
oposição e hostilidade dos bolcheviques à gestão operária da produção(21) ou na
verdade a qualquer empreendimento em larga escala que escapasse à sua dominação
e controle. Dos eventos de Kronstadt em si, das calúnias dos bolcheviques contra
Kronstadt e da repressão frenética que se seguiu aos eventos de março de 1921,
Deutscher diz quase nada, a não ser que as acusações dos bolcheviques contra
Kronstadt eram “infundadas”. Deutscher falha totalmente em enxergar a relação
direta entre os métodos usados por Lênin e Trotsky em 1921 e aqueles outros
métodos, aperfeiçoados por Stálin e depois usados contra os próprios velhos
bolcheviques durante os notórios julgamentos de Moscou de 1936, 1937 e 1938.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nas “Memórias de um
Revolucionário” de Victor Serge há um capítulo dedicado a Kronstadt.(22) Os
escritos de Serge são particularmente interessantes pelo fato de que ele estava
em Leningrado (sic) em 1921 e apoiava o que os bolcheviques estavam fazendo,
mesmo que relutantemente. Entretanto, ele não recorreu às difamações e
deturpações de outros membros da liderança do partido. Seus comentários trazem
luz ao estado mental quase esquizofrênico dos militantes de base do partido
naquele momento. Por diferentes razões, nem os trotskistas nem os anarquistas
perdoaram em Serge sua tentativa de reconciliar o que havia de melhor em suas
respectivas doutrinas: a preocupação com a realidade e a preocupação com
princípios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Escritos anarquistas de
algum valor e facilmente disponíveis (em inglês) sobre o assunto são virtualmente
inexistentes, apesar do fato de que muitos anarquistas consideram essa área
relevante para suas ideias. “Vivendo Minha Vida” de Emma Goldman e “O Mito
Bolchevique” de Berkman contém algumas páginas vívidas mas altamente subjetivas
sobre a rebelião de Kronstadt. “A Revolta de Kronstadt” de Anton Ciliga
(produzido como panfleto em 1942) é um excelente relato curto que encara
diretamente algumas das questões fundamentais. Está indisponível há anos. O
relato de Voline, por outro lado, é muito simplista. Fenômenos complexos como a
revolta de Kronstadt não podem ser significativamente interpretados por
generalizações carregadas do tipo “como marxistas, autoritários e estatistas,
os bolcheviques não poderiam permitir nenhuma liberdade ou ação independente às
massas”. (Muitos argumentaram que há fortes traços blanquistas(23) e até mesmo
bakuninistas no bolchevismo, e que é precisamente esses afastamentos do
marxismo que estão na raiz da ideologia e prática “elitistas” dos
bolcheviques). Voline até mesmo reprova os rebeldes de Kronstadt por “falarem
em poder (o poder dos conselhos) ao invés de se livrarem da palavra de uma
vez…” A luta prática, entretanto, não era contra “palavras” ou “ideias”. Era
uma luta física contra sua encarnação concreta na história (na forma de
instituições burguesas). É um sinal da confusão dos anarquistas nessa questão
que eles possam igualmente reprovar os bolcheviques por terem dissolvido a
assembleia constituinte(24) e os rebeldes de Kronstadt por proclamarem que
defendiam o poder dos conselhos! Os anarquistas nos conselhos claramente
percebiam o que estava em jogo, mesmo que muitos dos seus sucessores falhem em
fazê-lo. Eles lutaram para defender a conquista mais profunda de outubro, o
poder dos conselhos, contra todos os seus usurpadores, incluindo os
bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nossa contribuição às
celebrações do quinquagésimo aniversário não consiste nos usuais panegíricos às
aquisições dos mísseis e foguetes russos. Nem cantaremos odes às estatísticas
da produção russa de aço. A expansão industrial pode ser um pré-requisito para
uma vida melhor e mais completa, mas não é de forma alguma um sinônimo de uma
tal vida, a menos que todas as relações sociais tenham sido revolucionadas. Nós
estamos mais preocupados com os custos sociais das conquistas russas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alguns perceberam quais
seriam esses custos num estágio bem inicial. Nós estamos interessados em trazer
suas advertências proféticas a uma audiência bem mais ampla. O massacre final
em Kronstadt teve lugar em 18 de março de 1921, exatamente cinquenta anos
depois do extermínio dos comunardos por Thiers e Callifet. Os fatos sobre a
Comuna são bem conhecidos. Mas cinquenta anos depois da Revolução Russa nós
ainda temos que buscar informações básicas sobre Kronstadt. Os fatos não são
fáceis de obter. Eles quedaram soterrados por montanhas de calúnias e
distorções despejados sobre eles por stalinistas e trotskistas igualmente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A publicação deste
panfleto em inglês, neste momento particular, é parte deste empreendimento. O
livro de Ida Mett “A Comuna de Kronstadt” foi publicado pela primeira vez em
1938. Ele foi republicado na França dez anos depois, mas esteve indisponível
por muitos anos. Em 1962 e 1963 certas partes dele foram traduzidas em inglês e
apareceram em Solidarity (II, 6 a 11). Nós agora temos o prazer de trazer aos
leitores falantes de inglês uma versão levemente abreviada do livro como um
todo, que contém materiais até agora indisponíveis na Inglaterra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Além de vários textos
publicados no próprio local em março de 1921, o livro de Ida Mett contém a
carta aberta de Petrichenko de 1926, endereçada ao Partido Comunista Britânico.
Petrichenko foi o presidente do Comitê Revolucionário Provisório de Kronstadt.
Sua carta se refere às discussões no Bureau Político do Partido Comunista
Britânico sobre a questão de Kronstadt, discussões que parecem ter aceito que
não houve intervenções estranhas durante a revolta (membros do partido e outros
podem buscar esclarecimento adicional sobre a questão em King Street,(25) cujos
arquivos sobre o assunto devem proporcionar uma leitura interessante).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ida Mett escreve de um
ponto de vista anarquista. Seus escritos, entretanto, representam o que há de
melhor na tradição revolucionária do “anarquismo de luta de classes”. Ela pensa
em termos de uma solução coletiva, proletária, aos problemas do capitalismo. A
rejeição da luta de classes, o anti-intelectualismo, a preocupação com
moralidade transcendental e salvação pessoal que caracteriza tantos dos
anarquistas de hoje não deve desviar os “marxistas” de prestar atenção
seriamente ao que ela escreve. Nós não necessariamente endossamos todos os seus
julgamentos e em algumas notas de rodapé corrigimos uma ou duas imprecisões
factuais menores em seu texto. Algumas das suas generalizações parecem para nós
muito sumárias e algumas das suas análises do fenômeno burocrático muito
simples para ter algum uso real. Mas como uma crônica do que teve lugar antes,
durante e depois de Kronstadt, seu relato permanece insuperável.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Seu texto joga uma luz
interessante sobre a atitude em relação à revolta de Kronstadt mostrada no
momento por várias tendências políticas russas (anarquistas, mencheviques,
Socialistas Revolucionários – SR – de esquerda e de direita, bolcheviques,
etc.). Alguns para quem a abordagem da política é superficial ao extremo (e
para quem uma difamação ou palavra de ordem é substituto para o entendimento
real) vão apontar acusadoramente para alguns desses testemunhos, para alguns
desses manifestos e resoluções, como uma evidência condenando irrevogavelmente
os rebeldes de Kronstadt. “Veja”, eles vão dizer “o que os mencheviques e SR de
direita estão dizendo. Veja como eles estão defendendo um retorno à Assembleia
Constituinte, e ao mesmo tempo proclamando sua solidariedade com Kronstadt.
Isso não é uma prova positiva de que Kronstadt era um levantamento
contrarrevolucionário? Vocês mesmos admitem que renegados como Victor Tchernov,
presidente eleito da Assembleia Constituinte, ofereceu ajuda a Kronstadt? Que
evidência adicional é necessária?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nós não temos medo de
apresentar todos os fatos aos nossos leitores. Deixe que julguem por si mesmos.
Temos a firme convicção de que a maioria dos leninistas e trotskistas é mantida
tão ignorante desse período da história russa quanto os stalinistas do período
dos julgamentos de Moscou. No melhor dos casos eles pressentem vagamente a
presença de esqueletos no armário. No pior, eles papagaiam vagamente o que seus
líderes lhes contam, intelectualmente preguiçosos demais ou politicamente muito
bem condicionados demais para pesquisar por si mesmos. Revoluções reais nunca
são “puras”. Elas desencadeiam as paixões mais profundas dos homens. As pessoas
participam ativamente e são tragadas ao vórtice de tais acontecimentos por uma
variedade de razões frequentemente contraditórias. Consciência e falsa
consciência estão inextricavelmente misturadas. Um rio em plena cheia
inevitavelmente carrega consigo uma certa quantidade de escombros. Uma
revolução em plena vazão carrega inúmeros cadáveres políticos, e pode até mesmo
momentaneamente dar-lhes um aspecto de vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante a Revolução
Húngara de 1956 foram muitas as mensagens de apoio verbal ou moral aos
rebeldes, emanando do ocidente, piedosamente pregando as virtudes da democracia
burguesa e da livre empresa. O objetivo daqueles que falavam nesses termos era
qualquer coisa menos a instituição de uma sociedade sem classes. Mas o seu
apoio aos rebeldes permaneceu puramente verbal, particularmente quando se
tornou claro para eles que os verdadeiros objetivos da revolução eram: uma
democratização fundamental das instituições húngaras sem a reversão para a
propriedade privada dos meios de produção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A espinha dorsal da
Revolução Húngara era a rede de conselhos operários. Sua principal demanda era
por gestão operária da produção e um governo baseado nos conselhos. Esses fatos
justificavam o apoio dos revolucionários ao redor do mundo. Apesar dos
Mindszentys.(26) Apesar dos pequenos proprietários e socialdemocratas, ou suas
sombras, agora tentando pegar carona no bonde revolucionário. O critério de classe
é o decisivo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Considerações similares
se aplicam também à rebelião de Kronstadt. Seu núcleo eram os marinheiros
revolucionários. Seus principais objetivos eram do tipo com os quais nenhum
revolucionário de verdade poderia discordar. Que outros buscassem tirar
vantagem da situação é inevitável, e irrelevante. A questão é quem está
decidindo a melodia.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As atitudes em relação
aos eventos de Kronstadt, expressas quase cinquenta anos depois do evento,
fornecem uma visão profunda sobre o pensamento político de revolucionários
contemporâneos. Elas podem de fato fornecer uma visão mais profunda do interior
de seus alvos conscientes e inconscientes do que muitas discussões eruditas
sobre economia ou filosofia, ou sobre outros episódios da história revolucionária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É uma questão das
atitudes básicas a respeito do que é o socialismo afinal de contas. O que foi
sintetizado nos eventos de Kronstadt são alguns dos problemas mais difíceis de
estratégia e ética revolucionárias: o problema dos meios e fins, das relações
entre partido e massas, ou mesmo de que sequer um partido é necessário afinal
de contas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A classe operária pode
desenvolver por si mesma apenas uma consciência sindical?(27) Ela deveria até
mesmo ser autorizada, em qualquer circunstância, a ir tão longe?(28)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ou a classe operária
pode desenvolver uma consciência e compreensão mais profundas de seus
interesses do que qualquer organização alegadamente agindo em seu nome? Quando
os stalinistas e trotskistas falam em Kronstadt como uma “ação essencial contra
um inimigo de classe”, quando revolucionários mais “sofisticados” se referem a
isso como uma “necessidade trágica”, tem-se o direito de pausar por um momento.
Tem-se o direito de perguntar o quão seriamente eles aceitam o dito de Marx de
que “a emancipação da classe operária é uma tarefa da própria classe operária”.
Eles levam isso a sério ou apenas repetem as palavras da boca para fora? Eles
identificam o socialismo com a autonomia (organizacional e ideológica) da
classe operária? Ou eles veem a si mesmos, com sua sabedoria sobre os
“interesses históricos” dos outros, e com seus julgamentos sobre o que deveria
ser “permitido”, como a liderança em torno da qual a futura elite vai se
desenvolver e cristalizar? Tem-se o direito não apenas de perguntar… mas também
de sugerir a resposta!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Notas:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(1) [N.T.] Svetlana
Stalin (1926-2011) era a filha mais nova de Stalin, sendo formada em inglês e
história dos Estados Unidos. Em 1967, justamente o ano da comemoração do 50º
aniversário da Revolução Russa, ela desertou para os Estados Unidos, evento que
foi explorado de maneira sensacionalista pela imprensa anticomunista. Na década
de 1980 ela chegou a retornar para a URSS, e viveu alternadamente entre
Inglaterra e Estados Unidos, até morrer naquele país. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(2) [N.T.] Em 1965 o
governo recém-empossado de Brejnev (1964-1982) lançou medidas de
descentralização da economia, dando maior autonomia aos dirigentes das empresas
para planejar suas metas de acordo com parâmetros que simulassem a busca do
lucro (evidentemente, a burocracia jamais cogitaria em medidas que dessem algum
poder aos operários). Entretanto, essas medidas foram logo hostilizadas pela
burocracia do partido e refreadas, de modo que a economia soviética entrou num
longo período de estagnação, até a adoção definitiva de reformas de mercado por
Gorbatchev na década de 1980. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(3) [N.T.] Andrei
Sinyavsky e Yuli Daniel foram dois escritores russos condenados em 1966 ao
confinamento em campos de trabalho forçado (gulags) por publicarem no exterior
e sob pseudônimo obras satíricas contra a sociedade russa. Receberam a
solidariedade de vários intelectuais no país, no que foi um dos pontos de
partida do movimento de dissidência no campo da literatura e das artes.
(retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(4) [N.T.] Evento
depois conhecido como Guerra dos Seis Dias, em que Israel, apoiado pelos
Estados Unidos, derrotou Egito, Síria, Jordânia e Iraque e ocupou militarmente
a Cisjordânia, a Faixa de Gaza (os chamados “territórios palestinos ocupados”,
os quais retêm até hoje e nos quais aplica uma política de limpeza étnica
contra a população palestina) e a península do Sinai (depois devolvida ao Egito
em 1982). A URSS não interveio no conflito. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(5) [N.T.] O Tratado de
Interdição Parcial de Testes Nucleares foi assinado em 1963 entre Estados
Unidos, Reino Unido e URSS, sendo depois aberto para a assinatura e ratificação
por mais de uma centena de países (inclusive o Brasil), como uma forma de
tentar impedir a proliferação de armas nucleares e refrear a corrida
armamentista. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(6) [N.T.] O autor
ironiza o discurso dos governos da China sob a liderança de Mao Tsé-Tung e da
Albânia de Enver Hoxha, que supostamente se mantinham fiéis aos princípios do
socialismo, que teriam sido abandonados pela URSS. Eles atribuíam o abandono do
socialismo na URSS ao “revisionismo” de Kruschev (ver nota 11), que sucedeu
Stálin e introduziu algumas reformas cosméticas no regime de terror policial
com o qual a burocracia submetia o conjunto da sociedade. Na sequência, o autor
também ironiza as medidas ditas revolucionárias de Stálin. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(7) [N.T.] Laurenti
Beria (1899-1953) foi um dos chefes da policia soviética, na sua época chamada
de NKVD (depois KGB), sendo assim um dos braços direitos de Stálin, responsável
por inúmeras perseguições e massacres contra adversários reais ou supostos do
dirigente máximo. Era uma das pessoas mais temidas da antiga URSS, até ele
próprio ser condenado à morte e executado pouco depois da morte de seu líder. O
autor alude à versão de que as intrigas de Beria seriam responsáveis pela
ruptura entre Stálin e Josip Broz “Tito” (dirigente máximo da Iugoslávia desde
o fim da II Guerra até a sua morte em 1980). Na realidade, a relativa
independência da Iugoslávia em relação ao restante do bloco soviético deveu-se
ao fato de que naquele país a guerrilha comunista (partisans) foi responsável
por expulsar a ocupação nazista do país, sem depender do apoio dos aliados ou
do Exército Vermelho da URSS (assim como na Albânia). Isso deu autoridade a
Tito, dirigente militar e político do PC iugoslavo, para não se submeter
totalmente a Stálin e buscar um rumo próprio para o socialismo (que na
realidade não era muito diferente do da própria URSS, no sentido de que também
não permitia nenhum grau de controle direto dos operários sobre a produção e
sobre as demais instituições). Posteriormente, Tito chegou a um acordo com
Kruschev em 1955 e seu país se reconciliou com a URSS. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(8) [N.T.] Mihajlo
Mihajlov (1934-2010) foi um acadêmico iugoslavo estudioso de literatura russa
condenado em 1965 por publicar no exterior um texto que “difamava” a URSS, que
já era então um país aliado. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(9) [N.T.] Milovan
Djilas (1911-1995) foi um dos dirigentes do PC iugoslavo e do movimento
partisan, que divergiu de Tito em razão da forma centralizadora do regime
político, tendo sido expulso do partido em 1954. Djilas foi preso por vários
períodos nas décadas de 1950 e 1960 por suas declarações contrárias ao regime
iugoslavo e ao stalinismo. Na prisão ele dedicou-se a escrever história e
literatura e, ao contrário de outros dissidentes, nunca emigrou e viveu até o
fim em seu país. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(10) [N.T.] Referência
à revolta húngara de 1956, em que o governo stalinista do país foi derrubado,
num movimento em que o protagonismo coube aos conselhos de operários das
fábricas. Entretanto, a URSS interveio com tropas para reprimir a revolta,
dissolver os conselhos e reinstalar um governo fantoche. Até a altura em que o
texto foi escrito, em 1967, essa revolta permanecia sendo o principal exemplo
de luta contra o sistema stalinista em um país do leste europeu, uma vez que a
Primavera de Praga, que teve igual destino, só aconteceria no ano seguinte, e
ficou mais famosa devido ao contexto dos diversos outros acontecimentos
marcantes de 1968. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(11) Paul Cardan, Do
Bolchevismo à Burocracia (Solidarity Pamphlet 24). (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(12) [N.T.] Referência
ao discurso de Nikita Kruschev (1894-1971) em fevereiro de 1956, no XX
Congresso do Partido Comunista da URSS. Kruschev tinha sucedido Stálin desde
1953 e permaneceria como dirigente máximo até 1964. Depois de haver expurgado
os colaboradores mais diretos do antigo líder, tornou pública a denúncia dos
“crimes contra a legalidade socialista” cometidos por Stálin (referência ao
extermínio dos antigos dirigentes do partido, os chamados velhos bolcheviques)
e repudiou o que foi chamado de “culto da personalidade” do líder. Na verdade,
tratava-se de uma forma da burocracia stalinista “mudar para que tudo
continuasse como antes”, ou seja, fazer algumas concessões e distensionar o
clima de terror e desconfiança em que viviam os integrantes do próprio aparato
do partido, do Estado e o conjunto da sociedade russa, mas sem abrir mão do
poder político e privilégios. Na prática, reconheceram-se “erros” e “excessos”
de Stálin, mas atribuiu-se tudo à pessoa do antigo líder, e manteve-se
inalterada a estrutura de uma ditadura de partido único, sem qualquer margem de
autonomia para a classe operária, nem na gestão da produção, nem nas demais
instituições. Naquele mesmo ano, a repressão à revolta húngara mostrou que a
mal chamada “desestalinização” não significaria também abrir mão do controle da
URSS sobre os seus chamados estados-satélites do leste europeu. (retornar ao
texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(13) [N.T.] Optamos por
traduzir “soviets”, como está no texto original em inglês, e também como já vem
sendo usado em português há várias décadas; diretamente como conselhos. O uso
da palavra russa soviet para designar os conselhos operários, embora já esteja
consagrado na nossa língua, acaba por atenuar impacto e o significado profundo
do destino dessas instituições. Dizer que o poder dos “soviets” foi usurpado
pelos bolcheviques não causa tanto impacto quanto dizer que os bolcheviques
suprimiram e usurparam o poder de conselhos operários. É esse impacto que
buscamos realçar ao traduzir diretamente soviet como conselho. (retornar ao
texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(14) Para informações
sobre o seu programa ver A Oposição Operária por Alexandra Kollontai. Essa obra
foi pela primeira vez publicada em inglês em Workers Deadnough de Sylvia
Pankhurst em 1921 e republicado em 1961 em Solidarity Pamphlet 8. (retornar ao
texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(15) A história de
grupos como Verdade Operária e Luta Operária ainda precisa ser escrita.
(retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(16) [N.T.] A cidade de
São Petersburgo foi fundada pelo Czar Pedro, o Grande, em 1703, e foi capital
do império russo até 1918, em plena Revolução, quando a sede foi transferida
para Moscou, que é até hoje a capital. De 1914 a 1924 a cidade de São
Petersburgo foi rebatizada como Petrogrado (era esse o seu nome no momento dos
acontecimentos citados pelo autor), e só a partir de 1924 ela teve o nome de
Leningrado, que é como aparece no texto, com certa imprecisão, portanto. Desde
1991, com a queda da URSS, ela voltou a ter o nome original de São Petersburgo.
(retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(17) [N.T.] Janos Kadar
(1912-1989) foi o burocrata colocado pela URSS como ditador da Hungria depois
que as tropas soviéticas derrotaram a Revolução dos Conselhos de 1956. A
revolução tinha temporariamente derrubado o governo stalinista anterior, até
ser sufocada pela URSS. Kadar permaneceu no cargo até 1988. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(18) Uma tarefa fácil
depois de 1936, quando alguns bem conhecidos “líderes” anarquistas (sic!)
entraram no governo da Frente Popular na Catalunha no começo da Guerra Civil
Espanhola e foram autorizados a continuar lá pelos anarquistas de base. Essa
ação, numa área em que os anarquistas tinham uma base de massas no movimento
dos trabalhadores, condenou-os irrevogavelmente, assim como os desenvolvimentos
da Revolução Russa condenaram irrevogavelmente os mencheviques, como incapazes
de resistir ao teste dos eventos. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(19) Três declarações
de Comunismo e Terrorismo de Trotsky (Ann Harbor: University of Michigan Press,
1961), publicadas originalmente em 1920, vão ilustrar esse ponto: “a criação de
uma sociedade socialista significa a organização dos operários sobre novas
fundações, sua adaptação a essas fundações e sua reeducação ao trabalho, com
uma finalidade inalterável de aumentar a produtividade do trabalho…” (p. 146).
“Eu considero que se a Guerra Civil não tivesse espoliado a nossa economia de
todos que eram mais fortes, mais independentes, mais dotados com iniciativa,
nós deveríamos indubitavelmente ter seguido o caminho da gerência por um homem
só na esfera da administração econômica muito mais cedo e muito menos
dolorosamente” (p.162-163). “Nós temos sido mais de uma vez acusados de ter
substituído a ditadura dos conselhos pela ditadura de nosso próprio partido… Na
substituição do poder da classe operária pelo poder do partido não há nada
acidental, e na realidade não há substituição nenhuma. Os comunistas expressam
os interesses fundamentais da classe operária…” (p. 109). Eis aí os
antecedentes anti-burocráticos do trotskismo. É interessante que o livro tenha
sido altamente exaltado por Lênin. Lênin apenas entrou em discussão com Trotsky
sobre a questão sindical na reunião do comitê central de 8 e 9 de novembro de
1920. Durante a maior parte de 1920 Lênin endossou todos os decretos
burocráticos de Trotsky em relação aos sindicatos. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(20) Para um relato
interessante do crescimento do Movimento dos Comitês de Fábrica e da oposição a
eles pelos bolcheviques no Primeiro Congresso dos Sindicatos de toda a Rússia
(janeiro de 1918) ver A Guilhotina em Ação de Maximov (Chicago, 1940). (retornar
ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(21) No Nono Congresso
do Partido (março de 1920) Lênin apresentou uma resolução para efetivar que a
tarefa dos sindicatos fosse explicar a necessidade de uma “máxima redução da
administração colegiada e a introdução gradual da gerência individual nas
unidades engajadas diretamente na produção” (Robert V. Daniels, A Consciência
da Revolução, Cambridge, Massachussets, 1960, p. 124). (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(22) Os escritos de
Serge sobre esse assunto foram trazidos a atenção dos leitores no Reino Unido
pela primeira vez em 1961 (Solidarity I, 7). Esse texto foi depois reimpresso
como panfleto. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(23) [N.T.] Louis
August Blanqui (1805-1881) foi uma figura célebre nos movimentos
revolucionários franceses do século XIX, sendo a representação mais acabada do
projeto de que a tomada do poder depende muito mais da ação de um pequeno grupo
de indivíduos muito determinados, do que de uma ampla base de apoio social e de
um projeto de transformação geral, baseado em alguma leitura prévia da sociedade,
etc. Foi uma espécie de precursor daquilo que no século XX ficaria conhecido
como “foquismo”, a ideia de que um pequeno grupo armado, inicialmente
clandestino, pode dar início a uma revolução. Como encarnação desse tipo de
concepção, ele dedicou sua vida a inúmeras conspirações para tomar o poder,
sempre acompanhado de um pequeno punhado de colaboradores, todas fracassadas,
resultando em que ele passou boa parte de sua vida (ao todo 37 anos) na prisão.
Nesse mesmo trecho, o autor também se refere a Bakunin, um dos pilares do
anarquismo, que era bem menos alheio do que Blanqui à teoria social e ao
estudo, mas igualmente propenso a organizar pequenas seitas conspirativas de
seguidores. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(24) Ver o artigo de
Nicolas Walter em Liberdade (28 de outubro de 1967) intitulado “Outubro de
1917: revolução de forma alguma”. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(25) [N.T.] Endereço da
sede do Partido Comunista Britânico em Londres. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(26) [N.T.] József
Mindszenty (1892-1975) foi cardeal da Igreja Católica na região da capital
húngara, Budapeste. Ele foi opositor da República dos Conselhos de 1919-1920 e
depois, já no posto de cardeal, também se colocou contra o regime stalinista
instalado em 1945, pelo qual foi preso em 1949. Durante a Revolução de 1956, na
qualidade de preso político, ele foi retirado da prisão e se refugiou na
embaixada dos Estados Unidos, de onde se exilou para a Áustria, onde morreu,
como uma espécie de mártir católico anticomunista. (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(27) Lênin disse explicitamente
que sim em seu Que Fazer? (1902) (retornar ao texto)<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;">(28) Numa declaração ao
Décimo Congresso do Partido (1921) Lênin se refere a uma mera discussão sobre
os sindicatos como um “luxo absolutamente inadmissível” que “nós” não
deveríamos ter permitido. Essas observações revelam involuntariamente volumes
inteiros não escritos sobre o assunto (e incidentalmente resolvem decisivamente
a questão daqueles que buscam desesperadamente por uma “evolução” no seu
Lênin). (retornar ao texto)</span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "MS Gothic"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ascii-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">★</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><a href="https://www.amazon.com.br/Comuna-Kronstadt-Crep%C3%BAsculo-Sangrento-Sovietes-ebook/dp/B0C43NL19L/ref=sr_1_fkmr0_1?crid=D5B56QY3GWMN&keywords=a+comuna+de+kronstadt+o+cresp%C3%BAsculo+dos+sovietes&qid=1683232200&sprefix=%2Caps%2C1090&sr=8-1-fkmr0" rel="nofollow" target="_blank"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 20.0pt; line-height: 115%;">Leia
o livro “A Comuna de Kronstadt”, de Ida Mett, na Amazon</span><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 20pt;"> </span></a></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 20.0pt; line-height: 115%;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.amazon.com.br/Comuna-Kronstadt-Crep%C3%BAsculo-Sangrento-Sovietes-ebook/dp/B0C43NL19L/ref=sr_1_fkmr0_1?crid=D5B56QY3GWMN&keywords=a+comuna+de+kronstadt+o+cresp%C3%BAsculo+dos+sovietes&qid=1683232200&sprefix=%2Caps%2C1090&sr=8-1-fkmr0" imageanchor="1" rel="nofollow" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img alt="A Comuna de Kronstadt" border="0" data-original-height="698" data-original-width="424" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkdwC-j8bCTyFhBZI1sZd8YhBhRi3oZxYlamy0Tn8UKHC-fTdYS9KVYFnAMoGQELlvN6IKC-WGzr5Un10DXxYNcI95VmMz6z27JajX2_kd05Ilch4mO1Oln0HpAUF8dowW6Iv7qPJGQOKzSwzfKO5PH9Rfb2pfYrUJ-dl4cFi232DB8TG3kcLTb_kyIQ/w388-h640/capaidamett.jpg" title="Ida Mett" width="388" /></a></div><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 20.0pt; line-height: 115%;">Apenas
R$ 1,99<o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;">
</p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 20.0pt; line-height: 115%;"><a href="https://www.amazon.com.br/Comuna-Kronstadt-Crep%C3%BAsculo-Sangrento-Sovietes-ebook/dp/B0C43NL19L/ref=sr_1_fkmr0_1?crid=D5B56QY3GWMN&keywords=a+comuna+de+kronstadt+o+cresp%C3%BAsculo+dos+sovietes&qid=1683232200&sprefix=%2Caps%2C1090&sr=8-1-fkmr0" rel="nofollow" target="_blank">Cliquena imagem ou no link</a></span></p><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;"></span><p></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-74637227760074168072023-03-07T14:04:00.002-08:002023-03-07T14:07:09.940-08:00Em memória da Revolta de Kronstadt - Dyelo Truda<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5eFGfH3vn3Gc_ttmYZ_7c6Ia7XaDB6Y0HXr9wL1c2GtyDYx3wUbGH6c7VS8aFaX57up83r0Ok87-uShy8ZSIOwp8cmka6Jie8Fcy66F04cWUFfPgA-Ylg_817Wknu0glDuZanWt3iQP-CFZmBur6_TurZYLf8mOesgzlQPD3Ld4zRAOl4uYgvlH7ODA/s320/dielo%20truda.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="126" data-original-width="320" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5eFGfH3vn3Gc_ttmYZ_7c6Ia7XaDB6Y0HXr9wL1c2GtyDYx3wUbGH6c7VS8aFaX57up83r0Ok87-uShy8ZSIOwp8cmka6Jie8Fcy66F04cWUFfPgA-Ylg_817Wknu0glDuZanWt3iQP-CFZmBur6_TurZYLf8mOesgzlQPD3Ld4zRAOl4uYgvlH7ODA/w640-h252/dielo%20truda.png" width="640" /></a></div><br /><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt; text-align: justify;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt; text-align: justify;">Sete de março é uma
data angustiante para os trabalhadores da chamada “União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas” que participaram de uma forma ou de outra dos eventos
que ocorreram em Kronstadt. Sua comemoração é igualmente dolorosa para os
trabalhadores de todos os países do mundo, pois traz de volta à memória os
trabalhadores e marinheiros livres de Kronstadt que protestaram contra o seu
carrasco vermelho, o “Partido Comunista Russo”, que transformou o governo
“Soviético” em um mero instrumento e pôs fim à revolução russa.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt exigia aos
seus carrascos estatistas que devolvessem tudo o que foi roubado dos
trabalhadores da cidade e do campo, os verdadeiros artífices da revolução. De
fato, os Kronstadtinos insistiam na implementação total dos princípios
fundamentais da revolução de outubro, a saber:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sovietes livremente
eleitos, liberdade de expressão e de imprensa para trabalhadores e camponeses,
anarquistas e socialistas revolucionários de esquerda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Partido Comunista Russo
encarou suas reivindicações como uma afronta imoral ao monopólio político
recém-conquistado por ele no país e, escondendo o rosto covarde de um carrasco
por trás da máscara de revolucionário e amigo dos trabalhadores, declarou os
marinheiros e trabalhadores livres de Kronstadt contrarrevolucionários,
enviando contra eles dezenas de milhares de policiais e escravos obedientes
para reprimi-los. Tchekistas, Kursanty (cadetes oficiais do Exército Vermelho -
<i>nota de Alexandre Skirda</i>), membros do
Partido... foram mobilizados para massacrar aqueles combatentes e
revolucionários íntegros – os Kronstadtinos –, que não tinham nada para ser
censurados diante das massas revolucionárias, pois sua única ofensa foi sentir
indignação ante as mentiras e a covardia do Partido Comunista Russo, o qual
pisoteava nos direitos dos trabalhadores e na própria revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 7 de março de 1921,
às 18h45, uma tempestade de fogo de artilharia foi desencadeada sobre
Kronstadt. Como era natural e inevitável, Kronstadt reagiu. Revidaram, não
apenas em nome de suas reivindicações, mas também em nome de todos os
trabalhadores do país, que lutavam por seus direitos conquistados na revolução,
arbitrariamente pisoteados pelas autoridades bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sua luta ecoou por toda
a Rússia escravizada, que estava em prontidão para apoiar uma luta tão justa e
heroica, mas que, infelizmente, se mostrou impotente para a vitória, porque
havia sido desarmada, constantemente explorada e mantida em cativeiro pelos
destacamentos repressivos do Exército Vermelho e da Tcheka, formada especialmente
para alquebrantar o espírito livre e o livre arbítrio dos trabalhadores da
nação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É difícil estimar todas
as perdas sofridas pelos combatentes de Kronstadt e massa cega do Exército
Vermelho. Todavia, podemos ter a certeza de que somaram mais de dez mil mortos.
Em sua maioria, trabalhadores e camponeses, os mesmos que o Partido da Mentira
havia usado para tomar o poder com falsas promessas de um futuro melhor. Fazia
anos que os utilizava exclusivamente em benefício de seus próprios interesses
partidários, a fim de difundir e consolidar um domínio todo-poderoso sobre a
vida econômica e política do país.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Contra a oligarquia
bolchevique, Kronstadt combateu pelo melhor da luta operária e camponesa na
revolução russa. Por isso mesmo, os oligarcas exterminaram os kronstadtinos,
alguns logo após a vitória militar e o restante nas masmorras e fortificações
herdadas do regime czarista e burguês. Compreendida assim, a data de 7 de março
deve aparecer como um aniversário profundamente doloroso para os trabalhadores
de todos os países. Portanto, não é apenas entre os trabalhadores russos que a
memória dolorosa dos revolucionários de Kronstadt, que tombaram em combate ou
dos sobreviventes que apodreceram nas prisões bolcheviques, deve ser lembrada.
Mas este assunto não será resolvido com lamúrias: além da comemoração de 7 de
março, os trabalhadores de todas as terras devem organizar comícios por toda
parte para protestar contra os ultrajes perpetrados pelo Partido Comunista
Russo em Kronstadt contra os trabalhadores e marinheiros revolucionários, e
exigir a libertação dos que ainda sobrevivem e definham nas prisões
bolcheviques e internados nos campos de concentração da Finlândia.<o:p></o:p></span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Dyelo Truda No. 10,
março de 1926, pp. 3-4.</span>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-67058755477625955802023-02-05T17:24:00.000-08:002023-02-05T17:26:07.011-08:00Lições e significados de Kronstadt, por Alexander Berkman<p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDqJVnYmnFjv4H6Ut6Pcnfnq8kTT1ZbV93pD_Smo-YhMmex6cS9pjRJ_owk7rKrT-hrJrijKsUd9aBvoOgmT-FOI4xFFRltCuKJrJikB5vPJCUuwhtNZqzRij9n-As4-A_b9AVaW6OXaBUnIvDcpzuxCUPfjErAA4-XKJynblOiYidwcgkNA_xzgBvuQ/s290/Alexander_Berkman.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="290" data-original-width="220" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDqJVnYmnFjv4H6Ut6Pcnfnq8kTT1ZbV93pD_Smo-YhMmex6cS9pjRJ_owk7rKrT-hrJrijKsUd9aBvoOgmT-FOI4xFFRltCuKJrJikB5vPJCUuwhtNZqzRij9n-As4-A_b9AVaW6OXaBUnIvDcpzuxCUPfjErAA4-XKJynblOiYidwcgkNA_xzgBvuQ/w303-h400/Alexander_Berkman.png" width="303" /></a></div><p></p><p style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt; text-align: right;">por Alexander
Berkman</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tradução: Ateneu Diego
Giménez / COB-AIT Piracicaba/SP.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O movimento de
Kronstadt foi espontâneo, sem preparativos preliminares e pacífico. A sua
transformação em um conflito armado de fim trágico e sangrento foi devido
unicamente ao despotismo da ditadura comunista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A despeito de se dar
conta do caráter geral dos bolcheviques, Kronstadt, não obstante, ainda tinha
fé na possibilidade de uma solução amistosa. Crendo que o governo comunista
viria à razão, lhe creditava um certo espírito de justiça e de liberdade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A experiência de
Kronstadt prova uma vez mais que o governo, o Estado – qualquer que seja seu
nome e sua forma – é sempre o inimigo mortal da liberdade e da
autodeterminação. O Estado não tem nem alma nem princípios. Ele tem um único
objetivo: assegurar o poder e conservá-lo, a qualquer preço. Esta é a lição
política de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Outra lição, uma lição
estratégica, nos é ensinada por qualquer rebelião. O êxito da revolta depende
de sua determinação, de sua energia, e de sua agressividade. Os insurretos têm
do seu lado a simpatia das massas. Esta simpatia se acelera com a onda
crescente da insurreição. Não deve ser permitido que ela seja apaziguada, que
se debilite por um retorno à monotonia cotidiana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por outro lado, toda
revolução tem contra ela o aparato poderoso do Estado. O governo pode
concentrar em suas mãos as fontes de provisões e os meios de comunicação. Não
se deve dar tempo ao governo para que faça uso de seus poderes. A rebelião deve
ser vigorosa, atacando inesperadamente e determinadamente. Ela deve se alastrar
e se desenvolver. Uma rebelião que fica localizada, usando a política da
espera, ou que se coloca na defensiva, está inevitavelmente condenada à
derrota.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Especialmente neste
ponto, Kronstadt repetiu os erros estratégicos fatais dos comunardos de Paris.
Estes últimos não quiseram seguir a opinião dos que propuseram um ataque
imediato a Versalhes, quando o governo de Thiers estava desorganizado. Não
estenderam a revolução para todo o país. Nem os operários parisienses de 1871
nem os marinheiros de Kronstadt tinham por objetivo a abolição do Governo. Os
comunardos não queriam, em suma, mais que certas liberdades republicanas, e
quando o governo tentou desarmá-los, expulsaram os Ministros de Thiers de
Paris, estabeleceram suas liberdades e se prepararam para defendê-las – nada
mais. Assim como Kronstadt também exigiu apenas eleições livres para os
Sovietes. Tendo prendido alguns Comissários, os marinheiros se dispuseram a se
defenderem contra o ataque. Kronstadt recusou-se a seguir a opinião dos
especialistas militares de apoderar-se imediatamente de Oranienbaum. Este forte
era da maior importância militar e tinha também 50.000 puds [5] de trigo
pertencentes a Kronstadt. A tomada de Oranienbaum era fácil, dado que os
bolcheviques, surpreendidos, não teriam tempo de enviar reforços. Porém, os
marinheiros se recusaram tomar a ofensiva, e logo se perdeu o momento
psicológico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alguns dias depois,
quando as declarações e os atos do Governo bolchevique convenceram Kronstadt de
que ela era arrastada a uma luta de vida ou morte, era muito tarde para
corrigir o erro [6].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O mesmo aconteceu com a
Comuna de Paris. Quando a lógica da luta a que foram levados demonstrou aos
comunardos a necessidade de abolir o regime de Thiers não só em Paris mas em
toda a extensão do país, já era muito tarde. Na Comuna de Paris, assim na
revolta de Kronstadt, a tendência à tática passiva e defensiva se provou fatal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt caiu. O
movimento de Kronstadt pelos Sovietes livres foi afogado em sangue, no mesmo
momento em que o governo bolchevique fazia concessões para os capitalistas
europeus, assinando a paz de Riga, graças à qual uma população de doze milhões
foi descartada à mercê da Polônia, ajudando o imperialismo turco a estrangular
a república do Cáucaso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Porém o “triunfo” dos
bolcheviques sobre Kronstadt carregava em suas entranhas a derrota do
bolchevismo. Ele expõe o caráter verdadeiro da ditadura comunista. Os
comunistas mostraram que estavam dispostos a sacrificar o comunismo, para selar
quase qualquer compromisso com o capitalismo internacional, no entanto
recusaram as justas exigências de seu próprio povo – exigências que repetiam os
lemas de Outubro dos próprios bolcheviques: Sovietes eleitos pelo voto direto e
secreto, segundo a constituição da R.S.F.S.R.; e liberdade de expressão e de
imprensa para os partidos revolucionários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Décimo Congresso de
Todas as Rússias do Partido Comunista se reunia em Moscou no momento da
rebelião de Kronstadt. Nesse congresso, toda a política econômica bolchevique
mudou devido aos acontecimentos de Kronstadt e à atitude similarmente
ameaçadora do povo em várias outras partes da Rússia e da Sibéria. Os
bolcheviques preferiram reverter sua política fundamental, abolir a razverstka
(requisição forçada), introduzir a liberdade de comércio, fazer concessões aos
capitalistas e desfazer-se do próprio comunismo – o comunismo pelo qual foi
proclamada a Revolução de Outubro, pelo qual se derramaram mares de sangue e
pelo qual a Rússia foi levada para a ruína e para o desespero – mas não para
permitir Sovietes livremente eleitos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Há alguém, no atual
momento, que possa duvidar das intenções reais dos bolcheviques? Eles
perseguiram Ideais Comunistas ou o Poder Governamental?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt é de uma
grande importância histórica. Tocou o sino fúnebre do bolchevismo com sua
ditadura de partido, sua centralização insensata, seu terrorismo tchekista e
suas castas burocráticas. Ele atacou sobre o próprio coração da autocracia
russa. Chocou ao mesmo tempo as mentes inteligentes e honradas da Europa e da América,
e as obrigou a um exame crítico das teorias e dos fatos bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Explodiu o mito
bolchevique do Estado Comunista como sendo o “Governo dos Operários e
Camponeses”. Demonstrou que a ditadura do Partido Comunista e a Revolução Russa
eram fenômenos opostos, contraditórios, que se excluíam reciprocamente.
Demonstrou que o regime bolchevique é uma tirania e uma reação implacáveis, e
que o Estado Comunista é ele mesmo a contrarrevolução mais poderosa e perigosa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt caiu. Porém
caiu vitoriosa em seu idealismo e sua força moral, em sua generosidade e sua
humanidade superiores. Kronstadt foi esplêndida. Com razão, estava orgulhosa de
não ter derramado o sangue de seus inimigos, os comunistas que se encontravam
em seu seio. Os marinheiros mal educados e incultos, toscos em suas maneiras e
em sua linguagem, eram nobres demais para seguir o exemplo bolchevique da
vingança: não fuzilaram nem aos odiosos Comissários. Kronstadt encarna o
espírito generoso e clemente da alma eslava e do movimento emancipador secular
da Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt foi a
primeira tentativa popular e inteiramente independente de libertar-se do jugo
do Socialismo de Estado – uma tentativa feita diretamente pelo povo, pelos
próprios operários, soldados e marinheiros. Era o primeiro passo em direção à
Terceira Revolução, a qual é inevitável e que, assim esperamos, levará para a
infeliz Rússia a liberdade permanente e a paz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">NOTAS<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(5) Um pud equivale a
16.4 quilos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(6) A negativa de
Kronstadt a se apoderar de Oranienbaum deu ao governo a possibilidade de
reforçar a fortaleza com seu regimento fiel, de eliminar as partes “infectadas”
da guarnição e de fuzilar os chefes da esquadra aérea que estavam prestes a se
unirem aos rebeldes de Kronstadt. Mais tarde, os bolcheviques fizeram uso da
fortaleza como um ponto de vantagem contra Kronstadt. Entre os fuzilados em
Oranienbaum se encontravam: Kolossov, chefe da divisão de aviadores da Marinha
Vermelha e presidente do Comitê Revolucionário Provisório que acabara de
organiza-se em Oranienbaum; Balachanov, secretário do Comitê, e os membros do
Comitê Romanov, Vladimirov etc.<o:p></o:p></span></p>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">* Este texto é
originalmente parte do livro The Kronstadt Rebellion (Berlin, Der Sindikalist,
1922). No Brasil, foi publicado como Kronstadt (Ateneu Diogo Giménez, 2011:
http://anarkio.net/Pdf/kronstadt.pdf). Tradução: Ateneu Diego Giménez / COB-AIT
Piracicaba/SP. Seleção e edição por Pablo Mizraji. ITHA, 2017.</span>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-42979509658157636532022-12-01T03:00:00.001-08:002022-12-01T03:00:00.176-08:00Kronstadt: Lamanov, Anatoli Nikolaevich<p> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkHV91jI3tjOwiwwDGutG6-SwYs5vWVBP39qkpFAyLKS8twvYIRXiSKHYxkowJtzEfU8yNdmqZl0hnz271A-k5iS_dbcRPFfnHULCQjNeWT61MccEFDNHKAQvqHlpL4fyS-aCEgXbwQAvzpUNCQwXp0Uqba_oMgNA7jvaZ4k5DOKSa6I0O9BZc-UTWcA/s1111/Lamanov.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="Rebelião de Kronstadt" border="0" data-original-height="703" data-original-width="1111" height="404" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhkHV91jI3tjOwiwwDGutG6-SwYs5vWVBP39qkpFAyLKS8twvYIRXiSKHYxkowJtzEfU8yNdmqZl0hnz271A-k5iS_dbcRPFfnHULCQjNeWT61MccEFDNHKAQvqHlpL4fyS-aCEgXbwQAvzpUNCQwXp0Uqba_oMgNA7jvaZ4k5DOKSa6I0O9BZc-UTWcA/w640-h404/Lamanov.jpg" title="Anatoli Nikolaevich Lamanov" width="640" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Lamanov (ou A. H. Лamahob) é o primeiro, à esquerda.</td></tr></tbody></table></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lamanov,
Anatoli Nikolaevich 1889-1921<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Uma
breve biografia de Anatoli Lamanov, a voz do ideólogo da Revolta de Kronstadt<o:p></o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">por Nick Heath<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Anatoli Lamanov nasceu
em 3 de julho de 1889. Seu pai, Nikolai P. Lamanov, era, em 1913,
tenente-coronel e chefe de tripulação da frota russa na principal base naval de
Kronstadt. Sua mãe tinha simpatias populistas e seu irmão mais velho era o tenente
da frota Piotr Lamanov, que também comandou e participou das primeiras
agitações revolucionárias em Kronstadt durante o ano de 1917.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Aluno do terceiro ano
da Universidade Nacional de Química, conhecido por ministrar palestras sobre
história natural, geografia e tecnologia, durante os anos da guerra, Anatoli
Lamanov angariou grande simpatia dos trabalhadores, marinheiros e soldados de
Kronstadt. Mas ao contrário de seu irmão mais velho, que tinha envolvimento com
os socialistas revolucionários, Anatoli, aparentemente, não manteve ligações
diretas com nenhum grupo político.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ele é descrito pelo
inglês Morgan Phillips Price, correspondente em Moscou do Manchester Guardian,
como tendo “cabelos compridos, olhos sonhadores e o olhar distante de um
idealista”, além de “sério, amigável e um tanto enigmático”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lamanov se tornou chefe
do treinamento vocacional do departamento municipal de educação em Kronstadt.
Ao mesmo tempo, foi eleito para o Comitê do Movimento pelos funcionários do
laboratório químico de Kronstadt. Foi presidente do Soviete de Trabalhadores de
Kronstadt em março e abril e, a partir de maio, do Soviete de Trabalhadores e
Soldados. Nas sessões do Soviete, proferia discursos contundentes, assumindo a liderança,
ao lado de Ippolitov, Rivkin e Zverin, de uma facção apartidária. Em agosto, o
grupo sem partido mudou de nome ao juntar-se à esquerda radical e à divisão
antiparlamentar dos Socialistas Revolucionários, a União dos SR-Maximalistas.
Como Getzler afirma: “...o grupo rejeitou o facciosismo partidário, defendeu o
sovietismo puro e assim se adaptou admiravelmente na paisagem revolucionária e
marcadamente soviética de Kronstadt...” (p. 37).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lamanov também foi
editor do jornal de Kronstadt, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>.
Foi descrito nas memórias do astuto bolchevique F. F. Raskolnikov como sendo um
“cem por cento filisteu” (filisteu era uma palavra muito usada na época pelos
bolcheviques, especialmente por Lênin e Trotsky, para desqualificar seus
oponentes políticos). Entretanto, longe de ser um filisteu, Lamanov foi um
incansável defensor da democratização (por falta de uma palavra melhor) da
revolução e de uma iniciativa educacional e cultural de massa, inclusive por
meio do teatro: “... o teatro complementa o que vemos e ouvimos na vida e lemos
nos livros; injeta novas ideias nas mentes dos espectadores, ideias que são
novas não por causa de seu conteúdo, mas pelo palco, diante de nós,
proporcionar-nos a sua plena incorporação”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Soviete abriu-se a
muitos oradores de todos os grupos revolucionários, bolcheviques, socialistas revolucionários
e anarquistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os bolcheviques sempre
foram uma minoria dentro do Soviete de Kronstadt, ainda que tenham feito grandes
esforços para manipular e controlar a organização. Mas Lamanov lembrava aos
bolcheviques que foi o povo, e não o partido, que fez a Revolução de Fevereiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Muito embora os
maximalistas mantivessem um grande número de delegados no soviete, ao longo de
sua história, Lamanov renunciou ao grupo no final de 1919, já que não queria se
associar ao atentado à sede do Partido Comunista de Moscou, condenado e compreendido
por ele como sendo obra dos maximalistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lamanov se candidatou a
membro candidato do partido bolchevique em algum momento do ano de 1920. Durante
o levante dos marinheiros, não participou dos movimentos iniciais da revolta e
tampouco integrou o Comitê Revolucionário. No entanto, continuou a editar o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt e, em suas páginas,
sugeriu os lemas “Terceira Revolução” e comunismo sem “comissariocracia”. Lamanov
anunciou sua renúncia ao Partido Comunista em março (de 1921), justificando que
sempre foi um maximalista. Assim, o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>
tornou-se porta-voz dos insurgentes de Kronstadt, enchendo suas páginas com
cartas e declarações de muitos dos rebeldes envolvidos na revolta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Foi preso em 18 de
março de 1921, pelas tropas soviéticas. Os rigores do interrogatório da Tcheka
parecem tê-lo alquebrantado, pois Lamanov prontamente apresentou provas contra
os outros líderes da revolta. A princípio, forneceu o seguinte testemunho: “O
motim de Kronstadt foi uma surpresa para mim. Eu o vi como um movimento
espontâneo”. Porém, mais tarde, em seu depoimento, afirmou que o motim havia
sido planejado desde o início pelos SRs de Esquerda!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Condenado à morte em 20
de abril pela Tcheka de Petrogrado, como “contrarrevolucionário”, foi fuzilado
no dia seguinte e seu corpo enterrado em Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nick Heath <o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">8 de outubro de
2009<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Referência:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Getzler, I. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt
1917-1921: The Fate of a Soviet Democracy</i>. (“Kronstadt 1917-1921:<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> </i>O Destino de um Soviete Democrático”).</span><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-68719608694052581572022-11-01T04:00:00.002-07:002022-11-01T04:00:00.175-07:00Sobre os autores de "A Verdade sobre Kronstadt" do Volia Rossii<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgys8sRc6DZUVHLtsn51sehrAK-W0QsbgoJYZVnRiB_Rk2eWugs8zl747uAkBUaijDo3MbccXdNf-gVkNDD85rTEhRIkHJm3XYeA4pVygsISIvld5yPCzlK0EQb2VyN0RpfigXkx0uI5cQOdv-vE2iqXZ0fCwPMa2aWVYTA3DInSIeUCDVUj00jlfIrIA/s360/Kronstadt.Cover%5B1%5D%20-%20Copia.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Volia Rossii" border="0" data-original-height="360" data-original-width="231" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgys8sRc6DZUVHLtsn51sehrAK-W0QsbgoJYZVnRiB_Rk2eWugs8zl747uAkBUaijDo3MbccXdNf-gVkNDD85rTEhRIkHJm3XYeA4pVygsISIvld5yPCzlK0EQb2VyN0RpfigXkx0uI5cQOdv-vE2iqXZ0fCwPMa2aWVYTA3DInSIeUCDVUj00jlfIrIA/w256-h400/Kronstadt.Cover%5B1%5D%20-%20Copia.jpeg" title="A verdade sobre Kronstadt" width="256" /></a></div><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sobre
os autores</span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">por Scott
Zenkatsu Parker<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(Tradução:
Fecaloma – punk rock)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pravda
o Kronshtadte</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">, texto original de <i>A Verdade sobre Kronstadt</i>, é uma obra de muitas mãos e fonte
primária indispensável para qualquer discussão sobre a <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">Rebelião de Kronstadt</a> de
1921. Partindo-se destas duas perspectivas e a fim de obter uma melhor
compreensão do texto, seria útil discorrer sobre várias questões decorrentes da
tradução. Quem eram os autores e editores originais das diferentes seções e
subseções da obra e quais eram suas visões políticas? Como diferentes pontos de
vista concernentes às mudanças na Rússia, o cenário internacional e os objetivos
dos autores se combinam para moldar suas interconexões uns com os outros e
demais grupos envolvidos durante as grandes convulsões que marcaram a era da Revolução
Russa e da Guerra Civil de 1917 a 1921?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Todos os autores do <i>Pravda</i> pertencem a vários ramos do
movimento socialista que se desenvolveu a partir do populismo russo do final do
século XIX. Para os propósitos deste ensaio, os autores serão descritos e
diferenciados politicamente por dois aspectos específicos em suas crenças: suas
interpretações de socialismo e do próprio papel das forças não socialistas na
revolução. Tais aspectos, entretanto, não descrevem definitivamente as crenças
ideológicas dos grupos em questão. São, no entanto, questões importantes para o
contexto político da época e que nos ajudam a explicar os principais conflitos
e divisões entre os socialistas russos coexistentes. Diferentes grupos
socialistas tinham visões muito distintas de como o socialismo poderia e
deveria ser alcançado, além de divergirem sobre o que caracterizaria o estado
socialista resultante. Ademais, enquanto alguns endossavam a intervenção de
forças externas e não recusavam o auxílio de grupos conservadores russos,
outros se opunham veementemente a qualquer tipo de concessão do gênero. Essas
diferenças contribuíram fortemente para muitas das alianças e inimizades
políticas do período, especificamente, para os autores do <i>Pravda</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas as condições
internacionais e internas mudaram muito durante o período. Além disso, uma vez
que uma reivindicação ou objetivo comum era finalmente alcançado, muitas vezes
antigos aliados divergiam entre si através novas demandas de caráter oposto à
resolução precedente. Em meio ao estresse de tais condições e alianças voláteis,
as opiniões dos autores sobre as duas questões colocadas acima, a natureza do
socialismo e o papel das forças não socialistas na revolução, também estava
suscetível a mudar. As relações dos autores entre si e com outros grupos serão
discutidas no âmbito de uma rede de condições, interesses e crenças em
transformação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quem eram então os
autores do <i>Pravda</i> e quais eram suas
visões políticas? O primeiro grupo de autores a ser discutido são os rebeldes
propriamente ditos, que aparecem frequentemente nas páginas do <i>Izvestiia</i>, por meio de suas declarações
e apelos. Em segundo lugar, há os editores do jornal, representados por
Anatolii Lamanov, autor de artigos tão importantes como “Por que lutamos” e
“Etapas da revolução” (Getzler, p. 232, nota 112). Os líderes militares e civis
dos rebeldes, representados por Stepan Petrichenko, presidente do Comitê Provisório
Revolucionário, também desempenharam um papel importante por meio de
declarações e entrevistas posteriores concedidas ao <i>Volia Rossii</i>. Apesar de algumas questões concernentes às afiliações
políticas de Petrichenko, estes três primeiros grupos manifestam opiniões
fundamentalmente semelhantes e, muitas vezes, podem ser considerados como um
único corpo. Finalmente, há o prefácio do próprio <i>Volia Rossii</i>, que foi um jornal publicado em Praga, pelos
socialistas revolucionários de direita (SR), incluindo A. F. Kerensky.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os marinheiros,
soldados e trabalhadores de Kronstadt, cidade portuária, sede da Frota do
Báltico, eram talvez o segmento mais educado, politicamente consciente e
rebelde de todos os trabalhadores da Rússia. Da população civil de Kronstadt,
50.000 pessoas, a força de trabalho industrial era de 17.000 operários. Havia
também 20.000 marinheiros alistados na Frota do Báltico em Kronstadt e, devido
às demandas tecnológicas cada vez mais exigidas por uma marinha moderna,
trabalhadores industriais compunham cerca de 31% dos convocados entre 1904 e
1916, em comparação com os 3,43% recrutados pelo exército. Apenas 6% dos
recrutas da frota eram analfabetos. Os trabalhadores industriais constituíram o
principal núcleo de agitação política nos partidos socialistas. Getzler cita
uma reclamação do diretor pré-revolucionário do Departamento de Polícia:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“trazer para a
marinha... homens que cultivam uma atitude hostil a toda autoridade desde a
idade de 12-15 anos; desde quando essa gente se mistura com operários
propagandistas?” (p. 10).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ele observa também que
os marinheiros foram largamente educados em escolas navais para cargos técnicos
(pp. 1, 10-11).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt já
evidenciava uma longa e ardente história de rebelião espontânea mesmo antes dos
levantes de 1917. Durante as duas primeiras décadas do século XX, grupos
clandestinos operavam atividades subversivas na esquadra de Kronstadt. Revoltas
espontâneas eclodiram em 1905, e uma rebelião liderada por uma coalizão de
partidos ocorreu em 1906. Os marinheiros de Kronstadt desempenharam um papel de
liderança nos eventos revolucionários de 1917, culminando em 25 de outubro
quando participaram do assalto ao Palácio de Inverno, derrubando o Governo
Provisório liderado por Kerensky e colocando efetivamente os bolcheviques no
poder.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Apesar das dezenas de
milhares de marinheiros da Frota do Báltico que foram lutar nas frentes da
Guerra Civil, Getzler relata que a composição da guarnição de Kronstadt não havia
mudado significativamente em 1921. De uma população de 50.000, havia 27.000
marinheiros e soldados e 13.000 trabalhadores civis. Trabalhando com fontes
ocidentais e soviéticas, incluindo dados de AS Pukhov, estima-se que 75,5% dos
que serviram na frota em 1º de janeiro de 1921 foram convocados antes de 1918
(Getzler, pp. 205, 208, nota de rodapé 11). Deve-se notar que, no entanto, o
próprio Pukhov, em sua obra, tira conclusões muito diferentes, afirmando que,
sem precisar números exatos, “ao longo dos 2 e 3 anos anteriores ao motim, e
especialmente no ano de 1920, ocorreram processos na formação da frota que
mudaram significativamente o caráter da estrutura de pessoal, essencialmente em
relação a uma queda acentuada do indicador qualitativo, tanto da perspectiva da
classe social quanto das ideologias políticas” (Pukhov, p. 39).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Acima de tudo, estes
marinheiros e trabalhadores de Kronstadt educados, independentes e
politicamente conscientes queriam e agiam como baluartes de uma democracia
socialista radical e espontânea. As formas clássicas de organização de
Kronstadt eram tanto a reunião de massas quanto o comitê (soviete) de deputados
com mandatos sujeitos à revogação imediata. Havia livre participação envolvendo
todas as classes e partidos socialistas. Os kronstadtinos rejeitavam toda e
qualquer autoridade além de seu próprio Soviete e não era incomum que os
participantes de uma reunião de massa, inflamada por oradores inspirados,
forçassem o próprio Soviete a mudanças políticas repentinas e embaraçosas. Os
marinheiros e trabalhadores nutriam um ódio vigoroso e violento à classe
burguesa, à nobreza e ao oficialato, rejeitando a mínima participação de
qualquer dessas categorias sociais na vida política e econômica de Kronstadt,
em seu Soviete e na República em geral. Pois bem, acreditavam na instituição de
um governo quase puramente operário, como, de fato, se testemunhou em Kronstadt
durante grande parte do ano de 1917. Eles pensavam que instituições geridas por
trabalhadores poderiam ser imediatamente implantadas em toda a Rússia pela ação
das classes trabalhadoras sem qualquer participação de grupos não socialistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Anatolii Lamanov entrou
em cena com a Revolução de Fevereiro de 1917 quando o estudante do terceiro ano
de química tornou-se presidente do Soviete de Deputados Operários de Kronstadt.
Mais tarde, foi eleito presidente do Soviete de Deputados Operários e Soldados
de Kronstadt (“Soviete de Kronstadt”) e do conselho editorial do jornal do
soviete. Lamanov também liderou o Grupo Sem Partido de Kronstadt, que, em
agosto de 1917, juntou-se à União dos Socialista-Revolucionários Maximalistas (Getzler,
pp. 30, 37-38, 135).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No que concerne as
posições de lideranças exercidas por Lamanov na altamente democrática
Kronstadt, é razoável supor que a filosofia propalada por ele refletia também
as crenças de um enorme contingente da população da cidadela. Pelos cálculos de
Getzler, o Grupo Sem Partido/Maximalistas elegeu 77 delegados dos 280 eleitos
do primeiro Soviete em março; 68 delegados no segundo, em maio; e 96 delegados
no terceiro, em agosto (p. 36, 65-66, 134). Segundo Getzler, o Grupo Sem Partido
de Lamanov:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“... rejeitou o facciosismo
partidário, defendeu o sovietismo puro e, por isso, adaptava-se admiravelmente
na paisagem revolucionária e marcadamente soviética de Kronstadt...” (p. 37).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“... o seu apelo à
moderação, aos laços estreitos com o Soviete de Petrogrado, à ‘unidade do
movimento revolucionário nacionalista’; numa palavra, uma voz que alertava
sempre contra a ‘desunião e discórdia partidária' que tinha ‘arruinado a
revolução da França’” (p.55-56).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Adeptos dos Socialista-Revolucionários
Maximalistas, Lamanov, seu grupo e os kronstadtinos em geral, que os apoiavam,
faziam parte de um movimento que recebia seu nome em razão ao programa “máximo”
do Partido Socialista Revolucionário. Este programa exigia a socialização imediata
das fábricas e das terras agrárias. De muitas maneiras, os maximalistas
concordaram com os bolcheviques e, em outubro de 1918, apoiaram a derrubada do
Governo Provisório. No entanto, como aponta V. V. Garmiz, um escritor
soviético, eles diferiam dos bolcheviques porque “não reconheciam absolutamente
a ditadura do proletariado, muito menos a necessidade da administração
centralizada da economia do país; posicionavam-se também contra o Tratado de
Brest [-Litovsk] com a Alemanha”, considerado por eles uma concessão ao imperialismo
internacional. Ademais, como sugere seu programa básico, os maximalistas não
consideravam necessário um período intermediário de transição, sob a égide de
um governo burguês capitalista, para a realização do socialismo (ver Nicoll,
1980a; Garmiz et. al., p. 255).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim, Lamanov e os
maximalistas, como os marinheiros e trabalhadores de Kronstadt, viam o
socialismo como a transformação imediata do país em uma república soviética
dominada e liderada por trabalhadores, que varreria o latifúndio e os proprietários
de fábricas sem qualquer necessidade de um período de transição ou compensação.
Muito embora possam ter concebido um “protagonismo de uma minoria” (Garmiz et
al.) que trabalhava na vanguarda para acender a faísca da revolução social,
sempre se opuseram a qualquer participação de grupos não socialistas e governos
ocidentais nos destinos da Rússia revolucionária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Com relação a outros
líderes de Kronstadt, o caso é um pouco menos claro. Quanto a Petrichenko, sabe-se
com certeza que era originário de uma família camponesa ucraniana e um veterano
que exercia a função de escriturário. Antes de ingressar na marinha, em 1912,
em virtude de sua formação incompleta – cursou apenas dois anos no ensino
formal – trabalhou como encanador. Mas, durante a rebelião, foi eleito
presidente da assembleia do <i>Petropavlovsk</i>,
cuja tripulação aprovou a resolução que serviu de fundação da revolta. Pouco
depois, foi presidente do <i>Presidium</i>
na Conferência de Delegados que formou o Comitê Provisório Revolucionário.
Esses fatos lhe dão a aparência de um trabalhador soviético honesto que se
ergue para liderar um movimento de libertação, estando, portanto, de pleno
acordo com as opiniões de Lamanov e demais marinheiros de Kronstadt (Avrich, pp.
72-74, 80-82).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No entanto, em um dos
primeiros relatos soviéticos sobre a rebelião, Petrichenko é acusado de ser um
nacionalista ucraniano, simpatizante dos SRs e dos anarquistas (Pukhov, p.
76-77). Se isso for verdade, poder-se-ia propor que, ao contrário do que ele ou
outros kronstadtinos declaravam, isto é, sua postura ideológica não alinhada
com nenhum partido, Petrichenko ultrapassou a mera simpatia filosófica para com
os SRs e realmente estabeleceu contatos secretos com forças partidárias a fim
de realizar sua pretensão de instrumentalizar a rebelião para dar um passo à
frente na consolidação de um governo SR sobre a Rússia. Ademais, um simples
acordo com a filosofia dos Socialistas Revolucionários de Direita, tal como
existia até 1918, apareceria aos olhos de muitos trabalhadores como uma autoacusação
condenatória, por razões que serão discutidas abaixo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Anatolii Lamanov também
foi acusado de inclinação partidária, na qual, insinuava-se, era membro de uma
determinada organização política (Pukhov, p. 77). Neste caso, porém, a filiação
política de Lamanov com os maximalistas não é de forma alguma secreta, sendo
anunciada claramente em sua carta de desfiliação do PCR (b.), publicada na
terceira edição do <i>Izvestiia</i> do Com.
Prov. Rev. (<i>Pravda</i>, pp. 59-60). De
qualquer maneira, uma possível conexão secundária com os SRs não significava
que as declarações de Petrichenko não devam ser primeiro consideradas e
analisadas através das lentes de seu papel indiscutível na liderança do
movimento de Kronstadt, de sua qualidade de marinheiro eleito, bem como de sua convivência
no meio democrático de Kronstadt. Por causa disso, os trabalhadores e
marinheiros de Kronstadt, Lamanov e seu Grupo Sem Partido/Maximalistas e
Petrichenko podem ser considerados principalmente partes de uma unidade
política e filosófica na maioria dos casos. No entanto, Petrichenko e o Comitê Provisório
Revolucionário também devem ser discutidos separadamente, de modo a lançar luz
no seu possível papel como apoiador de um ou outro ramo não maximalista do
Partido Socialista Revolucionário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Volia
Rossii</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">, editora do <i>Pravda</i>,
é ela a própria uma publicação braço direito do Partido SR. Ao contrário de
todos os outros livros publicados pelo jornal e vendidos por meio de seus
anúncios, o <i>Pravda</i> não tem
assinatura. O autor ou autores nunca são indicados, nem no próprio livro nem
nas páginas do <i>Volia Rossii</i>. Assim,
os artigos podem ser entendidos, tais como os editoriais não assinados da
primeira página, em consonância com a linha editorial das principais figuras do
jornal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O que o <i>Volia Rossii</i> expressa em seu cabeçalho é
na verdade a opinião “de V. M. Zenzinov, V. I. Lebedev e O. S. Minor”. O
crítico literário Marc Slonim, então secretário editorial do jornal, descreve
essas três figuras como os editores e observa que A. F. Kerensky também esteve
estreitamente envolvido com o jornal (Slonim, p. 291).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Uma discussão histórica
destas figuras fornece as respostas para as duas questões colocadas acima:
quais eram suas visões de socialismo e que papel na revolução sobrava para os
grupos não socialistas. Aparentemente, o membro mais antigo e menos conhecido
do grupo editorial era Osip Solomonovich Minor. Estudante da Universidade de
Moscou, Minor foi atraído para o círculo revolucionário liderado por V. l.
Rosenberg, em 1883, época do assassinato do Coronel Sudeikin. Sudeikin era o
chefe de polícia de Kiev e um inimigo ferrenho dos terroristas da Vontade do
Povo (Minor, p. 9; Nicoll, 1980b, p. 170). Enquanto o grupo de Rosenberg se
autodenominava parte da Vontade do Povo, o assassinato de Sudeikin representava
os últimos estertores da organização original fundada em 1879, e
presumivelmente foi uma das várias tentativas para dar nova vida a essa divisão
moribunda do movimento populista (ver Tvardovskaya, p. 255).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Relatos residuais de
que depois de ter sido repetidamente preso e libertado, Minor foi condenado em
1885 a dez anos de exílio no nordeste da Sibéria por “influenciar prejudicialmente
a juventude”. Em Yakutsk, conheceu vários antigos populistas e ativistas da
Vontade do Povo que o impressionaram profundamente. Lá, ele participou do levante
de 22 de março de 1889. Foi condenado à forca por sua participação no levante,
mas a sentença foi comutada para trabalhos forçados ilimitados e,
posteriormente, para dez anos de exílio a partir do dia da sentença. Em 1898,
ele conseguiu retornar à Rússia central, mas permaneceu longe das capitais de São
Petersburgo e Moscou (ver Minor).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tvardovskaya, um
escritor soviético, lamenta em relação à Vontade do Povo que, embora seus
membros “tivessem reconhecido a necessidade da luta política contra a
autocracia”, eles compartilhavam as visões “utópicas socialistas” dos
populistas em geral, “sobretudo, a crença na possibilidade da Rússia,
contornando o capitalismo, chegar ao socialismo através de uma revolução
camponesa” (Tvardovskaya, p. 254). A Vontade Popular e os Populistas também
apoiavam a <i>intelligentsia</i>, da qual o
movimento populista era amplamente composto. A <i>intelligentsia</i>, por sua vez, estava intimamente ligada à baixa
nobreza e à burguesia. P. A. Alekseev, um populista de família camponesa, foi
um dos ativistas que conheceu e muito impressionou Minor em Yakutsk. Em
discurso de seu julgamento de 1878, Minor declarou que era “óbvio que o
trabalhador russo só poderia ter esperança em si mesmo e que só podia esperar
ajuda de nossa jovem intelectualidade” (Venturi, p. 534).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Entre as políticas
adotadas pela Vontade do Povo, ao menos publicamente, estavam uma Assembleia
Constituinte, amplas liberdades fundamentais e transferência de todas as terras
e fábricas para o povo. Os populistas e presumivelmente Minor desejavam uma
revolução social que derrubasse as classes dominantes. Eles próprios não se
consideravam como parte das classes dominantes, mas como uma intelectualidade
revolucionária trabalhando ao lado dos trabalhadores e camponeses ou, se
necessário fosse, liderando às massas sua luta por emancipação (ver Nicoll,
1980b e Blakely para discussões concisas sobre Populismo e Vontade do Povo).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Embora a autobiografia de
Minor termine bem antes dos eventos de 1917 e 1921, a obra é interessante a
título de ilustração no que diz respeito às ligações entre o <i>Volia Rossii</i> e o populismo, bem como por
tratar a crença dos populistas em assumir um papel de liderança entre a intelligentsia,
tanto na revolução social quanto no estado socialista resultante dela. Todos os
principais partidos socialistas russos da era revolucionária, incluindo os
comunistas, tinham pelo menos algumas raízes no populismo. No entanto, a crença
em uma revolução baseada no campesinato, tendo por auxílio ou direção da
intelectualidade, foi preservada e defendida de forma particularmente vigorosa
pelo Partido Socialista Revolucionário. Esta agremiação incluía as principais
figuras da <i>Volia Rossii</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Já Vladimir
Mikhailovich Zenzinov, Vladimir I. Lebedev e Aleksandr Fedorovich Kerensky eram
figuras mais novas e proeminentes no Partido Socialista Revolucionário do que
Minor. Segundo Perrie, Zenzinov tornou-se um membro ativo desde quando
ingressou como estudante em 1904. Participou de atividades terroristas e das
revoltas de 1905 e 1906. Foi preso e fugiu muitas vezes. Em 1910, foi
finalmente condenado a cinco anos de exílio em uma aldeia remota próxima ao rio
Indigirka, na Sibéria. Perrie relata que Zenzinov retornou à Rússia no início
da Guerra Mundial, ingressando na ala mais conservadora, “defensista” ou de
apoio à guerra no círculo do movimento socialista e do Partido SR. Nessa mesma
época, tornou-se amigo íntimo de Kerensky (ver Perrie, 1980b; Melancon também
fornece um artigo interessante sobre as relações entre os descendentes
socialistas do populismo e as divisões intrapartidárias direita-esquerda
desencadeadas pela Guerra Mundial).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">De acordo com Perrie,
após a Revolução de Fevereiro, Zenzinov serviu no Comitê Executivo do Soviete
de Petrogrado e recebeu uma nomeação para o Governo Provisório. Na época da
Revolução de Outubro, juntou-se ao Comitê de Salvaguarda da Pátria e da
Revolução, que lutava contra o golpe bolchevique. Ainda conforme Perrie, após a
dissolução da Assembleia Constituinte, em janeiro de 1918, Zenzinov acabou se
juntando ao Comitê da Assembleia Constituinte (Komuch) e ao “Diretório Ufa”,
que formou um governo de oposição com a participação dos democratas-constitucionais
burgueses, constituindo, fundamentalmente, a mesma base do governo que existia
antes de outubro. Em novembro de 1918, o Diretório foi derrubado por elementos
reacionários e substituído por Kolchak, um comandante branco. Zenzinov fugiu
para o exterior (Perrie, 1980b, pp. 17-21).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Segundo Sack, Lebedev
lutou na Guerra Russo-Japonesa e, depois de fugir da Rússia por motivos
políticos, serviu no Exército Francês desde o início da Guerra Mundial até a
Revolução de Fevereiro. Ele retornou à Rússia e ingressou no Governo Provisório
como Ministro Adjunto da Marinha no Gabinete da Segunda Coalizão, formado em
julho de 1917, muito embora tenha deixado a pasta por discordar com aquilo que
acreditava ter sido um tratamento fraco conferido aos bolcheviques após as
Jornadas de Julho. Lebedev fez parte da malfadada Assembleia Constituinte e
também se uniu a Komuch e ao Diretório, no qual trabalhou como líder militar em
coordenação com a Legião Tcheca. Presumivelmente, Lebedev foi deposto na mesma
ocasião que os outros socialistas (ver Sack, pp. 3-5).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kerensky ficou famoso
como o primeiro-ministro socialista da coalizão de Governos Provisórios.
Segundo Rollins, ele seguiu um caminho semelhante ao de Zenzinov, ingressando
no movimento socialista quando era estudante em São Petersburgo, de 1899 a
1904. Participou de atividade revolucionária socialista e liberal, serviu na
Duma do Estado, fez-se proeminente como advogado de defesa criminal e foi
vítima das prisões costumeiras. Era maçom desde 1912 e membro da ala direita do
movimento socialista, apoiando a guerra contra a Alemanha, compreendida por ele
como um passo para a libertação política. Ao longo de sua carreira, Kerensky
cultivou ardentemente os princípios liberais, em vez daqueles estritamente
socialistas. Rollins diz da maçonaria russa que “[seu] objetivo ... não era a
democracia popular buscada pela esquerda, mas, sim, uma república dirigida pela
intelectualidade liberal. Rejeitando a ação das massas, visava destruir a
monarquia, infiltrando-se no governo e transformando a burocracia do alto
escalão em instrumento da revolução” (Rollins, p. 109). Servindo em vários
governos provisórios como Ministro da Justiça, da Guerra e, finalmente,
Primeiro-Ministro, Kerensky foi um dos principais apoiadores da política oficial
de concessões aos proprietários de terras e fábricas e de coalizão com os
partidários da democracia constitucional e outros grupos não socialistas. Naquela
época, nenhum partido, exceto os bolcheviques, acreditava na capacidade dos
sovietes para realizar a revolução social sem o envolvimento e a cooperação dos
elementos burgueses. Daí porque Kerensky não quis ou não pôde tomar as medidas
necessárias para satisfazer as massas em seus anseios de liberdade. Junto com o
Governo Provisório, foi apeado do poder na Revolução de Outubro e, como se
constatou, foram os marinheiros e soldados de Kronstadt que contribuíram
fortemente para derrubar o governo (ver Rollins).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como proeminentes
socialistas revolucionários, Zenzinov, Lebedev e Kerensky se juntaram a Minor
em apoio aos velhos ideais populistas de uma revolução social unificada pela
base dos operários, camponeses e também pela intelectualidade. O programa
oficial do SR aprovado na Primeira Conferência do Partido, em 1905-1906, reivindicava
a “substituição da propriedade individual [da terra]... pela criação da
propriedade comum do povo" (Sbornik..., pp. 45-46) e reiterava que “o
fardo da luta contra o czarismo deve recair sobre os ombros do proletariado – o
campesinato, o operariado e a intelectualidade revolucionária” (citado em
Melancon, p. 244). Segundo fontes contemporâneas, este programa continuou a ser
a visão oficial do partido em 1917 (Morokhovets, pp. 73-74).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim, partindo de suas
raízes populistas, mantidas pelo menos até 1918, as principais figuras de <i>Volia Rossii</i> acreditavam em um
socialismo pelo qual um estado socialista liderado por uma intelectualidade
atendesse aos desejos dos trabalhadores. Eles também estavam dispostos a
permitir que grupos não socialistas desempenhassem um papel na revolução (ver
Perrie, 1980a para uma discussão mais completa do Partido Socialista
Revolucionário).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando Pukhov acusa
Petrichenko de simpatizar com as crenças socialistas-revolucionárias, está se
referindo aquelas descritas no parágrafo anterior. Como mencionado acima, com
relação a Petrichenko, tal acusação, se verdadeira, seria de fato condenatória
para muitos trabalhadores soviéticos e especificamente para a população de
Kronstadt, porque as proposições SR estavam em conflito direto com as
convicções políticas dos marinheiros de Kronstadt e seus líderes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Além das diferenças
apontadas, havia também outras questões que separavam Kronstadt e seus líderes
dos SRs de direita e seu Governo Provisório. Sack descreve Lebedev, ministro da
Marinha, ao tomar “medidas rígidas para restabelecer a disciplina da frota
russa”. Esta foi uma política extremamente impopular entre os marinheiros
independentes de Kronstadt. Prossegue o autor: “Em julho de 1917, o SR de
direita estava à frente das forças que reprimiram a revolta bolchevique” (Sack,
p. 4). Aqui, novamente, os marinheiros de Kronstadt não foram meros
coadjuvantes das Jornadas de Julho, mas protagonistas das manifestações (ver
Getzler, pp. 111-124).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Levando-se em conta o
desacordo entre Kronstadt e os SRs de direita, relativas às duas questões
colocadas acima, isto é, a concepção de socialismo fraco e do papel de grupos
não socialistas na Revolução, bem como outros conflitos fundamentais de
interesse e princípios, a oposição, em julho e outubro de 1917, de Kronstadt a
Kerensky, aos socialistas revolucionários de direita e aos governos provisórios
que estes ajudaram a formar é bem explicada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em março de 1921, no
entanto, a situação mudou drasticamente. Wrangell, o último comandante branco,
foi expulso da Crimeia. Os governos ocidentais abdicaram das tímidas tentativas
de intervenção e estavam começando a negociar acordos com o novo governo
soviético. Ao não permitirem o menor exercício da crítica ao seu governo, os
bolcheviques afastaram cada vez mais da vida pública seus aliados socialistas e
anarquistas de esquerda da Revolução e da Guerra Civil. Entretanto, rebeliões
camponesas despontavam aqui e ali contra a <i>razverstka</i>,
a expropriação à mão armada de grãos e outros suprimentos para sustentar o
Comunismo de Guerra. Com o término das ameaças internas e externas à República,
os camponeses estavam cada vez menos dispostos a aceitar essas políticas
coercitivas de requisições.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Operários e marinheiros
também foram profundamente afetados com tais adversidades, não só porque o
abastecimento de alimentos escasseava ante a ruína econômica provocada pela
Guerra Civil e o Comunismo de Guerra, mas pelo fato de que em muitos casos
ainda mantinham laços estreitos com as aldeias. Por fim, o Partido Comunista
foi acusado de autoritarismo, de burocratizar-se e afastar-se do povo, de ser
incapaz de lidar com a ruína econômica que avassalou a Rússia. As declarações
de marinheiros, soldados e trabalhadores publicadas no “<i>Izvestiia</i> do Com. Prov. Rev.” tratam reiteradamente dessas questões.
Foram repetidos também por Lamanov em sua declaração por ocasião de sua saída
do Partido Comunista e nos artigos que escreveu para explicar a causa do
movimento de Kronstadt. Algumas dessas questões também são levantadas por
Petrichenko no primeiro artigo da primeira edição (ver também “Deixando o RCP”,
“Pelo que Lutamos”, “Voz de um iludido”, “Abandonar o Partido”; Pravda, pp. 45,
59, 76, 82, 105, 132). Tais eram as questões que afastaram Kronstadt e seus
líderes dos comunistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O<i> Izvestiia</i> também indicou que a liderança do levante mantinha algum
grau de relação com os emigrados socialistas revolucionários de direita. Na
terceira edição, são impressas "saudações à guarnição de Kronstadt",
publicadas no Reval (Pravda, p. 57). Aparentemente, este é o texto omitido de
uma publicação que Avrich atribui a um grupo que incluía Zenzinov e Kerensky. O
texto completo é o seguinte:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“O presidente da Assembleia
Constituinte, Victor Chernov, envia suas saudações fraternas aos heroicos camaradas
marinheiros, homens do Exército Vermelho e trabalhadores, que pela terceira vez,
desde 1905, estão se libertando do jugo da tirania. O presidente oferece ajuda
com homens e provisões, através das cooperativas russas situadas no exterior.
Informe-nos o que e quanto será necessário para que possamos devidamente
auxiliá-los. Disponho-me, em pessoa, a colocar todas as minhas energias e
autoridade a serviço da revolução popular. Tenho fé na vitória final das massas
trabalhadoras. Salve aquele que primeiro levantou a bandeira da libertação do
povo! Abaixo o despotismo da esquerda e da direita!”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em resposta, Kronstadt
replicou: “O Comitê Provisório Revolucionário de Kronstadt expressa a todos os
nossos irmãos no exterior sua profunda gratidão pela simpatia que nos é devotada.
O Comitê Revolucionário Provisório agradece a oferta de Chernov, mas a recusa
momentaneamente, até que novos desdobramentos sejam esclarecidos, tudo será
levado em consideração” (Avrich, pp. 124-25).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim, Kronstadt não
apelou para qualquer ajuda do exterior senão quando o levante já estava perto
da derrota, e nunca recebeu nenhum alimento ou socorro dos SRs e grupos mais
conservadores, que tanto ansiavam por oferecer (ver Avrich, pp. 115-127). No
entanto, os líderes da rebelião não estavam totalmente dispostos a rejeitar a
proposta de Chernov. Havia várias razões para sua objeção cautelosa, mas de
maneira nenhuma hostil. Em primeiro lugar, apesar dos discursos e publicações
afirmando o contrário, a escassez de alimentos em Kronstadt era claramente
perceptível nas publicações do <i>Izvestiia</i>
(ver “Refutando a calúnia” e “Distribuição”, no <i>Pravda</i>, pp. 156, 169-170). Os líderes rebeldes não estavam
dispostos a desperdiçar esta oportunidade de receber ajuda alimentar, se a
assistência se tornasse necessariamente dramática.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em segundo lugar, é
provável que os líderes de Kronstadt não considerassem mais os Socialistas
Revolucionários um obstáculo tão grande como haviam sido em 1917 e 1918, no que
tange o objetivo de Kronstadt de fundar uma república livre. Isso porque fontes
soviéticas reportavam seguramente que as forças brancas haviam sido esmagadas e
os governos ocidentais negociavam uma paz iminente. Ademais, a conjuntura havia
tornado a participação da Rússia em qualquer nova guerra contra a Alemanha uma
questão fora de cogitação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Portanto, como muitas
pessoas em Kronstadt eram de fato ex-membros dos partidos SR e dos mencheviques
e, como aponta Pukhov, o ativismo político era frequentemente realizado pelos
SRs e mencheviques à época, em Petrogrado, o Comitê provavelmente tinha ciência
das mudanças de posição dos socialistas revolucionários de direita, claramente
constatadas nas páginas do <i>Volia Rossii</i>
(Pukhov, pp. 28-29, 34). Por causa dessa traição de seus editores em favor das
forças brancas em 1918, o abandono que lhes foi relegado pela <i>Entente</i>, beneficiando os bolcheviques, e
também a natureza socialista do novo governo alemão, que suscitava uma atitude
dura da <i>Entente</i> em relação à Alemanha
(ver, por exemplo, No 127, p. 1, <i>Pered
londonskoi konferentsiei</i>), os socialistas revolucionários de direita não
perderam nenhuma oportunidade de atacar seus ex-aliados, entre os democratas
constitucionais e comandantes brancos (um exemplo particularmente interessante
é o nº 2, p. 1, Vse Malo). Por tudo isso, o Comitê Provisório Revolucionário
provavelmente acreditava que os socialistas revolucionários de direita não
tinham o desejo nem a capacidade de continuar sua linha política de 1917, e,
por isso, seriam menos ameaçadores aos objetivos de Kronstadt do que os
comunistas. Na verdade, Kronstadt e os SRs agora descobriram que tinham um
interesse em comum – a oposição contra os comunistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os editores do <i>Volia Rossii</i>, por sua vez, não
acreditando mais no papel da intervenção estrangeira e numa reação dos grupos
não socialistas, depositaram todas as suas esperanças na derrubada imediata do
comunismo, baseando-se unicamente em suas convicções populistas mais
fundamentais referentes ao despertar do caráter revolucionário das massas
trabalhadoras. Nos comentários sobre o levante e em entrevistas com refugiados
de Kronstadt, o <i>Volia Rossii</i> mostrou
como os eventos de Kronstadt e a ação dos rebeldes demonstravam a confirmação
de suas convicções, a saber: que o comunismo seria derrubado muito em breve por
iniciativa dos trabalhadores e que os trabalhadores também se confrontariam com
os inimigos não-comunistas da SR. Em uma história da revolta dividida em série,
que está intimamente relacionada ao <i>Pravda</i>,
o <i>Volia Rossii</i> cita extensivamente
artigos como “Por que estamos lutando” – um das teses definitivas de Kronstadt
contra os comunistas – e cita o lema: “Em Kronstadt não há Kolchak, nem
Denikin, nem Yudenich. Em Kronstadt há tão somemente trabalhadores” (<i>Volia Rossii</i>, NoNo 160-162, p. 3, “Istoriia
Kronshtadtskago vozstaniia”). Um resumo da posição do <i>Volia Rossii</i>, e do que eles acreditavam o que seria o objetivo de
Kronstadt, pode ser encontrado no editorial principal de 30 de março de 1921,
que afirma:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“... o partido [SR] em
sua luta contra o bolchevismo, imbuído de um único espírito, rejeita o trabalho
conjunto com partidos não socialistas. Será necessário dizer que os eventos do
período recente, e em particular o levante de Kronstadt, corroboram a justeza
do ponto de vista do partido?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As massas trabalhadoras
russas começaram a reagir através da luta armada contra o bolchevismo, mas
rejeitam o trabalho conjunto com... partidos que defendiam objetivos e
psicologias estranhas a elas” (<i>Volia
Rossii</i>, No 165, p. 1 , “Bolchevique i es-ery”).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Volia Rossii</i> também sustentava repetidas vezes que os comunistas deviam
perder o poder em breve e que as concessões econômicas e políticas impostas a
eles por Kronstadt e pelo movimento operário em geral não apenas não poderiam
impedir a sua derrocada, mas iriam até acelerá-la. Yakovenko, vice-presidente
do Comitê Provisório Revolucionário e camarada muito próximo de Petrichenko,
resume melhor essa visão quando diz em uma entrevista: “Os comunistas chegaram
ao fim. Digo em alto e bom som: antes que este ano termine, os comunistas serão
derrubados do poder” (No 187, p. 1, “Beseda s kronshtadtsami”). Os
socialistas-revolucionários estavam ansiosos para saudar como adversários dos
comunistas os kronstadtinos, compostos por trabalhadores simples, cujas ações e
declarações escritas ou orais eram concordantes com as posições do <i>Volia Rossii</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Este acordo de última
hora não era perfeito, no entanto. Enquanto Kronstadt e os socialistas revolucionários
de direita compartilhavam um interesse comum contra os comunistas, no qual
perpassavam certos conflitos políticos, outras questões ainda separavam os dois
grupos. A Assembleia Constituinte é uma dessas questões particularmente
evidente em a <i>Verdade</i>, pois revela
tanto um conflito contínuo entre os dois grupos quanto os esforços do <i>Volia Rossii</i> para convencer seus
leitores de que tais desavenças não representavam um abismo intransponível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Izvestiia</i> assume uma posição forte anti-Assembleia Constituinte. Em
“Etapas da Revolução”, Lamanov afirma que, antes da Revolução de Outubro, os “[c]apitalistas
e proprietários de terras... estavam certamente no controle” (<i>Pravda</i>, p. 127). Quando os membros do
Comitê Provisório Revolucionário foram questionados por “Zritel”, um repórter
do <i>Volia Rossii</i>, por que não apoiaram
a Assembleia Constituinte depois da Revolução, eles responderam que os
comunistas conquistariam a maioria das cadeiras através das listas fixas de
candidatos apresentados aos eleitores (Pravda, p. 31).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A pergunta de “Zritel”
não era retórica, não pretendia mostrar que a Assembleia Constituinte não era
avessa a pessoas comuns que o <i>Volia
Rossii</i> tomava por representantes de Kronstadt. O jornal era, de fato,
fortemente a favor de uma Assembleia Constituinte. A “proclamação dos
socialistas trabalhadores da região de Nevsky”, publicada no <i>Izvestiia</i> (Pravda, p. 7), afirmava:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Sabemos quem tem medo
da Assembleia Constituinte. São aqueles que não mais poderão roubar e que serão
levados a responder perante os representantes do povo por fraude, roubo e todos
os tipos de crimes cometidos. Abaixo os odiados comunistas! Abaixo o poder
soviético! Viva a Assembleia Nacional Constituinte."<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esta proclamação também
foi impressa no <i>Volia Rossii</i> (No 163,
p. 3, “Vozzvaniia sotsialistov v dni petrogradskikh i kronshtadtskikh
sobytii”). Lá o texto é atribuído ao “Comitê dos Socialdemocratas de Petrogrado
(mencheviques) e aos grupos socialistas de Petrogrado”. A referência a “grupos
socialistas”, sem nomeá-los, sugere que os Socialistas Revolucionários podem
ter desempenhado um papel direto na publicação original do panfleto. De
qualquer forma, a relação entre <i>Volia
Rossii</i> e os mencheviques era muito próxima. Os mencheviques nunca receberam
os duros ataques que <i>Volia Rossii</i>
dirigia aos Kadetes e comandantes brancos. Além disso, o <i>Sotsialisticheskii Vestnik</i>, um órgão do partido menchevique no
exterior, chega até mesmo a anunciar no <i>Volia
Rossii</i> (ver, por exemplo, n. 224, p. 6) a convocação da proclamação para
uma Assembleia Constituinte, em concordância com o editorial do próprio jornal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Volia Rossii</i>, portanto, achou necessário explicar por que os
marinheiros de Kronstadt e seus líderes, que se opunham à Assembleia
Constituinte, não eram iguais aqueles culpados por “fraude, roubo e todos os
tipos de crimes”. Tal como acontece com outras situações, em que os operários e
camponeses não agiam de acordo com as expectativas dos socialistas revolucionários
de direita, o <i>Volia Rossii</i>
contornavam isso em parte apontando para a influência corruptora do ativismo
comunista na classe trabalhadora (ver, por exemplo, a explicação sobre o
malogro dos trabalhadores de Petrogrado quando do auxílio prestado por
Kronstadt, em <i>Volia Rossii</i>, n.º 164,
página 1, “Petrograd i Kronshtadt”). Em resposta à rejeição da Assembleia
Constituinte por Kronstadt, o <i>Volia
Rossii</i> afirmava:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Durante três anos, com
o uso das ‘listas’, os bolcheviques conseguiram perverter a própria ideia de
eleições livres... [Os trabalhadores] temiam que..., com a dominação comunista
nos sovietes, ou na Assembleia Constituinte, eleitos por métodos comunistas,
não seria uma assembleia constituinte, mas uma nova variedade do comissariado”
(<i>Pravda</i>, pp. 31-32).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Volia Rossii</i> afirmava que Kronstadt, tendo suas crenças distorcidas
pelos comunistas, estava se aproximando da democracia a curtos passos, por meio
de novas eleições para os sovietes, e não pelo caminho direto da Assembleia
Constituinte. Relevou ainda mais o erro de Kronstadt ao afirmar que os
marinheiros, isolados das localidades onde os trabalhadores convocavam a Assembleia
Constituinte, “à sua maneira, defendiam o direito do povo ao autogoverno e à
autorregulação. Queriam avançar – e já avançavam – rumo ao autogoverno por
caminhos diferentes” dos demais trabalhadores (<i>Pravda</i>, p. 35), mas “o objetivo deles... era um e o mesmo, a
emancipação do povo. Por isso, independentemente de como eles interpretavam a
demanda do ‘poder popular’, todo o movimento de Kronstadt possuía uma grande
força de atração” (<i>Pravda</i>, p. 35). O <i>Volia Rossii</i> justificava sua diferença
com Kronstadt em relação à Assembleia Constituinte alegando que, por causa da
campanha comunista e do isolamento de Kronstadt, os marinheiros e seus líderes
estavam relativamente enganados sobre os métodos adequados para a emancipação
popular, mas que fundamentalmente desejavam o mesmo que os socialistas
revolucionários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os autores e editores
originais do <i>Pravda o Kronshtadte</i>, ou
“A Verdade sobre Kronstadt”, variavam entre marinheiros comuns da Frota do
Báltico a até ex-ministros de governo. Eles eram todos descendentes políticos
do populismo russo do final do século XIX, mas se dividiram em ramos separados
sob a influência de diferentes interesses, crenças e de eventos como o da
Primeira Guerra Mundial. A população de Kronstadt era democrata radical e
intimamente relacionada à União dos Socialistas-Revolucionários Maximalistas,
que lhes forneceu uma de suas principais figuras, Anatolii Lamanov. Os editores
do <i>Volia Rossii</i> eram socialistas
revolucionários de direita, de orientação liberal e inclinados a fazer
concessões e alianças com grupos aos quais Kronstadt rejeitava. Stepan
Petrichenko, presidente do Comitê Revolucionário Provisório de Kronstadt, foi
influenciado até certo ponto pelas ideias socialistas revolucionárias, mas foi
principalmente um representante e um exemplo dos marinheiros de Kronstadt que
foram liderados por ele.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Diferenças políticas
relacionadas às visões dos autores sobre o socialismo e o papel apropriado das
forças não socialistas, juntamente com outras questões, como apoio ou oposição
à guerra, motivaram a tornar Kronstadt e o Governo Provisório
Socialista-Revolucionário de Direita violentos inimigos em 1917. Em 1921, no
entanto, no contexto de uma combinação de realidades internas e externas
alteradas, visões e interesses transmutados, um inimigo comum, constituído
pelos comunistas, forneceu-lhes uma base para a cooperação mútua. Kronstadt
decidiu que seus antigos inimigos não eram mais tão perigosos quanto antes e
que a necessidade potencial de suprimentos de comida exigia que as propostas
fornecidas socialistas revolucionárias não fossem completamente rejeitadas. Por
sua vez, o <i>Volia Rossii</i> descobriu
que, apesar da necessidade de explicar as divergências contínuas sobre questões
como a Assembleia Constituinte, os rebeldes ganhavam para eles um status de
grande importância, pois proporcionavam uma fonte de ações ou declarações,
tanto escritas como orais, que legitimavam as convicções do SR de direita.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Notas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nota do editor<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A Rebelião de Kronstadt<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Pravda o Kronshtadte</i> é uma descrição da rebelião de marinheiros que
ocorreu em março de 1921, no porto naval de Kronstadt, localizado na ilha de
Kotlin, perto do Golfo da Finlândia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A rebelião foi
organizada e conduzida em grande parte pelos marinheiros da base naval.
Inicialmente, eles apoiaram os bolcheviques na Revolução de Outubro, mas,
diante das greves dos trabalhadores que despontavam no período, formaram o
Comitê Provisório Revolucionário, sob a orientação anarquista, depois da recusa
do governo bolchevique em suspender as políticas que provocavam uma escassez
crítica de alimentos e energia, em consequência da repressão política e de uma
regulamentação trabalhista irracional.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A tomada efetiva do
governo da cidade de Kronstadt foi pacífica; não os fatos subsequentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Leon Trotsky e Mikhail
Tukhachevsy enviaram tropas para esmagar a revolta. Ao longo do cerco de duas
semanas, a maioria dos rebeldes foi capturada ou morta, enquanto alguns conseguiram
fugir para a Finlândia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Embora os bolcheviques
tenham reprimido com sucesso a rebelião, eles finalmente perceberam que
precisavam lidar com as crises econômicas que alimentavam o desencanto da
população para com o governo. Eles adotaram a Nova Política Econômica no mesmo
mês em que ocorreu a rebelião.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pravda
o Kronshtadte<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sem surpresa, a maioria
dos documentos soviéticos existentes dão um relato negativo da Rebelião de
Kronstadt – que é descrita como um exemplo de que os corajosos bolcheviques
prevaleceram sobre um bando de criminosos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O fato de <i>Pravda o Kronshtadte</i> ser uma peça rara
de propaganda pró-rebelião é uma das razões pelas quais seu interesse enquanto
documento histórico apresenta um valor ímpar. Foi publicado após a revolta pelo
jornal <i>Volia Rossii</i> (“Vontade da
Rússia”) e inclui no apêndice todos os quatorze números do diário pró-rebelião <i>Izvestiia</i>, do Comitê Provisório
Revolucionário. De acordo com a página de rosto, todos os lucros da venda da publicação
foram destinados aos “refugiados de Kronstadt e suas famílias”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Este trabalho também é interessante
por apresentar um relato das condições políticas e econômicas durante os anos
de 1921. O conteúdo do <i>Izvestiia</i>
fornece informações sobre a escassez de alimentos, a resposta do povo perante
os estado calamitoso gerado pela crise econômica, a estrutura política dos
órgãos governamentais e as atividades dos habitantes de Kronstadt na época da
revolta.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfV2DVPVfWOP9wrI21Au4FcQEsDeNi2Pr5oHlT3MbeLFzTWpCe79p-YPCDqrWZcrd_Ztnm1ZmocF7tudhIYIxaiRFsIE5o2hW3etIYimYEbdw6AfWSe4PAVAK7laCnvheIYyex6aBHy7q7ai4u_PP156E8jIBlhPRwHYEnXPKaxg1HANqtuVhupYY2HA/s784/A%20verdade%20sobre%20Kronstadt.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Volia Rossii" border="0" data-original-height="784" data-original-width="470" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfV2DVPVfWOP9wrI21Au4FcQEsDeNi2Pr5oHlT3MbeLFzTWpCe79p-YPCDqrWZcrd_Ztnm1ZmocF7tudhIYIxaiRFsIE5o2hW3etIYimYEbdw6AfWSe4PAVAK7laCnvheIYyex6aBHy7q7ai4u_PP156E8jIBlhPRwHYEnXPKaxg1HANqtuVhupYY2HA/w192-h320/A%20verdade%20sobre%20Kronstadt.jpg" title="A verdade sobre Kronstadt" width="192" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.amazon.com.br/Verdade-Sobre-Kronstadt-Volia-Rossii-ebook/dp/B0BJH72PR4/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=3E0ZQ0MDGWKD9&keywords=a+verdade+sobre+kronstadt&qid=1667250157&qu=eyJxc2MiOiIxLjc2IiwicXNhIjoiMC4wMCIsInFzcCI6IjAuMDAifQ%3D%3D&sprefix=a+verdade+sobre+kronstadt%2Caps%2C1049&sr=8-1" rel="nofollow" target="_blank">Na Amazon, por R$ 1,99</a></div><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;"><b>Bibliografia</b></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Akhmanova, O. S., A. I.
Smirnitsky. 1987. <i>Russko-Angliiskii
slovar. Moscow</i>, Russky Yazyk Publishers.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Avrich, Paul. 1970. <i>Kronstadt 1921</i>. Tradução: Jean Fecaloma
(2021) – [disponível na internet].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Blakely, Allison. 1980.
“Populism in Russia”, vol. 51, pp. 220-228 in <i>The modern encyclopedia of Russian and Soviet history</i>, ed. Joseph
Wieczynski. Gulf Breeze, FL, Academic International Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Garmiz, V. V., A. F.
Zhukov. 1974. “Maksimalisti”, vol. 15, p. 255 in <i>Bolshoe Sovetskoe entsiklopediia</i>, 3rd edition, ed. A. M. Prokhorov.
Moscow, Sovetskoe Entsiklopediia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Getzler, Israel. 1983. <i>Kronstadt 1917-1921</i>. Cambridge, Cambridge
University Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lebedev, Col. Vladimir
I. 1918. <i>The Russian democracy in its
struggle against the Bolshevist tyranny</i>. Nova Iorque, Russian Information
Bureau in the U.S., 40 pp., map.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Melancon, Michael.
1990. “‘Marching together!’: left block activities in the Russian revolutionary
movement, 1900 to February 1917”. Slavic Review, 49 (2): 239-252.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Minor, Osip
Solomonovich. 1933. <i>Eto bylo davno...
(vospominaniia soldata revoliutsii)</i>. Paris, Politicheskii Krasnyi Krest.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Morokhovets, E. A.
1929. Agrarnye programmy Rossiiskikh politicheskikh partiii v 1917 g.
Leningrad, Priboi.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nicoll, G. Douglas.
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<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nicoll, G. Douglas. 1980.
“‘People's Will Party”, vol. 27, pp. 165-171 in <i>The modern encyclopedia of Russian and Soviet history</i>, ed. Joseph
Wieczynski. Gulf Breeze, FL, Academic International Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Perrie, Maureen. 1980.
“Socialist Revolutionary Party”, vol 36, pp. 95-102 in <i>The modern encyclopedia of Russian and Soviet history</i>, ed. Joseph
Wieczynski. Gulf Breeze, FL, Academic International Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Perrie, Maureen. 1980.
“‘Zenzinov, Vladimir Mikhailovich”, vol. 46, pp. 17-21 in <i>The modern encyclopedia of Russian and Soviet history</i>, ed. Joseph
Wieczynski. Gulf Breeze, FL, Academic International Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Poltoratsky, N. ed.
1972. <i>Russkaia literatura v emigratsii:
sbornik statei</i>. Pittsburgh, Department of Slavic Languages and Literatures,
University of Pittsburgh.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pravda
o Kronshtadte</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">. 1921. Praga: Volia Rossii, 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Prokhorov, A. M. ed.
1970. <i>Bolshoe Sovetskoe entsiklopediia</i>,
3rd ed. Moscou, Sovietskaia Entsiklopediia, 31 vols.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Prokhorov, A. M. ed.
1973. <i>Great Soviet encyclopedia: a
translation of the third edition</i>. New York, Macmillan, 31 vols.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pukhov, A. S. 1931. <i>Kronshtadtskii miatezh v 1921</i> g.
Leningrad, OGIZ-Molodaia Gvardiia, 205 pp.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Rollins, Patrick J.
1980. “Kerenskii, Aleksandr Fedorovich”, vol. 16, pp. 107-113 in <i>The modern encyclopedia of Russian and Soviet
history</i>, ed. Joseph Wieczynski. Gulf Breeze, FL, Academic International
Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sack, A. J. 1918.
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York, Russian Information Bureau In the U.S.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sbornik programm
politicheskikh partii v Rossii: partii demokraticheskie. 1917. Petrograd,
Osvobozhdennaia Rossiia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Slonim, Marc. 1972. “Volia
Rossii”, pp. 291-300 in <i>Russkaia
literatura v emigratsii: sbornik statei</i>, ed. N. Poltoratsky. Pittsburgh: Department
of Slavic Languages and Literatures, University of Pittsburgh.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Troitskii, N. A. 1980.
“Trial of the 193”, vol. 39, pp. 203-304 in <i>The
modern encyclopedia of Russian and Soviet history</i>, ed. Joseph Wieczynski.
Gulf Breeze, FL, Academic International Press.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tvardovskaya, V. A. 1974.
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Sovetskoe entsiklopediia</i>, 3rd edition, ed. A. M. Prokhorov. Moscow,
Sovietskaia Entsikopediia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Venturi, Franco. 1966. <i>Roots of Revolution</i>. New York: Grosset
and Dunlap.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Volia Rossii. Setembro
12, 1920-October 9, 1921. Praga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Wieczynski, Joseph L.
ed. 1980. <i>The modern encyclopedia of
Russian and Soviet history</i>. Gulf Breeze, FL, Academic International Press,
54 vols.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Zagoskina, I. V. 1980.
“Party week”, vol. 27, pp. 41-42 in <i>The
modern encyclopedia of Russian and Soviet history</i>, ed. Joseph Wieczynski.
Gulf Breeze, FL, Academic International Press.<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;">“Zritel”. 1921. “Beseda
s kronshtadtsami”, in </span><i style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;">NoNo</i><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;"> 187, 188,
189, 195, 196 of Volia Rossii. Praga.</span> </p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-44618316837063969352022-10-01T18:42:00.003-07:002022-10-31T14:28:23.901-07:00A Rebelião de Kronstadt, por Stepan Petritchenko<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(Tradução e Diagramação:
Ateneu Diego Giménez COBAIT Piracicaba, 2011).<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizY0h-LUMcPAHXyjOP6kCJS905ZC0JS8bmyXhFJcYZNh0-HTGCUsnoEabRIT7ULZ9VPSchTyMzv5fv0tLpO4JBXca3dIrPU5kJMJTX2lMY-sjZhe8KH9MAd9OTtrrkeSeGcMlD2GUeCjEZ5V6yvodlRVXPLyHM43lPq8QhJbiz-bO1rdlgQ_nh9pmpyw/s298/Petrichenko.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="298" data-original-width="216" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizY0h-LUMcPAHXyjOP6kCJS905ZC0JS8bmyXhFJcYZNh0-HTGCUsnoEabRIT7ULZ9VPSchTyMzv5fv0tLpO4JBXca3dIrPU5kJMJTX2lMY-sjZhe8KH9MAd9OTtrrkeSeGcMlD2GUeCjEZ5V6yvodlRVXPLyHM43lPq8QhJbiz-bO1rdlgQ_nh9pmpyw/s1600/Petrichenko.jpeg" width="216" /></a></div><p></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A
<a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">VERDADE SOBRE KRONSTADT</a><o:p></o:p></span></b></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">por Stepan
Petritchenko<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao levar a cabo a
Revolução de Outubro de 1917, os trabalhadores da Rússia e da Ucrânia esperavam
obter sua emancipação completa. Depositaram todas as suas esperanças no partido
bolchevique, porque parecia responder aos seus interesses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O que é que este
partido, dirigido por Lenin, Trotsky, Zinoviev e outros, lhes retribuiu nos
três anos e meio que detém o poder?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O caminho bolchevique
não conduziu à emancipação dos trabalhadores, mas a uma escravidão
ainda maior do
proletariado. Em lugar
da monarquia policial,
os trabalhadores conhecem agora o temor permanente de cair nas mãos da
Tcheka, que supera bastante a crueldade da polícia do regime czarista. Agora
são conscientes dos fuzilamentos e das humilhantes vexações dos carcereiros
tchekistas. Se o trabalhador se atreve a expressar a dolorosa e pesada verdade,
é então associado aos contrarrevolucionários, aos agentes da Entente etc.,
recebendo como recompensa uma descarga de fuzil ou a prisão, ou seja, a morte
por inanição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os bolcheviques
aprisionaram os operários às oficinas, com a ajuda dos sindicatos corruptos,
fazendo com que o trabalho deixasse de ser criativo e estimulante para
converterse, como antes, em uma nova e insuportável escravidão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os bolcheviques
responderam aos protestos dos camponeses, que se manifestavam com revoltas
espontâneas, e dos operários, obrigados a recorrerem à greve para melhorar suas
condições de vida, com fuzilamentos em massa, incontáveis encarceramentos e
internações em campos de concentração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como vivem os
camponeses e o que obtiveram do novo regime?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Conseguiram a
escravidão dos trabalhos forçados, sem distinção de idade, sexo ou situação
familiar, a pilhagem completa das colheitas, do gado e das aves de curral, levadas
a cabo por inumeráveis requisições e confiscos e pelo controle de todos os
deslocamentos, mediante incalculáveis destacamentos de inspeção.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Foi generalizado o
reinado da arbitrariedade. Se um camponês tem três de seus filhos no Exército
Vermelho e um deles volta ao seu povoado por contra própria para conhecer a
situação; então, sem ter em conta que os outros dois filhos permanecem no
serviço, o sítio familiar fica liberado, por efeito da deserção de um de seus
membros, à pilhagem total.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não obstante, o
exército e as forças armadas de nada sabiam sobre a verdadeira situação do
país. As informações que chegavam eram muito confusas e imprecisas; era
difícil fazer uma
ideia exata baseandose nos rumores ou no correio familiar “censurado”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante todo este
tempo, os bolcheviques enganaram sua gente, esboçando quadros idílicos em seus
periódicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Se eram lançadas
queixas contra os abusos, as autoridades centrais respondiam dizendo que seriam
tomadas as medidas oportunas, mas tudo ficava no papel. Pelo contrário, quando
o comissário local se inteirava que tinha sido tramitada uma queixa contra ele,
se ocupava de perseguir os querelantes por todos os meios ao seu alcance,
tornando as suas vidas impossíveis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ninguém estava em
condições de conhecer a situação e os meios de vida de sua família: não
concediam nenhuma permissão por causa da tensão militar e a censura impedia que
passassem as cartas que expunham a amarga verdade. Somente os periódicos e a
literatura bolchevique tinham curso livre, e, segundo eles, tudo ia bem por
todas as partes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por tudo isso, as
tripulações se encontravam na incerteza: alguns confiavam na propaganda
oficial, mas outros não. Teve lugar uma desmoralização parcial do exército e
foram concedidas breves permissões, limitadas a dez por cento dos efetivos.
Aqueles que tiveram a sorte de aceder a elas estavam perfeitamente a par da
situação real do país ao regressarem, ao ter tido ocasião de tomar consciência
da imbecilidade, da arbitrariedade e da violência repressiva da comissariocracia.
Estes explicaram aos seus camaradas a repressão e as injustiças que reinavam no
país. Deste modo, a amarga verdade começou a ser conhecida nas unidades de
Petrogrado e Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os ucranianos, por sua
vez, se negavam a regressar ao terminar sua permissão. Alguns deles contaram
que os pais maldiziam os seus filhos por terem defendido essa cambada de
bandidos e canalhas que tinha levado a Rússia à ruína geral, a uma situação de
violência espantosa e a uma opressão e uma arbitrariedade desconhecidas até então.
Assim chegamos ao conhecimento da verdade e nos pusemos a discutila
coletivamente, apesar da
proibição a reuniões ou concentrações, ditada pelos
comissários e comunistas. As assembleias passaram a ter cada vez maior
participação, chegando sempre à desaprovação unânime e indignada do regime
bolchevique.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Petrogrado e Kronstadt
sofreram nesse período, como anteriormente, uma grave crise de abastecimento.
Todos se indignaram contra a “ordem bolchevique”, graças à qual os operários se
encontravam esfomeados, com frio e aprisionados às suas fábricas, nas quais
deviam esgotar as suas últimas forças.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A paciência chegou ao
limite: nos dias 25 a 28 de fevereiro, greves irromperam em Petrogrado. O poder
respondeu com prisões em massa e disparos de fuzil contra os operários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As fábricas foram
colocadas sob a vigilância dos tchekistas e dos
<i>kursanti</i> [1]; disseram aos
operários que voltassem ao trabalho, mas eles se negaram. Nossa tripulação
soube com indignação o que acontecia em Petrogrado no curso das reuniões
espontâneas, as quais estavam, não obstante, formalmente proibidas pelos comissários;
então exigimos a estes o envio de uma comissão, composta por gente sem partido,
a Petrogrado, com o objetivo de se informar a respeito do que acontecia na realidade,
porque os bolcheviques tratavam de nos fazer crer que agentes e espiões da Entente
tinham tentado organizar greves em Petrogrado, mas que tudo havia voltado à
normalidade e as fábricas funcionavam de novo sem problemas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em Petrogrado, os
operários eram ameaçados com a intervenção de <i>Kronstadt, a Vermelha</i>, a qual os obrigaria a voltar ao talho se
persistissem em sua atitude grevista. Por isso soubemos que, de modo geral, os
bolcheviques tinham transformado Kronstadt em um espantalho em toda a Rússia para
apoiar sua política; a indignação das tripulações ao ter notícia destes fatos
foi enorme, porque este papel não podia de modo algum ser de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No dia 27 de fevereiro,
foram celebradas duas reuniões espontâneas, primeiro entre as tripulações dos
encouraçados <i>Petropavlovsk</i> e <i>Sevastopol</i> e, mais tarde, entre os
componentes da 1ª e da 2ª brigada de destruidores, durante as quais todo mundo exigiu
aos comissários de modo imperativo a eleição de uma comissão de delegados sem
partido para visitar as fábricas e os acantonamentos da guarnição de
Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não podendo fazer de
outro modo, Kuzmin, o comissário do Poubalt, que acabava de chegar em
Petrogrado em companhia de outros notáveis bolcheviques, se viu forçado a autorizála.
Foi eleita uma delegação de 32 membros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O comissário da frota
do Báltico ordenou que estes delegados se apresentassem perante todos os
Sovietes da região e perante os comitês de fábrica. Assim fizeram ao chegarem a
Petrogrado, onde lhes foi declarado que a cidade estava em estado de sítio e
que, por consequência, as reuniões e os encontros estavam formalmente
proibidos. Os delegados insistiram em querer se reunir com os operários nas
fábricas. Então os bolcheviques utilizaram um subterfúgio: organizaram por
conta própria reuniões nas quais apresentaram falsos delegados de Kronstadt,
apesar deles serem membros do partido, pretendendo dessa forma semear a
confusão; não obstante, os delegados de Kronstadt puderam facilmente fazer esta
manobra grosseira fracassar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nas assembleias de fábrica
nas quais os bolcheviques apresentaram delegados falsos, declararam que
Kronstadt não permitiria que os distúrbios em Petrogrado continuassem; mas os
delegados autênticos conseguiram desmascarálos em boa parte dos casos. Por
fim, as assembleias foram autorizadas, frente à insistência dos delegados, mas
com a presença dos membros da Tcheka, dos Sovietes locais, dos comitês de
fábrica e de funcionários dos sindicatos estatais para intimidar os operários.
Estes temiam falar com os delegados, fazendolhes compreender que não lhes era
possível fazêlo em presença de todos esses
esbirros; de fato, aquele que ousava
protestar ou denunciar a situação se encontrava na noite seguinte na prisão de <i>Gorokhovaya 2</i>, onde cerca de mil
camaradas seus já se encontravam há alguns dias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nestas condições, os
delegados exigiram que os membros da Tcheka e outros sicários abandonassem as reuniões. Estes últimos
recusaram, declarando que as conversas só podiam ser realizadas em sua
presença.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em uma reunião, os
delegados pediram aos operários que expressassem o que tinham a dizer,
prometendolhes defendêlos para afugentar seus temores, mas somente alguns
puderam responder por meio de suas lágrimas, o que demonstrava fidedignamente
até que ponto se sentiam abatidos e impotentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os delegados de
Kronstadt propuseram aos operários e soldados que enviassem delegados a
Kronstadt. Em 28 de fevereiro, os delegados voltaram a Kronstadt, acompanhados
por outros de Petrogrado, expondo seu informe nos cascos; como consequência, o <i>Petropavlovsk </i>e o <i>Sevastopol</i> adotaram uma resolução
que exigia, principalmente, a
eleição de novos Sovietes locais mediante voto secreto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A resolução foi
aprovada por unanimidade, sem ter em conta as manobras de diversão e obstrução
de Kuzmin e outros notáveis bolcheviques de Petrogrado que assistiam às
assembleias. Kuzmin e seus colegas chegaram a tal extremo de cinismo em suas
intervenções e manobras que os marinheiros, indignados, tiveram que lhes
interromper em mais de uma ocasião. Nesta reunião, foi decidido convocar uma Assembleia
Geral de toda a população de Kronstadt para o dia seguinte, 1º de março, na
Praça da Âncora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kalinin, o <i>Hierarca</i> de Todas as Rússias [2],
compareceu a esta assembleia geral da guarnição e da população de Kronstadt.
Pronunciou um discurso, esforçandose em fazer a reunião fracassar. Quando se
deu conta de que isso não era possível, se recusou a falar na Praça e exigiu
que a reunião fosse transferida para o posto de manobras da marinha, mas os
participantes se negaram e insistiram em que a reunião continuasse na Praça da
Âncora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Diversos oradores
intervieram nessa assembleia. A resolução proposta pelos encouraçados foi
adotada por unanimidade, com os únicos votos contra de Kalinin, Kuzmin e
Vassiliev, este último Presidente do Soviete de Kronstadt. Ao constatar semelhante
unanimidade da assembleia, Kalinin e Kuzmin declararam que “se Kronstadt diz
branco, nós dizemos preto” e que “Kronstadt não representa por si só toda a
Rússia e portanto não será levada em consideração”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Essas palavras agitaram
ainda mais os participantes; então, alguém lhes perguntou por que os
bolcheviques tinham afirmado até esse momento que Kronstadt era o centro da
revolução e o seu mais fiel bastião e por que tinha sempre apoiado Kronstadt.
Não houve resposta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A reunião decidiu
proceder à eleição de um novo Soviete no dia seguinte, através dos
representantes de cada uma das companhias, dos grupos profissionais e de fábrica,
à razão de dez delegados por unidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os membros do partido
comunista estiveram reunidos toda a noite de 1º a 2 de março, decidindo morrer antes de entregar o poder;
durante o resto da noite se dedicaram a armar quem acreditavam ser mais
confiáveis: os clubes dos Sovietes e outras instituições. Kalinin saiu de
Kronstadt nessa mesma noite sem que ninguém o impedisse.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 2 de março, às onze
da manhã, os delegados designados foram ao encouraçado <i>Petropavlovsk</i>.
Todos eram independentes. Havia cerca de 250 pessoas, sendo insuficiente o
espaço do casco, por isso foi proposto aos delegados transferir a reunião para
a casa de cultura e às duas da tarde foi aberta a sessão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Foi designada a
presidência e quando se chegou à discussão da situação atual, Kuzmin e
Vassiliev pediram a palavra para intervir a respeito. A assembleia assim concordou
e ambos se puseram a repetir as mesmas ameaças que haviam lançado na Praça da
Âncora, tendo o maior cuidado de evitar responder as perguntas diretas que lhes
eram dirigidas. A assembleia pediu então sua prisão imediata e seu desarme, o que
foi executado pela presidência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pouco depois, começaram
a chegar mensagens e telegramas de caráter provocador. A intenção manifesta dos
bolcheviques era sabotar a reunião. Assim, por exemplo, chegaram informações
nas quais se afirmava que a escola do partido e os comissários estavam se
armando fortemente e se aprontavam para cercar o edifício onde ocorria a
assembleia de delegados; ou ainda, que dois mil cavaleiros de Boudienny se acercavam
às portas da cidadela. A assembleia se indignou ao ter conhecimento destes
rumores e alguns começaram a ficar nervosos, mas o presidente da sessão
conseguiu restabelecer a calma e os debates continuaram.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Todo mundo sabia que os
bolcheviques tinham se armado durante a noite e que um ataque era possível. Os debates se estendiam,
mas finalmente se propôs não perder tempo, visto que os bolcheviques atuavam, e
nomear rapidamente um Comitê Revolucionário. Cinco membros foram eleitos para
este Comitê: Petritchenko, presidente, Yakovenko, Tukin, Arkhipov e o professor
Oreshin.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao final da reunião, às
cinco da tarde, o Comitê Revolucionário (CR) se instalou no encouraçado <i>Petropavlovsk</i>, onde foi formado um
estadomaior militar. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os destacamentos
militares vieram para se colocarem à disposição do Comitê Revolucionário. Em
uma hora foram reunidos oitocentos homens, recebendo a ordem de ocupar todos os
pontos estratégicos da fortaleza: a central telefônica, os locais da Tcheka, o
arsenal, os depósitos de abastecimento, as padarias, as estações elétricas, as cisternas
de água, os estadosmaiores, a defesa antiaérea, a artilharia etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às nove da noite, a
cidade estava totalmente controlada, sem disparar um tiro nem derramar uma gota
de sangue. Nenhum dos edifícios armados pelos bolcheviques opôs resistência,
porque os militantes de base do partido se negaram a disparar contra seus
camaradas. A partir desse momento, não sobraram mais que cinquenta dirigentes e
duzentos estudantes da escola do partido, tentando por todos os meios ao seu
alcance recuperar o poder que lhes escapava.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Comitê Revolucionário
(o <i>Revkom</i>) decidiu que fossem
ocupados os fortes, depois de terem ocupado a cidade, sendo igualmente tomados
sem fazer um único disparo, já que o grupo de bolcheviques não tinha tido maior
êxito que o que tiveram com os marinheiros. Quando a guarnição dos fortes quis
proceder à prisão dos bolcheviques, estes se refugiaram na costa do golfo e
conseguiram se apoderar do forte Krasnaya Gorka (a colina vermelha), por ser um
grupo suficientemente numeroso para surpreender a guarnição de um único forte,
ainda vacilante nesses momentos. Uma vez com o posto em seu poder, procederam à
prisão e à execução daqueles que achavam suspeitos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim foi como a cidade
e os fortes de Kronstadt passaram para as mãos do Comitê Revolucionário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nesse mesmo dia, até a
meia noite, o Comitê Revolucionário pediu que um destacamento de cinquenta
marinheiros e seis delegados fosse até Oranienbaum, na outra ribeira do golfo. O
destacamento percorreu cinco verstas [3], até que foi recebido com um nutrido
fogo de metralhadoras, ao chegar a uma versta e meia da costa. Os seis
delegados seguiram sozinhos, mas os <i>kursanti
</i>nem sequer se deram ao trabalho de discutir com eles, pegando três,
enquanto os outros escaparam e alcançaram o destacamento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os marinheiros tentaram
pôr os pés na ribeira de Oranienbaum em outro lugar, mas tampouco tiveram êxito
e ao amanhecer se viram obrigados a voltar a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nesse exato momento
chegaram três delegados da divisão aérea de Oranienbaum, que comunicaram a
intenção da divisão de unirse a Kronstadt. Quando voltaram, foram imediatamente aprisionados e fuzilados. Em
seguida, quarenta e quatro camaradas seus foram igualmente executados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em Kronstadt tudo
estava tranquilo. Só foram presos os bolcheviques que tinham abusado da
confiança do Comitê Revolucionário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No entardecer de 2 de
março, o Comitê Revolucionário convocou os responsáveis do estadomaior da
fortaleza, assim como os especialistas militares, explicandolhes a situação e
propondolhes que participassem da preparação e do reforço da defesa de Kronstadt,
o que aceitaram. É necessário afirmar, a esse respeito, que Kozlovsky não veio
à reunião do Comitê Revolucionário nesta ocasião, mas à que uma parte deste celebrou
no dia seguinte às três da tarde e que tão só foi responsável pela artilharia e
não por toda a defesa da fortaleza, como os bolcheviques fizeram crer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 3 de março,
circularam por toda a cidade rumores que afirmavam que os bolcheviques
aprisionados tinham sido torturados e fuzilados, sofrendo todo tipo de violência.
Membros do grupo dirigente do Partido Comunista se apresentaram ao Comitê
Revolucionário para que lhes fosse permitido visitar o edifício onde haviam sido
encerrados os comunistas aprisionados. Dois membros do <i>Revkom </i>se uniram a eles para dirigiremse em direção ao local.
Tendo sido convencidos das boas condições em que os comunistas aprisionados se
encontravam e informados de sua situação, os membros do coletivo comunista
redigiram um chamado à população da ilha em que eram desmentidos os rumores
provocadores e afirmavam que os comunistas aprisionados se encontravam em boas
condições, todos sãos e salvos, e que nenhuma violência tinha sido exercida
contra eles. Este chamado foi assinado por membros muito conhecidos do Partido:
os operários Ylyin, Kabanov e Pervushin.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Comitê Revolucionário
emitiu um primeiro chamado dirigido à guarnição da cidade. Nele, pediase que os operários não
abandonassem o trabalho e se apresentassem nas oficinas; aos marinheiros e
soldados vermelhos, pediase que permanecessem em seus postos nos cascos e nos
fortes; e a todos os estabelecimentos públicos pediase que continuassem com
sua atividade habitual.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em seguida, o Comitê
Revolucionário fez um chamado a todas as organizações de trabalhadores da Rússia,
insistindo que procedessem à convocação de novas eleições, mais
representativas, nas fábricas, nos sindicatos e nos sovietes. O Comitê Revolucionário
fez também um chamado à ordem, à tranquilidade, à firmeza e um novo e honesto
trabalho socialista, em prol de todos os trabalhadores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sob a presidência do <i>Revkom</i>, foi celebrada uma primeira
reunião para tratar os problemas militares, no curso da qual foi elaborado um
plano de autodefesa. Ao anoitecer, todos os destacamentos foram armados e
ocuparam os seus postos na cidade e nos fortes. Se soube que às quatro da tarde
um grupo inimigo havia se aproximado de Totleben; alguns marinheiros saíram
do forte e
regressaram sem que
houvesse enfrentamento armado. Além disso, nos chegou a informação de
que o trem blindado Tchernomoretz acabara de chegar com uma companhia de <i>kursanti</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante toda a jornada,
foram chegando reforços bolcheviques a Oranienbaum, Sestroretsk e
Lissy Noss, constituídos principalmente de
kursanti de Orloff, Nijnegorod e Moscou. E também
destacamentos de elite bolcheviques, da Tcheka e dos funcionários dos Sovietes
locais, assim como dois trens blindados. Durante a noite, grupos de
exploradores se aproximaram do forte nº 1, para retroceder em seguida, depois de
encontraremse com nossos destacamentos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim teve começo a
insurreição de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como esta foi
apresentada pelos bolcheviques? A partir de 3 de março, na rádio de Moscou
havia sido anunciado que um complô de Guardas Brancos e um amotinamento
do casco Petropavlovsk, sob a direção do exgeneral Kozlovsky, acabava de se
instalar em Kronstadt; este complô havia sido tramado por agentes e espiões da Entente. A
rádio difundia a
confiança em que esta rebelião dos Socialistas Revolucionários e de um
general fosse muito em breve liquidada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A seguir, podia ser lido
na “Gazeta Vermelha” e em Pravda que os principais atores da insurreição haviam
distribuído a hierarquia entre si, que eram burgueses e filhos de papas,
possuidores de numerosas propriedades. Os periódicos insistiam em seu passado
criminoso e assim sucessivamente. Deste modo os bolcheviques apresentaram a
revolta de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">4
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Neste dia, o Comitê
Revolucionário se deslocou do encouraçado <i>Petropavlovsk</i>
à Casa do Povo, onde permaneceu até o último momento. Foi recebido um telegrama
do Soviete de Petrogrado, propondo o envio de uma delegação a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Comitê Revolucionário
enviou uma mensagem por rádio dizendo que a delegação seria muito bem recebida,
mas que seria desejável que a mesma fosse eleita por representantes do povo, ou
seja, por trabalhadores, marinheiros e soldados vermelhos e que fosse incluído
nesta delegação um total de 15 % de comunistas. O Soviete de Petrogrado não
respondeu à proposta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Revkom</i> tinha muito cuidado em tentar evitar todo derramamento de
sangue inútil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em Kronstadt tudo
estava tranquilo. Todos os serviços funcionavam e o trabalho não era detido em
absoluto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante os três
primeiros dias não foi disparado nem um único tiro. As ruas estavam animadas e
as crianças brincavam agradavelmente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às quatro da tarde, os
delegados de todos os estabelecimentos, empresas, sindicatos e unidades
militares se reuniram no clube da guarnição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao abrir a sessão, o
presidente informou a assembleia sobre a situação militar e o abastecimento.
Também foi tratado o problema do combustível. Foi proposto aos operários que se
armassem e ocupassem os postos de guarda da cidade, a fim de liberar a
guarnição, que podia então ocupar posições nos postos mais avançados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os operários aprovaram
a proposta por unanimidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A reunião se
desenvolveu em meio a um grande entusiasmo e todos se separaram com a consigna
de “vencer ou morrer”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No curso da mesma, o <i>Revkom</i> foi completado, por proposta do
Presidente, com a inclusão de dez novos membros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante a noite, um
grupo inimigo de exploradores tentou se aproximar dos fortes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">5
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pela manhã, um avião
sobrevoou Kronstadt lançando panfletos: “eles conseguiram”, onde os
bolcheviques tentavam demonstrar que tínhamos sido enganados por generais
czaristas, acrescentando que Kronstadt tinha sido completamente cercada e que
portanto seríamos reduzidos por fome, já que na cidade não havia reservas
suficientes de comida, e convocavam a rendição e o desarme e prisão dos
dirigentes criminosos. Aqueles que se rendessem seriam perdoados por seu erro.
O <i>Revkom</i> ordenou que não metralhassem
o avião. Os panfletos foram amplamente difundidos entre a guarnição e a
população. Uma emissão de rádio do mesmo estilo foi captada pelo <i>Petropavlovsk</i>, sendo igualmente
difundida. Indignada pela ignomínia dos bolcheviques, a guarnição quis
responder por meio de um fogo de artilharia sobre Oranienbaum. O Revkom teve
necessidade de pedir constantemente que se acalmasse e recuperasse o domínio
dos nervos, até que foram tomadas algumas disposições.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Revkom</i> enviou uma mensagem por rádio: “A todos! A todos! A todos!”,
na qual assinalava que estava certo da justiça de sua causa, que Kronstadt
celebrava o poder dos Sovietes livremente eleitos em detrimento dos partidos e
que somente tais Sovietes seriam capazes de expressar a vontade dos
trabalhadores e não dos bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Fazia um chamado para
que entrassem imediatamente em contato com Kronstadt e que enviassem delegados,
os quais lançariam luz sobre o movimento de Kronstadt etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Assim transcorreu a
jornada do dia cinco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">6
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pela manhã, nos chegou
a notícia: em Petrogrado, eram feitas prisões em massa das famílias dos
habitantes de Kronstadt. O CR enviou através do rádio um protesto contra o
encarceramento dos familiares e exigiu sua liberação, acrescentando que, entre
nós, os comunistas dispunham de completa liberdade, que seus parentes tinham sido
deixados completamente à margem de tudo e que este procedimento era, sob qualquer
ponto de vista, covarde e vergonhoso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao meio dia, o <i>Petropavlovsk</i> recebeu a mensagem de
rádio que transmitia o ultimato de Trotsky, ordenando a rendição imediata de
Kronstadt e dos cascos amotinados à República Soviética, que entregassem as
armas e obrigassem os obstinados a fazêlo, pondoos nas mãos das autoridades
soviéticas: Trotsky acrescentava ainda que tinha ordenado a preparação do
esmagamento militar dos amotinados. O prazo para a recepção da delegação de
Petrogrado em Kronstadt tinha sido fixado às seis da tarde deste dia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às três, um avião
sobrevoou de novo Kronstadt e lançou a ordem de Trotsky já impressa. Uma
emissão da rádio de Moscou foi também captada: ela dizia que agentes franceses
tinham se infiltrado em Kronstadt e que corrompiam com ouro os seus habitantes,
junto com outras mensagens do mesmo gênero.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tudo isto foi
amplamente difundido entre a população e a guarnição de Kronstadt, provocando
uma indignação crescente contra a infâmia dos bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nos foi informado que
as forças inimigas chegavam cada vez em maior número ao redor de
Kronstadt. Trotsky e Dibenko,
assim como outros conhecidos dirigentes chegaram a Oranienbaum. Foi
interceptada a ordem de começar uma ofensiva contra Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Revkom</i> se reuniu com o estadomaior da defesa e comunicou a todos
os insurgentes a ordem de se manterem em alerta para repelir o inimigo. Na
cidade, todos estavam certos de que o primeiro disparo não tardaria em ser
produzido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pela noite, foram
descobertos grupos inimigos de reconhecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">7
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Um belo e ensolarado
dia. Em Kronstadt, reinava uma grande animação devido ao bom tempo. As crianças
estiveram brincando na rua o dia inteiro. Ninguém teria podido imaginar que
Kronstadt estava assediada e que em qualquer momento podia cair um obus que não
perdoaria a ninguém. Os serviços públicos e as oficinas continuaram sua
atividade com toda normalidade. Um dos fortes nos informou que uma reduzida
unidade de <i>kursanti</i> tinha se
aproximado de nossos postos avançados, trocando propaganda e retirandose.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao longo da jornada,
até o entardecer, duzentos delegados foram enviados de Kronstadt em todas as
direções, com documentos e periódicos. Deles, só retornaram dez.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às 18h45min, o inimigo
abriu um fogo nutrido sobre a cidade e os fortes a partir de Sestroresk e Lissy
Noss. Os fortes responderam ao convite, silenciando o inimigo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao ver isto, o forte de
Krasnaya Gorka abriu fogo, recebendo uma adequada resposta do Sevastopol, e logo houve troca de artilharia
de todas as partes, de forma intermitente, prolongandose até o cair da noite.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os obuses caíram sobre
o porto da cidade e nas proximidades dos fortes sem causar nenhum dano; dois
soldados vermelhos foram feridos nos fortes e transportados ao hospital. A
população e a guarnição aceitaram o tiroteio com tranquilidade e reagiram
assim: “por fim, a sorte foi lançada, começou o grande combate”, “toda a responsabilidade
recairá, perante o mundo inteiro, sobre aqueles que começaram primeiro”, “nós
não queríamos derramar sangue, mas se Trotsky nos obriga a fazêlo, então
defenderemos nossa justa causa”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O som dos canhões
continuou a ser escutado durante toda a tarde, mas a população manifestou mais
curiosidade que espanto. Apesar da proibição do <i>Revkom</i>, as pessoas foram à costa e ao posto para ver o fogo
inimigo. Muitos proferiram maldições contra os bolcheviques, verdugos da
Revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os comunistas que se
encontravam em Kronstadt dispunham de completa liberdade e igualmente se
indignaram contra um ato de tal natureza, unindose à luta contra seu próprio
partido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É preciso assinalar que
muitos deles demonstraram grande heroísmo e abnegação no combate.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Deste modo, foi
disparado o primeiro tiro de canhão... Afundado até a cintura no sangue dos
trabalhadores, o sanguinário marechal Trotsky foi o primeiro a abrir fogo contra
Kronstadt, sublevada contra o domínio bolchevique, para restaurar o autêntico poder
dos Sovietes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sem um único disparo,
sem um único derramamento de sangue, nós, soldados vermelhos, marinheiros e
operários de Kronstadt, tínhamos abatido o domínio dos comunistas, respeitando
inclusive suas vidas. Sob a ameaça das armas, queriam de novo nos aprisionar ao
seu poder. Tentando evitar qualquer derramamento de sangue, tínhamos pedido
que fossem enviados a Kronstadt
delegados do Proletariado de Petrogrado que não pertencessem a nenhum partido,
com o fim de que constatassem que Kronstadt lutava pelo poder dos Sovietes
livremente eleitos. Mas os bolcheviques ocultaram tudo isso dos operários de
Petrogrado e tinham aberto fogo; a resposta habitual de um governo,
supostamente operário e camponês, às exigências das massas trabalhadoras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nossa posição era a
seguinte: que todo o mundo trabalhador saiba que nós, defensores do poder dos
Sovietes dos trabalhadores, nos unimos para salvaguardar as conquistas da
revolução. Venceremos ou pereceremos sob as ruínas de Kronstadt, combatendo
pela justa causa do povo trabalhador. Os trabalhadores do mundo inteiro nos julgarão, mas o sangue dos inocentes recairá
sobre a cabeça dos bolcheviquesverdugos embriagados de poder. Viva o Poder dos
Sovietes!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Com fogo de artilharia
terminou, portanto, a jornada de 7 de março. O tiroteio da cidade e dos fortes
mostrava claramente que seria produzido um ataque na manhã do dia seguinte; nos
preparamos para isso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">8
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às 4h30min da manhã,
o inimigo desencadeou uma
ofensiva contra o forte Totleben, e a parte leste de Kotlin, em
direção às portas de Kronstadt. Uma grande parte dos assaltantes foi
aniquilada, o resto fugiu. Foram feitos prisioneiros cerca de 200 homens.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alguns <i>kursanti</i> se esconderam nos diques – e em
breve foram desalojados. Os prisioneiros foram levados em grupo ao picadeiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao mesmo tempo foi
lançado um assalto contra os fortes do sul; o inimigo foi repelido e foi feito
um grande número de prisioneiros. Do mesmo modo se levou a cabo várias
tentativas de ofensiva em outros pontos, mas sem êxito. As ofensivas custaram
ao inimigo grandes perdas em mortes, feridos e afogados – houve oitocentos prisioneiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Depois de tal desastre,
o inimigo enviou uma grande cadeia de Oranienbaum [4].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando estiveram sob o
fogo da artilharia de Kronstadt, levantaram uma bandeira branca, e começaram a
se mover em direção a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Dois membros do Comitê
Revolucionário saíram ao seu encontro, Vershinin e Kupolov; tão
logo quanto estiveram à vista da cadeia, soltaram suas armas e se
dirigiram temerariamente ao seu
encontro. Mas sem ter tempo de dizer alguma palavra, os cercaram e prenderam
Vershinin; Kupolov conseguiu escapar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Utilizando este meio
covarde e vil foi como os bolcheviques capturaram um dos melhores membros do
Comitê Revolucionário: combatente exemplar, orador veemente e entregue
inteiramente à causa da revolução e da humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pudemos constatar que
se as cadeias inimigas, subindo ao assalto, não suportavam nosso fogo, e
tentavam retroceder, disparos de artilharia e de metralhadora vindos da orla
vedavam sua retirada para obrigarlhes a atacar de novo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tampouco podiam voltar
já que por trás deles marchava uma cadeia de comunistas selecionados que
disparavam por suas costas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os prisioneiros nos
explicaram que se nos regimentos surgiam dúvidas ou hesitações e rejeitavam a
subida ao assalto, então fuzilavam um de cada cinco. Foi o que aconteceu nos
regimentos de Orchanski, Nevelski e Minsk. Os assaltantes eram sobretudo<i> kursanti</i>, tropas de elite de comunistas
seguros, tchekistas, permanentes da burocracia dos Sovietes, destacamentos de
pedágio e outras tropas selecionadas cuja fidelidade estava a toda prova.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O 561º regimento de Kronstadt
figurava no número dos atacantes; quinhentos homens foram feitos prisioneiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Até o meio dia,
cessaram todas as tentativas de assalto do inimigo. Durante todo o dia, aviões
sobrevoaram, mas suas bombas não causaram nenhum dano na cidade, caindo em sua
maior parte fora de Kronstadt, já que as baterias antiaéreas não permitiam que
voassem por cima da cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Uma única bomba caiu
sobre a cidade às 6 da tarde, e como resultado destroçou a cornija de uma casa,
danificou uma fachada, rompeu os cristais de várias casas, e por sorte não
feriu mais que muito levemente uma criança de treze anos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante todo o dia
houve fogo de artilharia. Nossa artilharia provocou um incêndio e a destruição
da via férrea sobre a ribeira de Oranienbaum. Kronstadt e os fortes não
sofreram danos sérios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alguns fugitivos nos
indicaram que naquele dia o inimigo tinha concentrado 15.000 homens sobre a
ribeira sul e 8.000 ao norte, com 20 baterias e 4 trens blindados, um dos quais
foi posto fora de combate por nossa artilharia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O inimigo recebia
reforços incessantemente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em todos os serviços
públicos, sindicatos e unidades militares de Kronstadt, foram designada troikas
revolucionárias, entre as quais não havia nenhum comunista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Estas troikas eram
encarregadas de aplicar sobre o lugar as disposições tomadas pelo <i>Revkom</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O trabalho não cessou
nos serviços públicos, só fecharam as escolas e os cursos para adultos. Os
alunos das classes terminais eram voluntários, assim como os adultos, nas
milícias da cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No Comitê
Revolucionário, se trabalhava dia e noite.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Visto a falta de botas
de couro entre os defensores de Kronstadt, o <i>Revkom</i> ordenou recolher as dos bolcheviques detidos, dandolhes em
troca laptis [5]; isto proporcionou 280 pares de botas que foram distribuídos
entre a guarnição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pela mesma razão, o <i>Revkom</i> se dirigiu à população a fim de
que aqueles que possuíssem vários pares lhes dessem aos defensores; isto
proporcionou cerca de outros 400 pares de botas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Estas botas eram
trocadas por sapatos de feltro dos marinheiros, dos quais não podiam servirse
na cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Procedeuse também à
divisão do abastecimento para o período de 8 a 14 de março, segundo as normas
seguintes: a guarnição terrestre e marítima recebeu, em lugar da ração de pão
anterior, pão e café, meia libra de maçãs desidratadas, meio pote de conserva
de carne e um quarto de libra de carne por dia. A população civil de categoria
A recebeu meia libra de pão, meio pote de conserva, meia libra de carne; a de categoria
B: uma libra de centeio, meio pote de conserva de carne, um quarto de libra de
carne, e, durante algum tempo, meia libra de açúcar e meia de manteiga salgada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às crianças de série A:
a cada dia farinha, cevada, ou meia libra de biscoitos, meio pote de conserva
de carne, e, durante algum tempo, como complemento, um pote de leite em conserva,
meia libra de açúcar e um quarto de libra de manteiga. Para as de série B e C,
diariamente, a mesma ração, salvo meia libra de carne no lugar do pote de
leite. Eis aqui então em que condições Kronstadt tinha que viver; e tudo isto
sem um murmúrio nem da população nem da guarnição. Cada um declarava
firmemente: “Sabemos em nome de quê suportamos estas privações”. Assim terminou
o dia 8 de março.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">9
e 10 de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O inimigo abriu fogo de
artilharia, ora intermitente, ora contínuo e intenso, sobre a cidade e os
fortes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As tentativas de
assalto, levadas a cabo no sul e no norte, foram repelidas com grandes perdas
do inimigo. Nossa artilharia respondia sem cessar. Tivemos, nesses dois dias,
14 mortos e 46 feridos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O Revkom enviou uma
mensagem por rádio a todos os proletários de todos os países, na qual eram
destruídas as mentirosas calúnias dos bolcheviques, se declarava a todo o mundo
que nenhum General Branco nos dirigia, e que estávamos organizados por nós
mesmos; que não tínhamos nos vendido à Finlândia, e que não mantínhamos nenhum
contato com ninguém para uma eventual ajuda militar, que Kronstadt tinha derrubado
o jugo dos bolcheviques e tinha decidido lutar até o fim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Com certeza, se a luta
se prolongasse por muito tempo, nos veríamos obrigados a pedir ajuda exterior
para o abastecimento, ao menos para nossos feridos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Na cidade reinava a
calma. Quanto mais a luta se prolongava, mais estreitamente se uniam a
população e a guarnição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Cada um pretendia
ajudar a causa comum com todos os seus meios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Constantemente, os
aviões sobrevoavam, mas sem causar danos sérios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">11,
12 e 13 de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O inimigo submeteu a
cidade e os fortes, durante estes três dias, a um fogo de artilharia às vezes
intenso, às vezes intermitente. Algumas tentativas inimigas de continuar o
assalto tiveram lugar no norte e no sul da ilha. Os aviões sobrevoaram Kronstadt
sem parar e lançaram bombas. A todos estes ataques terrestres e aéreos e ao
fogo da artilharia inimiga, a guarnição de Kronstadt respondeu com a artilharia
da fortaleza e a dos cascos, com as baterias aéreas, as metralhadoras e os
fuzis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Com exceção da
destruição de várias casas, não houve danos materiais consideráveis. As bombas
mataram e feriram várias pessoas. O <i>Revkom</i>
enviou uma mensagem por rádio, em 12 de março, a todo o mundo, convocando a
protestar contra os assassinos da população pacífica da cidade, contra a
destruição de casas e pedindo que fosse manifestado apoio moral aos insurretos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">14
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Cedo, na manhã de 14 de
março, o inimigo tentou, por duas vezes, realizar o assalto, mas foi repelido
por nosso fogo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às 13 horas, começou um
dilúvio de artilharia, ao qual nossos canhões responderam. Isto durou até às 7 da tarde, depois houve
calma. Os aviões não apareceram. Na cidade, tudo estava tranquilo. A população
havia se habituado de tal modo aos tiros de canhão que todo mundo se movia
livremente pela cidade como se fosse um dia de festa. As crianças brincavam de
guerra de bola de neve na rua do Soviete e na avenida Lenin. As pessoas limpavam
a neve e o gelo das calçadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O <i>Revkom</i> se dirigiu por rádio aos periodistas de todos os países lhes
propondo que viessem a Kronstadt para se convencerem de por que lutavam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Procedeuse a uma
segunda divisão do abastecimento, já que o primeiro tinha terminado em 14 de
março.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esta divisão foi feita
assim: um pão grande aos militares marinheiros e operários, de 15 a 21 de março
inclusos, meia libra de pão ou um quarto de biscoito, uma quarta parte de um
pote de conserva e três oitavos de libra de carne por dia. Às crianças de série
A: uma libra de leite em conserva, duas libras de farinha, uma de carne de
frango, e três ovos. Tudo isto até 1º de abril. Às crianças de série B: meia libra
de cevada por dia, um quarto de frango, um quarto de libra de carne por dia, e um
quarto de libra de queijo; tudo isto até 1º de abril. Às crianças da série C:
meia libra de cevada, meia de carne por dia e uma vez uma libra e meia de ovas
de peixe.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Além disso, um quarto
de libra de manteiga, como suplemento, para todas as crianças, assim como meia
libra de açúcar. Assim foram repartidas as últimas reservas de abastecimento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">15
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Exploradores inimigos
tentaram se aproximar, em certos lugares, de nossos postos de guarda, mas foram
dispensados por nosso fogo e fizemos prisioneiros. Das 14 às 17 horas houve um
débil fogo de artilharia. Depois das 18h30min, os aviões sobrevoaram três vezes
despejando bombas; foram repelidos por nossas baterias antiaéreas. A cidade
estava em calma, o estado de ânimo era excelente. Às 20h teve lugar o
transporte dos mortos do hospital à catedral marítima, assim como os preparativos
dos funerais do dia seguinte, na Praça da Âncora. Na rua Pesotchnaia, durante o
transporte dos mortos, um avião inimigo laçou uma bomba, que por sorte não explodiu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">16
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O inimigo tentou levar
o assalto a pontos distintos mas foi repelido por nosso fogo de artilharia. Os
aviões começaram seus ataques de manhã, sem causar grandes danos à cidade. Às 9 da manhã, a partir de Lissy Noss, de
Sestroretsk, de Oranienbaum, e de Krasnaya Gorka, começaram os tiros de canhão
da cidade e dos fortes. Nossa artilharia respondeu e em certos lugares fez a
artilharia inimiga se calar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao meio dia, a hora
marcada para os funerais das vítimas da Terceira Revolução, sem prestar atenção
nos bombardeios da cidade, a população e as unidades militares que não estavam em serviço chegaram à Praça da Âncora pelo lado da catedral
marítima. Depois da cerimônia, os vinte e um féretros, envoltos em tecidos vermelhos, foram transportados à fossa comum fraternal
preparada na Praça. Os marinheiros faziam filas de honra até a tumba. Toda a
população de Kronstadt e o CR assistiram aos funerais. Os féretros foram
introduzidos na tumba fraternal e cobertos de terra. As unidades armadas os saudaram.
Em seguida, foram pronunciados discursos na tribuna, nos quais os oradores
punham em destaque os acontecimentos em curso e sublinhavam a ferocidade
sanguinária dos dirigentes bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No intervalo dos
discursos, uma orquestra tocou melodias revolucionárias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Durante todo o tempo
que os funerais e os discursos duraram, o inimigo submeteu a cidade a um
bombardeio intenso; os obuses caíam muito proximamente. Um marinheiro foi
ferido por um estouro. De todas as formas, a multidão conservou um sangre frio
notável até o final e não se separou mais que uma vez depois de acabarem os
discursos dos oradores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Até a tarde, o
bombardeio da cidade foi intensificado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Do Krasnaya Gorka, um
obus de 12 polegadas caiu sobre a ponte do encouraçado Sevastopol; 14 marinheiros
morreram e 36 foram feridos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao cair da noite, o
bombardeio de todas as partes da cidade e dos fortes foi ainda mais intenso.
Nossa artilharia respondeu e esta troca durou até as 3 da manhã, depois cessou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Na cidade, houve casas
destruídas e incêndios que foram rapidamente controlados; um obus caiu sobre o edifício do Revkom, ferindo dois
marinheiros e deixando um soldado vermelho com concussão. Também houve feridos
nas casas destruídas. A população ajudou ativamente a retirar os escombros, a evacuar
os feridos para o hospital e a retirar os corpos, assim como a apagar os
incêndios; tudo isto sob o fogo mortífero dos canhões inimigos. Esta ajuda
aliviou em uma grande maneira a guarnição da fortaleza e da cidade, que não
podia se ocupar de tudo de uma vez.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">17
de março<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às 4h30min da manhã, o
inimigo lançou uma ofensiva geral enviando numerosas levas de assaltantes em
mortalhas brancas sobre um grande espaço para apoderaremse de Kronstadt pelos
lados sul, oeste e leste. As levas de atacantes foram recebidas pelo fogo de
nossas baterias e de nossas metralhadoras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os assaltantes caíam
como feixes de searas ceifadas, mas os que escapavam continuavam avançando,
dispersandose em todos os sentidos. O inimigo conseguiu refugiarse próximo ao
quartel de instrução, graças a uma grande evasiva e às mortalhas brancas que os
soldados carregavam, sem que fosse percebido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Encontrandose, assim,
no flanco da sexta bateria disposta próxima às portas de Petrogrado, sobre o
depósito de carvão, o inimigo apoderouse com um rápido ataque, passando pela
fábrica de gás. Os assaltantes forçaram as portas de Petrogrado sofrendo
grandes perdas; todavia, conseguiram apossarse do quartel de instrução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O quartel do norte foi
deixado para trás; 60 marinheiros tinham se refugiado ali, somente 4 puderam
sair.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Tendo ocupado o hospital,
o quartel de instrução e a central telefônica, os bolcheviques exigiram que os
empregados, sob ameaça de morte, transmitissem tudo o que lhes era comunicado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esta ação introduziu
uma certa confusão na defesa Kronstadt. O inimigo liberou os 174 bolcheviques,
detidos na prisão, e apossouse da sala de armas, do depósito de alimentos, da
escola de máquinas e de todo o bairro até o polígono de tiro. Grupos de inimigos
isolados puderam chegar inclusive até o estadomaior militar e a catedral marítima.
Instalaram duas metralhadoras na casa do antigo Moltchanoff, mediante as quais
controlavam toda a rua.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Simultaneamente, uma
grande ofensiva teve lugar sobre o porto militar sobre o reservatório italiano,
sobre a Bolsa, e sobre as portas da cidadela, do lado do forte Piotr.
Igualmente, os fortes do sul e as baterias 4, 6 e 7 foram intensamente
atacadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A cidade estava um
inferno. Os canhões trovejavam por todas as partes. As metralhadoras crepitavam
e os fuzis disparavam. As balas silvavam por todas as partes. Tinha sido criada
uma terrível confusão. Por todas as partes, tinham lugar lutas enfurecidas. Era
difícil o reconhecimento já que os comunistas tinham deixado suas mortalhas
brancas ao se dispersarem pela cidade. Além disso, evidentemente, devese dizer
também que os bolcheviques que não foram detidos antes desempenharam um papel
nada menosprezável, disparando nos insurretos pelas costas, o que propagou o
pânico e a confusão entre a guarnição. Em um momento, o inimigo pôde apossarse
das portas da cidadela, e avançou rapidamente em direção à via férrea a fim de
tomar as portas de Kronstadt, mas o impedimos. As perdas inimigas ali foram enormes.
O combate era particularmente sangrento pelos dois lados. Fora da guarnição,
operários, mulheres e até adolescentes combatiam. Às 14h, conseguimos desalojar
o inimigo deste bairro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Fizemos mais de 1.200
prisioneiros. O resto do inimigo recuou até os fortes do sul. Então começamos a
limpar a parte sul da cidade: o depósito de alimentos, a sala de armas, e uma
parte da rua Pesotchnaia foram liberados; ainda fizemos 2.200 prisioneiros na
praça próxima à catedral.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pela manhã, a sexta
bateria norte foi tomada pelo inimigo, depois a quinta, que tinha apenas uma metralhadora.
A quarta tinha sido abandonada sob a pressão inimiga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os comunistas lançaram
um assalto sobre a parte oriental de Kotlin, mas foram repelidos e se
refugiaram nas baterias 4, 5 e 6.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Próximo às portas de
Petrogrado, o combate continuava com nossa vantagem, mesmo que chegassem
reforços ao inimigo sem cessar. Às 5 da tarde, tendo recebido reforços, o
inimigo lançou um novo assalto contra as portas da cidadela, apossandose dela,
e se dispôs próximo do laboratório, mas nossas reservas sobreviveram e os repelimos
de novo. Os comunistas conseguiram apoderaremse dos fortes do sul 1 e 2.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Neste momento, foram
apercebidos reforços inimigos pelo lado de Oranienbaum; as reservas foram
enviadas ao seu encontro até a parte oeste
de Kotlin. Sem cessar, chegavam
reforços sobre a ribeira norte dos fortes 6 e 7; notouse um
importante movimento de tropas na região de Oranienbaum e de colunas de
cavalaria pelo lado de Petrogrado. A cidade, os fortes e o povo eram
bombardeados pela artilharia sul e norte, assim como pelos trens blindados.
Krasnaya Gorka atirava unicamente sobre o porto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nossa artilharia – do <i>Petropavlovsk</i>, do <i>Sevastopol</i> e dos fortes – disparava exclusivamente sobre a ofensiva
inimiga, fazendo com que o gelo rachasse, e afogava os assaltantes. Apesar
disso, as cadeias inimigas se disseminavam cada vez mais e acediam como
formigas sobre o gelo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Às 6 da tarde, restavam
em nossa posse os seguintes fortes: Constantine, Riev, Totleben, Maritimen e
Krasnoarmeetz; porém, alguns destes fortes estavam dispostos de maneira que não
podiam se defender além do lado do mar, e não todo de todo o seu redor.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Havia também os fortes
Chanets e Milyutin, sem importância militar; além dos encouraçados Petropavlovsk
e Sevastopol. Às 6 da tarde,
chegaram petições do forte Topleten: “Enviemnos 200 homens e 5 metralhadoras,
já que só nos resta um canhão”; do forte Riev: “Pedimos um reforço de 100
homens com duas metralhadoras já que as peças dos canhões estão começando a
funcionar mal”; do forte Constantine: “Pedimos um reforço de 150 homens com
metralhadoras, de outra forma não poderemos conter a pressão inimiga e teremos
que evacuar o forte”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pedíamos reforços por
todas as partes para compensar as perdas: comandantes, artilheiros,
metralhadoras; o <i>Sevastopol</i> nos disse
que não restavam mais de três obuses de doze e que não tinham nada para
disparar. Além disso, muitas peças de artilharia estavam defeituosas, os
compressores rotos, os suportes partidos, alguns canhões apresentavam fendas, e
nestas condições não podiam ser carregados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Algo parecido nos
chegava do <i>Petropavlovsk</i>. A ancoragem
dos cascos constituía um grande inconveniente, já que estavam bordo contra
bordo, e só podiam disparar de um único lado. Além disso, era impossível
separálos já que não restava carvão no Sevastopol, e ele utilizava a energia
elétrica do <i>Petropavlovsk</i>; no fim,
não havia um quebragelo para liberar a passagem dos cascos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os combates se
prolongavam em torno das portas de Petrogrado. Os operários levavam a cabo uma
luta desesperada, aliviando muito a guarnição as mulheres participavam dos
combates recolhendo os cartuchos dos mortos para os dar àqueles que combatiam,
já que as munições começavam a faltar, os operários tinham os assaltantes sob o
fogo das metralhadoras do alto dos tetos e dos celeiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Dois esquadrões de
cavalaria que tinham adentrado Kronstadt foram imediatamente varridos por seus
habitantes. Do alto da cidade, se via como chegavam os reforços inimigos que se
agrupavam em torno dos fortes, cercando a cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A guarnição da cidade
era pouco numerosa, composta do 560º regimento e de grupos de marinheiros, com
um total de 350 fuzis. Muitos marinheiros estavam, por assim dizer, descalços [6],
e não podiam participar do combate. Nos faltavam especialistas e enquadramento.
Uma escassa ração, um serviço ininterrupto durante 15 dias, um combate de 10
dias, em particular no último dia, desde as 4h30min da manhã até a tarde, o
combate de rua, tudo isto rompeu definitivamente as forças da guarnição. A
diminuição da guarnição como consequência dos ataques; a ausência de reservas e
de esperança de abastecimento e ajuda militar exterior; tudo nos fazia entender
que não podíamos repelir outro ataque, que seria continuado com outros assaltos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O presidente do <i>Revkom</i>, tendo analisado a situação com o
responsável da defesa, decidiu retirarse, ao cair da noite, para os fortes de
Krasnoarmeetz, Riev e Totleben, de onde tentaríamos resistir. Foram convocadas
urgentemente todas as troikas
revolucionárias e se colocaram de acordo para colocaremse em ordem de batalha,
ao cair da noite, nos fortes designados; recomendouse que não se propagasse o
pânico já que neste caso todas as unidades e a guarnição podiam perecer inutilmente.
Foram enviados emissários ali onde tinha sido cortada a comunicação. Foi comunicado
ao comando da cidade que esta tinha que ser abandonada e com ela todos os
operários que desejassem, já que estavam sob sua responsabilidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O estadomaior da
defesa se dividiu em dois grupos, um que deveria ir ao forte Krasnoarmeetz e
tomar suas próprias disposições, e outro que deveria ficar em seu lugar para
transmitir todas as disposições ao forte Krasnoarmeetz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Desta maneira, às
8h10min da tarde, eu abandonava Kronstadt com o responsável pela defesa e
nossos colaboradores para ir ao forte anteriormente citado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pela estrada, os grupos
marchavam em direção aos fortes, mas 2 km antes de chegar, vimos um grande
movimento de grandes massas de homens nas imediações do forte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Choviam os obuses
fazendo numerosas vítimas. O forte se calou bruscamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ao chegar ao forte,
vimos que a estação elétrica estava destruída, os fios telefônicos cortados e 6
pesados canhões inutilizados; os canhões de maior calibre não giravam e estavam
orientados em direção ao mar. Eram por volta de 9h30 da tarde. A estrada que ia
do forte a Kronstadt estava cortada e só restava uma saída: ir em direção à fronteira
finlandesa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Foi assim como o
primeiro grupo do estadomaior, aquele em que me encontrava, abandonou
Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O segundo grupo saiu de
Kronstadt às 10h30 da tarde e chegou também à Finlândia; 4 membros do Revkom
não puderam se juntar a nós. Sua sorte me é desconhecida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Segundo disseram os
últimos prisioneiros que fizemos, o inimigo dispunha, além de uma numerosa
artilharia, de 4 trens blindados e de 8 canhões em cima de tratores, e que
haviam sido concentrados na região de Oranienbaum cerca de 50 mil fuzis, e 30 mil
em Sestroretsk e Lissy Noss, além de um número indeterminado de cavalaria. As tropas
eram compostas principalmente de kursanti, de membros do Partido Comunista, de
tchekistas, de destacamento de pedágio, de permanentes dos Sovietes locais, de
mongóis, de bachkirs e de outras tropas
asiáticas. Do mais profundo da Rússia tinham sido levados regimentos inteiros,
mas não eram enviados todos de uma vez, cada regimento era dividido em vários
grupos e misturados com outros regimentos, e quando iam a um assalto,
bolcheviques comprovados iam atrás deles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os bolcheviques
persuadiam os soldados de que eles iam combater com bandos de oficiais que
tinham se valido de Kronstadt e que tinham detido todos os marinheiros, que já
havia soldados finlandeses convocados por estes militares rasteiros. Para
convencer ainda mais os soldados, vestiam membros do Partido Comunista com
uniformes de oficiais com dragonas e medalhas, e os passeavam perante as tropas
declarando que eram prisioneiros de Kronstadt e que era contra eles que era
preciso lutar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Da mesma forma, vestiam
outros comunistas com uniformes finlandeses, passeandoos da mesma forma
perante as tropas e com as mesmas palavras. Diziam por exemplo que os
marinheiros e os soldados vermelhos tinham deixado Kronstadt há muito tempo e
tinham se refugiado na Finlândia, que só restava um bando de oficiais que seria
fácil liquidar. Contavam também aos asiáticos que o golfo era um grande campo e
que atrás dele havia uma grande cidade que era preciso tomar, já que um bando
de espadachins a tinha tomado e fazia o terror reinar contra a população.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Por exemplo, um mongol
explicou: “Estive em muitas frentes, vi muitas cidades, mas nunca uma tão
grande. Eu vi muitos obuses mas nunca como esses, já que quando explodem fazem
um grande buraco na água e nos fazem cair nela. Nunca tinha visto obuses
aquáticos como esses. Eu prefiro disparar de um único sítio, sentado e
estirado, enquanto ali a água me despediu nove vezes” [7].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mediante diferentes
pretextos e enganos enviavam as pessoas sobre o gelo. E uma vez ali não podiam
retroceder, porque então os bolcheviques abriam sobre eles um fogo de
metralhadoras e artilharia. Sua situação era verdadeiramente espantosa já que,
se quisessem retroceder, a cadeia bolchevique que lhes seguia abria fogo sobre eles.
Os prisioneiros contaram também que se aparecessem dúvidas em um regimento ele
era desarmado imediatamente e enviado para não se sabe onde, ou então era fuzilado
um de cinco, enviando o resto ao assalto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ninguém conhecia
realmente a verdadeira situação de Kronstadt. Estávamos absolutamente separados
do mundo exterior. Não tendo nem um único avião, não podíamos informar ninguém.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É preciso assinalar que
os bolcheviques não puderam enviar tropa alguma de Petrogrado e de sua região,
nem de infantaria nem de marinheiros. Em Petrogrado, compreendeuse em seguida
que os marinheiros tinham se sublevado. Os torpedeiros ancorados em Petrogrado
foram desarmados e os percutores dos canhões foram retirados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Da mesma maneira, estava
inutilizável tudo o que poderia servir nos encouraçados Gangut e Poltava que de
todas as maneiras não podiam funcionar pois estavam pendentes de reparos. As
equipes dos cascos foram detidas e evacuadas de Petrogrado para um local
desconhecido. As unidades militares da guarnição foram aquarteladas, sem armas
nem uniformes, sob uma forte vigilância.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando começaram as
reuniões em Kronstadt, ou seja, a partir de 27 e 28 de fevereiro, a situação
dos bolcheviques começou a não ter saída. Tentaram obter pequenas permissões
para os marinheiros enviandoos ao país, a Petrogrado, a Oranienbaum e a outras
localidades vizinhas. Conseguiram assim retirar de Kronstadt mais de mil
marinheiros, o que debilitou consideravelmente a guarnição, especialmente
porque entre os que conseguiram permissões havia especialistas indispensáveis
como os galvanômetros, os metralhadores etc., que teriam sido de grande valor
em Kronstadt. Os comissários fizeram isto então com conhecimento de causa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eis aqui então as
condições e as circunstâncias nas quais Kronstadt se encontrou antes da
formação do Comitê Revolucionário, durante sua existência e até sua saída. Só
acrescentarei que a honra e a glória dos habitantes de Kronstadt, ao defenderem
o autêntico poder dos Sovietes livremente eleitos e não o poder dos partidos,
foi ter demonstrado a todo o mundo como sem nenhuma violência e com a
consciência tranquila o povo trabalhador pode levar a luta em direção à sua emancipação
total.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Foi demonstrado, em
particular aos membros do Partido Comunista Russo, que, ainda que sejam os mais
ferozes inimigos do povo trabalhador, este mostrou mais uma vez, ao longo de um
combate desesperado, sua grandeza de alma russa, e sua força, provando que é
realmente capaz de perdoar seus inimigos não em palavras e sobre o papel, mas
de fato.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt custou caro
aos bolcheviques. A queda de Kronstadt é a queda dos bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os bolcheviques podem
fuzilar os rebeldes de Kronstadt, mas não poderão jamais fuzilar a verdade de
Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Notas<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">1Lembremos que os
kursanti eram os cadetes militares, os novos “junkers” do Exército Vermelho,
submetidos a um férreo doutrinamento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">2Presidente da
República “Soviética”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">3Medida de longitude do
antigo sistema russo. Uma versta = 1,06 km.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">4Cadeia significa neste
contexto várias fileiras de assaltantes, espaçados entre si por dois ou três
metros, apresentandose frontalmente ao objetivo (N.T.).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">5Sapatos trançados com
fibras de cânhamo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">6Os marinheiros que
faziam o serviço nos cascos usavam botas de feltro que eram imprestáveis na
neve ou no gelo (N.T.).<o:p></o:p></span></p>
<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;">7Os mongóis falavam
pouco ou nada de russo. Petritchenko recolhe as explicações do prisioneiro tal
como as ouviu, o que explica o estilo direto e confuso desta passagem (N.T.).</span> </p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-15041306566844856252022-09-01T14:14:00.003-07:002022-10-31T14:26:34.050-07:00A Revolta de Kronstadt e a Revolução Russa, por Ante Ciliga<p></p><div style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG0B90zMK00hF3cROnMzCQh05jWuQFR-TFVqB3d7kWibaALA5DmiZBO8Nu82Twwo1zOnLknm6zKmC3YmPEuZoTh1D6KqJVC4JaScB907KzeIxB744rXuCeBkkGw5dpBLc_PNsapceDoHeP9XBtmmndil7aJLJTlQvEZff9lSxgmJ-I2dAKVZdbSGmM-Q/s261/ante%20celiga.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="261" data-original-width="193" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG0B90zMK00hF3cROnMzCQh05jWuQFR-TFVqB3d7kWibaALA5DmiZBO8Nu82Twwo1zOnLknm6zKmC3YmPEuZoTh1D6KqJVC4JaScB907KzeIxB744rXuCeBkkGw5dpBLc_PNsapceDoHeP9XBtmmndil7aJLJTlQvEZff9lSxgmJ-I2dAKVZdbSGmM-Q/s1600/ante%20celiga.jpg" width="193" /></a></div><br /><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A insurreição de Kronstadt e o
destino da Revolução Russa [1]<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">(setembro
de 1938)<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">por
Ante Ciliga<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><a href="https://revistarosa.com/4/a-insurreicao-de-kronstadt" rel="nofollow" target="_blank">Traduçãode Marcelo Coelho – Revista Rosa</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><b>Trotsky</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A correspondência entre Trotsky e
Wendelin Thomas (uma das lideranças da Revolta da Armada alemã em 1918 e membro
do Comitê Americano de Inquérito sobre os Processos de Moscou), a propósito do
significado histórico dos <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">acontecimentos de Kronstadt em 1921</a>, deu ocasião para
amplas discussões no âmbito internacional. Só esse fato indica a
importância do problema. Por outro lado, não é por acaso que haja um
interesse especial pela revolta de Kronstadt atualmente; salta aos olhos que
existe uma analogia, e mesmo uma ligação direta, entre o que aconteceu em
Kronstadt dezessete anos atrás e os recentes julgamentos de Moscou. Vemos hoje
o assassinato dos líderes da Revolução Russa; em 1921, as massas que formaram a
base da Revolução é que foram massacradas. Teria sido possível, hoje, colocar
em desgraça e eliminar os líderes de Outubro sem o menor protesto popular, se
esses mesmos líderes não tivessem já silenciado pela força das armas os
marinheiros de Kronstadt e os operários de todas as partes da Rússia?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A resposta de Trotsky a Wendelin
Thomas demonstra, infelizmente, que Trotsky — o qual, ao lado de Stálin, é o
único a restar vivo dentre os líderes da Revolução de Outubro envolvidos na
repressão a Kronstadt — continua se recusando a encarar o passado com
objetividade. Mais do que isso, em seu artigo “A gritaria em torno de
Kronstadt”, ele acentua o fosso que criou naquela época entre ele mesmo e as
massas trabalhadoras; não hesita, depois de ter ordenado o bombardeio em 1921,
a descrever aqueles homens como “elementos completamente desmoralizados, homens
que usavam calças largas da moda e penteados de cafetões”. Não! Não será com
acusações desse tipo, que recendem a arrogância burocrática, que uma
contribuição útil pode ser feita às lições oferecidas pela grande Revolução
Russa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para dimensionar a influência que
Kronstadt teve nos destinos da Revolução, é necessário evitar todos os aspectos
pessoais e atentar para três questões fundamentais:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">1. Em que circunstâncias mais amplas a revolta de
Kronstadt teve início?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">2. Quais eram os objetivos do movimento?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">3. Através de que meios os insurgentes tentaram
alcançar esses objetivos?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 9.6pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 9.6pt; mso-outline-level: 1;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">As massas
e a burocracia em 1920–21<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Todos concordam, hoje em dia, que
durante o inverno de 1920–21 a Revolução Russa estava passando por uma fase
extremamente crítica. A ofensiva contra a Polônia terminara numa derrota
em Varsóvia, a revolução social não tinha estourado no Ocidente, a Revolução
Russa ficara isolada e a fome e a desorganização tinham tomado conta de todo o
país. O perigo de uma restauração burguesa batia à porta. Naquele momento
de crise, as diferentes classes e os partidos que existiam dentro do campo
revolucionário apresentavam, cada um, sua solução para superá-la.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo soviético e os círculos
dirigentes do Partido Comunista aplicaram sua própria solução, que consistia em
incrementar o poder da burocracia. A atribuição aos Comitês Executivos de
poderes que até então tinham sido assegurados aos sovietes, a troca da ditadura
do proletariado pela ditadura do partido, a passagem da autoridade, mesmo
dentro do partido, das mãos dos seus filiados para as mãos dos quadros, a
substituição do duplo poder da burocracia e dos operários na fábrica pelo único
poder da burocracia — tudo isso se fazia para “salvar a revolução!”.
Foi nesse momento que Bukharin lançou sua defesa do “bonapartismo
proletário”. Impondo restrições a si mesmo, o proletariado iria, em sua
opinião, enfrentar com mais facilidade a contrarrevolução burguesa. Aqui já se
manifestava a enorme, e quase messiânica, importância que a burocracia
comunista atribuía a si própria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O nono e o décimo Congressos do
Partido Comunista, assim como o ano seguinte, passaram-se sob a égide dessa
nova política. Lênin levou-a adiante rigorosamente. Trotsky entoou suas loas.
A Burocracia evitava a restauração burguesa… eliminando o caráter
proletário da Revolução. O surgimento da Oposição Operária dentro do
partido, que tinha o apoio não apenas da facção proletária mas também da grande
massa dos operários não organizados, a greve geral dos operários de Petrogrado
pouco tempo antes da revolta de Kronstadt e, finalmente, o próprio levante —
tudo isso expressava as aspirações das massas que sentiam, com maior ou menor
clareza, que um “terceiro partido” estava a ponto de destruir suas conquistas.
O movimento de camponeses pobres liderado por Makhno na Ucrânia foi o
resultado de uma resistência similar, em circunstâncias similares. Quando se
examinam os conflitos de 1920–1921 à luz do material histórico hoje disponível,
impressiona ver de que modo essas massas dispersas, famintas e enfraquecidas
pela desorganização econômica, tiveram ainda assim força para formular a si
mesmas sua posição social e política com tamanha precisão, ao mesmo tempo
defendendo-se dos ataques da burocracia e da burguesia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 9.6pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 9.6pt; mso-outline-level: 1;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">O
Programa de Kronstadt<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não devemos, como Trotsky, nos
contentar com simples declarações; submetemos assim a nossos leitores a
resolução que serviu como programa ao movimento de Kronstadt. Nós o
reproduzimos integralmente, dada sua imensa importância histórica.
Foi adotado no 28 de fevereiro pelos marinheiros do navio de guerra
Petropavlovsk, sendo em seguida aceito por todos os marinheiros, soldados e
operários de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Depois de ter ouvido os
representantes enviados pela reunião geral da tripulação no navio para relatar
a situação, esta assembleia toma as seguintes decisões:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">1. Dado que os presentes sovietes não expressam os
desejos dos operários e camponeses, organizar imediatamente novas eleições para
os sovietes pelo voto secreto, com o cuidado de organizar propaganda eleitoral
gratuita para todos os operários e camponeses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">2. Garantir liberdade de expressão e de imprensa
para os operários e camponeses, para os anarquistas e para os partidos
socialistas de esquerda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">3. Assegurar liberdade de reunião para sindicatos
de trabalhadores e organizações camponesas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">4. Convocar uma conferência não partidária dos
operários, soldados do Exército Vermelho e marinheiros de Petrogrado, de
Kronstadt e da província de Petrogrado, no mais tardar até 10 de março de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">5. Libertar todos os prisioneiros políticos dos
partidos socialistas, assim como todos os operários, camponeses, soldados e
marinheiros presos por suas conexões com movimentos de trabalhadores e
camponeses.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">6. Eleger uma comissão para revisar os casos dos
que estão detidos em prisões e campos de concentração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">7. Abolir toda <i>politodeli</i> (propaganda
oficial), porque nenhum partido deve possuir privilégios especiais na
divulgação de suas ideias ou receber apoio financeiro do governo para tais
objetivos. Em vez disso, devem-se estabelecer comissões educativas e
culturais, eleitas localmente e financiadas pelo governo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">8. Abolir imediatamente todos os <i>zagryaditelnyie
otryadi</i> (destacamentos armados que requisitavam cereais dos
camponeses).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">9. Equalizar todas as rações de todos os que
trabalham, com exceção daqueles dedicados a atividades com risco para a saúde.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">10. Abolir os destacamentos de combate comunistas
em todos os ramos do Exército, assim como os guardas comunistas em serviço nas
indústrias e fábricas. Caso se considere necessária a presença de tais guardas
ou destacamentos, deverão ser nomeados de dentro das fileiras do exército e
enviados às fábricas conforme a avaliação dos operários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">11. Dar aos camponeses plena liberdade de ação com
respeito à sua terra, e também o direito de manter o gado consigo, desde que os
camponeses os mantenham com seus próprios meios, isto é, sem emprego de
trabalho remunerado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">12. Requerer que todos os ramos do exército, assim
como nossos camaradas, os <i>kursanti</i> (cadetes militares),
sustentem nossas resoluções.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">13. Demandar que a imprensa dê máxima publicidade a
nossas resoluções.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">14. Nomear uma comissão de controle itinerante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 16.8pt; margin-top: 12pt; mso-margin-bottom-alt: auto; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">15. Permitir a livre atividade de artesãos que não
empreguem trabalho remunerado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Trata-se de formulações
rudimentares, sem dúvida insuficientes, mas todas elas impregnadas do espírito
de Outubro: e nenhuma calúnia no mundo pode lançar dúvidas sobre a conexão
íntima que existe entre essa resolução e os sentimentos que guiaram as
expropriações de 1917.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A profundidade dos princípios que
animam essa resolução se comprova pelo fato de que, em grande medida, ela é
aplicável até hoje. Pode-se contrapô-la, com efeito, tanto ao regime de Stálin
em 1938 quanto ao de Lênin em 1921. Mais do que isso: as acusações do próprio
Trotsky contra o regime de Stálin não passam de reproduções, tímidas é verdade,
dos reclamos de Kronstadt. Ademais, que programa plenamente socialista poderia
se contrapor à oligarquia burocrática, a não ser o de Kronstadt e da Oposição
Operária?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O aparecimento dessa resolução
comprova as estreitas conexões existentes entre os movimentos de Petrogrado e
de Kronstadt. A tentativa feita por Trotsky de contrapor os operários de
Petrogrado aos de Kronstadt, de modo a confirmar a natureza
contrarrevolucionária do movimento de Kronstadt, termina por desautorizá-lo: em
1921, Trotsky argumentou que era necessário a Lênin suprimir a democracia nos
sovietes e dentro do partido e acusou as massas dentro e fora do partido de
simpatizar com Kronstadt. Admitia, portanto, que naquele momento os operários
de Petrogrado e a oposição, embora não tivessem resistido com as armas, mesmo
assim estendiam sua simpatia a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A posterior afirmação de Trotsky
de que “o levante tinha sido inspirado pelo desejo de obter privilégios na
distribuição de rações” é ainda mais fantástica. Assim, é uma daquelas pessoas
privilegiadas do Kremlin, cujas rações eram muito melhores que as dos outros,
quem ousa vociferar uma acusação dessas, e contra os próprios homens que, no
parágrafo 9 de sua resolução, explicitamente reivindicavam a equalização das
rações! Este detalhe mostra a dimensão desesperada da cegueira burocrática de
Trotsky.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os artigos de Trotsky não diferem
no menor detalhe da lenda criada há muito pelo comitê central do partido.
Trotsky certamente merece o crédito da classe operária internacional por ter-se
recusado, desde 1928, a continuar participando da degeneração burocrática e dos
novos “expurgos” que viriam a eliminar todos os participantes esquerdistas da
revolução. Com mais razões, merece ser defendido das calúnias de Stálin e
de assassinos. Mas nada disso dá a Trotsky o direito de insultar as massas
trabalhadoras de 1921. Ao contrário! Mais do que ninguém, Trotsky deveria
oferecer uma nova apreciação da iniciativa tomada em Kronstadt. Uma iniciativa
de grande valor histórico, uma iniciativa tomada por militantes de base contra
o primeiro expurgo sangrento levado a cabo pela burocracia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A atitude dos trabalhadores
russos durante o trágico inverno de 1920–21 dá mostras de um profundo instinto
social; um nobre heroísmo inspirou a classe trabalhadora russa não apenas no
auge da revolução, mas também durante a crise que a colocou em perigo mortal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É verdade que nem os combatentes
de Kronstadt, nem os operários de Petrogrado, nem as bases comunistas poderiam
concentrar, naquele inverno, a mesma energia revolucionária do período entre
1917 e 1919, mas aquilo que havia de socialismo e de sentimento revolucionário
na Rússia de 1921 se localizava na base. Opondo-se a isto, Lênin e Trotsky, em
concordância com Stálin, Zinoviev, Kaganovitch e outros, atenderam aos desejos
dos quadros burocráticos e serviram aos seus interesses. Os trabalhadores
lutaram pelo socialismo que a burocracia já estava cuidando de liquidar. Este é
o ponto fundamental de todo o problema.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 9.6pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 9.6pt; mso-outline-level: 1;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">Kronstadt
e a nep<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Acredita-se frequentemente que
Kronstadt forçou a introdução da Nova Política Econômica (nep); eis um erro
profundo. A resolução de Kronstadt manifestava-se pela defesa dos
trabalhadores, não apenas contra o capitalismo burocrático do Estado, mas
também contra a restauração do capitalismo privado. Essa restauração era
reivindicada — em oposição a Kronstadt — pelos sociais-democratas, que a
associavam a um regime de democracia política. E foi isso o que Lênin e
Trotsky realizaram em grande medida (mas sem democracia política) sob a forma
da nep. A resolução de Kronstadt manifestava-se pelo oposto, uma vez
que se declarava contra o uso do trabalho assalariado na agricultura e na
pequena indústria. Essa resolução, e o movimento por trás dela, buscava uma
aliança revolucionária dos trabalhadores proletários e camponeses com as seções
mais pobres dos trabalhadores agrícolas, de modo a que a Revolução se
encaminhasse no rumo do socialismo. A nep, em contrapartida, foi uma união
dos burocratas com os estratos superiores do campo, contra o proletariado; era
a aliança do capitalismo de Estado com o capitalismo privado contra o
socialismo. A nep é tão oposta às reivindicações de Kronstadt quanto,
por exemplo, o programa socialista revolucionário da vanguarda dos operários
europeus pela abolição do sistema de Versalhes é oposto à abolição do tratado
de Versalhes levada a cabo por Hitler.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Considere-se, por fim, uma última
acusação que se faz com frequência: a de que uma ação como a de Kronstadt
poderia indiretamente liberar as forças da contrarrevolução. É possível,
com efeito, que mesmo se se pusesse em sintonia com a democracia operária a
Revolução talvez fosse derrotada. Mas o que é certo é que a Revolução
pereceu, e pereceu por obra de seus líderes. A repressão a Kronstadt, a
supressão da democracia dos operários e sovietes pelo partido comunista russo,
a eliminação do proletariado nas áreas administrativas da indústria, e a
introdução da nep, já significavam a morte da Revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Foi precisamente o fim da guerra
civil que produziu a cisão da sociedade pós-revolucionária em dois agrupamentos
fundamentais: as massas trabalhadoras e a burocracia. No que se refere às
aspirações socialistas e internacionais, a Revolução Russa foi sufocada: nas
suas tendências nacionalistas, burocráticas e capitalistas de Estado, ela se
desenvolveu e consolidou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A partir desse ponto, e com essa
base, com mais clareza a cada ano, a amoralidade bolchevique, tantas vezes
evocada, conheceu o desenvolvimento que conduziu aos julgamentos de Moscou.
A lógica implacável das coisas se manifestou. Enquanto os revolucionários,
que o eram só nominalmente, consumaram na prática as tarefas da reação e da
contrarrevolução, eles se viram compelidos inevitavelmente a fazer uso de
mentiras, calúnias e falsificações. Esse sistema de mentira generalizada foi o
resultado, e não a causa, da separação entre o partido bolchevique e o
socialismo, entre o partido e o proletariado. Para corroborar esta afirmação,
cito o testemunho dos participantes de Kronstadt que encontrei na Rússia
soviética.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Os homens de Kronstadt? Eles
estavam absolutamente certos; intervieram para defender os operários de
Petrogrado; foi um trágico erro de compreensão por parte de Lênin e de Trotsky
entrar em guerra com eles, em vez de apoiá-los”, dizia-me Dch. em 1932.
Ele era um operário sem filiação partidária de Petrogrado em 1921, a quem
conheci confinado politicamente, como trotskista, em Verkhne-Uralsk.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“É um mito dizer que, do ponto de
vista da origem social, Kronstadt em 1921 tinha uma população totalmente
diferente daquela de 1917”, disse-me Dv., outro homem de Petrogrado, na prisão.
Em 1921 ele era um membro da juventude comunista e foi preso em 1932 como
“decista” (membro do grupo dos “centralistas democráticos” de Sapronov).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Tive também a oportunidade de
conhecer um dos mais efetivos participantes da rebelião de Kronstadt.
Tratava-se de um velho engenheiro naval, comunista desde 1917, que durante a
guerra civil tivera papel ativo, dirigindo por um período a Tcheka numa
província em alguma parte do Volga, e que se encontrava em 1921 em Kronstadt
como comissário político no navio de guerra <i>Marat</i> (antes <i>Petropavlovsk</i>).
Quando o encontrei, em 1930, na prisão de Leningrado, ele acabara de passar
oito anos nas ilhas Solovietski.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 9.6pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 9.6pt; mso-outline-level: 1;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">Os
métodos de luta<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os trabalhadores de Kronstadt
buscavam alcançar objetivos revolucionários contra as tendências reacionárias
da burocracia e fizeram uso de métodos limpos e honestos. Em contraste, a
burocracia esmagou seu movimento de forma odiosa, fingindo que eles estavam sob
a liderança do general Koslovsky. Na verdade, os homens de Kronstadt
desejavam honestamente, como camaradas, discutir sua pauta com representantes
do governo. Seguiram uma linha de ação que tinha, inicialmente, um caráter defensivo
— eis a razão de naquele momento não terem ocupado Oranienbaum, que se situava
na costa em frente a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Desde o início, os burocratas de
Petrogrado fizeram uso do sistema de reféns, prendendo os familiares dos
marinheiros, dos soldados do Exército Vermelho e dos operários de Kronstadt que
viviam em Petrogrado. Isso aconteceu porque muitos comissários — nenhum dos
quais foi fuzilado — tinham sido presos pelos revoltosos em Kronstadt.
A notícia da detenção de reféns foi levada ao conhecimento de Kronstadt
por meio de folhetos lançados de aviões. Em sua resposta pelo rádio,
Kronstadt declarou em 7 de março que os revoltosos “não imitavam nem pretendiam
imitar Petrogrado, na medida em que consideravam que tal ato, mesmo se levado a
efeito num excesso de desespero e de ódio, é sob todos os pontos de vista
vergonhoso e covarde ao extremo. A História não conheceu até hoje
procedimento semelhante”. A nova clique governamental percebeu bem melhor
que os “rebeldes” de Kronstadt o significado da luta social que se iniciava, e
a profundidade do antagonismo de classe que a separava dos trabalhadores.
É nisso que reside a tragédia das revoluções em seu período de declínio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas enquanto forçavam Kronstadt
ao conflito armado, eles ainda encontraram força para formular o programa da
“terceira revolução”, que continua sendo até agora o programa do socialismo
russo do futuro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 9.6pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 9.6pt; mso-outline-level: 1;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">Balanço
final<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Há razões para crer que, dada a
relação de forças entre proletariado e burguesia, entre socialismo e
capitalismo, existente na Rússia e na Europa em 1921, a luta pelo
desenvolvimento socialista da revolução russa estava destinada à derrota.
Naquelas condições o programa socialista das massas não poderia triunfar: só se
podia esperar a vitória da contrarrevolução, seja se explicitada abertamente,
seja camuflada sob uma aparência de degeneração (como de fato ocorreu).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas tal entendimento do percurso
da Revolução Russa não diminui de modo nenhum, no campo dos princípios, a
importância histórica do programa e dos esforços das massas operárias.
Ao contrário, tal programa constitui o ponto de partida para o início de
um novo ciclo no desenvolvimento socialista operário. Na verdade, cada
nova revolução começa, não da base a partir da qual a anterior surgiu, mas a
partir do ponto em que a revolução precedente sofreu um retrocesso moral.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A experiência da degeneração da
Revolução Russa coloca novamente diante da consciência do socialismo
internacional um problema sociológico extremamente importante.
Na revolução russa, como em outras duas outras grandes revoluções, as da
Inglaterra e da França, cabe perguntar por que é de seu próprio interior que a
contrarrevolução triunfou, no momento em que as forças revolucionárias se
exauriram, e graças ao próprio partido revolucionário (“expurgado”, é verdade,
de seus elementos da ala esquerda). O marxismo acredita que a revolução
socialista, uma vez iniciada, teria garantido seu gradual e contínuo
desenvolvimento até um socialismo integral — ou, então, seria derrotada pelos
atos de uma restauração burguesa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">De
súbito, a Revolução Russa apresenta de modo inteiramente novo o problema do
mecanismo da revolução social. Essa questão deve ser o parâmetro básico da
discussão internacional. Nessa discussão o problema de Kronstadt pode e deve
ter a importância que merece.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><b>Nota</b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Publicado
originalmente em La Révolution Prolétarienne, nº 278, 10 de setembro de 1938.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">*****</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><a href="https://revistarosa.com/4/a-insurreicao-de-kronstadt" rel="nofollow" target="_blank">Publicadono 3º número do volume 4 da Revista Rosa em 20/12/2021.</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt;">Revista
Rosa, S.Paulo/SP, Brasil, https://revistarosa.com, issn 2764-1333.</span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-83702922101486098772022-08-01T20:28:00.004-07:002022-10-31T14:25:48.015-07:00Trotsky reclama demais, por Emma Goldman<p></p><div style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrVENchmNCQXLoFZkhlEU1ncWVQy60VmUxfJrQUuqEcb4dazYGUJEZPS8XgCeeiiTwdo-wSw3FvmJtLbZXPtoqy3oQUrPbLmCfolJddYl8CL6Cckub8nkM8uGsIpb2UGdiGTMdtytw3SBqOCzx6txWHmbrWua19aGSkZ5kdPgRO-evSft3Yxb9X95h5A/s271/emmagoldman.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="186" data-original-width="271" height="275" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrVENchmNCQXLoFZkhlEU1ncWVQy60VmUxfJrQUuqEcb4dazYGUJEZPS8XgCeeiiTwdo-wSw3FvmJtLbZXPtoqy3oQUrPbLmCfolJddYl8CL6Cckub8nkM8uGsIpb2UGdiGTMdtytw3SBqOCzx6txWHmbrWua19aGSkZ5kdPgRO-evSft3Yxb9X95h5A/w400-h275/emmagoldman.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Trotsky reclama demais [1]<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">(julho
de 1938)<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">por
Emma Goldman<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/trotsky-reclama-demais" rel="nofollow" target="_blank">Traduçãode Marcelo Coelho – Revista Rosa</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Nota do editor<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Este
panfleto foi escrito a partir de um artigo para Vanguard, revista mensal
anarquista publicada em Nova York. O artigo apareceu na edição de julho de
1938, mas como o espaço da revista é limitado, utilizou-se apenas parte do
manuscrito. Aqui ele é apresentado numa versão revista e aumentada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Tenho
diante de mim dois números, o de fevereiro e o de abril de 1938, da New
International, revista oficial de Trotsky. Trazem artigos de John G. Wright,
trotskista dos quatro costados, e do próprio mandachuva, pretendendo refutar as
acusações feitas contra ele a respeito de <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">Kronstadt</a>. O sr. Wright está apenas
ecoando a voz do dono, e seu conteúdo não tem nada de primeira mão, de um
contato pessoal com os acontecimentos de 1921. Prefiro prestar meus respeitos a
Leon Trotsky. Ele tem ao menos o duvidoso mérito de ter sido partícipe da
“liquidação” de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Existem,
contudo, diversas distorções grosseiras no artigo de Wright, fazendo-o
merecedor de uma bordoada também. Faço isso de imediato, portanto, e lido com o
chefe dele depois.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">John
G. Wright afirma que The Kronstadt Rebellion, de Alexander Berkman, “é apenas a
repetição dos supostos fatos e das interpretações dos social-revolucionários de
direita, com algumas poucas e insignificantes alterações” — (“colhidas de ‘A
Verdade Sobre a Rússia’ em Volia Rossii, Praga, 1921”).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Mais
adiante, Wright acusa Alexander Berkman de “irresponsabilidade, plagiarismo, e
[de] fazer, como é seu costume, umas poucas alterações insignificantes,
escondendo a fonte verdadeira daquilo que surge como sua avaliação própria”. A
vida e a obra de Alexander Berkman colocaram-no entre os grandes pensadores e
combatentes revolucionários, completamente entregues ao seu ideal. Os que o
conheceram irão testemunhar a qualidade inatacável de todas as suas ações,
assim como sua integridade como escritor sério. Irão certamente achar graça ao
serem informados pelo sr. Wright que Alexander Berkman era “plagiário” e
“irresponsável”, e que seu costume é “fazer umas poucas alterações
insignificantes…”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O
comunista típico, seja da estirpe de Stalin, seja da de Trotsky, conhece tanto
da literatura anarquista e de seus autores quanto, digamos, o católico típico
sabe alguma coisa de Voltaire ou de Thomas Paine. A simples sugestão de que se
deveria conhecer as posições de seus oponentes antes de insultá-los há de ser
considerada herética pela hierarquia comunista. Não acho, portanto, que John G.
Wright esteja deliberadamente mentindo a respeito de Alexander Berkman. Acho
mais que ele é de uma espessa ignorância.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Alexander
Berkman escreveu um diário durante toda a vida. Mesmo durante os catorze anos
de purgatório por que passou na penitenciária de Pittsburgh, nos Estados Unidos,
Alexander Berkman conseguiu manter seu diário, que enviava secretamente para
mim. No S.S. Buford, que nos transportou em nossa perigosa viagem de 28 dias,
meu camarada continuou a escrever o diário e manteve seu velho hábito nos 23
meses de nossa estadia na Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Memórias
de prisão de um anarquista, que críticos conservadores admitem ser comparável
até mesmo à Casa dos mortos, de Dostoiévski, é uma adaptação de seu diário. A
rebelião de Kronstadt e O mito bolchevique são também resultados de seu registro
diário do que via na Rússia. É estupidez, portanto, atacar a brochura de
Berkman como “meramente a repetição dos supostos fatos” colhidos no trabalho
dos SR que foi publicado em Praga.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">No
mesmo nível de exatidão desse ataque está a acusação de Wright de que meu velho
companheiro tinha negado a presença do general Koslovsky em Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A
rebelião de Kronstadt, na página 15, afirma: “existia de fato um ex-general
Koslovsky em Kronstadt. Fora Trotsky quem o pusera lá, na condição de
especialista em artilharia. Não teve absolutamente nenhum papel nos eventos de
Kronstadt.” Isso foi divulgado por ninguém menos do que Alexander Zinoviev, que
ainda estava no auge de sua glória. Na sessão extraordinária do soviete de
Petrogrado do dia 4 de março de 1921, convocada para decidir a sorte de
Kronstadt, Zinoviev disse: “claro que Koslovsky está velho e não pode fazer
nada, mas os oficiais brancos estão por trás dele e estão desencaminhando os
marinheiros”. Alexander Berkman, contudo, ressaltou o fato de os marinheiros
não queriam saber do general queridinho de Trotsky, e que tampouco iriam
aceitar a oferta de mantimentos e de ajuda feita por Victor Tchernov, líder dos
social-revolucionários de direita em Paris.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Sem
dúvida, os trotskistas consideram uma sentimentalidade burguesa permitir que os
marinheiros acusados tenham o direito de falar por si mesmos. Insisto que
tratar assim um adversário é um jesuitismo detestável, que fez mais para
desintegrar todo o movimento operário do qualquer outra das “sagradas” táticas
do bolchevismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Para
que o leitor possa decidir entre a acusação criminosa feita a Kronstadt e
aquilo que os marinheiros tinham a dizer em sua defesa, reproduzo aqui a
mensagem radiofônica aos operários de todo o mundo, de 6 de março de 1921:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Nossa causa é justa: defendemos o
poder dos sovietes, não deste ou daquele partido. Defendemos os representantes
livremente eleitos das massas trabalhadoras. Os sovietes substitutos,
manipulados pelo Partido Comunista, sempre foram surdos a nossas necessidades e
reivindicações; a única resposta que recebemos tem sido a bala… Camaradas! Eles
não estão apenas enganando vocês: estão deliberadamente pervertendo a verdade e
recorrem às difamações mais desprezíveis… Em Kronstadt todo o poder está
exclusivamente nas mãos dos marinheiros, soldados e operários revolucionários —
não de contrarrevolucionários liderados por algum Koslovsky, como a mentirosa
rádio de Moscou tenta fazer acreditar… Não demorem, camaradas! Juntem-se a nós,
entrem em contato conosco; peçam a seus delegados o direito de entrar em
Kronstadt. Somente aí vocês saberão de toda a verdade e das calúnias a respeito
de pão trazido da Finlândia e de ofertas da Entente.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Longa vida ao proletariado
revolucionário e ao campesinato!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Longa vida ao poder de sovietes
livremente eleitos!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Eis
os marinheiros “liderados” por Koslovsky, apelando, contudo, aos operários de
todo o mundo para enviar delegados que pudessem verificar se havia alguma
verdade na pestilenta calúnia espalhada contra eles pela imprensa soviética!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky se mostra surpreso e indignado quando alguém tem a audácia de começar
uma “gritaria” sobre Kronstadt. Afinal, tudo aconteceu há tanto tempo, na
verdade se passaram dezessete anos e aquilo foi apenas um “episódio na história
das relações entre a cidade proletária e a aldeia pequeno-burguesa”. Por que
alguém haveria de fazer esse escarcéu tardio, a não ser que fosse para
“comprometer a única corrente genuinamente revolucionária, que nunca repudiou
suas bandeiras, nunca fez concessões a seus adversários e que é a única a
representar o futuro”? A egolatria de Trotsky, amplamente conhecida por seus
amigos e por seus adversários, nunca foi pequena. Depois que seu inimigo mortal
não lhe deixou entre as mãos mais do que uma varinha mágica, seu convencimento
atingiu proporções alarmantes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky fica ultrajado com o fato de que alguém reviva o “episódio” de
Kronstadt e questione o papel que ele teve ali. Não lhe passa pela cabeça que
aqueles que vieram em sua defesa, contra seu detrator, têm o direito de
perguntar quais os métodos de que ele se valia quando estava no poder e como é
que ele lidava com aqueles que não subscreviam seus mandatos como se fossem
verdades do Evangelho. Seria ridículo, é claro, esperar que ele batesse no
peito e dissesse “eu também fui apenas humano e cometi equívocos. Eu também
pequei, matei meus irmãos e mandei que fossem mortos.” Somente os profetas
sublimes e os visionários chegaram a tais altitudes de coragem. Leon Trotsky
não é certamente um deles. Ao contrário, ele continua a proclamar sua
onipotência em todos seus atos e julgamentos, dirigindo anátemas sobre as
cabeças de quem levianamente sugere que o grande Leon Trotsky também tem pés de
barro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ele
menospreza as evidências documentais deixadas pelos marinheiros de Kronstadt e
por aqueles que viram com seus próprios olhos o terrível sítio de Kronstadt.
Para ele, trata-se de “falsos rótulos”. Isto não o dissuade, porém, de
assegurar a seus leitores que sua explicação da revolta de Kronstadt poderia
ser “comprovada e ilustrada por muitos fatos e documentos”. Pessoas
inteligentes poderiam bem perguntar por que Leon Trotsky não tem a decência de
apresentar os seus “falsos rótulos” para que possam formar uma opinião correta
a partir deles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ora,
o fato é que mesmo tribunais capitalistas asseguram ao réu o direito de
apresentar provas em sua defesa. Não Leon Trotsky, porta-voz da única verdade
definitiva, que “nunca repudiou suas bandeiras e nunca fez concessões a seus
adversários”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Pode-se
entender essa falta de decência básica em John G. Wright. Como eu já disse, ele
está apenas citando a sagrada escritura bolchevique. Mas para uma figura de
dimensões internacionais como Leon Trotsky, silenciar as provas a favor dos
marinheiros me parece indicar um caráter muito diminuto. A velha imagem do
leopardo que muda suas manchas, mas não sua natureza aplica-se perfeitamente a
Leon Trotsky. O calvário pelo qual ele passou em seus anos de exílio, a trágica
perda das suas pessoas próximas e queridas e, ainda mais pungente, a traição de
seus camaradas de luta, nada lhe ensinaram. Sequer um relance de gentileza e
suavidade humana passa por seu espírito rancoroso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">É
triste que o silêncio dos mortos por vezes fale mais alto que a voz dos vivos.
Na verdade, as vozes sufocadas em Kronstadt cresceram em volume durante esses
dezessete anos. Será por esta razão, pergunto-me, que Leon Trotsky se ressente
desse som?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky cita a ideia de Marx, segundo a qual “é impossível julgar partidos ou
pessoas a partir do que dizem a respeito de si mesmos”. É patético que ele não
perceba o quanto isso se aplica a ele! Nenhuma pessoa, entre todos os
habilidosos escritores bolcheviques, conseguiu se manter tanto no palco ou se
gabar tão incansavelmente de seu papel durante e depois da Revolução Russa quanto
Leon Trotsky. Pelos critérios do seu grande mestre, teríamos de considerar sem
valor todos os escritos de Leon Trotsky, o que obviamente seria absurdo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ao
desacreditar os motivos que conduziram à insurreição de Kronstadt, Leon Trotsky
registra o seguinte:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Enviei dúzias de telegramas de
diversas frentes, tratando da mobilização de novos destacamentos “confiáveis”
dos operários de Petrogrado e dos marinheiros da frota do Báltico, mas já em
1918, e em todo caso no mais tardar em 1919, as frentes começaram a se queixar
de que os novos contingentes de “kronstadtianos” deixavam a desejar: eram
cheios de exigências, indisciplinados, inconfiáveis no campo de batalha; mais
prejudicavam do que ajudavam.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Mais
adiante, na mesma página, Trotsky faz uma acusação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Quando as condições se tornaram
muito críticas com a fome em Petrogrado, o burô político mais de uma vez
discutiu a possibilidade de conseguir um “empréstimo interno” junto a
Kronstadt, onde ainda havia uma quantidade de antigos mantimentos, mas os delegados
dos operários de Petrogrado responderam: “vocês nunca conseguirão nada deles
por gentileza: eles especulam com roupas, carvão e pão. No momento, todo tipo
de escória levanta a cabeça em Kronstadt”.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Como
é bolchevique essa tática de não só massacrar os oponentes, mas também de
conspurcar o seu caráter. De Marx, Engels, Lênin e Trotsky a Stalin, esses
métodos sempre foram os mesmos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Pois
bem, não pretendo indagar o que eram os marinheiros de Kronstadt em 1918 ou
1919. Só cheguei à Rússia em janeiro de 1920. Daquele momento em diante, até a
“liquidação” de Kronstadt, os marinheiros da frota do Báltico eram enaltecidos
como exemplo de valor e coragem indemovível. Sem descanso, o que não apenas
anarquistas, mencheviques e social-revolucionários, mas também muitos
comunistas me diziam era que os marinheiros eram a espinha dorsal da Revolução.
Nas comemorações do Primeiro de Maio de 1920, e nas outras festividades
organizadas para a primeira delegação trabalhista inglesa, os marinheiros de
Kronstadt eram apresentados como um contingente grande e diferenciado, e
identificados entre os grandes heróis que salvaram a Revolução do controle de
Kerensky, e Petrogrado do de Yudenich. No aniversário de outubro os marinheiros
estavam novamente nas primeiras fileiras, e a reencenação da tomada do Palácio
de Inverno era aplaudida com fervor por uma massa compacta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Será
possível que todos os líderes do partido, exceto Leon Trotsky, ignoravam a
corrupção e a desmoralização de Kronstadt que ele aponta? Não creio. Mais
ainda, duvido que o próprio Trotsky tivesse essa visão a respeito dos
marinheiros de Kronstadt antes de março de 1921. Sua narrativa deve ser,
portanto, uma reavaliação — ou uma racionalização para justificar a
“liquidação” sem sentido de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Mesmo
admitindo que a composição do pessoal da fortaleza tivesse mudado, o fato é que
os kronstadtianos de 1921 estavam longe de corresponder à descrição feita por
Leon Trotsky e seu papagaio. A verdade é que os marinheiros encontraram seu fim
unicamente devido à sua profunda proximidade e solidariedade com os operários
de Petrogrado, cuja capacidade para enfrentar o frio e a fome tinham chegado a
um ponto de ruptura com a série de greves ocorridas em fevereiro de 1921. Por
que Leon Trotsky e seus seguidores deixaram de mencionar isso? Se Wright não
sabe, Leon Trotsky sabe perfeitamente que a primeira cena do drama de Kronstadt
ocorreu em Petrogrado no dia 24 de fevereiro e que seus atores não foram os
marinheiros, mas, sim, os grevistas. Pois foi nessa data em que os grevistas
expressaram sua raiva acumulada contra a dura indiferença dos homens que tinham
tagarelado a respeito da ditadura do proletariado, que há bastante tempo se
corrompera numa impiedosa ditadura do partido comunista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O
diário de Alexander Berkman, nesse dia histórico, diz:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Os operários da fábrica Trubochny
entraram em greve. Reclamam que, na distribuição de roupas para o inverno, os
comunistas tiveram vantagens indevidas em comparação com os que não eram do
partido. O governo se recusa a considerar essas queixas enquanto os homens não
retornarem ao trabalho.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Multidões de grevistas se reuniram
nas ruas perto da fábrica, e soldados foram mandados para dispersá-los. Eram os
kursanti, jovens comunistas da academia militar. Não houve violência.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Agora os grevistas receberam a
adesão de homens das oficinas do almirantado e das docas de Calernaya. Há muito
ressentimento com a atitude arrogante do governo. Tentou-se organizar uma
manifestação na rua, mas as tropas a suprimiram.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Foi
depois do relatório de seu comitê a respeito da real situação entre os
operários de Petrogrado que os marinheiros de Kronstadt fizeram em 1921 o que
tinham feito em 1917. Adotaram imediatamente a causa dos operários. O papel dos
marinheiros em 1917 foi saudado como o orgulho e a glória vermelha da
Revolução. O mesmo papel em 1921 foi denunciado ao mundo inteiro como um ato de
traição contrarrevolucionária. Naturalmente, em 1917 Kronstadt ajudou os
bolcheviques a montarem no cavalo. Em 1921 eles exigiam satisfação pelas falsas
esperanças criadas entre as massas, e a grande promessa foi quebrada quase que
imediatamente assim que os bolcheviques se viram entrincheirados no poder. Um
crime hediondo, não há dúvida. O momento mais importante desse crime, contudo,
é que Kronstadt não se “amotinou” a partir do nada. Seus motivos estavam
profundamente enraizados no sofrimento dos trabalhadores russos: do
proletariado urbano assim como do campesinato.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Por
certo, o ex-comissário nos garante que “os camponeses aceitaram as requisições
como um mal temporário”, e que “os camponeses aprovavam os ‘bolcheviques’, mas
se tornaram cada vez mais hostis aos ‘comunistas’”. Porém, essas afirmações são
puramente fictícias, como inúmeras provas demonstram — não sendo a menor delas
a liquidação do soviete dos camponeses, liderado por Maria Spiridonova, e a
imposição a ferro e fogo da entrega de tudo o que fora produzido pelos
camponeses, inclusive os grãos para o plantio da primavera.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em
termos de verdade histórica, os camponeses odiavam o regime quase que desde o
começo e certamente a partir do momento em que o slogan de Lênin, “roubem quem
rouba”, se transformou em “roubem os camponeses pela glória da ditadura
bolchevique”. Eis a razão de eles estarem em constante ebulição contra a
ditadura bolchevique. Um exemplo disso foi o levante dos camponeses da Karelia,
afogada em sangue pelo general czarista Slastchev-Krimsky. Se os camponeses
tinham tanto amor pelo regime soviético, como Leon Trotsky nos quer fazer
acreditar, não teria sido necessário mandar correndo esse homem terrível à
Karelia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ele
tinha lutado contra a Revolução desde o comecinho e liderara algumas das forças
de Wrangel na Crimeia. Era culpado de vilanias bárbaras contra os prisioneiros
de guerra e era um notório organizador de pogroms. Agora Slastchev-Krimsky
virara casaca e retornara à sua “Pátria Mãe”. Esse arquirreacionário e
perseguidor de judeus, ao lado de vários generais czaristas e membros do
exército branco, era recebido pelos bolcheviques com honras militares. Sem
dúvida, era uma retribuição justa que o antissemita agora tivesse de bater
continência para um judeu, Trotsky, seu superior militar. Mas para a Revolução
e para o povo russo o retorno triunfal do imperialista era um ultraje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Como
recompensa para seu recém-descoberto amor à pátria socialista,
Slastchev-Krimsky foi encarregado de esmagar os camponeses da Karelia, que
exigiam autodeterminação e melhores condições de vida e trabalho.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky nos conta que os marinheiros de Kronstadt em 1919 não teriam entregado
mantimentos “por gentileza” — não que se tivesse tentado isso em algum momento.
Na verdade, essa palavra não existe no jargão bolchevique. E, contudo, aí estão
esses marinheiros desmoralizados, essa escória de especuladores etc., ao lado
do proletariado urbano em 1921, e sua primeira exigência é a de rações iguais
para todos. Que vilões esses kronstadtianos, com efeito!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em
seus ataques a Kronstadt, os dois autores tiram muito proveito do fato de que
os marinheiros — os quais, como insisto, não premeditaram a rebelião, mas se
reuniram no dia 1 de março para discutir a ajuda a seus camaradas de Petrogrado
— rapidamente se organizaram num comitê revolucionário provisório. A resposta a
essa iniciativa é exposta pelo próprio John G. Wright. Ele escreve:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">não se exclui de modo nenhum a
hipótese de que as autoridades locais se atrapalharam no manejo da situação…
Não é segredo que Kalinin e o comissário Kuzmin não eram tidos em alta estima
por Lênin e seus colegas… Na medida em que as autoridades locais ignoravam a
real dimensão do perigo ou falharam em tomar medidas adequadas e efetivas para
enfrentar a crise, a amplitude de seus erros teve um papel nos eventos que se
seguiram…<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A
afirmação de que Lênin não tinha Kalinin ou Kuzmin em alta estima é,
infelizmente, um velho truque do bolchevismo para pôr toda a culpa em algum
incompetente de modo que os cabeças se mantenham puros como a neve.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Certamente,
as autoridades locais em Kronstadt se “atrapalharam”. Kuzmin atacou vilmente os
marinheiros e ameaçou-os com graves consequências. Os marinheiros evidentemente
sabiam o que esperar de tais ameaças. Não podiam senão prever que, se Kuzmin e
Vassiliev tivessem as mãos livres, seu primeiro passo seria confiscar as armas
e mantimentos de Kronstadt. Foi por isso que os marinheiros formaram seu comitê
revolucionário provisório. Outro fator foi a notícia de que uma delegação de
trinta marinheiros enviada a Petrogrado para se encontrar com os operários fora
impedida de voltar a Kronstadt, tendo seus membros presos e levados à Tcheka.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Os
dois autores fazem uma tempestade em copo d’água a respeito dos rumores,
divulgados na reunião de 1 de março, de que um caminhão com soldados fortemente
armados estava a caminho de Kronstadt. Wright evidentemente nunca viveu sob uma
ditadura ferrenha. Eu vivi. Quando todos os canais de contato humano estão
bloqueados, quando todo pensamento é reprimido e toda expressão sufocada, os
boatos crescem como cogumelos e adquirem dimensões terrificantes. Ademais,
caminhões cheios de soldados e agentes da Tcheka, armados até os dentes, percorrendo
as avenidas durante o dia, e lançando à noite suas redes para arrastar suas
presas humanas até a Tcheka, eram uma visão frequente em Petrogrado e em Moscou
no tempo que passei por lá. Na tensão do encontro depois da fala ameaçadora de
Kuzmin, era perfeitamente natural que se desse crédito a tais rumores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">As
notícias na imprensa de Paris sobre o levante de Kronstadt, duas semanas antes
de ele acontecer, foram destacadas na campanha contra os marinheiros como prova
positiva de que eles haviam sido instrumentalizados pela gangue imperialista e
que a rebelião havia na realidade sido tramada em Paris. É totalmente óbvio que
essa história foi usada apenas para desacreditar os kronstadtianos aos olhos
dos trabalhadores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Na
realidade, essa notícia antecipada era semelhante a outras notícias de Paris,
de Riga ou Helsingfors, e que raramente, ou nunca, coincidia com qualquer coisa
que tivesse sido anunciada por agentes contrarrevolucionários no exterior. Por
outro lado, ocorreram muitos acontecimentos na Rússia soviética que teriam
alegrado a Entente, e dos quais nunca se veio a saber nada — acontecimentos
muito mais desabonadores para a Revolução Russa e causados pelo próprio partido
comunista. Por exemplo, a existência da Tcheka, que corroeu as bases de muitos
avanços de outubro e que já em 1921 se tornara uma excrescência maligna no
corpo da Revolução, e muitos outros acontecimentos cuja menção nos levaria
muito além do assunto que tratamos aqui.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Não,
as notícias antecipadas na imprensa de Paris não tinham relação nenhuma com o
levante de Kronstadt. Na verdade, na Petrogrado de 1921 ninguém acreditava
nessa conexão, nem mesmo boa parte dos comunistas. Como já disse, John G.
Wright não passa de um competente pupilo de Leon Trotsky e não tem culpa quanto
ao que a maioria das pessoas dentro e fora do partido pensavam sobre essa
suposta “conexão”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Historiadores
do futuro irão sem dúvida examinar o “motim” de Kronstadt de acordo com seu
real significado. Se e quando fizerem isso, sem dúvida chegarão à conclusão de
que o levante não poderia ter surgido em momento mais oportuno se tivesse sido
planejado de propósito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O
fato mais importante a decidir o destino de Kronstadt foi a nep (Nova Política
Econômica). Consciente que haveria uma considerável oposição dentro do partido
a seu recém-arquitetado esquema “revolucionário”, Lênin precisava de alguma
ameaça iminente para garantir uma aceitação suave e rápida da nep. A eclosão de
Kronstadt foi de máxima conveniência. Toda a esmagadora máquina de propaganda
foi imediatamente posta para funcionar, de modo a provar que os marinheiros
estavam aliados a todas as potências imperialistas e a todos os elementos
contrarrevolucionários para destruir o Estado comunista. Isso funcionou como
mágica. A nep foi implementada sem nenhum percalço.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Só
o tempo dirá qual o custo assustador dessa manobra. Os trezentos delegados, a
fina flor da juventude comunista, que saíram correndo do congresso do partido
para esmagar Kronstadt, foram apenas um punhado entre os milhares vitimados por
capricho. Acreditavam com fervor na campanha de descrédito. Os que sobreviveram
tiveram um duro despertar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Registrei
um encontro que tive com um comunista ferido num hospital, no livro Minha
desilusão. Passados todos esses anos, aquelas palavras continuam pungentes:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Muitos dos feridos no ataque a
Kronstadt, kursanti [cadetes] na maioria, foram levados ao mesmo hospital. Tive
ocasião de falar com um deles. Seu sofrimento físico, dizia ele, não era nada
em comparação com sua agonia psicológica. Percebera tarde demais que tinha sido
enganado pelos gritos de “contrarrevolução”. Nenhum general czarista, nenhum
membro do exército branco tinha liderado os marinheiros — lá, ele só encontrara
seus próprios camaradas, marinheiros, soldados e operários, que tinham lutado
heroicamente pela revolução.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ninguém
em plena consciência haverá de encontrar qualquer semelhança entre a nep e as
reivindicações dos marinheiros de Kronstadt em prol do direito de um livre
intercâmbio de produtos. A nep veio reintroduzir os graves malefícios que a
Revolução Russa tentara erradicar. A livre troca de produtos entre operários e
camponeses, entre a cidade e o campo, representava a verdadeira raison d’être
da revolução. Naturalmente “os anarquistas estavam contra a nep”. Mas a livre
troca, como Zinoviev me afirmara em 1920, “não pertence a nosso plano de
centralização”. O pobre Zinoviev não poderia imaginar em que ogro monstruoso a
centralização do poder iria se transformar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Foi
a idée fixe da centralização da ditadura que logo começou a dividir o campo e a
cidade, os operários e os camponeses. Não, como quer Leon Trotsky, porque “um é
proletário… e o outro é pequeno-burguês”, mas sim porque a ditadura paralisou a
iniciativa tanto do proletariado urbano quanto do campesinato.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky quer fazer crer que os operários de Petrogrado rapidamente perceberam
“o caráter pequeno-burguês do levante de Kronstadt e assim recusaram-se a ter
qualquer coisa em comum com ele”. Ele omite a razão mais importante para a
aparente indiferença dos operários de Petrogrado. É importante, assim,
ressaltar que a campanha de difamação, de mentira e de calúnia contra os
marinheiros começou em 2 de março de 1921. A imprensa soviética destilou veneno
alegremente contra os marinheiros. As acusações mais desprezíveis foram bradadas
contra eles, e isso se manteve até a liquidação de Kronstadt em 17 de março.
Além disso, Petrogrado foi posta sob lei marcial. Muitas fábricas foram
fechadas, e os operários, roubados assim de seu sustento, começaram a se
reunir. No diário de Alexander Berkman, encontro o seguinte:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Muitas prisões acontecendo. É comum
ver grupos de grevistas sendo levados à prisão por guardas da Tcheka. Há muita
tensão nervosa na cidade. Precauções detalhadas se tomaram para proteger as
instituições do governo. Metralhadoras foram postas no Astoria, nas residências
de Zinoviev e de outros bolcheviques importantes. Anúncios oficiais ordenam a
volta imediata dos grevistas às fábricas — e advertem contra ajuntamentos de
povo nas ruas.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O comitê de defesa começou uma
“limpeza da cidade”. Muitos operários suspeitos de simpatizar com Kronstadt
foram detidos. Todos os marinheiros de Petrogrado e parte da guarnição que se
considera “inconfiável” foram enviados a pontos distantes, enquanto os
familiares dos marinheiros de Kronstadt que vivem em Petrogrado foram tomados
como reféns. O comitê de defesa notificou Kronstadt que “os prisioneiros foram
mantidos ‘como garantidores’ da segurança do comissário da frota do Báltico, N.
Kuzmin, do secretário geral do soviete de Kronstadt, T. Vassiliev, e de outros
comunistas. Se tocarem minimamente em nossos camaradas, os reféns pagarão com
suas vidas.”<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Sob
essas férreas disposições, era fisicamente impossível para os operários de
Petrogrado uma aliança com Kronstadt, especialmente porque nem uma só palavra
dos manifestos lançados pelos marinheiros em seu jornal podia chegar aos
operários em Petrogrado. Em outras palavras, Leon Trotsky deliberadamente
falsifica os fatos. Os operários certamente teriam ficado do lado dos
marinheiros, pois sabiam que eles não eram baderneiros ou
contrarrevolucionários. Tinham, isto sim, tomado posição em favor dos
operários, assim como seus camaradas tinham feito desde 1905, e em março e
outubro de 1917. Trata-se, portanto, de uma calúnia grotescamente criminosa
contra a memória dos marinheiros de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Na
New International, página 106, segunda coluna, Trotsky garante a seus leitores
que ninguém, “seja dito de passagem, se importava com os anarquistas naqueles
dias”. Infelizmente, isso não condiz com a incessante perseguição aos
anarquistas iniciada em 1918, quando Leon Trotsky liquidou o quartel-general
anarquista de Moscou com metralhadoras. Foi então que começou o processo de
eliminação dos anarquistas. Ainda hoje, tantos anos depois, os campos de
concentração soviéticos estão repletos de sobreviventes anarquistas. Na
verdade, antes do levante de Kronstadt, em outubro de 1920 para ser mais exato
— quando Leon Trotsky mais uma vez mudara de ideia sobre Makhno, porque
precisava dele para liquidar Wrangel, e quando ele autorizou a conferência
anarquista em Kharkov —, muitas centenas de anarquistas sofreram um arrastão e
foram despachados para o presídio de Boutirka, onde ficaram detidos sem nenhuma
acusação até abril de 1921, momento em que, ao lado de outros políticos de
esquerda, foram removidos a força na calada da noite e enviados a várias
prisões e campos de concentração na Rússia e na Sibéria. Mas esta é uma página
separada na história soviética. O que vem ao caso aqui é que muita gente se
importava com os anarquistas, pois sem isso não havia razão para prendê-los e
mandá-los, no velho estilo czarista, para regiões distantes da Rússia e da
Sibéria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky ridiculariza as reivindicações dos marinheiros em favor de sovietes
livres. Era ingênuo da parte deles, com efeito, pensar que sovietes livres
podem coexistir com uma ditadura. Na verdade, os sovietes livres tinham deixado
de existir numa fase anterior do jogo comunista, assim como os sindicatos e as
cooperativas. Todos foram atropelados pelas rodas da máquina de Estado
bolchevique. Lembro-me bem de Lênin me dizer, com grande satisfação: “o grande
e velho líder de vocês, Enrico Malatesta, é a favor dos nossos sovietes”.
Apressei-me em dizer: “você quer dizer sovietes livres, camarada Lênin. Eu
também sou a favor deles.” Lênin conduziu a conversa para outro assunto. Mas
logo descobri que os sovietes livres tinham cessado de existir na Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">John
G. Wright pretende que não havia nenhum distúrbio em Petrogrado antes de 22 de
fevereiro. Isso se coaduna com sua outra reciclagem do material “histórico” do
partido. A inquietação e o descontentamento dos operários já eram bastante
nítidos quando chegamos. Em cada indústria que visitei, encontrei extrema
insatisfação e ressentimento com o fato de que a ditadura do proletariado havia
se transformado numa devastadora ditadura do partido comunista, com suas rações
diferentes e suas discriminações. Se o descontentamento dos operários não
chegou a uma ruptura antes de 1921, isso foi apenas porque eles ainda se
agarravam tenazmente à esperança de que quando as frentes de guerra fossem
liquidadas a promessa da revolução seria cumprida. Foi Kronstadt que perfurou a
última bolha de sabão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Os
marinheiros tinham ousado se aliar aos operários descontentes. Tinham ousado
exigir que a promessa da revolução — todo poder aos sovietes — fosse cumprida.
A ditadura política assassinara a ditadura do proletariado. Isto, e somente
isto, tinha sido ofensa imperdoável contra o sacrossanto espírito do
bolchevismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">No
artigo de Wright, há uma nota de rodapé na página 49, segunda coluna, na qual
ele afirma que Victor Serge, num recente comentário sobre Kronstadt, “admite
que os bolcheviques, uma vez confrontados com o motim, não tinham outra saída a
não ser esmagá-lo”. Victor Serge está agora longe das acolhedoras fronteiras da
“pátria dos trabalhadores”. Não considero, portanto, uma indiscrição se eu
disser que, se Victor Serge fez a declaração que Wright lhe imputa, isso
simplesmente não é verdade. Victor Serge era um dos que, na seção comunista francesa,
estava tão chocado e horrorizado quanto Alexander Berkman, eu mesma e muitos
outros revolucionários diante da iminente carnificina determinada por Leon
Trotsky para “atirar nos marinheiros como se atira em faisões”. Ele costumava
passar todas as suas horas livres em nosso quarto andando de um lado para
outro, arrancando os cabelos, cerrando os punhos com indignação, e repetindo
que “algo precisa ser feito, algo precisa ser feito para impedir esse massacre
terrível”. Quando lhe perguntaram por que ele, como um membro do partido, não
levantou sua voz na reunião sobre o assunto, sua resposta foi que isso não
ajudaria os marinheiros e haveria de marcá-lo junto à Tcheka e selar até mesmo
seu desaparecimento sigiloso. A única desculpa para Victor Serge é que naquele
momento ele tinha uma mulher e um bebê pequeno. Mas ele afirmar agora, depois
de dezessete anos, que “os bolcheviques, uma vez confrontados com o motim, não
tinham outro recurso a não ser esmagá-lo” é, para dizer o mínimo,
indesculpável. Victor Serge sabe tão bem quanto eu que não havia motim em
Kronstadt, que os marinheiros na verdade não usaram armas de nenhum tipo ou
formato até ter começado o bombardeio de Kronstadt. Ele também sabe que os
marinheiros não tocaram nem nos comissários comunistas detidos, nem em
quaisquer outros comunistas. Conclamo Victor Serge, portanto, a vir falar a
verdade. Que ele tenha conseguido continuar na Rússia sob o regime fraternal de
Lênin, Trotsky e de todos os infelizes que foram recentemente assassinados, ciente
de todos os horrores que se passam por lá, é problema dele, mas não posso
silenciar diante da acusação de que ele considera os bolcheviques justificados
ao esmagar os marinheiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky faz sarcasmo diante da acusação de que ele fuzilou 1.500 marinheiros.
Não, ele não fez o trabalho sujo ele mesmo. Encarregou Tuchachevsky, seu
lugar-tenente, de “atirar nos marinheiros como se atira em faisões”, conforme a
ameaça que fizera. Os números de mortos subiram às centenas, e os que
resistiram depois do incessante ataque da artilharia bolchevique foram
entregues aos cuidados de Dibenko, famoso por sua humanidade e seu senso de
justiça.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Tuchachevsky
e Dibenko, os heróis e salvadores da ditadura! A história parece ter seus
próprios caminhos de escarnecer a justiça.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky lança seu trunfo, quando pergunta: “onde e quando seus grandes
princípios se confirmaram, na prática, mesmo de forma parcial, mesmo como uma
tendência?”. Essa cartada, como outras que ele já jogou em sua vida, não lhe
servirá para ganhar o jogo. Na verdade, os princípios anarquistas foram
confirmados, na prática e como tendência, na Espanha. Concordo que apenas
parcialmente. Como poderia ser diferente, com todas as forças conspirando
contra a revolução espanhola? O trabalho construtivo levado a cabo pela
Confederação Nacional do Trabalho (CNT) é algo jamais imaginado pelos
bolcheviques em todos os seus anos de poder, e, contudo, a coletivização das
indústrias e das terras se destacam como a maior realização de qualquer período
revolucionário. Mais ainda, mesmo se Franco vier a ganhar, e se os anarquistas
espanhóis forem exterminados, a obra que eles iniciaram continuará a viver. Os
princípios e tendências anarquistas estão enraizados de tal modo no solo
espanhol que não serão arrancados jamais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Leon
Trotsky, John G. Wright e os anarquistas espanhóis<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Durante
os quatro anos de guerra civil na Rússia, os anarquistas defenderam os
bolcheviques como um só homem, ainda que a cada dia se tornassem mais
conscientes do iminente colapso da revolução. Sentiram-se no dever de se
manterem em silêncio e de evitar tudo o que pudesse representar ajuda e consolo
aos inimigos da revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Certamente, a Revolução Russa lutou em muitas frentes, contra
muitos inimigos, mas enfrentou desafios tão extremos quanto os que se
antepuseram ao povo espanhol, aos anarquistas e à revolução. A ameaça de
Franco, auxiliado pelos homens e armas da Alemanha e da Itália, pelas bênçãos
de Stálin, pela conspiração dos poderes imperialistas, pela traição das
chamadas democracias e, não em menor escala, pela apatia do proletariado
internacional, ultrapassam em muito os perigos que rodeavam a revolução russa.
O que faz Trotsky diante de tragédia tão terrível? Adere à turba
enfurecida e assesta seu punhal envenenado nas entranhas dos anarquistas
espanhóis na hora mais crucial. Não há dúvida de que os anarquistas
espanhóis cometeram um grave erro. Esqueceram-se de convidar Leon Trotsky para
tomar conta da revolução espanhola e para mostrar-lhes o sucesso que ele obteve
na Rússia, de modo a repeti-lo nas terras da Espanha. Essa parece ser a sua
grande mágoa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Nota<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12.0pt; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Publicado
originalmente pela Federação Anarquista de Glasgow, 1938.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 12pt; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">*****</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/trotsky-reclama-demais" rel="nofollow" target="_blank">Publicadono 3º número do volume 4 da Revista Rosa em 20/12/2021.</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Revista
Rosa, S.Paulo/SP, Brasil, https://revistarosa.com, issn 2764-1333.</span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-32624547412471079382022-07-01T18:22:00.003-07:002022-10-31T14:25:06.978-07:00Kronstadt, outra vez! por Dwight MacDonald<p></p><div style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaB2-hafKlVakNtFO43gqz1J3eE5tv0_UHzVn_B3vSVUTvAhEAEuHjKkHIvfOe52qYUh7pqO06Q2V3j_eyvIXeTQYtJ1aCmvuddeOsTQciR_E82jWf80fGB3iN-W3-MAByjQYsqnK_fdlujU5rVOXNSV6tj0pgzTJoLcznHFVtBqvy68cZS912yHKE0w/s266/dwight.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="266" data-original-width="190" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjaB2-hafKlVakNtFO43gqz1J3eE5tv0_UHzVn_B3vSVUTvAhEAEuHjKkHIvfOe52qYUh7pqO06Q2V3j_eyvIXeTQYtJ1aCmvuddeOsTQciR_E82jWf80fGB3iN-W3-MAByjQYsqnK_fdlujU5rVOXNSV6tj0pgzTJoLcznHFVtBqvy68cZS912yHKE0w/w229-h320/dwight.jpg" width="229" /></a></div><br /><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Kronstadt, mais uma vez [1]<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">(julho
de 1938)<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">por
Dwight MacDonald<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/kronstadt-mais-uma-vez-macdonald" rel="nofollow" target="_blank">Tradução de Marcelo Coelho – Revista Rosa</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
artigo de Trotsky na edição de abril da New International foi, para mim, motivo
de desapontamento e embaraço. Desapontamento, porque eu esperava uma explicação
franca e razoavelmente objetiva do <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">caso Kronstadt</a>. Embaraço, porque admiro
Trotsky e aceito muitas de suas teorias. Um artigo como aquele — essencialmente
uma peça de autodefesa casuística, apesar de brilhante — torna mais difícil
defender Trotsky da frequente acusação de que seu pensamento é sectário e
inflexível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Para
os que, como eu, acreditam que a revolução proletária é o único caminho para o
socialismo, a questão que se coloca hoje é: podemos evitar o tipo de
degeneração que se deu na Rússia? Especificamente, em que medida a teoria
bolchevique carrega a responsabilidade pela ascensão do stalinismo? Em A
Revolução traída, Trotsky demonstra que o stalinismo é fundamentalmente um
reflexo do baixo nível de produtividade e de desenvolvimento econômico da
Rússia. Mas, mesmo se aceitarmos essa análise, como é o meu caso, uma
importante causa auxiliar pode ser identificada em algumas debilidades da
teoria política bolchevique. Não será dever dos marxistas hoje em dia procurar
sem descanso essas debilidades, para reconsiderar toda a linha bolchevique com
distanciamento científico? Minha impressão é de que Trotsky mostrou pouco
interesse por essa reconsideração básica. Ele parece mais interessado em
defender o leninismo do que em aprender com seus equívocos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">O
artigo sobre Kronstadt é um bom exemplo do que quero dizer. É apaixonado,
eloquente, e não convence. Trotsky pode estar certo em todas as suas
afirmações. Mas ele aborda o assunto de uma maneira que impossibilita o
observador distanciado de formar uma opinião inteligente. Não tenho nem o tempo
nem o conhecimento — e a New International não tem o espaço — para discutir a
questão de Kronstadt aqui. Mas eu gostaria de indicar algumas apreensões quanto
ao tom do artigo. Em geral, parece-me que Trotsky adota uma posição polêmica
numa questão que deveria ser considerada desapaixonadamente, com algum respeito
pelo lado contrário. O próprio título é desdenhoso: “A gritaria em torno de
Kronstadt”. A oposição é caracterizada com uma fraseologia de promotor numa
corte criminal — “essa variegada fraternidade”, “essa campanha de verdadeiro
charlatanismo”. Para justificar esse tom abusivo, Trotsky precisaria trazer à
tona provas muito mais fortes para desmontar as afirmações de Serge, Thomas,
Berkman e Souvarine do que ele (ou Wright) dispõem no momento.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Trotsky
começa seu artigo com um amálgama digno de Vishinsky: “participam da campanha…
anarquistas, mencheviques russos, social-democratas de esquerda… trapalhões
individuais, o jornal de Miliukov, e, por vezes, a grande imprensa capitalista.
Uma ‘frente popular’ sui generis!” (A única categoria que se aplica a mim é a
de ‘trapalhão individual’. Trotsky parece incapaz de imaginar qualquer pessoa
criticando Kronstadt, a não ser que esteja a serviço de algum interesse escuso
ou seja um iludido, enquanto os stalinistas caracterizam todos os críticos dos
processos de Moscou como trotskistas, fascistas, assassinos, e — meu rótulo
pessoal — fantoches de Trotsky). Não consigo ver tanta diferença quanto
gostaria entre, de um lado, a insistência de Trotsky na tese de que, uma vez
que os inimigos da Revolução usaram Kronstadt para desacreditar o bolchevismo,
então todos os que expressam dúvidas sobre Kronstadt são (considerados
‘objetivamente’) aliados da contrarrevolução, e, de outro, a insistência de
Vishinsky na tese de que a Quarta Internacional e a Gestapo são camaradas em
armas porque ambas se opõem ao regime stalinista. Essa exclusão dos motivos
individuais como irrelevantes, essa recusa a considerar objetivos, programas,
teorias, qualquer coisa exceto o fato objetivo de estar em oposição — essa
forma de pensar me parece perigosa e irrealista. Insisto que tenho dúvidas
sobre Kronstadt sem ser um canalha ou um estúpido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Tendo
criado esse amálgama, Trotsky define seu menor denominador comum — e é dos
menores, com efeito. “Como é que o levante de Kronstadt pode causar tanto
desconforto em anarquistas, mencheviques, e contrarrevolucionários ‘liberais’
ao mesmo tempo?”, ele pergunta. “A resposta é simples: todos esses grupos estão
interessados em comprometer a única corrente genuinamente revolucionária, que
nunca repudiou suas bandeiras…”. A resposta é algo simples demais — outro
aspecto que me incomoda, aliás, nas respostas de Trotsky. Até onde eu próprio
saiba, não estou interessado em “comprometer” o bolchevismo; ao contrário,
gostaria de poder aceitá-lo cem por cento. Mas, infelizmente, tenho algumas
dúvidas, objeções, críticas. Será que é impossível expressá-las sem ser acusado
de contrarrevolucionário e incluído na salada de anarquistas, mencheviques e
jornalistas capitalistas?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">A
maior parte do artigo de Trotsky tenta mostrar que a base social do levante de
Kronstadt era pequeno-burguesa. Ele aponta um fato importante: os marinheiros
de Kronstadt, em 1921, eram um grupo bem diferente daqueles heróis
revolucionários de 1917. Mas o resto de sua longa argumentação se resume a
identificar todos os elementos que se opunham aos bolcheviques como sendo
“pequeno-burgueses”. Ele apresenta poucas provas para justificar essa
rotulação, além do fato de que eram todos antibolcheviques. Seu raciocínio
parece ser o seguinte: somente a política bolchevique podia salvar a Revolução;
os grupos de Makhno, os verdes, os social-revolucionários, os kronstadtianos
etc., eram contra os bolcheviques; portanto, eram objetivamente
contrarrevolucionários; portanto, estavam objetivamente trabalhando para a
burguesia. O raciocínio dá por resolvida a própria questão que queria resolver.
Mas ainda que aceitássemos seu postulado inicial, estaríamos diante de um
processo perigoso do ponto de vista político. Ele racionaliza uma desagradável
necessidade administrativa — a supressão de opositores políticos que também
estão agindo em favor do que consideram os melhores interesses das massas —
transformando-a numa luta entre o Bem e o Mal. Uma medida de governo se torna
uma cruzada política, simplesmente recusando-se a distinguir entre categorias
objetivas e subjetivas — como se um assaltante de banco devesse ser acusado de
querer derrubar o capitalismo! Stalin aprendeu o truque até bem demais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Trotsky
tem pouco a dizer sobre o modo com que os bolcheviques lidaram com o caso de
Kronstadt em si mesmo. Não apresenta nenhuma defesa para as execuções em massa,
que, de acordo com Victor Serge, ocorreram meses depois de os rebeldes terem
sido esmagados. Com efeito, não menciona absolutamente esse aspecto. Tampouco
ele dá muita atenção ao problema crucial: com que seriedade os bolcheviques
tentaram um acordo pacífico antes de colocarem as armas em campo? Ele
desconsidera esse ponto: “Ou será que teria sido suficiente apenas informar os
marinheiros de Kronstadt a respeito dos decretos da nep, achando que isso iria
apaziguá-los? Ilusão! Os insurgentes não tinham um programa consciente, e não
podiam tê-lo, dada a própria natureza da pequena burguesia.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Aqui
Trotsky admite, implicitamente, o que afirma Souvarine: Lênin estava dando os
últimos retoques na nep durante o décimo congresso do partido, que foi
interrompido para permitir aos delegados que tomassem parte no ataque a
Kronstadt. A decisão tomada por Lênin e Trotsky foi séria: suspender o anúncio
da nep até que a rebelião, que reivindicava algumas das concessões que a
própria nep iria garantir, fosse afogada em sangue. Como eles poderiam estar
tão seguros de que teria sido impossível chegar a um acordo com os
kronstadtianos com base na nep? Algumas frases antes, Trotsky admite que “a
introdução da nep um ano antes teria evitado o levante de Kronstadt”. Mas os
kronstadtianos, escreve Trotsky, sendo pequeno-burgueses, não tinham “programa
consciente” e, portanto, não poderiam ser sensíveis ao apelo de concessões
programáticas. Pequeno-burgueses ou não, os kronstadtianos tinham um programa.
Souvarine, por exemplo, resume-o em sua vida de Stalin como: “eleições livres
para os sovietes; liberdade de expressão e uma imprensa livre para os
operários, camponeses, socialistas de esquerda, anarquistas e sindicalistas; a
libertação dos operários e camponeses detidos como prisioneiros políticos; a
abolição dos privilégios para o partido comunista; rações iguais para todos os
trabalhadores; o direito dos camponeses e artesãos autônomos de dispor do
produto de seu trabalho”. Talvez Trotsky use o termo “programa consciente” com
algum sentido especial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Para
mim, a afirmação mais interessante do artigo é: “É verdade… que eu já tinha
proposto a transição para a nep em 1920… Quando me defrontei com a oposição dos
líderes do partido, não apelei para as fileiras, pois não queria mobilizar a
pequeno burguesia contra os trabalhadores.”<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;">Como aponta Trotsky, Lênin admitia
que a política do “comunismo de guerra” tinha se prolongado mais do que
deveria. Tratava-se apenas de um erro de julgamento, como sugere implicitamente
Trotsky, ou foi um erro nascido da própria natureza da organização política
bolchevique, que concentra o poder nas mãos de um pequeno grupo tão
perfeitamente isolado (por um aparato partidário burocrático e hierarquizado)
da pressão política das massas que termina sem responder às necessidades das
massas — exceto quando é tarde demais? Mesmo quando um dos líderes tem
condições de avaliar corretamente as necessidades das massas, ele não pode
fazer mais do que tentar convencer seus colegas acerca do acerto de sua visão.
Se eles não se convencem, ele se vê inibido por sua própria filosofia
política de buscar apoio nas bases. É verdade, como escreve Trotsky, que a
burguesia teria procurado se aproveitar de qualquer divisão nas fileiras
bolcheviques. Mas não são ainda maiores os perigos de uma ditadura férrea,
isolada da pressão das massas? Não são episódios como o de Kronstadt
inevitáveis nessas condições? E teria sido possível a uma camarilha stalinista
usurpar o controle do partido se houvesse maior participação das massas e maior
liberdade para a oposição de esquerda, tanto dentro quanto fora do partido
dominante?<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;">Estas são as questões que Kronstadt
levanta. Trotsky não as responde quando resume: “Em essência, os veneráveis
críticos se opõem à ditadura do proletariado e, com isso, são adversários da
revolução. Nisso está a chave do segredo.”<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;">O segredo é mais complicado do que
essa formulação. Rosa Luxemburgo se opôs durante toda a vida à concepção de
Lênin da ditadura do proletariado. Mas os oficiais da guarda que a
assassinaram em 1919 sabiam muito bem qual era a sua atitude com respeito à
Revolução de 1917.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p align="right" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: right;"><i><span style="font-size: 14pt; line-height: 150%;">Nova York,
26 de abril de 1938.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Nota<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Publicado
originalmente em New International, vol. 4, nº 7, julho de 1938, pp. 212–213.<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">*****<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/kronstadt-mais-uma-vez-macdonald" rel="nofollow" target="_blank">Publicadono 3º número do volume 4 da Revista Rosa em 20/12/2021.</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 150%;">Revista
Rosa, S.Paulo/SP, Brasil, https://revistarosa.com, issn 2764-1333.</span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-13395830725316493932022-06-01T04:00:00.003-07:002022-10-31T14:24:23.294-07:00Kronstadt, de novo! por Victor Serge<p></p><div style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirK3w6Smnpynfu6X5WXH87C5kniXdA8_x2gt3EkZlX_LPfUOqp_xKUvwlfeMfqLCGu_WoQZQfRnwBrbwdN0uojG03OGZ1rQ1EjC98mTVY3cQGSGLcPdM18b-aLr1imxWG0kM7iXvKRPjjR-zk0FpiUeQvfkHKLFB1fUilaS_knbrXF_RDKaeNhiJZpUw/s267/Victor%20Serge.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="Kronstadt, de novo!" border="0" data-original-height="267" data-original-width="188" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirK3w6Smnpynfu6X5WXH87C5kniXdA8_x2gt3EkZlX_LPfUOqp_xKUvwlfeMfqLCGu_WoQZQfRnwBrbwdN0uojG03OGZ1rQ1EjC98mTVY3cQGSGLcPdM18b-aLr1imxWG0kM7iXvKRPjjR-zk0FpiUeQvfkHKLFB1fUilaS_knbrXF_RDKaeNhiJZpUw/s16000/Victor%20Serge.jpg" title="Victor Serge - Kronstadt" /></a></div><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Kronstadt, mais uma vez [1]<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">(julho
de 1938)<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">por
Victor Serge<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/kronstadt-mais-uma-vez-serge" rel="nofollow" target="_blank">Tradução de Marcelo Coelho – Revista Rosa</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Recebi
a revista com grande prazer. Trata-se, com certeza, da melhor publicação
marxista revolucionária de nossos dias. Todas as minhas simpatias, creiam-me,
estão com vocês, e, se me for possível prestar-lhes algum serviço, irei fazê-lo
com entusiasmo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Algum
dia irei responder aos artigos de Wright e de L.D. Trotsky <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">sobre Kronstadt</a>.
Esse grande tema merece ser retomado em profundidade, e os dois estudos que a
revista publicou até agora estão longe, muito longe, de exauri-lo. Antes de
tudo, surpreende-me ver nossos camaradas Wright e L.D. Trotsky valer-se de um
raciocínio que, me parece, deve nos inspirar cuidado e rejeição. Eles observam
que o drama de Kronstadt em 1921 atualmente inspira comentários, ao mesmo
tempo, dos social-revolucionários, dos mencheviques, dos anarquistas e de
outros grupos; deste fato, natural numa época de confusão ideológica, de
revisão de valores, de batalhas entre seitas, eles constroem um tipo de amálgama.
Desconfiemos dos amálgamas e de raciocínios mecânicos. Houve grande abuso disso
na Revolução Russa e sabemos aonde isso leva. Liberais burgueses, mencheviques,
anarquistas e marxistas revolucionários avaliam o drama de Kronstadt a partir
de pontos de vista diferentes, e com objetivos diferentes, o que se deve levar
em conta, em vez de fundir todas as vozes críticas sob um único rótulo,
imputando a todas a mesma hostilidade contra o bolchevismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O
problema, na verdade, é muito mais vasto do que os acontecimentos de Kronstadt,
que foram apenas um caso isolado. Wright e L.D. Trotsky defendem uma tese
extremamente simples: o levante de Kronstadt era objetivamente
contrarrevolucionário e a política de Lênin e de Trotsky no Comitê Central foi
correta antes, durante e depois de tudo. Numa escala histórica e, mais ainda,
grandiosa, essa política era correta, o que fez com que fosse trágica e
perigosamente falsa e errônea em várias circunstâncias específicas. Eis o que
seria útil e corajoso reconhecer hoje em dia, em vez de afirmar a
infalibilidade de uma linha geral de 1917 a 1923. De modo geral, subsiste o
fato de que as insurreições de Kronstadt e de outros lugares representavam para
o partido a absoluta impossibilidade de perseverar nos rumos do comunismo de
guerra. O país estava morrendo de uma “estatificação” levada às últimas
consequências. Quem estava certo, então? O Comitê Central, que se aferrava a um
caminho sem saída ou as massas, levadas pela fome a atos extremos? Parece-me
inegável que Lênin, naquele momento, cometeu o maior equívoco de sua vida. Será
necessário lembrarmos que, poucas semanas antes da introdução da NEP, Bukharin
produziu um trabalho de economia mostrando que o sistema vigente era na verdade
a primeira fase do socialismo? Por ter defendido, em suas cartas a Lênin,
medidas de conciliação com os camponeses, o historiador Rozhkov tinha sido
recentemente deportado para Pskov. Uma vez iniciada a rebelião de Kronstadt,
era necessário sufocá-la, por certo. Mas o que havia sido feito para prevenir a
insurreição? Por que foi rejeitada a mediação dos anarquistas de Petrogrado?
Pode alguém, finalmente, justificar o insensato e, repito, abominável massacre
dos vencidos de Kronstadt, que ainda estavam sendo fuzilados em execuções
coletivas três meses depois do fim do levante?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Eram
filhos do povo russo, atrasados talvez, mas que pertenciam às massas da própria
revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">L.D.
Trotsky enfatiza que os marinheiros e soldados da Kronstadt de 1921 não eram
mais os mesmos, no que diz respeito à consciência revolucionária, do que os de
1918. É verdade. Mas o partido de 1921 — era o mesmo de 1918? Já não estava
sofrendo de um apodrecimento burocrático que frequentemente o afastava das
massas e tornava-o desumano frente a elas? Valeria a pena reler, neste aspecto,
as críticas ao regime burocrático formuladas há muito pela Oposição Operária e
lembrar também as práticas malignas que surgiram durante as discussões sobre os
sindicatos em 1920. De minha parte, sentia-me ultrajado ao ver as manobras da
maioria em Petrogrado para abafar as vozes dos trotskistas e da Oposição
Operária (que defendiam teses simetricamente opostas).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A
questão que hoje domina toda a discussão é, em essência, a seguinte: quando e
como o bolchevismo começou a degenerar?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Quando
e como começou a empregar, sobre as massas trabalhadoras, cujas energias e
consciência o bolchevismo expressava, aqueles métodos não socialistas que devem
ser condenados, uma vez que terminaram assegurando a vitória da burocracia
sobre o proletariado?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Posta
essa questão, pode-se ver que os primeiros sintomas desse mal vêm de antes. Em
1920, os social-democratas mencheviques foram falsamente acusados, num
comunicado da Tcheka, de manter entendimentos com o inimigo, de fazer sabotagem
etc. Esse comunicado, monstruosamente falso, serviu para colocá-los fora da
lei. Naquele mesmo ano, anarquistas foram presos em toda parte da Rússia,
depois da promessa formal de legalizar o movimento; mais tarde, o tratado de
paz assinado com Makhno foi deliberadamente rasgado pelo Comitê Central, que
não mais precisava do Exército Negro. A justeza revolucionária não justifica, a
meus olhos, essas práticas nefastas. E os fatos que cito estão longe,
infelizmente, de serem os únicos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Voltemos
ainda mais no tempo. Não terá chegado o momento de dizer que foi fatídico o dia
do glorioso ano de 1918 em que o Comitê Central do partido decidiu permitir às
comissões extraordinárias a aplicação da pena de morte com base em processos
secretos, sem ouvir os acusados, que não podiam se defender? Naquele dia o
Comitê Central podia escolher entre restaurar ou não um procedimento
inquisitorial que já havia sido esquecido pela civilização europeia. Seja como
for, cometeu um equívoco. Não convém a um partido socialista vitorioso cometer
um equívoco desses. A revolução poderia ter-se defendido melhor sem isso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Estaríamos sem dúvida errados se escondêssemos de
nós mesmos o fato de que todo ganho histórico da revolução russa está sendo
colocado em questão. De toda a vasta experiência do bolchevismo, os
marxistas revolucionários só poderão salvar o essencial, o duradouro,
enfrentando todos os seus problemas desde o início, com genuína liberdade de
espírito, sem vaidades de partido, sem hostilidade irredutível (ainda mais no
campo da investigação histórica) face às outras tendências do movimento dos
trabalhadores. Ao contrário, sem reconhecer antigos erros, cuja gravidade
a história não cessa de trazer à cena, o risco que se corre é comprometer todos
os ganhos do bolchevismo. O episódio de Kronstadt coloca, simultaneamente,
as questões da relação entre o partido do proletariado e as massas, a questão
do regime interno do partido (a oposição operária foi esmagada), a questão da
ética socialista (enganou-se toda Petrogrado falando de um movimento <i>branco</i> em
Kronstadt), do tratamento humano na luta de classes e, sobretudo, na luta
interna entre as nossas classes. Por último, coloca-se em teste a nossa
capacidade de autocrítica.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sem poder no momento responder com maior
profundidade aos camaradas Wright e L.D. Trotsky, espero que tenham a
bondade de submeter esta carta aos leitores de <i>New International.</i> Contribuirá
talvez para aprimorar uma discussão que deveríamos saber como conduzir a bom
termo num saudável espírito de camaradagem revolucionária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p> </o:p></span></i></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: right;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Paris, 28 de abril de 1938.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;"><o:p> </o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">Nota</span></b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">[1] Publicado originalmente em <i>New International</i>,
vol. 4, nº 7, julho de 1938.</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">*****</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://revistarosa.com/4/kronstadt-mais-uma-vez-serge" rel="nofollow" target="_blank">Publicado no 3º número do volume 4 da Revista Rosaem 20/12/2021.</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Revista Rosa, S.Paulo/SP, Brasil, </span><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/"><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-decoration: none; text-underline: none;">https://revistarosa.com</span></a></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">, </span><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://portal.issn.org/resource/ISSN/2764-1333"><span style="color: blue; font-family: "Times New Roman","serif"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-decoration: none; text-underline: none;">issn 2764-1333</span></a></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">.</span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-51867630419919190162022-05-01T04:00:00.002-07:002022-10-31T14:23:21.468-07:00A verdade sobre Kronstadt, por John G. Wright<p></p><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmekzHAvih530YesuLR3dYfWEiFdrJ29mENkw-SM3XmZgUJHphpv3Rg--TyhZcUur8TEFl21eafwFe_W_grzX6hszYtjYynb16daqXR487CXWpVDRGZCxXwp3ZWnYzlWySkuXQgvx6x6HBXdeEdZv0u3vX_QE5OAinmAH1I4BisLJTOFs8RX65xswCgA/s188/John%20G.%20Wright.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="188" data-original-width="179" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmekzHAvih530YesuLR3dYfWEiFdrJ29mENkw-SM3XmZgUJHphpv3Rg--TyhZcUur8TEFl21eafwFe_W_grzX6hszYtjYynb16daqXR487CXWpVDRGZCxXwp3ZWnYzlWySkuXQgvx6x6HBXdeEdZv0u3vX_QE5OAinmAH1I4BisLJTOFs8RX65xswCgA/w305-h320/John%20G.%20Wright.jpg" width="305" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A
verdade sobre Kronstadt<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">por John G.
Wright (Joseph Vanzler)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The New International</i>, Vol. IV, No. 2 , fevereiro de 1938, pp.
47-53.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O
artigo a seguir é uma apresentação resumida do material contido em um panfleto
sobre o assunto pelo escritor, que está previsto para publicação antecipada.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quanto mais
indefensável e iníquo se torna o curso seguido pelos anarquistas na Espanha,
mais alto seus confrades no exterior clamam por <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">Kronstadt</a>. Durante os anos de
ascensão revolucionária, os anarquistas, os mencheviques, os SRs et al.,
estavam na defensiva. Hoje, o stalinismo deu-lhes uma cobertura demagógica para
uma ofensiva contra aqueles princípios que sozinhos tornaram possível outubro.
Eles procuram comprometer o bolchevismo, identificando-o com o stalinismo. Eles
tomam Kronstadt como seu ponto de partida. Seu teorema é o mais “elementar”:
Stalin atira nos trabalhadores apenas porque é a essência do bolchevismo abater
trabalhadores; por exemplo, Kronstadt! Lenin e Stalin são a mesma pessoa. QED [<i style="mso-bidi-font-style: normal;">quod erat demonstrandum</i>]<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Toda a arte está em
distorcer os fatos históricos, exagerando monstruosamente cada questão ou
questão subsidiária em que os bolcheviques possam ter errado, e jogando um véu
sobre o programa e objetivos do motim e a revolta armada contra o poder
soviético. Nossa tarefa é principalmente expor as distorções e falsificações em
ato através dos “fatos” históricos que os servem de base para a acusação contra
o bolchevismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Primeiro, quanto ao
pano de fundo do motim. Longe de ocorrer em um momento em que o poder soviético
estava fora de perigo (como sugerem os adversários ideológicos do bolchevismo),
ocorreu no ano de 1921, um ano crucial na vida do Estado operário. Em dezembro
de 1920, as frentes da Guerra Civil foram liquidadas. Não havia “frentes”, mas
o perigo permanecia ainda. A terra com a herança bárbara do czarismo asiático
havia sido literalmente dissecada pelos estragos da guerra imperialista, dos
anos da Guerra Civil e do bloqueio imperialista. A crise dos alimentos foi
agravada pela crise dos combustíveis. Vastas seções da população enfrentavam a
perspectiva imediata de morrer de fome ou congelar até a morte. Com a indústria
em ruínas, o transporte interrompido, milhões de homens do exército ficaram
desmobilizados e as massas à beira da exaustão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Longe de se reconciliar
com a derrota, os Guardas Brancos e seus aliados imperialistas foram estimulados
a uma nova ofensiva diante das dificuldades objetivas que os bolcheviques
enfrentavam. Eles fizeram tentativa após tentativa de forçar uma brecha “de
dentro”, contando em grande parte com o apoio da reação pequeno-burguesa,
descontente com as dificuldades e privações que acompanham a revolução
proletária. [1] O episódio mais importante desta série de eventos aconteceu no
coração da fortaleza revolucionária. Na fortaleza naval de Kronstadt, um motim
explodiu em 2 de março de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Hoje em dia um Dan diz
tranquilamente: “Os habitantes de Kronstadt não começaram a insurreição. É um
mito calunioso.” [2] Mas em 1921, os SRs rastejaram para fora de suas peles
para atenuar a revolta e tudo o que ela implicava, enquanto os mencheviques
tentaram minimizá-la e explicá-la como algo em si realmente sem importância. Os
SRs juraram que “o caráter pacífico do movimento de Kronstadt estava acima de
qualquer dúvida”; se quaisquer medidas insurgentes fossem tomadas, eram apenas
“medidas de autodefesa”. Eis o que os mencheviques escreveram não no ano de
1937, mas em 1921, quando os eventos ainda estavam frescos:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O
fato de que a ruptura de Kronstadt com o poder soviético tenha assumido o
caráter de uma insurreição armada e terminado em uma tragédia sangrenta é de
importância secundária em si mesmo e, até certo ponto, acidental. Se o poder
soviético tivesse manifestado um pouco menos de dureza em relação à Kronstadt,
o conflito com os marinheiros teria se desdobrado de modo menos graves. Isso,
no entanto, em nada mudaria seu significado histórico ... Somente em 2 de
março, em resposta a repressões, ameaças e ordens para obedecer
incondicionalmente, a frota respondeu com uma resolução que não reconhecia o
poder dos soviéticos e, a partir daí, dois comissários foram presos.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
[3]<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando os mencheviques
apresentaram originalmente sua versão dos eventos de Kronstadt, eles não
negaram de forma alguma que os kronstadtinos iniciaram o motim. Certamente,
eles tentaram transmitir a impressão de que havia justificativa mais do que
suficiente para isso nas supostas “repressões, ameaças e comandos”. Mas pode se
notar que eles simultaneamente tentaram fugir do cerne da questão, quando
afirmaram o próprio levante como um fato de pouca importância, secundário e até
“acidental”. Por que essa contradição gritante? Eles mesmos fornecem a
resposta. É a sua confissão aberta de que esse motim se desenrolou com base em
objetivos e programas antissoviéticos. [4] Sendo a verdade evidente por si só,
não é de se surpreender que Berkman tenha se apressado em nos jurar que os
amotinados de Kronstadt eram realmente “aderentes convictos do sistema
soviético” e estavam “procurando seriamente encontrar, por meios amistosos e
pacíficos, uma solução dos problemas urgentes”. [5] Em qualquer caso, todos
esses fornecedores de “verdade” estão todos de acordo em uma coisa, a saber, que
esses “convictos” partidários do poder soviético procederam no mais amigável
espírito de paz quando decidiram pegar em armas – com base em uma resolução de
“não reconhecimento do poder soviético”. Mas eles fizeram isso, veja-se, “só no
dia 2 de março”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Só no dia 2 de março”!
Cada detalhe pertinente deve ser embelezado, caso contrário, a verdade pode não
ser assim tão palatável. Com esta formulação, os mencheviques, que apenas fazem
eco ao RS, pretendem evocar na mente do leitor, senão anos e meses, pelo menos
semanas de “provocação”, “ameaças”, “comandos”, “repressões”, etc., etc. Mas
estendendo sua cronologia ao bel prazer, esses historiadores, juntamente com
seus neófitos, não podem antecipar 2 de março, exceto por referência a eventos
“no final de fevereiro”. Sua história de Kronstadt remonta a (e não mais do
que) 22 de fevereiro – a partir de ocorrências não em Kronstadt, mas em
Petrogrado. Quanto à própria Kronstadt, eles só podem antecipar o 2 de março a
28 de fevereiro! Contando como bem entendem, eles têm à sua disposição três
dias e três resoluções. O 2 de março, com sua resolução de não reconhecimento
do poder soviético, é precedido apenas pelo 1º de março e sua resolução pelos
“soviéticos livremente eleitos”. O que aconteceu nesse intervalo de menos de 24
horas para causar essa oscilação de um suposto pólo para seu oposto diametral?
A única resposta que recebemos da boca dos adversários é a seguinte:
realizou-se uma conferência em Kronstadt. E o que aconteceu lá?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Cada “historiador” dá
seu próprio relato. Lawrence [6] gostaria que a conferência tivesse sido
convocada com o propósito de elaborar e aprovar uma resolução. Berkman insiste
que foi mais uma reunião “para se aconselhar com os representantes do governo”.
[7] Os SRs juram que era um órgão eleitoral, reunido com o propósito específico
de eleger um novo soviete, muito embora o mandato do soviete em exercício ainda
não tivesse sido expirado. [8] A se acreditar em Berkman (e Lawrence), os
habitantes de Kronstadt foram provocados a realizar o motim devido ao discurso
de Kuzmin. Nisso, são melhores que os SRs, que culpam Kuzmin e Vassiliev. [9]<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O relato mais completo
do discurso de Kuzmin pode ser encontrado no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt, ou seja, no órgão de testemunhas oculares e
principais participantes da conferência. Aqui está:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em
vez de acalmar a reunião, o camarada Kuzmin irritou-a. Falou da posição
equívoca de Kronstadt, das patrulhas, do poder dividido, do perigo ameaçador da
Polônia e do fato de que os olhos de toda a Europa estavam sobre nós;
assegurou-nos que tudo estava tranquilo em Petrogrado; ressaltou que ele,
Kuzmin, estava totalmente à mercê dos delegados que tinham o poder até de
matá-lo se assim o desejassem. Ele concluiu seu discurso com uma declaração de
que, se os delegados quisessem uma luta armada aberta, esta ocorreria – os
comunistas não renunciariam voluntariamente ao poder e lutariam até a última
trincheira.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> [10]<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Deixamos para os
futuros psicólogos decidir por que os SRs escolheram tratar o discurso de
Kuzmin de maneira diferente do de Berkman, e por que se abstiveram de recorrer
a aspas como Berkman e Lawrence fazem ao se referirem à declaração final de
Kuzmin. Não podemos aqui detalhar as gritantes discrepâncias nas várias
versões. Basta dizer que quanto mais aprendemos sobre o discurso de Kuzmin,
mais agudamente a questão se coloca: quem desempenhou o papel de um provocador
nesta reunião?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Um ponto especial são
todos os relatos de que Kuzmin insistiu sobre o fato de Petrogrado estar
tranquila (Berkman acrescenta – sob a autoridade de quem? – “e os trabalhadores
satisfeitos”). Por que isso deveria ter provocado alguém que não estava sendo
incitado à provocação? Kuzmin estava dizendo a verdade? Ou o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt mentiu quando em
seu primeiro número, no dia seguinte, trazia uma manchete sensacionalista, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Insurreição Geral em Petrogrado</i>? Além
disso, por que o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> continuou
mentindo sobre essa e outras supostas insurreições? Por que reimprimiu
despachos de Helsingfors para reforçar sua campanha de calúnia? Resumindo, veja
o discurso de Kuzmin ponto a ponto conforme relatado pelo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> – ou em qualquer um dos supostos resumos dele – sim, com
ou sem as aspas insidiosas de Berkman – e não diga se vocês eram “homens
simples”, “homens e não mulheres velhas”, etc., etc., mas se vocês fossem
delegados nesta reunião para “eleger um novo Soviete”, vocês teriam ficado e nomeado
um “Comitê Revolucionário Provisório”? Diga-nos, além disso, se vocês teriam
pegado em armas em um motim contra o Estado soviético? Se não, por que você
espalha esse lixo SR e procura confundir a vanguarda da classe trabalhadora em
relação ao que realmente aconteceu em Kronstadt – e especialmente esta reunião?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Um incidente muito mais
sinistro e elucidativo do que qualquer coisa que Kuzmin possa ou não ter dito
ocorreu nesta reunião, que todos os Berkmans desprezam de maneira muito
reveladora. A Conferência foi lançada em um frenesi não por qualquer coisa dita
por Kuzmin ou Vassiliev (ou Kalinin que não estava presente), mas por uma
declaração feita do plenário de que os bolcheviques estavam marchando de armas
em punho para atacar a reunião. Foi isso que precipitou a “eleição” de um
Comitê Revolucionário Provisório. Procuramos em vão nos escritos dos
historiadores “verdadeiros” qualquer esclarecimento quanto à origem desses
“rumores”. Mais do que isso, eles convenientemente “esquecem” (Berkman, entre
outros) de que o Comitê Revolucionário Provisório colocou oficialmente esse
boato na porta dos próprios bolcheviques. “Esse boato foi divulgado pelos
comunistas para dissolver a reunião.” (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>,
No. 11.) O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> admitiu ainda que
o “relatório” de que os bolcheviques estavam prestes a atacar a reunião com
“quinze carros carregados de soldados e comunistas, armados com fuzis e
metralhadoras” foi feito por “um delegado do Sebastopol”. Mesmo após a
supressão do motim, os SRs insistiram que, “segundo o testemunho de um dos
líderes autorizados do movimento de Kronstadt”, o boato sobre Dulkis e os
Kursanti era verdadeiro. Não apenas os rumores se espalharam durante a reunião,
mas o presidente concluiu com a mesma nota. A partir do relato do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt aprendemos que:
“No último momento, o camarada presidente fez um anúncio de que um destacamento
de 2.000 homens estava marchando para atacar a reunião, que se dispersou com
emoções misturadas de alarme, excitação e indignação...” ( Nº 9, 11 de março de
1921.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quem espalhou esses
rumores e por quê? Dizemos: Quem os fez circular foram aqueles mesmos que
espalharam as mentiras sobre a insurreição de Petrogrado; os mesmos que, no
início, levantaram a palavra de ordem pela Assembleia Constituinte e depois entoaram
a palavra de ordem “mais realista” de “Abaixo a Comuna Falida!” (resolução
adotada em Kronstadt, em 7 de março); os mesmos que acusavam o “poder
bolchevique de nos levar à fome, ao frio e ao caos”; aqueles que, disfarçados
de apartidários, estavam enganando as massas de Kronstadt; aqueles que
procuravam capitalizar as dificuldades do poder soviético e que encabeçavam o
movimento para guiá-lo pelos canais da contrarrevolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não há sombra de dúvida
de que os SRs foram os primeiros, senão os únicos, a impulsionar esta campanha
de “rumores”, que brotou tão infame fruto. Qualquer possibilidade de solução
pacífica da crise de Kronstadt foi eliminada, uma vez que um poder paralelo foi
estabelecido na fortaleza. O tempo era realmente urgente, como provaremos em
breve. Por mais que se especule sobre as chances de evitar derramamento de
sangue, o fato é que os líderes do motim levaram apenas 72 horas para levar
seus seguidores (tolos) a um conflito direto com os soviéticos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não é de forma alguma
excluído que as autoridades locais de Kronstadt tenham feito um erro ao lidar
com a situação. O fato de que os melhores revolucionários e combatentes fossem
urgentemente necessários para centros vitais tenderia a sustentar a afirmação
de que aqueles designados para um setor relativamente “seguro” como Kronstadt
não eram homens de qualificações notáveis. Não é segredo que Kalinin – muito
menos o comissário Kuzmin – não era muito estimado por Lenin e seus colegas. A
associação entre “erros” e indivíduos como Kalinin é realmente maravilhosa, mas
não pode servir como substituto para a análise política. Na medida em que as
autoridades locais estavam cegas para a extensão total do perigo ou não tomaram
as medidas adequadas e eficazes para enfrentar a crise; na medida em que seus
erros tiveram um papel no desenrolar dos acontecimentos, ou seja, facilitaram
para os contrarrevolucionários o trabalho de utilizar as dificuldades objetivas
para atingir seus fins.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como foi possível que
os líderes políticos transformassem Kronstadt tão rapidamente em um campo
armado contra a revolução de outubro? Qual era o objetivo dos amotinados? A
suposição de que os soldados e marinheiros se aventuraram em uma insurreição
apenas por causa da palavra de ordem “Sovietes Livres” é absurda em si mesma. É
duplamente absurdo em vista do fato de que o resto da guarnição de Kronstadt
consistia de pessoas retrogradas e pacatas que não podiam ser usadas na Guerra
Civil. Essas pessoas só poderiam ter sido levadas à insurreição por profundas
necessidades e interesses econômicos. Esses eram as necessidades e interesses
dos pais e irmãos desses marinheiros e soldados, ou seja, dos camponeses como
comerciantes de produtos alimentícios e matérias-primas. Em outras palavras,
por trás do motim havia uma reação de caráter pequeno-burguês contra as
dificuldades e privações impostas pelas condições da revolução proletária.
Ninguém pode negar esse caráter de classe dos dois campos. Todas as outras
questões são apenas de importância secundária. Que os bolcheviques tenham cometido
erros de caráter geral ou concreto, não pode alterar o fato de que defenderam
as aquisições da revolução proletária contra a reação burguesa (e
pequeno-burguesa). É por isso que todo crítico deve ser examinado do ponto de
vista de que lado da linha de fogo se encontra. Se ele fecha os olhos ao
conteúdo social e histórico do motim de Kronstadt, então ele próprio é um
elemento da reação pequeno-burguesa contra a revolução proletária. (É o caso de
Alexander Berkman, os mencheviques russos e assim por diante.) Um sindicato,
digamos, de trabalhadores agrícolas, pode cometer erros em uma greve contra os
agricultores. Podemos criticá-los, mas nossa crítica deve se basear em uma
solidariedade fundamental com o sindicato dos trabalhadores e em nossa oposição
aos exploradores dos trabalhadores, mesmo que esses exploradores sejam pequenos
agricultores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os bolcheviques nunca
afirmaram que sua política era infalível. Isso é um credo stalinista. Victor
Serge, em sua afirmação de que a NEP (isto é, uma concessão limitada a demandas
burguesas ilimitadas) foi introduzida tardiamente, apenas repete de forma
branda a crítica de um importante erro político que o próprio Lenin reconheceu
nitidamente na primavera de 1921. Nós estamos prontos para admitir tal erro.
Mas como isso poderia mudar nossa estimativa mais básica? Superando em muito a
especulação por parte de Serge ou de qualquer outra pessoa de que a rebelião
poderia ter sido evitada se os bolcheviques tivessem concedido a concessão da
NEP a Kronstadt, o motim em si e a declaração categórica do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt acerca da
exigência dos amotinados: “não ao livre comércio, mas, sim, a uma verdadeira
potência soviética” (nº 12, 14 de março de 1921).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O que esse “genuíno
poder soviético” poderia significar? Já ouvimos dos SRs e mencheviques suas
avaliações sobre a natureza do motim. Os SRs e os mencheviques sempre
sustentaram que seus objetivos eram idênticos aos dos bolcheviques, mas que
apenas pretendiam alcançá-los de uma maneira “diferente”. Conhecemos o conteúdo
de classe dessa “diferença”, Lenin e Trotsky sustentavam que a palavra de ordem
dos “Sovietes Livres” significava material e praticamente, tanto em princípio
quanto em essência, a abolição da ditadura do proletariado, instituída e
representada pelo partido bolchevique. Isso só pode ser negado por aqueles que
negam que, com todos os seus erros parciais, a política dos bolcheviques esteve
sempre a serviço da revolução proletária. Será que Serge vai negar? No entanto,
Serge se esquece do dever elementar de uma análise científica não é tomar
slogans abstratos de diferentes grupos, mas descobrir seu conteúdo social real.
[11] Neste caso, tal análise não apresenta grandes dificuldades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Ouçamos o porta-voz
mais autorizado da contrarrevolução russa sobre sua avaliação do programa de
Kronstadt. Em 11 de março de 1921, no calor da revolta, Miliukov escreveu:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Este
programa pode ser expresso no breve slogan: “Abaixo os bolcheviques! Viva os
soviéticos!”... "Viva os sovietes", na atualidade significa muito
provavelmente que o poder passará dos bolcheviques aos socialistas moderados,
que receberão a maioria nos sovietes... Temos muitas outras razões para não
protestar contra o slogan de Kronstadt... É evidente para nós que, deixando de
lado uma instalação forçada de poder da direita ou da esquerda, esta sanção [do
novo poder – JV] que é obviamente temporária, só pode ser efetuada através de
instituições do tipo dos soviéticos. Só assim a transferência pode ser efetuada
sem dor e ser reconhecida pelo país como um todo.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
[12]<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em uma edição
posterior, o órgão de Miliukov, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Poslednya
Novosti</i>, insiste que o poder bolchevique só poderia ser suplantado por meio
de soviéticos “libertados” dos bolcheviques. [13]<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em sua defesa do motim
de Kronstadt, os mencheviques, como partidários ferrenhos da restauração
capitalista, mantinham essencialmente o mesmo ponto de vista de Miliukov.
Juntamente com estes últimos, os mencheviques defenderam em Kronstadt um passo
para a restauração do capitalismo. [14] Nos anos que se seguiram, eles não
puderam deixar de favorecer o curso principal de Stalin (aconselhado por
Abramovich e outros em 1921) de “romper decididamente com todos os planos
aventureiros de espalhar a 'revolução mundial'”, e empreender, em vez disso, a
construção do socialismo em um país. Com uma reserva aqui e um queixume ali,
são hoje bastante a favor do evangelho do socialismo de Stalin em um só país.
Nisso, ao permanecerem fiéis à bandeira levantada pelo motim de Kronstadt, eles
apenas permanecem fiéis a si mesmos – como os arqui-suportes de todas as
tendências abertas ou veladas para a restauração capitalista na Rússia e a
estabilização capitalista no resto do mundo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A conexão entre a
contrarrevolução e Kronstadt pode ser estabelecida não apenas pela boca dos
adversários do bolchevismo, mas também com base em fatos irrefutáveis. No
início de fevereiro, quando não havia nenhum sinal de distúrbios em Petrogrado,
ou nas proximidades de Kronstadt, a imprensa capitalista no exterior publicou
despachos supostamente relacionados a sérios problemas em Kronstadt, dando
detalhes sobre uma revolta na frota e a prisão do comissário do Báltico. [15]
Esses despachos, embora falsos na época, se materializaram com incrível
precisão algumas semanas depois.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Referindo-se a esta
“coincidência”, Lenin em seu relatório ao X Congresso do Partido, em 8 de março
de 1921, disse o seguinte:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Testemunhamos
a passagem do poder dos bolcheviques para algum tipo de conglomerado indefinido
ou aliança de elementos heterogêneos, presumivelmente apenas um pouco à direita
e talvez até à “esquerda” dos bolcheviques – tão indefinida é a soma de grupos
políticos que tentaram tomar o poder em Kronstadt. Não há dúvida de que, ao
mesmo tempo, o General da Guarda Branca, como todos sabem, desempenhou um papel
importante nessas ações. Isso tem sido provado ao máximo. Duas semanas antes
dos acontecimentos de Kronstadt, a imprensa parisiense já trazia a notícia de uma
insurreição em Kronstadt</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">. (Works, Vol. XXVI, p. 214.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É um fato facilmente
estabelecido que quando esses despachos chegaram ao conhecimento de Trotsky,
antes de qualquer convulsão em Kronstadt, ele imediatamente se comunicou com o
comissário da frota do Báltico, alertando-o para tomar precauções, porque o
aparecimento de despachos semelhantes na imprensa burguesa referindo-se a
outras supostas revoltas foram logo seguido por tentativas contrarrevolucionárias
em regiões específicas. Escusado será dizer que todos os historiadores
“verdadeiros” preferem passar em silêncio a esta “coincidência”, juntamente com
o fato de que a imprensa capitalista aproveitou o motim para conduzir uma
“campanha histérica sem precedentes” (Lenin). [16] As notícias desta campanha
poderiam ser adicionadas a qualquer número, mas nenhuma lista estaria completa
sem as reportagens sobre o mesmo assunto que apareceram no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Primeira edição, 3 de
março: “INSSURREIÇÃO GERAL EM PETROGRADO”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">7
de março: Manchete “Notícias de última hora de Petrogrado” – “As prisões em
massa e execuções de trabalhadores e marinheiros continuam. Situação muito
tensa. Todas as massas trabalhadoras aguardam uma reviravolta a qualquer
momento.”<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">8
de março: "O jornal de Helsingfors Hufvudstadsbladet... imprime as
seguintes notícias de Petrogrado ... Os trabalhadores de Petrogrado estão em greve
e deixando as fábricas de modo ostensivo, multidões carregam bandeiras
vermelhas exigindo uma mudança de governo - a derrubada dos comunistas".
[17]<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">11
de março: “O governo em pânico”. “Nosso clamor foi ouvido. Marinheiros
revolucionários, homens do Exército Vermelho e trabalhadores em Petrogrado já
estão vindo em nosso auxílio... O poder bolchevique sente o chão escorregar sob
seus pés e, por isso, emitiu ordens em Petrogrado para abrir fogo contra
qualquer grupo de cinco ou mais ruas...”</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não é de se surpreender
que a imprensa da Guarda Branca no exterior tenha lançado uma intensa campanha
para arrecadar fundos, roupas, alimentos etc., sob o lema: “Por Kronstadt! ”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como explicar essa
série de fatos e evidências incontestáveis? Muito simplesmente: acusando os
bolcheviques de calúnia! Ninguém é mais descarado do que Berkman em negar a
conexão entre a contrarrevolução e o motim. Ele chega a declarar
categoricamente que o general czarista Kozlovsky “não desempenhou nenhum papel
nos eventos de Kronstadt”. As confissões dos próprios SRs e as declarações de
Kozlovsky em uma entrevista que ele deu à imprensa estabelecem, sem sombra de
dúvida, que Kozlovsky e seus oficiais se associaram abertamente desde o início
ao motim. O próprio Kozlovsky foi “eleito” para o “Conselho de Defesa”. Aqui
está como os mencheviques relataram a entrevista de Kozlovsky:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“No
primeiro dia da insurreição, o Conselho de Especialistas Militares havia
elaborado um plano para um ataque imediato a Oranienbaum, que tinha todas as
chances de sucesso na época, pois o governo foi pego de surpresa e não poderia
ter trazido tropas confiáveis a tempo... Os líderes políticos da insurreição
não concordaram em tomar a ofensiva e a oportunidade foi deixada escapar.” </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">[18]<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Se o plano falhou, foi
apenas porque Kozlovsky e seus colegas não conseguiram convencer os “líderes
políticos”, ou seja, seus aliados do SR, que o momento era propício para expor
seu verdadeiro rosto e programa. Os SRs acharam melhor preservar a máscara da
“defesa” e contemporizar. Quando Berkman escreveu seu panfleto, ele sabia
desses fatos. De fato, ele reproduziu a entrevista de Kozlovsky quase
literalmente em suas páginas, fazendo, como é de seu costume, algumas alterações
significativas e ocultando a fonte real do que parece ser sua própria
avaliação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não é por acaso que
Berkman e seus neófitos têm de plagiar todos os Kozlovskys, os SRs e os
mencheviques. A rejeição pelos anarquistas da análise marxista do Estado inevitavelmente
os leva a aceitar todas e quaisquer outras visões contrárias, incluindo até a
sua participação em um governo de um Estado burguês.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quanto tempo havia para
“negociar”? Os amotinados estavam no controle da fortaleza em 2 de março. Tanto
Kozlovsky quanto Berkman atestam que os bolcheviques foram “pegos de surpresa”.
Trotsky chegou a Leningrado apenas em 5 de março. O primeiro ataque contra
Kronstadt foi lançado em 8 de março. Os bolcheviques poderiam ter esperado
mais?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Muitos especialistas
militares sustentam a opinião de que o fracasso do motim foi em grande parte
devido ao fracasso do degelo da primavera. Se as águas tivessem começado a
fluir livremente entre Kronstadt e Leningrado, as tropas terrestres não
poderiam ter sido usadas pelo governo soviético, enquanto os reforços navais
poderiam ter sido enviados aos insurgentes já no controle de uma fortaleza
naval de primeira classe, com navios de guerra, artilharia pesada,
metralhadoras, etc., à sua disposição. O perigo desta operação não é um “mito”
nem uma “calúnia bolchevique”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nas
ruas de Kronstadt o gelo já estava derretendo</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">. Em 15 de
março, três dias antes da tomada da fortaleza em um assalto heroico em que
participaram 300 delegados do X Congresso do Partido. O nº 13 do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt publicava em sua
primeira página uma ordem para limpar as ruas “em vista do degelo”. Se os
bolcheviques tivessem contemporizado, teriam precipitado uma situação que custaria
um preço incomensuravelmente maior de vidas e sacrifícios, sem falar em colocar
em risco o próprio destino da revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando todos esses
historiadores citam os nomes da fortaleza e os nomes dos navios de guerra
Petropavlovsk e Sebastopol – os navios que em 1917 haviam sido o principal
apoio dos bolcheviques [19] – eles evitam cuidadosamente mencionar o fato de
que o pessoal da fortaleza, bem como dos navios de guerra, não poderia ter
permanecido inalterado ao longo dos anos entre 1917 e 1921. Enquanto a
fortaleza e os navios permaneceram quase intactos fisicamente, muita coisa
aconteceu com os marinheiros revolucionários no período da Guerra Civil, na
qual desempenharam um papel heroico em praticamente todas as frentes. É claro
que é impossível pintar um quadro no qual os marinheiros de Kronstadt tivessem
participado da revolução de outubro de 1917 apenas para permanecerem na
retaguarda na fortaleza e nos navios enquanto seus camaradas de armas lutavam
contra os Wrangels, Kolchaks, Denikins, Yudenitches, etc. .<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mas isso é, com efeito,
o que os oponentes do bolchevismo tentam insinuar com suas insistências nas
palavras “Kronstadt”, “marinheiros revolucionários” e assim por diante. O
truque é muito óbvio. A recente resposta de Trotsky a Wendelin Thomas, que fura
essa bolha, não poderia deixar de despertar sua ira. Com hipocrisia
desprezível, todos eles se levantam em falsa indignação contra o pretenso
insulto de Trotsky às “massas”. No entanto, ao responder a Thomas, Trotsky
apenas reformulou os fatos que apresentou em 1921: “Muitos dos marinheiros revolucionários,
que desempenharam um papel importante na revolução de outubro de 1917, foram
nesse ínterim transferidos para outras esferas de atividade. Eles foram
substituídos em grande parte por elementos fortuitos, entre os quais muitos
marinheiros letões, estonianos e finlandeses, cuja atitude para com seus
deveres era apenas a de manter um emprego temporário, sendo que a maioria não
participou da luta revolucionária”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não há espetáculo mais
revoltante do que o de pessoas que, como os anarquistas e mencheviques, foram
entre outras coisas coparceiros do stalinismo em seu frontismo popular, e que
carregam a responsabilidade pelo massacre da flor do proletariado espanhol,
apontando um dedo acusador para os líderes da revolução de outubro por terem
desbaratado um motim contra a revolução: Foi tudo culpa dos bolcheviques. Eles
provocaram os kronstadtinos, etc., etc.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Não há como negar que
os SRs e os mencheviques são especialistas, se não autoridades acabadas, em
provocação. Nada do que Kerensky e Cia fizeram provocou-os sequer para
justificar um levante das armas contra o Governo Provisório. Pelo contrário, os
mencheviques foram muito enfáticos em 1917 em suas demandas de que a
revolucionária Kronstadt – e os bolcheviques em geral – fosse “contida”. Quanto
aos SRs, eles não hesitaram em pegar em armas na luta contra outubro. O
bolchevismo sempre “provocou” esses senhores que invariavelmente se
posicionaram do outro lado das barricadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esses são os fatos
incontestáveis. Os marinheiros compunham a maior parte das forças insurgentes.
A guarnição e a população permaneceram passivas. Pego de surpresa pelo motim, o
comando do Exército Vermelho a princípio procurou contemporizar, esperando uma
mudança no humor dos insurgentes. O tempo estava pressionando. Quando se tornou
óbvio que não havia possibilidade de arrancar a massa cinzenta da liderança dos
SRs e seus capangas, Kronstadt foi tomada de assalto. Ao fazê-lo, os
bolcheviques apenas cumpriram o seu dever. Defendiam as conquistas da revolução
contra as tramas da contrarrevolução. Esse é o único veredicto que a história
pode e vai passar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Notas de rodapé<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">1. Em janeiro-março de
1921, ocorreu o motim de Tumensk na área de Tobolsk na Sibéria. Os insurgentes
somavam 20.000 homens. Em maio de 1921, destacamentos da Guarda Branca
auxiliados pelos japoneses desembarcaram em Vladivostok, que mantiveram por um
curto período de tempo. Após a assinatura do tratado de Riga (18 de março de
1921), bandos da Guarda Branca, alguns milhares, outros meros punhados,
invadiram a Ucrânia e outros pontos do território soviético. Outra série de
ataques seguiu em Karelia, iniciado em 23 de outubro de 1921, e liquidada
apenas em fevereiro de 1922. Ainda em outubro de 1922, o território soviético
estava pontilhado de bandos de guerrilheiros da contrarrevolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">2. Sotsialisticheski
Vestnik , 25 de agosto de 1937.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">3. Sotsialisticheski
Vestnik , 5 de abril de 1921. Nossa ênfase.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">4. Os SRs foram um
pouco menos precisos no lado político e obscuro do motim. Eles diziam: “As
organizações operárias exigiam uma mudança drástica de poder: algumas na forma
de sovietes livremente eleitos, outras na forma de convocação da Assembleia
Constituinte”. (A verdade sobre a Rússia , Volya Rossii , Praga 1921, p. 5). Ao
publicar este livro, os SRs no exterior fizeram apenas um reconhecimento tardio
de sua participação política no motim, embora seus porta-vozes na Rússia na
época se escondessem atrás de uma máscara de não-partidarismo. Este livro
serviu como a principal, se não a única, fonte utilizada por todos os críticos
passados e presentes do bolchevismo. Panfleto de Berkman A Rebelião de
Kronstadt (1922) é meramente uma reafirmação dos supostos fatos e interpretações
das RS com algumas alterações significativas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">5. A Rebelião de
Kronstadt , p. 12, destaque no original.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">6. Vanguarda ,
fevereiro-março de 1937.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">7. Local. Cit. , pp.
12–13.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">8. Local. Cit. , pág.
11.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">9. Victor Serge
acredita que foi tudo culpa de Kalinin. “O Comitê Central cometeu o enorme erro
de enviar Kalinin...” (La Révolution Prolétarienne , setembro de 1937).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">10. Izvestia da Prov.
Rev. Com. de Kronstadt , nº 11, 13 de março de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">11. Em seus comentários
recentes sobre Kronstadt, Victor Serge admite que os bolcheviques, uma vez
confrontados com o motim, não tiveram outro recurso senão esmagá-lo. Nisto ele
se demarca das muitas variedades de anarcomenchevismo. Mas a substância de sua
contribuição para a discussão é lamentar as experiências da história em vez de
procurar entendê-las como marxista. Serge insiste que teria sido “fácil” evitar
o motim – se o Comitê Central não tivesse enviado Kalinin para falar com os
marinheiros! Uma vez deflagrado o motim, teria sido “fácil” evitar o pior – se
ao menos Berkman tivesse falado com os marinheiros! Adotar tal abordagem aos eventos
de Kronstadt é assumir um ponto de vista superficial: “Ah, se a história
tivesse nos poupado Kronstadt!” Isso leva apenas ao ecletismo e à perda de
todas as perspectivas políticas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">12. Poslednya Novosti ,
11 de março de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">13. Idem. , 18 de março
de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">14. Nas teses
programáticas sobre a Rússia propostas pelo Comitê Central dos Mencheviques, em
1921, encontramos o seguinte: A República não pode deixar de estar em
consonância com as relações capitalistas prevalecentes nos países avançados da
Europa e da América...” ( Sots. Vestnik , 2 de dezembro de 1921.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">15. A Revolta da Frota
do Báltico Contra o Governo Soviético – um artigo assinado em l'Echo de Paris ,
14 de fevereiro de 1921. No mesmo dia, o Matin, outro jornal parisiense,
publicou um despacho sob o título: Moscou toma medidas contra os Insurgentes de
Kronstadt. A imprensa russa da Guarda Branca publicou despachos semelhantes. A
fonte especificada foi Helsingfors, de onde os despachos foram enviados em 11
de fevereiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">16. Em seu discurso de
encerramento em 16 de março, Lenin leu para o Congresso um relatório sobre a
campanha na imprensa. Aqui estão algumas manchetes nos jornais referidos por
Lenin:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Relatado o
Levantamento de Moscou. Combate de Petrogrado.” ( London Times , 2 de março de
1921)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“L'Agitation
Antibolchévique. Petrograd et Moscou Seraient aux Maine des Insurgés qui ont
Formé un Gouvernement Provisoire.” ( Matina , 7 de março)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Kronstadt gegen
Petrogrado, Sinowjew Verhaftet.” ( Berliner Tageblatt , 7 de março)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Les Marins Revoltés
Débarquent à Petrograd.” ( Matina , 8 de março)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Der Aufstand in
Russland.” ( Vossische Zeitung , 10 de março)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“Combate em Petrogrado.
Bajulações vermelhas silenciadas.” ( London Times , 9 de março)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">17. Os mencheviques na
Rússia não tinham imprensa própria e, portanto, só podiam participar
clandestinamente na campanha dos imperialistas no exterior e seus aliados SR em
Kronstadt. Aqui está um parágrafo de abertura em um de seus folhetos, datado de
8 de março de 1921, e publicado em nome do “Petersburg Committee of SDLPD”:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“A estrutura da
ditadura bolchevique está rachando e desmoronando. Revoltas camponesas na
Ucrânia, na Sibéria, no Sudoeste da Rússia... Greves e efervescência entre
trabalhadores em Petersburgo e Moscou... Os marinheiros em Kronstadt se
levantaram... Fome, frio, miséria e amargura sem precedentes predominam entre a
população arrendatária da Rússia ... Este é o quadro nada atraente da República
Soviética três anos após a tomada do poder pelos bolcheviques. A estrutura da
ditadura bolchevique está rachando e desmoronando...” ( Sots. Vestnik , 20 de
abril de 1921.)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">18. Sot. Vestnik , 5 de
abril de 1921. Nossa ênfase.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">19. Berkman, The Kronstadt
Rebellion , p. 8.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(Trad.: J.M.)</span></p><p></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-6284076194846029022022-04-01T13:25:00.001-07:002022-10-31T14:22:03.725-07:00O clamor por Kronstadt, por Leon Trotsky<p style="text-align: center;"> <span style="font-family: "Times New Roman", "serif"; font-size: 14pt; text-align: justify;">O
berreiro sobre Kronstadt [1]</span></p><p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgns5No61_es4l-xcEZfRBEEaGcGOY-gZo6KZ_B-eRlDHI6UJfK8HAfta2_bW2liNNPEMhPZbmppn5ZPsbCHxBdeIHxL-BuDrH3PGTgDYCQffJQmVCWaSKo9nI-4oQ8h1PhozanR1i9YRC4dNIJXN6ffW1iZ8ZP6F_B8uSR9y8OeKaeoeJY481rwVa2KQ/s284/TrotskyKronstadt.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="177" data-original-width="284" height="249" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgns5No61_es4l-xcEZfRBEEaGcGOY-gZo6KZ_B-eRlDHI6UJfK8HAfta2_bW2liNNPEMhPZbmppn5ZPsbCHxBdeIHxL-BuDrH3PGTgDYCQffJQmVCWaSKo9nI-4oQ8h1PhozanR1i9YRC4dNIJXN6ffW1iZ8ZP6F_B8uSR9y8OeKaeoeJY481rwVa2KQ/w400-h249/TrotskyKronstadt.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">por Leon
Trotsky<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/o-berreiro-sobre-kronstadt" rel="nofollow" target="_blank">Tradução de Marcelo Coelho - Revista Rosa</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Uma
“Frente Popular” de indignados<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A
campanha em torno de <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">Kronstadt</a> se desenvolve sem descanso em alguns círculos.
Um desavisado pensaria que a revolta de Kronstadt aconteceu agora mesmo, e não
dezessete anos atrás. Participando dessa campanha, com igual zelo e sob um
único slogan, encontram-se anarquistas, mencheviques russos, sociais-democratas
de esquerda do Burô Londrino, trapalhões individuais, o jornal de Miliukov, e,
conforme a ocasião, a grande imprensa capitalista. Uma “Frente Popular” sui
generis!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ontem
mesmo me deparei com as seguintes linhas, publicadas num semanário mexicano que
é ao mesmo tempo católico-reacionário e “democrático”: “Trotsky ordenou o fuzilamento
de 1500 (?) dos marinheiros de Kronstadt, os puros entre os puros. Sua
política, quando no poder, em nada diferia da atual política de Stálin”. Como
se sabe, os anarquistas de esquerda chegaram à mesma conclusão. Quando, pela
primeira vez na imprensa, respondi brevemente às questões de Wendelin Thomas,
membro da Comissão de Inquérito de Nova York, o jornal dos mencheviques russos
veio imediatamente em defesa dos marinheiros de Kronstadt e de… Wendelin
Thomas. O jornal de Miliukov perfilou-se no mesmo espírito. Os anarquistas me
atacaram com ainda maior vigor. Todas essas autoridades sustentam que aquela
minha resposta não tinha valor nenhum. Essa unanimidade é tanto mais notável
quanto se sabe que os anarquistas erigem Kronstadt como símbolo do genuíno
comunismo antiestatal; que os mencheviques, no momento do levante de Kronstadt,
apoiavam abertamente a restauração do capitalismo; e que Miliukov continua
apoiando até hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Como
é que o levante de Kronstadt pode causar tamanho deus-nos-acuda entre anarquistas,
mencheviques e contrarrevolucionários “liberais” ao mesmo tempo? A resposta é
simples: todos esses agrupamentos estão interessados em comprometer a única
corrente genuinamente revolucionária, que nunca repudiou suas bandeiras, que
nunca fez concessões a seus inimigos e que é a única a representar o futuro. É
devido a isso que entre os que tardiamente denunciam o meu “crime” de Kronstadt
há tantos ex-revolucionários ou semi-revolucionários, gente que perdeu seus
programas e princípios e que acha necessário distrair as atenções do estado de
degradação em que se encontra a Segunda Internacional ou da perfídia dos
anarquistas espanhóis. Por enquanto, os estalinistas não podem aliar-se
abertamente à campanha em torno de Kronstadt mas até mesmo eles, obviamente,
esfregam as mãos com prazer; pois os ataques se dirigem contra o “trotskismo”,
contra o marxismo revolucionário, contra a Quarta Internacional!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por que,
em particular, esta variegada fraternidade se ocupou precisamente de Kronstadt?
Durante os anos da Revolução nós entramos em confronto, não poucas vezes, com
os cossacos, com os camponeses, até com certas camadas do operariado (alguns
grupos de operários dos Urais organizaram um regimento de voluntários para
aderir ao exército de Kolchak!). O antagonismo entre os operários enquanto
consumidores e os camponeses enquanto produtores e vendedores de pão está, em
geral, na raiz desses conflitos. Pressionados pela necessidade e pela privação,
os próprios operários se viram ocasionalmente divididos em campos hostis,
conforme a força ou a fraqueza dos seus laços com a aldeia. O Exército
Vermelho também se encontrou sob a influência das áreas rurais. Durante os anos
da guerra civil foi necessário desarmar, mais de uma vez, regimentos
descontentes. A introdução da “Nova Política Econômica” (nep) atenuou essa
fricção, mas nem de longe a eliminou. Ao contrário, abriu caminho para o
renascimento dos kulaks [camponeses ricos] e levou, no começo desta década, ao
ressurgimento da guerra civil nas aldeias. O levante de Kronstadt foi
apenas um <i>episódio</i> na história das relações entre a cidade
proletária e a aldeia pequeno-burguesa. Só é possível entender esse
episódio em conexão com o curso geral do desenvolvimento da luta de classes
durante a Revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Kronstadt
diferiu da longa série de outros movimentos e levantes pequeno-burgueses apenas
devido a seu maior efeito externo. O problema, aqui, envolvia uma
fortaleza marítima submetida à própria Petrogrado. Ao longo do levante,
fizeram-se proclamações e transmissões de rádio. Os social-revolucionários
e os anarquistas, vindo às pressas de Petrogrado, enfeitaram o levante com
frases e gestos “nobres”. Tudo isso deixou rastros impressos. Com ajuda
desse material “documental” (isto é, rótulos mentirosos), não é difícil construir
uma lenda em torno de Kronstadt, ainda mais exaltada na medida em que desde
1917 o nome de Kronstadt estava envolto numa aura revolucionária. Não é à
toa que a revista mexicana citada acima chama ironicamente os marinheiros de
Kronstadt de “puros entre os puros”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A jogada
empregando a autoridade revolucionária de Kronstadt é um dos traços definidores
dessa campanha de verdadeira charlatanice. Anarquistas, mencheviques, liberais,
reacionários, todos tentam apresentar a questão como se no começo de 1921 os
bolcheviques tivessem voltado suas armas naqueles mesmos marinheiros de
Kronstadt que garantiram a vitória da insurreição de outubro. Este é o ponto de
partida para todas as falsidades posteriores. Quem quiser desmontar essas
mentiras deve, antes de tudo, ler o artigo do camarada J. G. Wright na <i>New
International</i> (fevereiro de 1938). Meu problema aqui é outro:
quero descrever o caráter do levante de Kronstadt a partir de um ponto de vista
mais geral.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 14.4pt; mso-outline-level: 1;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">Agrupamentos sociais e políticos em Kronstadt<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Uma revolução
é “feita” diretamente por uma minoria. O sucesso de uma revolução,
entretanto, só é possível quando essa minoria encontra maior ou menor apoio, ou
pelo menos uma neutralidade amigável, junto à maioria. O trânsito pelas
diversas fases da revolução, assim como a passagem da revolução para a
contrarrevolução, é diretamente determinado pelas mudanças nas relações
políticas entre a minoria e a maioria, entre a vanguarda e a classe.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Entre os
marinheiros de Kronstadt, encontravam-se três camadas políticas diferentes: os
revolucionários do proletariado, alguns treinados e com um passado consequente;
a maioria intermediária, de origem principalmente camponesa; e, finalmente, os
reacionários, filhos de kulaks, pequenos comerciantes e sacerdotes.
Nos tempos do czarismo, só era possível manter a ordem nos navios de
guerra e na fortaleza enquanto os oficiais, agindo através das secções
reacionárias dos suboficiais e dos marinheiros, submetessem a larga camada
intermediária à sua influência ou a seu terror, isolando desse modo os
revolucionários, principalmente maquinistas, atiradores e eletricistas, isto é,
predominantemente os trabalhadores urbanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O
desenrolar da insurreição no encouraçado Potemkin, em 1905, baseou-se
inteiramente nas relações entre essas três camadas, isto é, na luta entre os
extremos proletários e reacionários pequeno-burgueses pela influência sobre a
camada média, mais numerosa, dos camponeses. Quem não tiver entendido este
problema, que perpassa todo o movimento revolucionário na marinha, fará melhor
se silenciar sobre os problemas da revolução russa em seu todo. Pois esta
consistiu, e em grande medida ainda consiste, na luta entre o proletariado e a
burguesia pela influência sobre o campesinato. Durante o período soviético, a
burguesia se apresentou principalmente sob as cores dos kulaks (ou seja, o
estrato superior da pequena burguesia), da <i>intelligentsia</i> “socialista”,
e agora na forma da burocracia “comunista”. Este é o mecanismo básico da
revolução em todos os seus estágios. Na marinha ele assumiu uma expressão
mais centralizada e, portanto, mais dramática.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
composição política do soviete de Kronstadt refletia a composição da guarnição
e da tripulação. A liderança dos sovietes, desde o verão de 1917,
pertencia ao partido bolchevique, que se apoiava nas melhores partes dos
marinheiros e incluía em suas fileiras muitos revolucionários do movimento
clandestino que tinham sido libertados das prisões e campos de trabalho
forçado. Mas, pelo que me lembro, mesmo nos dias da insurreição de outubro, os
bolcheviques compunham menos do que a metade do soviete de Kronstadt.
A maioria era constituída de social-revolucionários e anarquistas.
Não havia menchevique nenhum em Kronstadt. O partido menchevique
detestava Kronstadt. O partido social-revolucionário oficial, diga-se de
passagem, não desfrutava de melhor opinião. Os social-revolucionários de
Kronstadt rapidamente entraram em oposição a Kerensky e formaram uma das
brigadas de choque dos assim chamados “social-revolucionários de esquerda”.
Apoiaram-se no setor camponês da marinha e da guarnição em terra. Quanto aos
anarquistas, eram o grupo mais heterogêneo. Entre eles havia revolucionários de
verdade, como Zhuk e Zheleznianov, mas estes eram os elementos mais
estreitamente ligados aos bolcheviques. A maioria dos “anarquistas” de
Kronstadt era representada pela pequeno-burguesia urbana e se encontrava num
nível revolucionário mais baixo que o dos social-revolucionários.
O presidente do soviete era apartidário, “simpático aos anarquistas”, e
essencialmente um pacato funcionário de baixo escalão que havia sido
subserviente às autoridades czaristas e agora era subserviente… à Revolução.
A total ausência de mencheviques, o caráter “esquerdista” dos
social-revolucionários e a coloração anarquista dos pequeno-burgueses se deviam
à agudeza da luta revolucionária na frota e à predominância dos setores
proletários dos marinheiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-top: 14.4pt; mso-outline-level: 1;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;">Mudanças durante os anos da guerra civil<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Esta
caracterização social e política de Kronstadt — que, se for preciso, poderia
ser confirmada e ilustrada por muitos fatos e documentos — já é suficiente para
desvendar as rebeliões que ocorreram em Kronstadt durante os anos da guerra
civil, e que tiveram como resultado sua transformação em algo irreconhecível.
Justamente sobre este importante aspecto da questão os acusadores tardios não
dizem uma palavra, em parte por ignorância, em parte por má-fé.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sim,
Kronstadt escreveu uma página heroica na história da Revolução. Mas a
guerra civil deu início a um sistemático esvaziamento numérico de Kronstadt e
toda a frota do Báltico. Tão logo se desencadeou a insurreição de outubro,
destacamentos de marinheiros de Kronstadt foram enviados para ajudar Moscou.
Outros destacamentos foram mandados para o Don, para a Ucrânia, para requisitar
pão e para organizar o poder local. De início parecia que Kronstadt era
inexaurível. Eu enviei dúzias de telegramas de diversas frentes, tratando
da mobilização de novos regimentos “confiáveis” de operários de Petrogrado e
dos marinheiros do Báltico. Mas, já em 1918, e em todo caso no mais tardar em
1919, as frentes começaram a reclamar que os novos contingentes de
“kronstadtianos” eram insatisfatórios, cheios de exigências, indisciplinados,
inconfiáveis no campo de batalha; mais prejudicavam do que ajudavam. Depois da
liquidação de Yudenich (no inverno de 1919), a frota do Báltico e a guarnição
de Kronstadt estavam destituídas de quaisquer forças revolucionárias. Todos os
elementos de lá que ainda fossem úteis foram destinados à luta contra Denikin
no sul. Se em 1917–18 o marinheiro de Kronstadt se situava
consideravelmente acima do soldado médio do Exército Vermelho e constituía o
arcabouço de seus primeiros destacamentos e do regime soviético em muitos
distritos, aqueles marinheiros que restaram na “pacífica” Kronstadt até o início
de 1921, e que não serviam para nenhuma das frentes da guerra civil,
situavam-se naquele momento num plano consideravelmente mais baixo, em geral,
do que a média do Exército Vermelho e incluíam grande porcentagem de elementos
completamente desmoralizados, ostentando vistosas calças boca-de-sino e cortes
de cabelo estilosos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
desmoralização causada pela fome e pela especulação tinha, de modo geral,
crescido muito no final da guerra civil. Os chamados “carregadores de
sacas” (pequenos especuladores) tinham-se tornado uma praga social, ameaçando
sufocar a Revolução. Precisamente em Kronstadt, onde a guarnição não fazia nada
e tinha tudo que precisasse, a desmoralização assumiu dimensões particularmente
grandes. Quando as condições se tornaram muito críticas com a fome em
Petrogrado, o burô político discutiu mais de uma vez a possibilidade de
conseguir um “empréstimo interno” junto a Kronstadt, onde ainda havia uma
quantidade de antigos mantimentos. Mas os delegados dos operários de
Petrogrado responderam: “vocês nunca conseguirão nada deles na base da
gentileza. Eles especulam com roupas, carvão e pão. No momento, todo tipo
de escória levanta a cabeça em Kronstadt.” Essa era a situação real. Nada tinha
das idealizações açucaradas que se construíram depois dos fatos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Deve-se
acrescentar ainda que os antigos marinheiros da Letônia e da Estônia, que
temiam ser mandados para o front e se preparavam para cruzar as fronteiras no
rumo de suas pátrias burguesas, tinham-se juntado à frota do Báltico como
“voluntários”. Esses elementos eram em sua essência hostis à autoridade
soviética e exibiam abertamente sua hostilidade nos dias do levante de
Kronstadt… Além disso, havia muitos milhares de trabalhadores letões,
principalmente antigos lavradores, que exibiram um heroísmo sem paralelos em
todas as frentes da guerra civil. Não devemos, portanto, tratar do mesmo
modo os trabalhadores letões e os “kronstadtianos”. É necessário
reconhecer as diferenças políticas e sociais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">As raízes sociais do
levante<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O problema, para um estudioso sério, consiste em definir, com
base nas circunstâncias objetivas, qual o caráter social e político do motim de
Kronstadt e qual seu lugar no desenvolvimento da revolução. Sem isto, a
“crítica” se reduz a uma lamúria sentimental de tipo pacifista, no estilo de
Alexander Berkman, Emma Goldmann e seus imitadores mais recentes. Esses gentis
comentadores não têm a menor noção dos critérios e métodos da pesquisa
científica. Citam as proclamações dos insurgentes como pregadores religiosos
citam a Sagrada Escritura. Queixam-se também de que eu não levo em consideração
os “documentos”, a saber, o evangelho de Makhno e dos outros apóstolos. Marx
disse que é impossível julgar pessoas ou partidos pelo que dizem de si mesmos.
As características de um partido são determinadas muito mais por sua
composição social, seu passado, sua relação com as diferentes classes e setores
sociais, do que por suas declarações verbais e escritas, especialmente num
período de guerra civil. Se, por exemplo, tomarmos como ouro puro as
declarações de Negrin, Companys, Garcia Oliver e companhia, consideraríamos
esses cavalheiros como ardorosos amigos do socialismo. Mas na realidade
são seus pérfidos inimigos.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em 1917–18 os operários revolucionários lideraram as massas
camponesas, não apenas na Marinha mas no país inteiro. Os camponeses
tomaram e dividiram as terras, na maior parte das vezes, sob a liderança dos
soldados e marinheiros que voltavam às suas regiões de origem. Requisições de
pão tinham mal começado e se dirigiam principalmente aos donos de terra e aos
kulaks. Os camponeses aceitaram as requisições como um mal temporário.
Mas a guerra civil arrastou-se por três anos. A cidade não dava
praticamente nada para o campo e dele tomava quase tudo, fundamentalmente
devido às necessidades da guerra. Os camponeses apoiavam os
“bolcheviques”, mas se tornaram gradualmente hostis aos “comunistas”. Se,
anteriormente, os operários haviam conduzido os camponeses para a frente, agora
os camponeses puxavam os operários para trás. Foi apenas em função dessa
mudança de atitude que os Brancos atraíram parte dos camponeses, e mesmo dos
que eram meio camponeses, meio operários, na região dos Urais. Essa atitude
hostil à cidade alimentou o movimento de Makhno, que tomou e loteou os trens
destinados às fábricas, às instalações e ao Exército Vermelho; além de destruir
os trilhos, fuzilar comunistas etc. Evidentemente, Makhno chamou isso de luta
anarquista contra “o Estado”. Na realidade, tratava-se da luta furiosa do
proprietário pequeno-burguês contra a ditadura do proletariado.
Um movimento semelhante surgiu em diversas outras regiões, especialmente
em Tambovsky, sob a bandeira dos “social-revolucionários”. Finalmente, em
outras partes do país ativaram-se os chamados destacamentos “verdes” dos
camponeses. Não reconheciam nem os vermelhos nem os brancos, e evitavam
contato com os partidos da cidade. Em algumas ocasiões, os “verdes” se
defrontaram com os brancos e receberam severos golpes, mas não encontraram,
obviamente, nenhuma compaixão por parte dos vermelhos. Assim como a pequena
burguesia fica espremida entre as rodas de moinho do capital e do proletariado,
também os destacamentos de milícias camponesas foram pulverizados entre o
Exército Vermelho e os brancos.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Só mesmo uma pessoa totalmente superficial poderia ver nos
bandos de Makhno ou na revolta de Kronstadt uma revolta entre os princípios
abstratos do anarquismo e do “socialismo de Estado”. Na verdade, esses
movimentos foram convulsões da pequena burguesia que desejava, obviamente,
liberar-se do capital, mas não consentia em subordinar-se à ditadura do
proletariado. A pequena burguesia não sabe concretamente o que quer, e, em
virtude de sua posição, não consegue saber. Esta é a razão por que revestia tão
rapidamente a confusão de suas demandas e esperanças, ora com a capa do
anarquismo, ora com a do populismo, e ora simplesmente com a dos “verdes”.
Contrapondo-se ao proletariado, tentou, com todos esses revestimentos, mover
para trás a roda da revolução.<o:p></o:p></span></p>
<h1 style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 14.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O caráter
contrarrevolucionário do motim de Kronstadt<o:p></o:p></span></h1>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Não existiam, claro, divisões estanques entre as diferentes
camadas sociais e políticas de Kronstadt. Ainda existia em Kronstadt um certo
número de trabalhadores qualificados e de técnicos cuidando da maquinaria.
Mas até mesmo eles foram identificados, por um método de seleção negativa,
como politicamente inconfiáveis e pouco úteis para a guerra civil. Alguns
“líderes” do levante tinham essa origem. Essa circunstância, completamente
natural e inevitável, é ressaltada em triunfo pelos acusadores, mas não muda
uma vírgula do caráter antiproletário da revolta. A menos que nos deixemos
enganar por slogans pretensiosos, falsos rótulos etc., o que se vê é que o
levante de Kronstadt nada mais foi do que uma reação armada da pequena burguesia
contra as asperezas da revolução social e a severidade da ditadura do
proletariado.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Este era exatamente o significado do slogan de Kronstadt,
“sovietes sem comunistas”, de que imediatamente se apropriaram, não apenas
os srs, mas também os burgueses liberais. Como um representante do capital
razoavelmente perceptivo, o professor Miliukov entendeu que liberar os sovietes
da liderança bolchevique significaria, em pouco tempo, desmontar os próprios
sovietes. A experiência dos sovietes russos no período do domínio
menchevique e sr, e, de forma ainda mais clara, a experiência dos sovietes
alemães e austríacos sob os social-democratas, provou isso. Sovietes
social-revolucionários e anarquistas só poderiam servir como pontes levando da
ditadura do proletariado à restauração capitalista. Não poderiam ter
nenhum outro papel, fossem quais fossem as “ideias” de seus membros.
O levante de Kronstadt teve, portanto, um caráter contrarrevolucionário.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Do ponto de vista de classe, que permanece — sem ofensa aos
respeitáveis ecléticos — o critério básico não apenas da política, mas também
da história, é extremamente importante contrastar o comportamento de Kronstadt
com o de Petrogrado naqueles dias. Toda a liderança operária tinha também sido
removida de Petrogrado. Fome e frio reinavam na capital deserta, talvez mais
ferozmente do que em Moscou. Um período trágico e heroico! Todos estavam
famintos e irritáveis. Todos estavam insatisfeitos. Nas fábricas havia um
descontentamento surdo. Militantes clandestinos enviados pelos srs e pelos
oficiais brancos tentavam associar o levante militar com o movimento dos
operários descontentes.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O jornal de Kronstadt descrevia barricadas em Petrogrado, com
milhares de pessoas sendo mortas. A imprensa do mundo inteiro anunciava o
mesmo. Na verdade, ocorria exatamente o contrário. O levante de
Kronstadt não atraiu os operários de Petrogrado. Afastou-os.
A estratificação se deu conforme tendências de classe. Os operários
perceberam imediatamente que os amotinados de Kronstadt estavam no lado oposto
das barricadas — e apoiaram o poder soviético. O isolamento político de
Kronstadt foi a causa de suas hesitações internas e de sua derrota militar.<o:p></o:p></span></p>
<h1 style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 14.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A nep e
o levante de Kronstadt<o:p></o:p></span></h1>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Victor Serge — que, pelo que consta, está tentando fabricar
uma espécie de síntese entre anarquismo, poumismo e marxismo, fez uma
intervenção muito infeliz na polêmica sobre Kronstadt. Na sua opinião, se
a nep fosse introduzida um ano antes a insurreição poderia ter sido
evitada. Mas conselhos desse tipo são fáceis de dar depois que tudo
aconteceu. É verdade, como lembra Victor Serge, que eu havia proposto a
transição para a nep já em 1920. Mas eu não estava de modo
nenhum seguro de seu sucesso com antecedência. Não era nenhum segredo para
mim que o remédio poderia se tornar mais perigoso do que a própria doença.
Quando encontrei opositores entre os líderes do partido, não apelei para as
fileiras, pois não queria mobilizar a pequena burguesia contra os
trabalhadores. A experiência dos doze meses seguintes foi necessária para
convencer o partido da necessidade de um novo rumo. Mas o notável é que
precisamente os anarquistas do mundo inteiro encararam a nep como…
uma traição ao comunismo. E agora os defensores dos anarquistas nos acusam
por não ter introduzido a nep um ano mais cedo.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Em 1921, Lênin reconheceu, mais de uma vez, que a defesa
obstinada dos métodos do comunismo de guerra pelo partido havia se tornado um
grande equívoco. Mas o que isso muda? Quaisquer que tenham sido as causas
imediatas ou remotas da insurreição de Kronstadt, aquilo consistia, pela sua
própria essência, num perigo mortal para a ditadura do proletariado. Deveria a
revolução proletária cometer suicídio, para punir-se de um equívoco político?<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Ou será que teria sido suficiente apenas informar os
marinheiros de Kronstadt a respeito dos decretos da nep, achando que isso
iria apaziguá-los? Ilusão! Os insurgentes não tinham um programa claro e não
podiam tê-lo, dada a própria natureza da pequena burguesia. Eles mesmos não
entendiam claramente que seus pais e irmãos precisavam, acima de tudo, do livre
comércio. Estavam descontentes e confusos, mas não sabiam para onde ir.
Os mais conscientes, ou seja, os setores direitistas, atuavam nos
bastidores em favor da restauração do regime burguês. Mas não diziam isso
às claras. A ala “esquerda” queria o fim da disciplina, “sovietes livres”
e rações melhores. Só gradualmente o sistema da nep poderia
apaziguar os camponeses e, depois deles, os setores descontentes do exército e
da marinha. Mas, para isso, era preciso mais tempo e experiência.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">O argumento mais infantil de todos é o de que nunca houve
insurreição, que os marinheiros não tinham feito nenhuma ameaça, e tinham
“apenas” ocupado a fortaleza e os navios de guerra. É como se os
bolcheviques simplesmente tivessem marchado sem hesitação através do gelo
devido à maldade de seu caráter, de sua tendência para provocar conflitos
artificialmente, de seu ódio aos marinheiros de Kronstadt, ou de seu ódio às
doutrinas anarquistas (com as quais ninguém, diga-se de passagem, se preocupava
minimamente naqueles dias). Como não ver que isso é tagarelice de crianças?
Flutuando fora do tempo e do espaço, os críticos amadores tentam sugerir
(dezessete anos depois!) que tudo teria terminado em contentamento geral se a
Revolução simplesmente tivesse deixado quietos os marinheiros insurgentes.
Infelizmente, a contrarrevolução mundial não os teria deixado quietos.
A lógica do conflito teria conferido predomínio aos extremistas da fortaleza,
isto é, aos elementos mais contrarrevolucionários. A necessidade de
suprimentos teria colocado a fortaleza em dependência direta da burguesia
estrangeira e de seus agentes, os emigrados brancos. Já tinham sido feitos
todos os preparativos para isso. Em tais circunstâncias somente pessoas
como os anarquistas espanhóis e os poumistas teriam esperado passivamente,
esperando um final feliz. Os bolcheviques, felizmente, pertenciam a outra
escola. Consideraram seu dever extinguir o incêndio assim que ele começou,
reduzindo a um mínimo, assim, o número de vítimas.<o:p></o:p></span></p>
<h1 style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 14.4pt;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Os
“kronstadtianos” sem fortaleza<o:p></o:p></span></h1>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Essencialmente, os veneráveis críticos se opõem à ditadura do
proletariado e, com isso, são adversários da Revolução. Nisto está a chave do
segredo. É verdade que alguns deles reconhecem a revolução e a ditadura —
verbalmente. Mas isto não ajuda as coisas. Querem uma revolução que não
leve a uma ditadura ou uma ditadura que se mantenha sem o uso da força.
Por certo, seria uma revolução muito agradável. Seriam necessárias,
entretanto, algumas coisinhas: um desenvolvimento igual, e, além disso,
extremamente alto, das classes trabalhadoras. Mas nessas condições uma
ditadura seria em geral desnecessária. Alguns anarquistas, que na verdade são
pedagogos liberais, esperam que em cem ou mil anos os trabalhadores terão
atingido tal nível de desenvolvimento que não se verificará necessidade de
coerção. Naturalmente, se o sistema capitalista pudesse conduzir a tal
desenvolvimento, não haveria razão para derrubá-lo. Não seria preciso nem
uma revolução violenta nem uma ditadura, como consequência inevitável da
vitória revolucionária. Entretanto, o capitalismo declinante de nossos dias dá
pouca margem para ilusões humanitário-pacifistas.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">A classe operária, para não mencionar as massas
semiproletárias, não é homogênea nem social nem politicamente. A luta de
classes produz uma vanguarda que absorve os melhores elementos da classe.
Mas isto não significa que desapareçam todas as contradições internas
entre os trabalhadores. Quando a revolução está no seu auge, essas contradições
obviamente se atenuam, mas apenas para reaparecer mais tarde em toda sua
agudeza. Este é o trajeto da revolução como um todo. Este foi o trajeto de
Kronstadt. Quando simpatizantes de salão tentam traçar um caminho diferente
para a Revolução de Outubro, depois de tudo já ter acontecido, só podemos
respeitosamente pedir que nos mostrem exatamente onde e como seus grandes
princípios se confirmaram na prática, ao menos parcialmente, ao menos como uma
tendência… Onde estão os sinais que nos levam a esperar um triunfo desses
princípios no futuro? Evidentemente, nunca obtemos resposta.<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Uma revolução segue suas próprias leis. Há bastante
tempo formulamos essas “lições de outubro”, que não têm apenas um significado
para a Rússia, mas para todo o âmbito internacional. Nunca alguém tentou
sugerir outras “lições” além daquelas. A revolução espanhola é a
confirmação negativa das “lições de outubro”. E nossos severos críticos
silenciam ou se mostram ambíguos. O governo da “frente popular” espanhola
sufoca a revolução socialista e fuzila revolucionários. Os anarquistas
participam desse governo, ou, quando são expulsos dele, continuam apoiando os
fuziladores. E seus aliados e defensores estrangeiros se ocupam, enquanto
isso, com uma defesa… do motim de Kronstadt contra os duros bolcheviques.
Uma mascarada vergonhosa!<o:p></o:p></span></p>
<p style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">As atuais discussões em torno de Kronstadt giram em torno do
mesmo eixo de classe que foi o da própria insurreição, na qual os setores
reacionários dos marinheiros tentaram derrubar a ditadura do proletariado.
Cônscios de sua impotência na arena da política revolucionária dos dias atuais,
os trapalhões pequeno-burgueses e ecléticos tentam usar o velho episódio de
Kronstadt na luta contra a Quarta Internacional, ou seja, contra o partido da
revolução proletária. Esses “kronstadtianos” de última hora serão também
esmagados — verdade que sem o uso das armas, já que, para sorte deles, não
possuem nenhuma fortaleza.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" style="line-height: 150%; margin-bottom: 10.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: right;"><i><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">— 15 de janeiro de 1938<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Nota<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Publicado originalmente
em New International, vol. 4, nº 4, abril de 1938, pp. 103–106.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/o-berreiro-sobre-kronstadt" rel="nofollow" target="_blank">Publicado no 3º númerodo volume 4 da Revista Rosa em 20/12/2021.</a><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><a href="https://revistarosa.com/4/o-berreiro-sobre-kronstadt" rel="nofollow" target="_blank">Revista Rosa,S.Paulo/SP, Brasil, https://revistarosa.com, issn 2764-1333.</a></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-36707054923379752492022-03-02T16:08:00.003-08:002022-03-29T19:01:40.435-07:00Kropotkin e o jacobinismo com consciência de classe<p class="MsoNormal" style="text-align: left;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh3cej7SlmYEKKCfZ39v2D0jtAZGc6CsutDmjtopuAirElz-gE9DxYf758PvUkLMpk3ykg4PTd8btp2Dqg-hHQBlgqXzbButtYrU8lHWHa-KT6vRm8anuoDInCIDrmQtavHNjE_Hzo9yG1mB4LeQlza8jK9n-9UtVAipB-_I5yc0EwGXDkgjeSLyr3twQ=s317" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Kronstadt - rebelião" border="0" data-original-height="159" data-original-width="317" height="321" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh3cej7SlmYEKKCfZ39v2D0jtAZGc6CsutDmjtopuAirElz-gE9DxYf758PvUkLMpk3ykg4PTd8btp2Dqg-hHQBlgqXzbButtYrU8lHWHa-KT6vRm8anuoDInCIDrmQtavHNjE_Hzo9yG1mB4LeQlza8jK9n-9UtVAipB-_I5yc0EwGXDkgjeSLyr3twQ=w640-h321" title="Piotr Kropotkin" width="640" /></a></div><p></p><p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">“O jacobino ligado
indissoluvelmente à organização do proletariado que tem consciência dos seus
interesses de classe, é justamente o socialdemocrata revolucionário” (Lênin)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dando
continuidade ao tema da Terceira Revolução de Kronstadt, publicaremos alguns
extratos da obra </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A Conquista do Pão<i>, de Kropotkin, publicada pela primeira vez em 1888, e que parece
prever os acontecimentos que se dariam quase 30 anos depois durante o governo bolchevique
(corrente da Partido Operário Social-Democrata Russo – POSDR):<o:p></o:p></i></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O caráter predominante
e distintivo do sistema capitalista atual é o salariato. (...)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Pois bem, o maior
serviço que a próxima Revolução poderá prestar à humanidade, será criar uma
situação na qual todo sistema de salariato se torne impossível e inaplicável,
fazendo que se imponha, como única situação aceitável, o Comunismo, isto é, a negação
do salariato.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Porque, admitindo que a
modificação corretiva seja possível, se for gradualmente feita durante um
período de prosperidade e dê tranquilidade (o que duvidemos muito, mesmo com
estas facilidades) - tornasse a impossível no período revolucionário, porque a
necessidade de alimentar milhões de seres surgirá logo ao primeiro conflito
armado. Pode fazer uma revolução política sem perturbar a indústria; mas uma
revolução que permita ao povo lançar mão da propriedade será inevitavelmente
uma suspensão súbita do comércio e da produção. Os milhões do Estado não
chegariam para pagar a milhões de desocupados.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não nos cansaremos de
insistir sobre este ponto; organização da indústria sobre novas bases (em breve
explicaremos a imensidade desse problema) em alguns dias, e o proletário não
poderá sacrificar anos de miséria ao serviço dos teóricos do salariato. Para
atravessar o período de dificuldades, recomendará o que sempre tem reclamado em
conjunturas idênticas; os gêneros em comum, isto é, o rastreamento ou a ação
proporcional.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em vão pregará paciência;
o povo já não poderá conter-se mais, e se não se fizerem todos os gêneros em
comum, os estabelecimentos serão saqueados.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas se o ímpeto do povo
não for suficientemente forte, fuzilam-no. Para que o coletivismo possa
estabelecer-se, é indispensável antes de tudo <i>ordem</i>, disciplina e obediência. E como os capitalistas reconhecerão
desde logo que mandar fuzilar o povo por aqueles que se chamam revolucionários
é o melhor meio de o desgostar da revolução, certamente que hão de apoiar os
defensores da "ordem" e os próprios coletivistas, até vendo no caso
um meio de os poderes mais tarde esmagar por sua vez<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Se a "ordem for
estabelecida" deste modo, as consequências são fáceis de prever. Não se
limitarão a fuzilar os "gatunos"; será necessário procurar os
"autores da desordem", restabelecer os tribunais e a guilhotina,
levando ao cadafalso os revolucionários mais ardentes. Será uma repetição de
1793.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não esquecemos ainda
como a reação triunfou no século passado. Começaram a guilhotinar em primeiro
lugar os hebretistas, os intransigentes - aqueles a quem Mignet, com a memória
fresca das lutas, chamava ainda os " anarquistas". Não tardaram a
segui-los os dantonianos; e depois dos robespierristas terem guilhotinado estes
revolucionários, chegou a vez de subirem ao patíbulo. Desgostoso com isto e
vendo a revolução perdida, o povo deixou manobrar os reacionários.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Se a "ordem for
estabelecida", diremos nós, os coletivistas guilhotinaram os anarquistas;
os possibilistas guilhotinaram os coletivistas, e aqueles, por seu turno, serão
guilhotinados pelos reacionários. E terá que recomeçar-se novamente a
revolução.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas, tudo leva a crer
que o impulso do povo <i>será</i>
suficientemente forte e que quando a revolução se fizer terá já ganho bastante
terreno a ideia do Comunismo anarquista. Não é uma ideia inventada, é o próprio
povo que no-la insufla, e o número dos comunistas aumentará à medida que se
tornar mais evidente a impossibilidade de qualquer outra solução.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Se o impulso, pois, for
bastante forte, as coisas tomarão outro rumo. Em vez de saquear algumas
padarias garantido apenas o pão de um dia, o povo das cidades insurrecionadas
apoder-se-á dos celeiros de trigo, dos armazéns de comestíveis, - em suma, de
todos os gêneros disponíveis. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Cidadão e cidadãs, com
a maior boa vontade, tratarão logo de inventariar o que for encontrado em cada
armazém e em cada celeiro. Em 24 horas a comuna revoltada saberá o que Paris
ainda hoje não sabe apesar das suas comissões de estatística, e o que nunca
soube durante o cerco - que provisões encerram. Em 48 horas ter-se-ão espalhado
milhares de exemplares de mapas exatos indicando todos os gêneros existentes,
lugares onde se acham depositados e meios de distribuição.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em cada quarteirão de
prédios, em cada rua e bairro, organizar-se-ão grupos de voluntários - os
Voluntários das Subsistências - que procederam com acerto no desempenho das
suas atribuições. Não venho as baionetas jacobinas interpor-se; não venham os
teóricos cientistas de meia-tigela embrulhar as coisas; desde que não tenham
mais o direito de mandar, e com este admirável espírito de organização
espontânea que o povo, - sobretudo a nação francesa em todas as classes
sociais, - possui num grau tão elevado e que tão raramente lhe permitem exercer,
surgirá então, mesmo numa cidade tão vasta como é Paris e ainda em plena
efervescência revolucionária, um imenso serviço livremente constituído para
fornecer a cada um as subsistência indispensáveis.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Que o povo tenha
liberta as mãos, e em oito dias o serviço dos víveres executar-se-á com
admirável regularidade. Só duvidará disto quem, tendo levado toda a sua vida
com o nariz na papelada, não observou nunca o povo na febre do trabalho. Falai
do espírito organizador desse grande Anônimo que é o Povo, àqueles que o
observam em Paris nos dias das barricadas, ou em Londres por ocasião da última
greve que tinha de dar de comer a meio milhão de esfaimados, e eles vos dirão
quanto povo é superior aos burocratas que se empoleiram nas secretarias!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Além disso, embora se
tivesse de suportar durante 15 dias ou um mês certa desordem parcial e
relativa, pouco importava isso. Para as massas esse estado seria sempre melhor
que o existente; e depois, em Revolução, janta-se rindo, ou melhor, discutindo,
qualquer bocado de pão duro com salsicha, de cara alegre e coração ao alto! Em
todo caso, o quê espontaneamente surgisse sob a pressão das necessidades
imediatas, seria infinitamente preferível a tudo o que se pudesse inventar
entre quatro paredes, no meio de alfarrábios ou nas secretarias governamentais.<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">*****<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Voltemos, porém, à
nossa cidade revoltada, e vejamos em que condições ela poderá manter-se. (...)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Para os autoritários a
questão não oferece dificuldades. Começariam por introduzir um governo
fortemente centralizado com todos os órgãos de repressão, polícia, exército,
guilhotina, etc.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Este governo mandaria
que se fizesse a estatística de tudo o que se colhe em França; dividiria o país
num certo número de distritos de alimentação e ordenaria que tal gênero numa
quantidade fosse transportado de um determinado lugar em dia para uma estação
qualquer e recebida por um funcionário, a fim de ser armazenada num depósito
tal, e assim sucessivamente.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Pois bem, afirmamos,
plenamente convencidos, que uma solução semelhante não havia de satisfazer como
não poderia nunca ser posta em prática.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não passa portanto de
uma utopia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Pode imaginar-se, com a
pena na mão, um tal estado de coisas; mas na prática a questão torna-se
materialmente impossível; era não contar com o espírito de independência da
humanidade.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Seria uma insurreição
geral; três ou quatro guerras em lugar de uma só; a guerra das aldeias contra
as cidades; a França inteira erguida contra a cidade que ousasse implantar este
regime.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Basta de utopias
jacobinas! Vejamos se será possível uma organização mais satisfatória. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 1793 o campo
esfomeou as grandes cidades e matou a Revolução. Está provado, porém, que a
produção cerealífera da França não diminui em 1792-1793, sendo até de supor que
tivesse aumentado. Mas, depois de se terem apoderado uma boa parte das terras
senhoriais levando colheitas delas, os burgueses do campo não quiseram vender o
trigo contra promessa de pagamento. Notas! guardando-o à espera da alta dos
preços ou da moeda de ouro. Nem as mais rigorosas medidas dos convencionais
para forçar os açambarcadores a venderem o trigo, nem tampouco as execuções,
nada disto remediou o mal impedindo a greve.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">E sabe-se contudo que
os comissários da Convenção não tinham escrúpulos em guilhotinar os
açambarcadores, nem o povo em pendurados nos candeeiros; o trigo, porém,
continuava nos celeiros e o povo nas cidades sofria de fome.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas, o que é que se
oferecia aos cultivadores dos Campos em troca dos seus rudes trabalhos?<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">- Notas! Farrapo de
papel, cujo valor baixava de dia para dia; notas marcando 500 libras em
caracteres impressos, mas sem valor real. Por uma nota de mil libras não podia
comprar um par de botas, e o camponês - compreende-se - não lhe convinha de
modo algum trocar um ano de trabalho por um bocado de papel com que não poderia
sequer comprar uma blusa.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As coisas passar-se-ão
sempre assim. Enquanto se oferecer ao cultivador do solo um pedaço de papel sem
valor, - embora se chame nota ou "cupão de trabalho", - o resultado
será o mesmo. Os produtos da terra ficarão nos campos e a cidade não os
possuirá, embora tenha de recorrer à guilhotina. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O que é necessário
oferecer ao camponês não é papel, mas a mercadoria que as suas necessidades lhe
pedem.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">É a máquina de que é
forçado agora a privar-se; é o candeeiro e o petróleo que lhe substitua o
pavio; é a pá, é a enxada, é a charrua. É finalmente, tudo aquilo de que o camponês
hoje se priva - não porque ele não sinta necessidade, - mas porque na sua
existência de privações e de labor extenuante, os milhares de objetos úteis
ficaram lhes inacessíveis por causa do preço.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Aplique-se a cidade em
produzir todas estas coisas que faltam aos campos, em vez de perder o tempo que
o trabalho em futilidades para adorno dos burgueses.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Execute as máquinas de
costura de Paris vestimenta de trabalho e de resguardo para os camponeses, em
vez de luxuosos enxovais de noivado; fabrique a oficina máquinas agrícolas, pás
e enxadas, em vez de esperar que os ingleses as remetam em troca de vinho!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Que cada cidade envie
para as aldeias, não comissários cingidos de bandas vermelhas ou multicolores
notificando ao camponês o decreto de levar os gêneros para tal sítio, mais que
o faça visitar por amigos e irmãos que digam aos camponeses: "Tragam-nos
as vossas colheitas e levem dos nossos armazéns todas as coisas manufaturadas
que vos agradarem". Verão então os gêneros afluírem de todos os lados.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O camponês guardará o
que lhe for preciso para viver, enviando o que produzir aos trabalhadores da
cidade, nos quais, <i>pela primeira</i> <i>vez no decorrer da história</i> - verá
irmãos e não exploradores.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dir-nos-ão talvez que
isto reclama uma transformação completa da indústria. Certamente, para
determinados ramos. Há, porém, milhares de indústrias que se poderão modificar
rapidamente o vestuário, o relógio, a mobília, os utensílios e as máquinas
simples que neste momento a cidade lhes faz pagar tão caro. Tecelões,
alfaiates, fabricantes de calçado, quinquilheiros, marceneiros e tantos outros
não encontrarão dificuldade alguma em abandonar a produção do luxo pelo
trabalho de utilidade. É preciso, pois, que nos compenetremos bem da
necessidade desta transformação, que a consideremos como um ato de justiça e de
progresso e não nos deixemos iludir.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Toda a questão está
nisto, segundo o nosso modo de pensar. Oferecer ao agricultor em troca dos seus
produtos, não pedaços de papel, qualquer que seja a inscrição, mas os <i>próprios objetos</i> de consumo necessários
para o cultivador. Se isto se fizer, as mercadorias para o cultivador. Se isto
se fizer, as mercadorias hão de afluir às cidades. Se assim não se proceder a
fome invadirá os grandes centros e com ela todas as suas consequências, a
reação e a opressão.<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">*****<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nesta
passagem, ao que tudo indica, o Comunismo de Guerra não rompeu com a política
agrária do regime czarista. Vejamos:<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Na Rússia, por exemplo,
o camponês chega a trabalhar 16 horas por dia e jejua durante uns poucos de
meses para poder exportar o trigo com o produto do qual paga ao patrão e ao
Estado. Atualmente, assim que a colheita termina, o fisco apresenta-se nas
aldeias russas e vende o único cavalo do agricultor, para os impostos atrasados
e rendas dos senhorios, quando o camponês não age espontaneamente vendendo os
produtos da terra aos exportadores; de modo que guarda apenas o trigo
suficiente para nove meses e vende o resto, a fim de não deixar ir a vaca por
uns míseros quinze franco. Para poder viver até à colheita seguinte, o
lavrador, durante três meses se a colheita foi boa ou seis se o ano foi mau,
mistura casca de álamo branco e sementes várias à farinha que lhe resta, ao
passo que em Londres vão saboreando em biscoitos o trigo que lhe extorquiram.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">(KROPOTKIN, Piotr. <i>A conquista do pão</i>. (Tradução: Manuel
Ribeiro) - Guimarães Editores: Lisboa, 1975).<o:p></o:p></span></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">*****<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Diante
dos últimos acontecimentos, é nos impossível mantermos indiferentes e por isso
publicamos a seguinte nota de repúdio:<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Após um ano do
centenário de Kronstadt, a Rússia se vê novamente envolvida num entrevero
militar, desta vez em resposta ao avanço imperialista do Ocidente, porém,
escalado atualmente num contexto de outra ordem. O fato em questão é mais um
caso, dentre muitos, que explicita a <i>verdadeira
natureza</i> do regime “democrático liberal”, que é caracterizado
verdadeiramente por uma <i>essência</i>
profundamente tirânica. Aliás, o próprio conceito de “democracia” é uma fraude
completa, já que se baseia num processo eleitoral viciado em que o povo é
convidado a escolher uma fração de uma mesma oligarquia que desde sempre detém
do controle político e econômico. Através desse processo ilusório e
fraudulento, o povo escravizado é definitivamente excluído de toda e qualquer
participação política, muito embora apareça formalmente como um protagonista <i>in abstracto</i>. Contradição insolúvel!
Portanto, o conceito crítico mais correto para chegar a um conteúdo real e
designar precisamente este sistema seria o de <i>pseudodemocracia</i> ou <i>alienação
política por falsa representação</i>. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Historicamente, os
limites da pseudodemocracia encerram-se em si mesmos, negando-se, em razão de
sua condição contraditória, e dando ensejo à revelação de sua real e brutal
natureza desmistificada: <i>o nazismo</i>. O
que significa dizer não a caricatura do nazismo mas a sua <i>essência</i> propriamente dita. A história está repleta de exemplos que
desmascaram a farsa das ditas “democracias”. Vejamos alguns: ao mesmo tempo em
que se aplicavam sansões à Alemanha do entreguerras, os países pseudodemocráticos
enchiam os cofres nazistas de toneladas de ouro no intuito de fomentar uma
guerra soviético-germânica; ao calarem-se cinicamente diante das incursões
nazistas pela Espanha, as pseudodemocracias demonstravam uma clara cumplicidade
com os regimes totalitários de direita e apoiaram efetivamente o golpe de
Estado perpetrado pelas hordas fascistas do general Franco; ao protegeram e
darem guarida a refugiados nazistas por todas as Américas durante vários anos, recrutando-os
nos mais diversos setores da sociedade sem nunca os condenar... Os exemplos são
incontáveis. E, agora, o complô macabro das pseudodemocracias em defesa incondicional
da maior caricatura nazista do início do século XXI, engendrada
institucionalmente na Ucrânia, a serviço do clube da OTAN.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Juntar-se às denuncias
da ocupação da Rússia à Ucrânia é fácil e desnecessário, a mídia ocidental
inteira já tem feito o serviço, inclusive, explorando o drama humano, como
nunca antes - sim, parece que finalmente o jornalismo descobriu que numa guerra
as pessoas sofrem -, e extrapolando as falácias que a própria ideologia pseudodemocrática
criou. Racismo, censura, mentiras, parcialidade, maniqueísmo, desonestidade intelectual, trapaças e concessões antiéticas
têm marcado a cobertura midiática da guerra. Exemplo lapidar é a manchete do
site The Intercept Brasil de 25/02/2022: FACEBOOK PERMITIRÁ ELOGIOS A
PARAMILITARES NEONAZISTAS DA UCRÂNIA – DESDE QUE ELES LUTEM CONTRA A RÚSSIA. É
uma pena que comumente a imprensa até agora não tenha sido tão engajada na
defesa do mais fraco e da população civil ante a agressão do mais forte. Os
exemplos abundam: Síria, Líbia, Iêmen, Paquistão, Afeganistão, Iraque...
Hiroshima, Nagasaki... A lista é grande!<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Seja como for, não
nos esquecemos, uma guerra é sempre deplorável e é o povo - e é sempre o povo,
que não é ucraniano nem russo nem brasileiro nem angolano nem israelense nem
palestino ou qualquer outra ficção do tipo, mas seres humanos simplesmente - sim,
o povo, é quem paga muito caro, inclusive com a vida, a cobiça irrefreável dos
senhores da guerra, seguros e encastelados confortavelmente no seu trono de
ouro, o Estado.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">(N.E.)</span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-10263883190044883162021-12-21T14:21:00.021-08:002022-11-01T15:11:41.491-07:00Centenário da Rebelião de Kronstadt<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEga3jlh_nMzmbdUTUg6Ghp9QxHa7kNu80ai7igCDCX-6JpTCHM2GtRNKnv7AAc7aHaoxICk9Mr3NLk2F253a2GWGt6Rl70ZrTpk2SUjsqJGYUbO9lteSUObwkmbs-4FdMoyMoyNDQqbNfMWt_riDYUDxcqvZBB1aGrllr2APOnkoBBPwEh3B4zIHKB4KQ=s424" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Rebelião de Kronstadt" border="0" data-original-height="251" data-original-width="424" height="189" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEga3jlh_nMzmbdUTUg6Ghp9QxHa7kNu80ai7igCDCX-6JpTCHM2GtRNKnv7AAc7aHaoxICk9Mr3NLk2F253a2GWGt6Rl70ZrTpk2SUjsqJGYUbO9lteSUObwkmbs-4FdMoyMoyNDQqbNfMWt_riDYUDxcqvZBB1aGrllr2APOnkoBBPwEh3B4zIHKB4KQ=w320-h189" title="Monumento de Kronstadt" width="320" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em memória do <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Centenário da Rebelião de Kronstadt</b>,
durante todo este ano de 2021, publicamos textos relacionados com o tema que
podem ser encontrados no índice do blog (na lateral direita) através do tópico <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">A Terceira Revolução</b>. Para fechar as
homenagens ao movimento insurgente dos marinheiros da Frota do Báltico, esbocei
na introdução alguns pormenores históricos, geográficos e linguísticos; em
seguida, transcrevi uma discussão entre historiadores, militantes e estudiosos da
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Revolução Russa</b>; por último, tracei um
breve esboço sobre o qual lanço uma interpretação analítica em relação àquilo
que me parece o verdadeiro significado do dito socialismo real. Espero com isso
contribuir de algum modo para o debate sobre a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Rebelião de Kronstadt</b>, que, cem anos depois, ainda provoca
controvérsias e discussões acaloradas prós e contras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Agradeço muito
fortemente a tod@s que chegaram até aqui.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><a href="https://proporock.blogspot.com/2019/02/fecaloma-30-anos-de-punk-rock-entrevista.html" rel="nofollow" target="_blank">JeanFecaloma</a><o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">I
- Introdução: Kronstadt<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt está
localizada na ilha de Kotlin, no Golfo da Finlândia, Mar Báltico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os primeiros registros
da ilha de Kotlin datam de contratos comerciais entre a Liga Hanseática e a
República de Novgorod, no século XIII, e desta cidade com o reino da Suécia, no
que concernia a demarcação de fronteiras estabelecidas por um acordo de paz
firmado no século XIV. Com a queda de Constantinopla (1453), o Mar Báltico se
torna a principal rota da Europa com o Oriente, antes da circum-navegação da
África pelos portugueses e a conquista do Atlântico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A partir do século
XVII, a Suécia emerge como a maior potência da Europa setentrional, dando
início a uma fase expansionista que transformou o Báltico em um “lago sueco” e
se estendeu por toda a região continental do entorno. Diante do avanço do
Império da Suécia, a Rússia foi obrigada a ceder extensas áreas territoriais (inclusive
Novgorod), perdendo assim sua única via de acesso aos mares da Europa. Em
fevereiro de 1617, por meio do Tratado de Stolbovo, a ilha de Kotlin passou
oficialmente ao domínio sueco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No início do século
XVII, tem início a Grande Guerra do Norte (1700-21), fruto da aliança da União
do Norte, formada por uma coalizão de países liderados pela Rússia envolvendo a
Noruega, a Dinamarca, a Saxônia e a Polônia contra o Império Sueco. Visando
abrir uma passagem para o mar, a Rússia lança um ataque em direção ao Báltico
e, após uma serie de ofensivas e contraofensivas, em 1702, ocupa as margens
orientais do Golfo da Finlândia e conquista definitivamente a Livônia, a
Ingria, a Estônia e a Carélia. Na foz pantanosa do rio Neva, o czar Pedro I
decide edificar a nova capital russa, em maio de 1703, com a fundação de São
Petersburgo, planejada para ser a “janela da Rússia para o Ocidente”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Percebendo a posição
estratégica da ilha de Kotlin, localizada a 31 quilômetros a oeste da futura
capital, a uns 12 km da costa continental adjacente norte e uns 8 km da costa
sul, constituindo uma espécie de escudo natural da única abertura de acesso ao
coração do território russo por mar e via fluvial, o czar ordena a construção
de um conjunto de fortes no sul da ilha, entre os anos de 1703-1704. Em
cerimônia de inauguração a fortaleza recebe o nome de Kronshlot. Construída em
tempo recorde, o esquadrão sueco é tomado de surpresa e sai derrotado. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A partir de 1706, o
complexo naval é ampliado, tornando-se posteriormente a sede do almirantado
russo e base da Frota Russa do Báltico. Em 1710, cerca de 80 casas destinadas à
moradia militar são construídas no local. Em janeiro de 1712, o governo baixa
um decreto determinando o assentamento de três mil famílias russas na
despovoada ilha. Terminada a guerra, a cidadela recebe seu nome definitivo e oficial,
em 18 de outubro de 1723: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 1891, a frota
francesa é recebida triunfantemente em Kronstadt, sinalizando o primeiro passo
para a futura Aliança Franco-Russa. Todavia, os marinheiros sempre foram
afeitos à indisciplina e um histórico de motins e insubordinação caracterizou
de modo indelével a base naval de Kronstadt, tendo por destaque a conspiração
dos irmãos Bestuzhev, durante o movimento Dezembrista, os levantes de 1905 e
1906, a Comuna de Kronstadt de 1917 e a revolta dos marinheiros no ano de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Do
nome Kronstadt<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Para o czar Pedro I,
conhecido pelos russos como O Reformador, a modernização da Rússia estava
estritamente associada a um projeto de ocidentalização do país, até então
extremamente atrasado. Obcecado por tornar a Rússia uma grande potência e, para
tanto, dispor de uma poderosa esquadra nacional, até então inexistente, o czar
organizou a célebre “Grande Embaixada”, e partiu em excursão pelos países mais
adiantados da Europa Ocidental. O seu objetivo era verificar o desenvolvimento
técnico e cultural das maiores potências mundiais e depois importar o modelo
para a Rússia. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A comitiva passou longa
estadia nos Países-Baixos, onde o czar, disfarçado de operário nos estaleiros
de Amsterdam, espionou os métodos de construção naval que deveriam ser
reproduzidos na Rússia. Daí que muitos termos náuticos da marinha russa derivam
ainda hoje de nomes de origem holandesa, como, por exemplo, foi o caso de Kronshlot,
ou seja, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kroon slot</i> (“Castelo da
Coroa”). Já Kronstadt vem do alemão <i style="mso-bidi-font-style: normal;">krone
stadt</i> e significa “Cidade da Coroa” ou “Cidade Real”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Esta questão
linguística não é de menor importância na Rússia se lembrarmos de que durante o
século XIX a língua falada pela aristocracia russa era o francês. É bastante conhecido
o fato de que na célebre “ida ao campo” os jovens <i style="mso-bidi-font-style: normal;">narodniki</i> não eram fluentes em russo e suas maneiras aristocráticas
e ocidentalmente afetadas causaram mais desconfiança do que simpatia entre os
camponeses. No início da Primeira Guerra Mundial, ao entrar em guerra contra a
Alemanha, o governo russo, para atender o sentimento ufanista do clamor popular,
trocou o nome germânico da ex-capital, São Petesburgo, pelo eslavo Petrogrado. No
regime comunista, a partir de 1924, a cidade seria novamente renomeada, desta
vez, Leningrado, em homenagem ao líder bolchevique Vladimir Lênin. Com a queda
da URSS, em 1991, um plebiscito devolvia o antigo nome para a cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Curiosamente, uma
cidade na Romênia, Brașov, também é denominada Kronstadt, devido à sua fundação
por Cavaleiros Teutônicos e colonos alemães no século XII. Em 2021, cem anos
depois da rebelião dos marinheiros, o nome Kronstadt não deixa de ser uma
infeliz coincidência, já que o radical da palavra remonta ao latim <i style="mso-bidi-font-style: normal;">corona</i> e ao grego antigo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">korone </i>(compare as palavras derivadas:
port. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">coroa</i>; ital. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">cruna</i>; ingl. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">crown</i>; franc. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">couronne</i>;
greg. mod. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">koróna</i>; finl. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kruunu</i>; russ. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">koróna</i> etc.).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quanto
à pronúncia<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Кронштадт
</span></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">/ˈkřʌnʃtat/
/ˈkřɑnʃtat/ /ˈkřɐ͂:ʃtat/ ou /ˈkřã:ʃtat/ (tentativas de transcrição fonética). A
transliteração pode ser tanto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt</i>
como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronshtadt</i>. Os russos pronunciam
do seguinte modo: [crrrânX-TÁt]. O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">k</i>
tem som de “k”, como em “<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">c</b>rânio”; o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">r</i> tem som de “r forte vibrante”, tal
como é pronunciado em algumas regiões do sul do Brasil (ou o rrr do Galvão
Bueno); o primeiro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a</i> é nasal, átono e
alongado (como em “tr<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a</b>nstorno”); o
segundo é aberto, oral, tônico e curto (como em “cant<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">a</b>da”); o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">s</i> tem som de “x”
(<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">ch</b>á) arrastado, tal como os
portugueses e cariocas pronunciam; o primeiro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">t</i> tem som de “t”, como em cons<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">t</b>ar;
o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">d</i> é mudo, não é pronunciado; e o
último <i style="mso-bidi-font-style: normal;">t</i> marca o fim da sílaba e quase
não se pronúncia, como no inglês <i style="mso-bidi-font-style: normal;">that</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">II
- Autogestão em Kronstadt, em 1917<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Konstantin
Tarasov, pesquisador associado ao Instituto de História de São Petersburgo.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Apesar de pequena,
Kronstadt era uma cidade importante, porque era a base naval do Império Russo e
onde aconteceram os eventos mais cruciais de 1917. Habitavam a ilha 50.000
pessoas, dos quais 30.000 eram soldados e marinheiros e 20 mil trabalhadores. Com
o advento da Revolução de 1917, os marinheiros vermelhos se rebelaram e executaram
cerca de 25 a 50 oficiais, dentre aqueles tidos por eles como os mais
autoritários, e prenderam outros 500. No mês de março, trabalhadores e
marinheiros organizaram o Soviete de Kronstadt, baseado na autogestão e democracia
direta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em toda a marinha
russa, não havia lugar mais rigoroso e degradante para a dignidade humana do
que em Kronstadt. Por exemplo: era famosa a frase escrita na porta principal do
almirantado: “Cachorros não são permitidos. Proibida a entrada de soldados
rasos”. Reconhecida pela disciplina severa, o símbolo da Frota do Báltico era o
almirante R. N. Viren, que fazia jus a fama. Os marinheiros o odiavam e ele foi
uma das primeiras vítimas do levante de fevereiro. O almirante foi executado na
Praça da Âncora, próximo à Catedral Naval, juntamente com os outros oficiais
mais abominados. Todavia, não houve muitas baixas nos confrontos de rua que se
seguiram pela cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No calor dos
acontecimentos, uma assembleia reuniu milhares de pessoas na Praça da Âncora.
Todos queriam falar ao mesmo tempo, pois nunca tiveram, como agora, a
oportunidade de se manifestar. Oradores desse encontro acabaram se tornando as
pessoas mais influentes de Kronstadt e mesmo de toda a Rússia. Destacaram-se S.
G. Roshal (bolchevique), que era um orador cauteloso, porque mais ou menos
popular; A. M. Brushwit, um socialista revolucionário (SR), que procurava imitar
um camponês; E. Z. Yarchuk (anarcossindicalista) e I. S. Bleikhman
(anarcocomunista), ambos muito conhecidos e muito radicais. Dos dois, Bleikhman
era ainda mais extremista e bastante divertido para explicar seus métodos
revolucionários, o que o tornava ainda mais popular.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O levante de fevereiro instituiu
um regime de auto-organização em Kronstadt logo nos primeiros dias. Foram
criados comitês que elegeram seus representantes, muito embora a maioria deles
não tivesse participação direta na revolução. Assim, surgiram as primeiras
instituições autogestionárias organizadas através de encontros entre delegados
eleitos nas fábricas e pelos militares.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Somente no dia 3 março,
o governo provisório decidiu enviar um comissário, V. N. Papelyaev, a
Kronstadt. O governo provisório queria pôr fim nos eventos sangrentos de fevereiro
e constituir um novo poder na cidade. Porém, Papelyaev perdeu toda a sua
autoridade logo nas primeiras semanas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O comissário tentara
organizar um comitê executivo coligado com os dois sovietes de Kronstadt,
formado por militares e trabalhadores, respectivamente, e o “grupo da cidade”,
que era um órgão representativo dos cidadãos locais. Depois de algumas semanas,
Papelyaev retornou a Petrogrado a fim de reportar ao governo provisório e ao
Soviete de Petrogrado o que estava acontecendo na cidade de Kronstadt. Então,
durante esta semana, os dois sovietes não reconheceram o comando do comissário
e reorganizaram um novo Soviete de Kronstadt, que se recusou a associar-se com o
“grupo da cidade”, o qual, acreditavam, era constituído por elementos da
burguesia. De fato, o “grupo da cidade” possuía conexões estreitas com a Duma
recém-eleita em Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As principais
lideranças do Soviete de Kronstadt foram os bolcheviques F. Raskolnikov e A. M.
Lyubovich e o militante sem partido, A. M. Lamanov, que em breve se uniria ao
partido dos maximalistas e que também tomaria parte da rebelião em 1921. Entre
os principais partidos do primeiro soviete figuravam os bolcheviques; os
socialistas revolucionários (SR), de cariz camponês, como eles próprios se
definiam; os mencheviques; os anarquistas; e os maximalistas, sem partido.
Estes últimos se constituíam como uma organização importante que só se tornou
um partido no outono de 1917, quando fundaram o Partido Socialista
Revolucionário Maximalista. Antes disso, organizavam-se como um movimento independente
no soviete, muito embora os blocos mais importantes fossem constituídos pelos
bolcheviques e o SR de esquerda, que desempenharam um importante papel durante
1917.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em suma, nas primeiras
semanas da revolução, Kronstadt não se associou ao governo provisório e se
organizou através da autogestão baseada em eleições de regimentos e comitês de
navios, que elegiam seus comandantes. O soviete articulou a formação de milícias
responsáveis pela a segurança da cidade durante períodos de pogroms ou saques e
de um poder encarregado de instaurar uma investigação sobre o papel dos 500 oficiais
presos em fevereiro, apesar dos muitos esforços do governo provisório para soltá-los.
Uma comissão de controle também foi eleita para exercer uma das funções mais
importantes do soviete, a saber, o controle total das fábricas da cidade. Ademais,
um jornal chamado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestiia</i> foi
fundado por Anatolii Lamanov. Segundo as memórias do comissário do governo provisório,
“em maio de 1917, os ideais de Bakunin foram plenamente realizados na cidade de
Kronstadt”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“República de
Kronstadt”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Como vimos, havia uma tensão
entre o governo e o Soviete de Kronstadt, levando o comissário, Papelyaev, a
perder todo o controle logo nas primeiras semanas da revolução. No mês de maio,
valendo-se de uma resolução que determinava a nomeação do líder da cidade
militar, o comissário queria escolher uma pessoa de sua confiança para a
função. Porém, foi impedido pelo soviete, que alegou não ser esta competência
sua, pois, segundo a resolução, o soviete era a única autoridade em Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Então, os jornais de
Petrogrado fizeram um grande escândalo, sob a alegação de que Kronstadt
organizava sua própria República e que se preparava para se separar de toda a
Rússia. Claro que isso não era verdade. Mas a notícia se espalhou chamando a
atenção de todos. Muitos camponeses, soldados e marinheiros foram até Kronstadt
para ver com seus próprios olhos como a suposta república era governada pelo
seu próprio soviete.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em Petrogrado, o
governo provisório solicitou a mediação de alguns socialistas na questão de Kronstadt,
que chegaram à cidade e deram início às negociações com o soviete. Depois disso,
a situação foi se agravando e ficando cada vez mais descontrolada, o que levou
o Soviete de Kronstadt a aderir às “Jornadas de Julho”, empunhando a bandeira
de “todo o poder aos sovietes”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os marinheiros entraram
em confrontos nas lutas de ruas durante três dias (3, 4 e 5 de julho), mas
Kronstadt terminou o mês derrotada, sem que isso significasse uma derrota moral
ou ideológica. Então, os marinheiros se uniram novamente ao antigoverno e, durante
uma segunda crise, o soviete elegeu seus comitês e angariou ainda mais poder do
que antes. Em setembro, a Duma tentou se aproximar do Soviete de Kronstadt, que
se recuou terminantemente a fazer qualquer tipo de concessão. Depois, Kronstadt
participou ativamente da Revolução de Outubro, tendo tomado parte, inclusive, da
invasão do Palácio de Inverno.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">III
- Kronstadt, a Terceira Revolução, 1921<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nick
Heath, militante do Anarchist Communist Group (ACG).<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quais são as lições que
podemos aprender de Kronstadt?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt marca o fim
de uma série de revoltas camponesas e greves de trabalhadores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Examinaremos as
circunstâncias que levaram à revolta e a ideia de Terceira Revolução, destinada
a realizar os verdadeiros objetivos revolucionários das massas laboriosas
russas. Veremos as implicações do que realmente aconteceu e como a verdade
sobre Kronstadt precisa ser revelada ante os perigos do vanguardismo leninista,
que ainda hoje tem um efeito tão prejudicial em nossas lutas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os marinheiros da base
naval de Kronstadt</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">eram
um bastião revolucionário (1905) e estiveram na vanguarda da Revolução Russa</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">de 1917</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Formaram um dos
primeiros sovietes no verão daquele ano, tiveram participação ativa nos eventos
de outubro, tomando parte na invasão do Palácio de Inverno, e colaboraram
efetivamente na defesa de Petrogrado contra o avanço branco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No entanto, em 1921, o
povo estava desiludido com o governo bolchevique, com o comunismo de guerra, a
falta de liberdade de expressão, as prisões da Tcheka (a polícia política
bolchevique) e a requisição brutal de grãos nas regiões camponesas do país. Diante
disso, deflagrou-se no ano de 1918 um movimento grevista pelos grandes centros
urbanos do país, no qual</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">
</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">os
trabalhadores reivindicavam por melhores suprimentos de alimentos. Em 1919,
estoura a greve geral em Petrogrado e greves similares ocorrem também em
Moscou. A greve se espalha pelos Urais. Em fevereiro de 1921, greves eclodem
novamente em Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 1º. de março, os
marinheiros de Kronstadt, em solidariedade ao movimento grevista, realizam
reuniões em massa (15.000 pessoas) e exigem do governo a realização da seguinte
pauta: eleições imediatas por voto secreto para o sovietes; liberdade de
expressão e de imprensa para todos os partidos, grupos de esquerda e
anarquistas; liberdade de reunião para sindicatos e organizações camponesas;
abolição das agências políticas no exército e na marinha; retirada imediata de
todos os esquadrões de requisição de grãos e dos</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"> </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">bloqueios de estrada; e o restabelecimento
de um mercado livre para os camponeses (Resolução do Petropavlosk). Paralelamente,
os marinheiros começam a publicar o jornal <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestiia</i>
de Kronstradt.</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em resposta, os
bolcheviques denunciaram os rebeldes como agentes brancos e de fazerem parte de
um complô contrarrevolucionário. Surpresos, os marinheiros transmitem a
seguinte mensagem de rádio: “Camaradas operários, marinheiros e soldados vermelhos.
Defendemos o poder dos sovietes e não dos partidos. Defendemos a livre
representação de todos os trabalhadores. Camaradas, vocês estão sendo
enganados. Em Kronstadt, o poder está nas mãos dos marinheiros revolucionários,
dos soldados vermelhos e dos trabalhadores. Não está nas mãos dos Guardas
Brancos, supostamente chefiados por um general Kozlovsky, como afirma a rádio
de Moscou”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Depois de negociações
infrutíferas, Trotsky, o comandante do Exército Vermelho, um exército de base
popular e voluntária, foi designado para intervir na situação. Trotsky, que
defendia a abolição dos comitês de soldados e das eleições de oficiais, a profissionalização
das forças armadas, o retorno das punições e dos castigos corporais e o
fuzilamento por deserção, sendo também o responsável pela inclusão de antigos
oficiais czaristas nos postos de comando sob a condição de “especialistas
militares”, ordenou o ataque à fortaleza.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Seguiu-se então uma
luta feroz e a revolta foi brutalmente esmagada. Victor Serge escreveu que: O
ataque final foi desencadeado por Tukhachevsky, em 17 de março (...). Alguns
dos rebeldes conseguiram escapar e chegar à Finlândia. Outros opuseram uma
feroz resistência, palmo a palmo, forte a forte, rua a rua, e, mesmo feridos
mortalmente, levantavam-se e, ao caírem, gritavam: “Viva a revolução mundial!”
Centenas de prisioneiros foram levados a Petrogrado e entregues às prisões da Tcheka;
meses depois, eles ainda estavam sendo fuzilados em pequenas levas, sofrendo
uma agonia insana e criminosa. Esses marinheiros derrotados pertenciam de corpo
e alma à Revolução; eles expressavam o sofrimento e a vontade do povo russo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Segundo Ida Mett: Se as
greves de Petrogrado exigiam a reabertura do comércio e a abolição das blitz de
estradas, os rebeldes proclamavam que Kronstadt não reivindicava o livre
comércio mas, sim, o genuíno poder dos soviéticos, pois sabiam que a reabertura
do mercado não resolveria seus problemas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Anton Ciliga afirmou
que: A resolução do Petropovlovsk se pronunciou em defesa dos trabalhadores,
não somente contra o capitalismo burocrático do Estado, mas também contra a
restauração do capitalismo privado. Esta resolução propunha uma aliança entre
os operários e camponeses com os setores mais empobrecidos do campo; em suma,
trabalhadores proletários reivindicando que a revolução criasse o socialismo de
fato. A NEP, por outro lado, era a união dos burocratas com as classes altas das
cidades contra o proletariado, a aliança do capitalismo de Estado com o capital
privado contra o verdadeiro socialismo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nos anos 30, Trotsky
escreveu que os marinheiros não eram os mesmos de 1917, isto é, “o orgulho e a
glória da revolução”. Argumentava que muitos dos marinheiros revolucionários de
1917 haviam tombado em combate ou sido transferidos para outro lugar e
substituídos em grande parte por kulaks ou elementos alienados. Isso teria
facilitado o trabalho das organizações contrarrevolucionárias que teriam cooptado
Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Israel Getzler (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt 1917-1921: The Fate of a Soviet
Democracy</i>, 2002) investigou a questão a fundo e demonstrou que os marinheiros
que serviam na Frota do Báltico em 1º. de janeiro de 1921 eram de ao menos
75,5% do pessoal recrutado antes de 1918. Getzler argumentou que os veteranos
vermelhos ainda predominavam no final de 1920 e que houve uma continuidade em
todos os sentidos dos movimentos de 17 e 21. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Recentemente,
documentos dos arquivos soviéticos mostram que, em 7 de março de 1921, um chefe
da Tcheka reportou que a grande maioria dos marinheiros da Frota do Báltico
ainda eram composta pelos antigos revolucionários e poderiam, sim, ter formado
a base de uma possível Terceira Revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Eis, portanto, o
verdadeiro sentido da Rebelião de Kronstadt, definido por eles próprios como a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Terceira Revolução</i>: o prosseguimento do
processo revolucionário iniciado em 1917, por anarquistas e maximalistas, pela
união de camponeses e operários, pelo verdadeiro poder dos sovietes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">IV
- A rebelião de Kronstadt, 1921: identidades políticas e circulação de
informação<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dmitriy
Ivanov é pesquisador na Universidade Europeia de São Petersburgo.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sem dúvida, os anarquistas
também apoiaram os marinheiros na luta contra o comissariado e se fizeram
presentes quando distribuíram panfletos nas fábricas de Petrogrado, chamando os
operários para apoiar a rebelião de Kronstadt. Ademais, outros grupos, como os
socialistas revolucionários (SR), mencheviques e ex-comunistas, desempenharam
um papel relevante durante a rebelião e, de certo modo, ajudaram a reviver o
espírito apartidário e revolucionário dos sovietes dos anos de 1917.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Um dos slogans de Kronstadt,
“todo o poder aos sovietes, não aos partidos”, foi cunhado pela União dos
Socialistas Revolucionários Maximalistas em1919, e este grupo estava muito
fortemente representado entre os marinheiros da Frota do Báltico. Especificamente,
alguns dos mais influentes textos, sobre os <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/09/do-comunismo-de-guerra-ao-capitalismo.html" rel="nofollow" target="_blank">eventos de 1921</a>, como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A verdade sobre Kronstadt</i> do <i><a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2022/11/sobre-os-autores-de-verdade-sobre.html" target="_blank" rel="nofollow">Volia Rossii</a></i> (1921) e do <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2022/10/a-rebeliao-de-kronstadt-por-stepan.html" rel="nofollow" target="_blank">StepanPetrichenko</a> (1925), foram publicados pela imprensa dos socialistas revolucionários
(SR).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas os neopopulistas,
isto é, socialistas revolucionários (SR) e maximalistas, que pareciam ter
mantidos fortes ligações com os rebeldes refugiados na Finlândia, falharam em
canalizar politicamente à rebelião de Kronstadt para si mesmos no movimento internacional
revolucionário, em grande parte devido a sua frágil organização.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Já os sociais
democratas mencheviques, que também estavam representados entre os líderes rebeldes
e quem espalhou panfletos em Petrogrado em apoio aos insurgentes de Kronstadt,
não viam no movimento uma afinidade com seus ideais e, por isso, não usaram a
rebelião a seu favor na luta política. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Foram os anarquistas,
no entanto, que fizeram uso político da experiência de Kronstadt, em 1922 e
1923. No início dos anos 20, a divisão na extrema esquerda do movimento
internacional dos trabalhadores, entre apoiadores e oponentes dos comunistas,
estava crescendo. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os anarquistas, que
haviam apoiado os bolcheviques no início, perderam toda a esperança no sistema
comunista. Em janeiro de 1922, <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/08/kronstadt-por-emma-goldman.html" rel="nofollow" target="_blank">Emma Goldman</a> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Minha desilusão na Rússia</i>, 1923) e <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/10/a-rebeliao-de-kronstadt-por-alexander.html" rel="nofollow" target="_blank">Alexander Berkman</a>, um dos mais
respeitados expoentes do anarquismo internacional e um dos fundadores do
movimento anarquista russo, começaram sua campanha de denúncia do terror
comunista contra dissidentes do partido.<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> O
Mito Bolchevique</i> (1925), de Berkman, foi traduzido para o alemão, lituano,
espanhol, holandês e francês. Outro militante anarquista, muito popular em
Kronstadt nos ano de 1917, <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/07/autogestao-em-kronstadt-em-1917.html" rel="nofollow" target="_blank">Yefin Yarchuk</a>, também publicou sua versão da
rebelião em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt na Revolução Russa</i>
(1923), traduzido para o francês, espanhol, búlgaro e inglês. Esses livros tiveram
um impacto muito significativo na percepção dos eventos na Europa Ocidental e na
América do Norte. O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Diário</i> de
Berkman, no qual descrevia sua desilusão com os bolcheviques, foi publicado,
inclusive, pela editora canadense Black Press (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt Diary: February 26 - march 19, 1921</i>).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Goldman e Berkman
utilizaram-se da repressão de Kronstadt como um exemplo da crueldade,
hipocrisia e traição aos ideais da Revolução de 1917, e propuseram uma
alternativa para emancipação dos trabalhadores evitando os erros do centralismo
e autoritarismo. Testemunhas oculares do massacre da rebelião, Berkman e
Goldman, e muitos dos seus camaradas, participaram da fundação da International
Workingmen's Association (IWA), em 1922. Cem anos depois, o IWA-AIT ainda continua
essa luta.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em contraparida, para
se defender da campanha dos libertários, os bolcheviques tentaram usar como
propaganda favorável ao regime soviético elementos do anarcossindicalismo e ex-anarquistas
que estavam alinhados ao Partido Comunista. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No contexto da <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/11/kronstadt-e-os-anarquistas-espanhois.html" rel="nofollow" target="_blank">Guerra Civil da Espanha</a> o debate sobre Kronstadt ganhou novo fôlego. Trotsky escreveu um
artigo de propaganda intitulado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Hue and
Cry Over Kronstadt </i>("<a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2022/04/o-clamor-por-kronstadt-por-leon-trotsky.html" rel="nofollow" target="_blank">O Clamor por Kronstadt</a>", 1938), que acabou levando a um rompimento dramático com
Victor Serge, um ex-anarquista que se aliou aos bolcheviques durante a
revolução. No mesmo ano, Goldman publicou seu panfleto <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Trotsky Protests Too Much</i> ("<a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2022/08/trotsky-reclama-demais.html" rel="nofollow" target="_blank">Trotsky reclama demais</a>",1938), confessando que, durante a guerra
civil na Rússia, quase todos os anarquistas apoiaram os bolcheviques, ainda que
conscientes da implosão iminente da revolução, mas nem por isso o ex-chefe do
Exército Vermelho estava isento do totalitarismo stalinista, pois o processo de
exclusão das massas trabalhadoras havia começado quase imediatamente a tomado
do poder por Lênin e seu partido. Na guerra das narrativas, John G. Wright
publicou seu texto <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2022/05/a-verdade-sobre-kronstadt-por-john-g.html" rel="nofollow" target="_blank">A verdade sobre Kronstadt</a></i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">The Truth about Kronstadt</i>
– fevereiro de 1938), em defesa de Trotsky.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A
Comuna de Kronstadt</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">The
Kronstadt Commune</i> - 1938) de Ida Mett também estava inserido na discussão
de 38, embora tenha sido publicado tardiamente, em 1948. Mett fez um bom uso
dos jornais publicados pelos emigrados russos, mas muito do material que ela
utilizou no livro proveio da série de artigos intitulados <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O motim de Kronstadt de 1921</i> (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronshtadtskü
miatezh v 1921</i>, 1931), de autoria de um stalinista, Alexey Pukhov, que era
intelectualmente mais honesto que os líderes bolcheviques de 1921. Já <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2022/09/a-revolta-de-kronstadt-e-revolucao-russa.html" rel="nofollow" target="_blank">A Revolta de Kronstadt</a></i> (1942), de Anton
Ciliga, é um excelente relato das questões mais fundamentais do levante de
Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mais tarde,
historiadores simpáticos ao anarquismo causaram constrangimento, por trazerem
para o debate algumas questões inconvenientes para os libertários. No prefácio
do livro de Ida Mett da edição francesa de 1967, Maurice Brinton teceu
considerações que certamente desagradariam a autora. Segundo Brinton: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nas Memórias de um Revolucionário</i>, de
<a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2022/06/kronstadt-de-novo-por-victor-serge.html" rel="nofollow" target="_blank">Victor Serge</a>, há um capítulo dedicado a Kronstadt. O texto de Serge é
particularmente interessante porque o autor estava em Leningrado em 1921 e
apoiava os bolcheviques na questão de Kronstadt, embora com certa relutância. No
entanto, Serge não se utiliza de calúnias e distorções, como fizeram
importantes membros do partido. O livro lança luz sobre o estado de espírito
quase esquizofrênico das bases do partido durante aquela época. Por diferentes razões,
nem trotskistas nem anarquistas o perdoariam, pois Serge buscava conciliar o
que havia de melhor nas respectivas doutrinas: a preocupação com a realidade,
dos primeiros, e a preocupação com os princípios, dos segundos. Já em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt, 1921</i> (1ª. edição, 1970), Paul
Avrich traz à tona o Memorando Secreto e revela evidências da tentativa de
cooptação da rebelião por parte dos contrarrevolucionários e da ligação tardia
de Petrichenko com os emigrados russos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Para encerrar, seria
importante esclarecer que, apesar de todas as controvérsias, o conceito de
democracia em 1917 e 1921 não era evidentemente o conceito liberal; para os
rebeldes, portanto, democracia era o governo dos trabalhadores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">V
- Kronstadt e o movimento de trabalhadores em Moscou e Petrogrado, 1921</span></b><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Simon
Pirani é professor honorário da Universidade de Durham.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Para começar, gostaria
de dizer um pouco sobre o que me levou a pesquisar este assunto. Primeiro, visitei
a Rússia em 1990, antes do colapso da URSS. Na ocasião, queria saber mais sobre
os maiores protestos da classe trabalhadora desde os anos de 1920. Eu era
trotskista e militava no movimento dos trabalhadores do Reino Unido. A luta dos
trabalhadores do leste europeu e da URSS sempre nos inspirou muito, mas o
contato com eles sempre tinha sido difícil, por vezes impossível. No final dos
anos 80, um encontro que tive com socialistas russos e ucranianos forçou-me a
repensar o que sabíamos sobre a Revolução Russa. Logo percebi que a versão dos
trotskistas que as coisas estavam indo na direção certa até Stalin tomar o
poder em meados dos anos 20 era simplista e errada. Nos anos 2000, trabalhei
nos arquivos soviéticos lendo minutas de relatórios secretos relativos aos
encontros de trabalhadores nas fábricas e outros documentos oficiais, material
este que forneceu a base do meu livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The
Russian Revolution in Retreat, 1920–24: Soviet Workers and the New Communist
Elite</i> (London: Routledge, 2008 - não há edição em português).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Após a tomada do poder
pelos bolcheviques em outubro de 1917, iniciou-se o período da guerra civil. Em
1920, os brancos foram amplamente derrotados e o povo estava ansioso por saber
que tipo de sociedade surgiria em tempos de paz. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Mas havia uma forte opinião entre os bolcheviques
de que os métodos militares e compulsórios de confisco de alimentos, para
atender as necessidades de alimentação das populações urbanas e do exército no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">front</i>, e que venceram a guerra civil,
podiam continuar. Esta ideia estava por trás da tentativa fracassada em maio de
1920 de expandir a revolução para o Ocidente, inicialmente, por meio de um
ataque à Polônia, sustentado pela continuidade das medidas de requisição de
grãos dos camponeses. Tal política, no entanto, havia levado a um grande número
de violentas revoltas camponesas. No inverno de 1920 para 1921, a política de
confisco de alimentos, combinada às blitz de estradas, suscitou a fome entre a
população e, por seu turno, exacerbou o descontentamento entre os trabalhadores
urbanos que deveriam ser a principal base de apoio do governo. Tal insatisfação
ocasionou uma onda de greves em fevereiro de 1921 - que acabou por criar uma
ponte entre grevistas e camponeses. Embora o povo da cidade formava uma pequena
minoria, menos de um quinto do total da população russa, muitos dos
trabalhadores urbanos pertenciam a primeira ou a segunda geração de migrantes
oriundos do campo. Portanto, mantinham laços fortes com o campo e,
frequentemente, retornavam aos seus vilarejos de origem quando escasseava a
comida durante a guerra civil. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Diante disso, os
bolcheviques, por outro lado, passaram a denunciar os trabalhadores que não
estavam de acordo com suas políticas, acusando-os de camponeses de mentalidade
pequena burguesa. Na realidade, a maioria dos trabalhadores, pró ou
antibolchevique, era solidária aos camponeses, até mesmo pela proximidade que
tinham com a vida rural. Então, os protestos contra o governo realizados pelos movimentos
de trabalhadores das maiores cidades industriais, Moscou e Petrogrado, ganharam
impulso durante janeiro e fevereiro de 1921, com reuniões massivas e greves. Em
Moscou, grande parte da força de trabalho, no caso, quase toda formada por
mulheres, parou de trabalhar e marchou através dos distritos industriais
chamando outros operários para se juntarem ao movimento, que se transformou numa
escalada de greves durante muitos dias. A paralisação atingiu toda a indústria
têxtil ao redor de Moscou. Em Petrogrado, os trabalhadores também se
manifestaram e pararam por uma semana. Durante a rebelião de Kronstadt,
iniciada no 1º. de março, ocorreu, por exemplo, uma greve geral em Saratov, no
dia 4 de março, na qual os trabalhadores demonstraram simpatia para com os
marinheiros e protestaram contra a repressão. Entretanto, não existia uma coordenação
entre os rebeldes de Kronstadt e os movimentos grevistas, que apareciam um após
o outro e sem qualquer articulação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As demandas do
movimento de trabalhadores abrangiam tanto o aspecto econômico quanto o
político. As demandas econômicas reivindicavam fundamentalmente o fim do
sistema compulsório do comunismo de guerra, posto em prática durante a guerra
civil. Havia uma grande queixa por liberdade de locomoção por parte dos
trabalhadores de Petrogrado que, em tempos de desespero, adotavam estratégias
individuais de sobrevivência, como retornar para suas as cidades de origem ou
mesmo roubar produtos do local de trabalho para vendê-los ou trocá-los por
comida. Por isso, no grande complexo fabril de Moscou, as massas aprovaram uma
resolução contra a rígida disciplina que condenava os trabalhadores a um estado
de carência total. Assembleias de operários também pediam o fim das requisições
compulsórias de grãos e a liberdade para comprar dos camponeses o trigo que
seria confiscado. Em fevereiro, em um grande encontro de delegados da
metalurgia de Moscou, as demandas não somente exigiam o fim das requisições mas
também a sua substituição por um tipo de taxa. Um mês depois, o governo adotou
exatamente essa mesma política, marcando o fim do então chamado comunismo de
guerra e o início da Nova Política Econômica (NEP). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Realmente, os
bolcheviques fizeram algumas concessões, mas algumas exigências econômicas
expressavam, no fundo, demandas políticas. Uma reivindicação muito popular, também
em Kronstadt, era a equalização das rações de primeira necessidade, que eram
racionadas e divididas de modo desigual. Algumas pessoas de posição oficial no
governo ou no partido bolchevique e que supervisionavam as fábricas se utilizavam
da corrupção para obter mais rações. Obviamente, a demanda por igualdade na
divisão de rações fazia alvo certeiro o estado burocrático que se consolidava.
Era uma forma de atingir politicamente a embrionária burocracia. Contra o Estado
ditatorial, os operários clamavam por liberdade de expressão e, se os ativistas
eram presos, seus colegas muito frequentemente cruzavam os braços e paravam a
produção. Outra demanda política muito comum era o clamor por novas eleições nos
sovietes. Os sovietes que, foram fóruns ativos em 1917, muito frequentemente
pararam de funcionar durante a guerra civil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Essas demandas foram
elaboradas mais detalhadamente em Kronstadt no intercurso da rebelião e havia
provocado uma inquietação crescente na burocracia e nas fileiras do partido
bolchevique, que não era homogêneo. Havia uma variedade de facções de oposição,
dentre as mais conhecidas a Oposição Operária e o Centralismo Democrático, que
também manifestavam descontentamento com as políticas implantadas pelo governo.
No X Congresso do Partido, celebrado durante a rebelião de Kronstadt, estas
facções foram banidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Enquanto a rebelião dos
marinheiros era finalmente suprimida com execuções e prisões, o governo
conscientemente tentou impor um limite na repressão ao movimento dos trabalhadores,
para evitar uma intensificação da muito disseminada dissensão no país. Esta
aproximação envolvia, no entanto, a destruição do que ainda restava de uma
perspectiva democrática nos sovietes. Em maio de 1921, as demandas por novas eleições
nos sovietes foram parcialmente atendidas. Mesmo assim, muitos grupos de
oposição de esquerda, inclusive ex-bolcheviques e não-bolcheviques, tais como
socialistas revolucionários de esquerda, anarquistas e muitos trabalhadores não
partidários, estavam sujeitos a mais severa repressão do Estado. Mas os apartidários
se posicionaram contra os bolcheviques em todas as grandes fábricas de Moscou e
venceram em quase todos os casos. Isso levou vários anos até que estas ilhas de
independência da classe trabalhadora foram, enfim, sufocadas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Conclusões: 1º.) A
revolta de Kronstadt foi um evento isolado, apesar das reivindicações dos
marinheiros, no que concernia à democracia nos sovietes, coincidirem com as
demandas dos trabalhadores das fábricas. 2º.) Os bolcheviques acreditavam que
seu governo estava em risco, assim como seus inimigos contrarrevolucionários
brancos; mas nós podemos observar, como historiadores, que aquele risco não era
tão grande assim e que não havia coordenação entre as greves e os protestos dos
trabalhadores com a revolta dos marinheiros. O que muitos destes trabalhadores
estavam buscando era essencialmente a reforma do sistema soviético ao invés de
objetivarem uma revolução. Eu sou cético quanto à viabilidade da Terceira Revolução,
penso que seria necessário refletir mais sobre o que ela significa nesse
contexto. 3º.) As condições para construção de algum tipo de sociedade
socialista na Rússia, em 1921, eram realmente muito ruins, a economia tinha
colapsado depois da guerra e, apesar de toda esperança, a revolução não tinha
se espalhado para a Alemanha e outros países industrializados. No entanto, a
despeito de que, naquelas terríveis condições, trabalhadores e marinheiros
lutassem pela restauração e desenvolvimento da democracia nos sovietes, depois
da guerra civil, isso poderia ter um alcance mais restrito e fortalecido o
enfrentamento a hierarquia e exploração na sociedade soviética, que estava gestando
a ditadura burocrática bolchevique. Mas aquelas forças bolcheviques optaram por
reprimir os marinheiros para, em seguida, oprimir cinicamente os trabalhadores
que protestavam contra os desmandos arbitrários do governo, e isto era
profundamente, talvez, fatalmente perigoso para o projeto verdadeiramente
revolucionário e o legado ideológico para as esquerdas na posteridade. A ideia
de que o autoritarismo e a repressão eram de algum modo inevitável ou justificável
nas revoluções maculou o legado do socialismo durante o século XX e, nesse
sentido, Kronstadt foi realmente trágico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">VI
- O Levante de Kronstadt (1921) como uma fase da Grande Revolução Russa<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Alexei
Gusev é professor de história e vice-diretor do Departamento de Historia dos
Movimentos Sociais e Partidos Políticos da Faculdade de História na
Universidade Estadual de Moscou (Lomonosov). Ele também é presidente do Centro
de Pesquisa da Práxis e Educação de Moscou.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No início dos anos 90,
o ex-presidente Boris Yeltsin prometeu erguer um monumento em homenagem aos
rebeldes de Kronstadt. Porém, nunca nada foi feito realmente e, em pleno ano de
2021, cem anos depois da revolta, não existe sequer uma placa em memória aos
marinheiros da Frota do Bático. Na Rússia, nós temos os mais diversos
monumentos, nós temos monumentos para tudo, desde Alexander Nevsky ao crítico
literário Belinsky, do compositor Rachmaninoff ao escritor Dostoevsky, passando
pelos líderes bolcheviques, Lênin, Trotsky e Stálin, até Karl Marx, Engels etc.
Mas a narrativa oficial reduz a Revolução de 1917 e a Guerra Civil a um
conflito entre vermelhos e brancos, entre Lênin e Denikin. O Levante de Kronstadt
não existe nessa narrativa e mesmo alguns sites especializados em história
classificam os rebeldes de Kronstadt como brancos. Esta narrativa oficial não
considera nenhuma terceira força e é tarefa dos historiadores demonstrar que
havia outros elementos no tabuleiro, não apenas em Kronstadt, mas também os Verdes
[1], o movimento anarquista etc. Essa tarefa está ainda por ser feita na
historiografia russa e mesmo na opinião pública em geral.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A natureza do levante
de Kronstadt de 1921 pode ser definida como o começo da Terceira Revolução na
Rússia. A primeira revolução de fevereiro de 1917 pôs fim ao governo do czar,
dos proprietários de terra e dos oficiais imperiais. A segunda revolução, em
outubro do mesmo ano, desbaratou o governo da burguesia. A terceira revolução,
lançada pelos kronstadtinos, visava a comissiocracia bolchevique, a burocracia
comunista e, portanto, a farsa do suposto governo dos trabalhadores. O que o
movimento de 8 de março de 1921 significava era o despertar de todos os
trabalhadores do Ocidente e do Oriente para o autêntico socialismo. Um primeiro
olhar na resolução dos revoltosos da base naval pode parecer que ela transmite
um tom de ingenuidade se levássemos em conta que o movimento pretendia iniciar
uma revolução. Mas, ao analisar o conteúdo histórico do levante, o seu
significado real merece algumas considerações a respeito.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Se nós entendermos uma
revolução como um processo de transformação radical, fomentado pela influência
das massas populares e envolvendo mudanças do regime político, então os eventos
na Rússia de fevereiro de 1917 a 1922 se ajustam ao nosso entendimento e, além
disso, encontram similaridade com a Grande Revolução Francesa do século XVIII,
a qual também durou vários anos. Tal qual sua congênere francesa, a Grande
Revolução Russa consistiu-se de várias fases e estava orientada para a
resolução de um grande número de problemas chave e contraditórios da
modernização social na Rússia, notadamente, a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">questão da terra</i> – a distribuição de terras para os camponeses – e
a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">questão política</i> – a concessão de
direitos à população. Em suma, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">terra e
liberdade</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A revolução russa envolveu
a confrontação de várias forças sociais e políticas que culminaram na guerra
civil até a estabilização do novo regime político bolchevique. Assim, com base
na solução parcial da distribuição da terra e na secessão das estruturas sociais
no seio da Grande Revolução Russa é que podemos definir as várias fases
principais do processo revolucionário em tela. A primeira fase, fevereiro-março,
de 1917, não resolveu a questão da terra, tampouco a questão política. A
segunda, outubro de 1917, formalmente deu terra aos camponeses, mas muito cedo
os bolcheviques ou comunistas instituíram o comunismo de guerra: política pela
qual, de um lado, determinava a requisição obrigatória da produção agrícola e,
do outro, submetia camponeses e operários a um estrito controle burocrático. No
lugar do proclamado poder dos sovietes sobreveio o autoritarismo e a ditadura do
Partido Comunista. Portanto, a questão chave da Grande Revolução Russa
permaneceu irresoluta também na terceira fase. Esta fase é marcada por um
confronto em grande escala, configurado pela guerra civil, cujos efeitos
conduziram a revolução para a sua quarta fase, caracterizada por um novo
período de insurgência revolucionária no fim de 1920 ao verão de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O ponto alto desse
período foi o Levante de Kronstadt, em março de 1921, que estava estritamente
relacionado com a guerra camponesa na Rússia, iniciada no inverno de 1920-21 e
provocada pela política de confisco de toda a produção de grãos. Na primavera
de 1921, 165 grupos, com mais de 100 000 combatentes atuando em todo o
território do país, insurgiram-se contra o controle do governo de Moscou. Além
disso, havia distúrbios e protestos dos movimentos de trabalhadores em todos os
principais centros industriais da Rússia. Os operários entraram em greve e parte
substancial dos protestos implicavam demandas políticas necessárias. Em
fevereiro de 1921, uma onda de greves assolou Moscou e Petrogrado, causando diretamente
o levante de Kronstadt. Ademais, toda uma série de protestos, incluindo motins,
tomou lugar no Exército Vermelho. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Assim sendo, conforme o
ponto de vista da teoria política, a situação do início de 1921 poderia ser
categoricamente descrita como uma conjuntura revolucionária. A noção de
conjuntura revolucionária é bastante conhecida na interpretação de Vladimir Lênin,
que, aparentemente, tomou emprestada do escritor e historiador liberal francês,
do século XIX, Alex de Tocqueville. Lênin definiu a conjuntura revolucionária
como uma crise geral em que o sofrimento das massas populares cresce mais do
que o usual e as classes baixas insatisfeitas não querem mais viver como no
antigo regime. Realmente, estas características estavam definitivamente
presente em 1921! Modernas teorias concernentes à conjuntura revolucionária
desenvolvida por autores como Charles Tilly, Olivia Stiles, Michel Dobry seguem,
grosso modo, a mesma dinâmica lógica. Primeiro, uma onda de protestos envolve
uma porcentagem significante da população e resulta em grandes coalizões entre
classes sociais que desencadeiam um movimento crescente e generalizado. No caso
de Kronstadt, houve uma aliança objetiva entre camponeses, operários e parte
das forças armadas, que universalizou as demandas básicas das massas revoltosas
em três espécies de liberdade: a) liberdade de trabalho, b) liberdade de
comércio e c) liberdade política. A questão política, na maioria das vezes,
pleiteava por eleições livres para os sovietes, mas também, em alguns casos, a restauração
de toda democracia e até uma nova assembleia constituinte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A segunda
característica da conjuntura revolucionária se configura como uma crise no
interior da elite governante, que é incapaz de governar no modo antigo. Também isto
ocorreu em 1921. O governo do partido bolchevique naquele tempo experimentou
uma profunda crise entre as tendências que tinham consciência de que a política
do comunismo de guerra levara o país a um desastre social. As tentativas para
encontrar um jeito de sair da crise suscitaram uma amarga discussão nos sindicatos
que dividiu o Partido Comunista em facções rivais internas e lutas intestinas
que respingaram também nos filiados do partido na Frota do Báltico. Em
Kronstadt, a agremiação foi perdendo credibilidade entre os marinheiros
comunistas a tal pondo de criarem uma corrente dissidente no partido: a Oposição
da Frota. Ao mesmo tempo, outros marinheiros começaram a deixar em massa o
partido bolchevique e, antes do início do levante, cerca de 40% dos filiados de
Kronstadt abandonaram o Partido Comunista. No curso da revolta, somente um
terço permaneceu ainda afiliado. Ademais, muitos dos líderes do Comitê Revolucionário
de Kronstadt foram membros do partido, inclusive Petritchenko, e por isso
justificavam a rebelião como uma luta para ressuscitar os lemas do início,
nunca realizados após a conquista do poder político que se encaminhava para uma
ditadura.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Aqui eu penso que nós
podemos traçar um paralelo com o motim naval de Kiel no contexto da Revolução
Alemã de novembro de 1918 e do Encouraçado Potemkin no Mar Negro, em junho de
1905. Kronstadt também foi um reflexo da conjuntura que poderia ter gerado uma
radicalização ainda maior no processo revolucionário. O levante tinha potencial
para uma mudança radical da situação política. Nesse sentido, Kronstadt foi o
culminar de uma vasta resistência operária-camponesa que se posicionou tanto
contra os reacionários brancos (liderados pelos generais Kolchak, Denikin,
Wrangel) como contra os bolcheviques (Lênin, Trotsky, Kalinin, Zinoviev).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Se Kronstadt resistisse
como um território da Terceira Revolução, poderia se constituir de fato como um
centro de coalizão de várias forças políticas. Por exemplo, só o exército camponês
mais importante daquele tempo reunia, somente na região do Tambov, sob
liderança de Alexander Antonov, 50 000 combatentes, e no oeste da Sibéria 100 000.
Mas alguém poderia objetar que havia o problema de falta de abastecimento nos
armazéns de Kronstadt. Quanto a isso, os rebeldes poderiam ter sido providos pela
Finlândia, apesar de, no início, recusarem a mediação dos emigrados russos,
notadamente, os socialistas revolucionários. Ademais, caso o gelo derretesse, Kronstadt
seria inexpugnável e impossível de ser tomada, o que poderia mudar radicalmente
a situação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O próprio Exército Vermelho
não estava imune à influência de Kronstadt. Nós sabemos que houve dois assaltos
à fortaleza, o primeiro ocorreu no dia de abertura do X Congresso do Partido Comunista,
no dia 8 de março de 1921. Como sabemos também, o assalto falhou por causa dos
soldados do Exército Vermelho que não queriam lutar contra os marinheiros. Na
ocasião, foi reportado que alguns dos soldados pararam quando viram a bandeira
vermelha tremulando sobre Kronstadt. Surpresos, indagaram: O que é isso? Disseram-nos
que Kronstadt estava nas mãos dos generais e colaboradores brancos, mas vejam a
bandeira vermelha, fomos enganados por nosso comissário! Diante da deserção de
muitos soldados, as troikas extraordinárias, isto é, cortes instruídas por três
pessoas investidas de poderes extraordinários, condenaram ao fuzilamento 100
soldados do Exército Vermelho em apenas dois dias, fato que atemorizou os
demais e os empurrou para o ataque a Kronstadt. Então era muito séria a crise
no próprio aparato de segurança bolchevique e se a rebelião de Kronstadt
prosseguisse a instabilidade social poderia ter sido agravada mais e mais.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sobre a questão da
continuidade da Comuna de Kronstadt de 1917 e do levante de 1921, é muito interessante
porque no final dos anos de 1930 houve uma discussão entre anarquistas e
comunistas sobre a rebelião. Trotsky argumentou em um artigo que a frota de 21
era completamente diferente da de 17, que os novos marinheiros foram recrutados
nos vilarejos rurais, que eram kulaks etc. Quanto ao “Orgulho e Glória da Revolução”,
em grande parte foram mortos no front de batalha durante a guerra civil. Isso,
claro, não é verdade. A rebelião teve início e foi idealizada nos encouraçados
Sebastopol e Petropavlovsk, cuja tripulação não havia mudado muito desde 1917.
Os mesmos velhos marinheiros que participaram dos eventos de 1917 eram a
vanguarda da rebelião de Kronstadt, sendo que a maioria deles participou de
outubro e apoiou os bolcheviques. Claro que uma parte minoritária era realmente
formada por novos recrutas, principalmente, do sul da Rússia e da Ucrânia. Mas
a rebelião produziu uma síntese das duas partes, os antigos marinheiros da
revolução e os novos de maioria camponesa que relatavam para os mais velhos o descontentamento
e as agruras sofridas no campo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sob tais pressupostos,
seria então muito difícil impedir a difusão do levante para fora da ilha de
Kotlin quando o degelo da primavera impossibilitasse a tomada de assalto de
Kronstadt. E isso era iminente. As condições para uma união entre o movimento
dos marinheiros da Frota do Báltico, as greves dos trabalhadores e as
insurreições no campo estavam formadas, constituindo um elemento potencialmente
transformador do regime político na Rússia. A Terceira Revolução poderia ter mudado
o regime político, resolvido a questão agrária e permitido uma transição plena
para o controle operário através da democracia direta nos sovietes, ou seja, as
duas questões mais fundamentais da Grande Revolução Russa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quanto à derrota dos
marinheiros de Kronstadt, esta se deve a vários fatores, dentre os quais a espontaneidade
da rebelião, forjada sem nenhuma organização ou preparação; as táticas defensivas
dos rebeldes, que por tão longo tempo acreditaram na boa-fé dos líderes do
Partido Comunista; e as prisões efetuadas pela Tcheca, que neutralizaram as
forças políticas que teriam apoiado a rebelião em Petrogrado. Apesar da
derrota, no entanto, o levante de Kronstadt - juntamente com outros movimentos
populares - forçou os bolchevique a pôr termo no odiado comunismo de guerra e a
Nova Política Econômica (NEP) fez muitas concessões aos camponeses,
principalmente, a partir do novo Código Agrário de 1922. Isso melhorou a
situação e levou ao declínio dos protestos de massa após Kronstadt. Assim, a
Grande Revolução Russa entrou em sua fase final, os movimentos insurgentes no
campo foram suprimidos em grande escala e a luta dos trabalhadores enfraqueceu.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Portanto, a Grande Revolução
Russa chegou ao fim sem resolver totalmente suas grandes questões essenciais; a
maior parte da população camponesa russa não teve garantias políticas,
concomitantemente com a liberalização da economia, e a ditadura do regime
político do Partido Comunista foi ainda mais endurecida. Os líderes do governo
passaram a temer o que chamavam de “o espírito de Kronstadt” e, por
conseguinte, novos levantes. E, assim, foram proibidas as tendências de
oposição dentro o Partido Comunista, resultando em novas contradições e crises
que poriam em cheque o regime no futuro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">[Nota 1: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Exército Verde</i> ou <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Terceira Força</i> eram organizações de autodefesa muito poderosa
formada por camponesas e desertores do Exército Vermelho e Branco - <i style="mso-bidi-font-style: normal;">N.</i> <i style="mso-bidi-font-style: normal;">do
blog</i>].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">VII
– Teses sobre 1917: comunismo de guerra ou acumulação primitiva?<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Jean
Fecaloma</span></i><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">1) É equivocado
interpretar a rebelião de Kronstadt como um conflito entre anarquistas e
comunistas (socialdemocracia alemã). A verdade é que estas correntes eram
ocidentalistas e pouco representativas da realidade russa. A história da Rússia
pode ser descrita como um movimento pendular de abertura e fechamento para o
Ocidente. Daí que, no século XIX, os russos conceberam e adaptaram sua própria
ideia de socialismo à realidade agrária e culturalmente singular do país. Conhecido
como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">narodnik</i> ou, literalmente, “populismo”,
o movimento socialista russo era bastante amplo e pouco sistemático e
comportava tendências tão avançadas como o fourierismo de Tchernichevsky (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O que fazer?</i>) até o conservadorismo
cristão ortodoxo de Tolstoi. (Em que medida o anarquismo de Bakunin ou
Kropotkin influenciou o movimento <i style="mso-bidi-font-style: normal;">narodnik</i>
– e certamente houve alguma influência – é algo a ser discutido). No início do
século XX, os sociais revolucionários (SR) e maximalistas apareceram como descendentes
diretos dos populistas e, por isso, gozavam de maior afinidade e simpatia popular,
tanto que, nas eleições para a Assembleia Constituinte de novembro de 1917,
alcançaram 58% das cadeiras, enquanto os bolcheviques 25%, os mencheviques 4% e
os liberais 13%. Por ser um movimento autóctone e, obviamente, não dispor de interlocutores
no estrangeiro, o movimento desapareceu sob o governo do partido único. A
Rebelião de Kronstadt foi, por uma parte, exportada simbolicamente para o oeste,
onde foi objeto da disputa entre anarquistas e comunistas, enquanto, por outra
parte, foi tratada internamente pelos soviéticos como um conflito entre
vermelhos e brancos. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">2) Em dezembro de 1920,
a guerra civil chegava ao fim e não havia mais nenhum interesse das nações aliadas,
com exceção da França, de intervir na política interna da Rússia. Mesmo o
governo francês, como vimos em Paul Avrich, demonstrou pouco empenho em ajudar
os emigrados russos que tentavam manipular a rebelião de Kronstadt em benefício
próprio. Por outro lado, as medidas do comunismo de guerra conduziram a Rússia
Soviética a uma situação pré-revolucionária que ameaçava a existência do
próprio governo, não de cima, pelos agentes das nações imperialistas, mas de
baixo, pela mobilização das massas operárias e camponesas. A partir de então, o
Kremlin deflagrou uma guerra implacável contra os grupos refratários, ao ponto
de, na região do Tambov, o exército efetuar um ataque inaudito de gás tóxico,
apenas ensaiado em Kronstadt, contra uma população natural da própria Rússia. Portanto,
para consolidar o poder político, após vencer a ameaça externa, os bolcheviques
passaram a eliminar as contradições internas, encarnadas justamente pela classe
trabalhadora, por meio de um despótico movimento centrípeto que se assemelhou
em muito a formação do absolutismo czarista: “Os grandes acontecimentos do
século XVII, que pontuaram a decadência da Zemsky Sobor e da Duma boiarda, não
foram revoltas separatistas dos nobres, mas as guerras camponesas de Bolotnikov
e Razin, os motins urbanos dos artesões de Moscou, os surtos de turbulência
cossaca ao longo do Dnieper e do Don” (ANDERSON, Perry. “Linhagens do Estado
Absolutista”, São Paulo: Editora Brasiliense, 1985, p. 230).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">3) É provável que o
aniquilamento da rebelião de Kronstadt tenha sido uma ação deliberada e
premeditada pelos líderes bolcheviques. No X Congresso do Partido, que se
sucedeu no curso da rebelião, todas as correntes dissidentes do partido foram
proibidas, sinalizando uma centralização do poder que não admitia o
contraditório. Neste sentido, os líderes do partido podem ter usado o motim dos
marinheiros como pretexto para suprimi-los, tendo em vista o histórico de
independência e indisciplina da Frota do Báltico, que sempre seria visto como
fator de instabilidade. A NEP, que poderia ter sido colocada na mesa de negociação
com os rebeldes e pacificado o conflito, foi aprovada somente no decorrer do
motim; porém, um programa dessa envergadura não seria preparado do dia para a
noite, mesmo porque, desde o fim da guerra civil, o governo já havia criado, em
22 de fevereiro, o Comitê Estatal de Planejamento (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Gosplan</i>), a fim de coordenar o desenvolvimento econômico
planificado no país. Vimos, em Paul Avrich, que, depois da repressão, Lênin
tencionou extinguir a frota mas foi convencido por Trotsky a mantê-la em rédeas
curtas, com o aparelhamento da base naval por elementos comunistas fiéis ao
partido. Certamente, uma questão tão delicada como exterminar combatentes que
foram glorificados pela revolução e estiveram desde o início lado a lado com os
bolcheviques não poderia deixar digitais, pistas, despachos ou assinaturas. Deveria
ser feito secretamente a portas fechadas por um pequeno grupo de dirigentes seletos
e referendado por um auditório facilmente manipulável. Isso não seria algo
inédito, a execução da família real foi atribuída a uma decisão unilateral do
Soviete dos Urais, como se uma resolução de tamanha monta coubesse à autonomia
decisória de um pequeno grupo periférico subordinado ao centro do poder e sem passar
pela direção do partido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">4) “Pão! É preciso pão para
a Revolução! Que outros se ocupem em lançar circulares com frases bombásticas! Que
outros declamem sobre liberdades políticas!...” (Kropotkin). <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Logo após o fim da
revolta de Kronstadt grassou por todo o território russo um longo período de
fome em massa, conhecido como a “fome de Povoljie”, que durou até 1922, e
atingiu 90 milhões de pessoas, ceifando a vida de mais de 5 milhões de vítimas.
A Rússia, que outrora ocupava a posição de maior produtor de cereal do mundo e
a primeira em termos de volume total de produtos agrícolas, passou a enfrentar
uma terrível crise de abastecimento devido à guerra civil, às condições
climáticas desfavoráveis em algumas regiões e, principalmente, às requisições
compulsórias em larga escala do excedente rural, muito embora não cessassem as
exportações de grãos para o mercado internacional durante todo o período. A
escassez de alimentos levou a uma calamidade social. Desesperadas as pessoas
andavam a esmo, errantes, a procura de comida, e, para matar a fome, roíam
casca de árvores, devoravam carniça e não foram raros os episódios de
canibalismo (de onde surgiu a expressão “comunista come criancinha”). Dez anos
depois, o processo de coletivização forçada de Stálin e a perseguição aos
kulaks, na então URSS, produziu um novo período de fome, desta vez, vitimando
um número ainda maior: 8 milhões de pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">5) Karl Marx, ao
investigar as origens do modo de produção capitalista, em sua obra máxima <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Capital</i>, postulou que não há
capitalismo sem o seu pecado original: a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">acumulação
primitiva</i>. Grosso modo, a acumulação primitiva pode ser definida como a
acumulação de riqueza (ou capital) sem passar pela produção – ou, sem meias
palavras: roubo, simplesmente. Dentre todos os elementos históricos elencados
pelo conceito, o mais importante é o da liberação do trabalho de seus meios de
produção e, por corolário, da formação do proletariado urbano. Trata-se de um
fenômeno iniciado na Idade Média, mas que atinge seu ápice na Inglaterra do
século XVI, quando os senhores feudais começam a expulsar violentamente as
famílias camponesas de suas casas e apoderar-se de suas terras, para
transformá-las em pastos de ovelha, no processo histórico conhecido como
“cercamentos” (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">enclosures</i>). Sem ter
como sobreviver, grandes levas de trabalhadores expropriados marcham para as
cidades onde serão incorporados como assalariados na industrialização nascente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Cabe-se perguntar até
que ponto a expropriação camponesa na forma do comunismo de guerra e das
fazendas estatais (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">kolkhozes</i> e <i style="mso-bidi-font-style: normal;">sovkhozes</i>) constituíram um processo de
acumulação primitiva em grande escada promovido pela ação do Estado. As antigas
tradições do campesinato russo foram destruídas, os trabalhadores passaram a
receber um salário (em espécie) e muitos camponeses migraram para as cidades
onde foram compor a força motriz do desenvolvimento industrial do país.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">6) O paradoxo do
socialismo. De todas as teorias filosóficas o socialismo é a doutrina mais
humanista. Privar ou dispor do destino da vida de alguém em nome de uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">razão de Estado</i> ou impor o aparato
“impessoal” e monstruoso do Estado contra qualquer pessoa, como foi procedido pelo
governo bolchevique, não é apenas igualar em hipocrisia às democracias liberais
eurocêntricas, mas também negar a essência do socialismo e afirmar sua total
impossibilidade. Bakunin soube colocar o problema de fundo ético melhor do que
ninguém quando afirmou que, enquanto ainda existir um só escravo no mundo,
nunca haverá de fato liberdade. Kronstadt poderia ter caído nas mãos dos
brancos, mas nada indica que isso colocaria o governo em cheque ou que, ainda
assim, os protestos de massa por todo país fossem mais inofensivos. Ao oprimir
os marinheiros de Kronstadt, fuzilar soldados que não queriam lutar contra seus
camaradas, condenar dissidentes a campos de concentração, os bolcheviques
cruzaram a linha do humanismo e aniquilaram o sonho de um mundo melhor, justo e
igualitário, que o socialismo ousou conceber para toda humanidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">7) Excetuando as
comunidades primitivas, nunca houve na história da humanidade uma civilização
socialista. A Revolução Russa de 1917 - e a Chinesa também - seria muito melhor
caracterizada como uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">revolução burguesa</i>,
tal como ocorreu muito antes na Inglaterra, nos Estados Unidos e na França.
Longe de instituir o comunismo, a ditadura do proletariado foi o principal
agente do desenvolvimento capitalista e da formação do Estado moderno na
Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A única experiência
social que mais se aproximou do ideal socialista foram as coletividades
libertárias - muitas vezes, coorganizadas pela CNT-FAI - durante a Revolução
Espanhola de 1936. Mais importante do que a Comuna de Paris, o processo de
coletivização espontâneas na Espanha não tem merecido a atenção devida por
parte dos estudiosos e mesmo dos anarquistas, apesar de todo o seu potencial
transformador único e sem precedente na história contemporânea. As
coletividades agrárias foram um fenômeno de grandes proporções que surgiu
espontaneamente em todas as províncias da Espanha livre, abrangendo cerca de
400 comunidades em Aragão, 900 no Levante e 300 em Castela, onde o povo
participava ativa e massivamente nas assembleias regulares (semanais,
quinzenais ou mensais) para decidir sobre tudo o que se referia à vida
produtiva e cotidiana. Embora não tão bem sucedida, também a indústria
vivenciou um processo de coletivização realizada pelo controle de trabalhadores
sindicalizados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">8)<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Como já escrevi em outro lugar, lamentavelmente,
o site Wikipédia vem propagando informações falsas ao atribuir ao líder da
Rebelião de Kronstadt, Stepan Petrichenko, uma filiação ideológica ligada ao anarcossindicalismo.
A fonte de tal informação é o artigo polonês “Naissaar: the Estonian “Island of
Women” Once an Independent Socialist Republic” (<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sowiecka Republika Wyspy Naissaar</i>), de autoria de um certo Kazimierz
Popławski. Não carecendo de qualquer referência bibliográfica, o artigo não
merece qualquer credibilidade. Provavelmente, o autor confunde Petritchenko com
Elfim Yarchuk, a ilha de Kotlin (Kronstadt) com a ilha de Naissar, a suposta
“República de Naissar” com as notícias inverídicas de jornal sobre a “República
de Kronstadt” e a Comuna de Kronstadt de 1917 com a Rebelião de Kronstadt de
1921.<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Planeta Terra, 21
de dezembro de 2021<o:p></o:p></span></p>
<p align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Jean Fecaloma<o:p></o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-39998754042674925812021-12-01T03:00:00.004-08:002021-12-21T14:55:08.938-08:00Socialistas e Anarquistas, por Malatesta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrxS1p0niusTD5ZsIGtmSRjLaa6HXAa_9xz1O6gZhrw5k6A5QHxVUQaguoyD4WHvh_S37xJ07NrSLKJsHt5XbPZsHE1EYS8TGYrnHtlp4n67CyX9RFWubaqK46EuOe_feblPlXfwg3aTvX/s241/Malatesta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Malatesta e Kronstadt 1921" border="0" data-original-height="241" data-original-width="180" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrxS1p0niusTD5ZsIGtmSRjLaa6HXAa_9xz1O6gZhrw5k6A5QHxVUQaguoyD4WHvh_S37xJ07NrSLKJsHt5XbPZsHE1EYS8TGYrnHtlp4n67CyX9RFWubaqK46EuOe_feblPlXfwg3aTvX/w239-h320/Malatesta.jpg" title="Errico Malatesta" width="239" /></a></div><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Socialistas
e Anarquistas: a Diferença Essencial<o:p></o:p></span></b></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Umanità
Nova, 1921<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Alguns buscam explicar
a cisão entre socialistas e anarquistas por uma única dissensão. Os socialistas
seriam acusados de querer de querer avançar demasiado lento, enquanto os
anarquistas, sofrendo da loucura da revolução imediata, prometiam e prometem ir
muito mais rápido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É fato que, entre
socialistas e anarquistas, sempre houve divergência profunda quanto à maneira
de conceber a evolução histórica e as crises revolucionárias que a própria
evolução engendra, de tal forma que eles quase nunca estiveram de acordo em relação
aos meios a empregar e às oportunidades que se apresentaram de vez em quando de
poder acelerar a marcha rumo à emancipação humana.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Todavia, essa é uma
dissensão contingente e secundária. Sempre houve e ainda há socialistas
apressados, do mesmo modo que houve e há anarquistas que querem avançar a
passos lentos e, inclusive, os que não creem absolutamente na revolução. A
dissensão essencial fundamental é outra bem diferente: os socialistas são
autoritários, os anarquistas são libertários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os socialistas querem
ir ao poder, pouco importa se de modo Pacífico ou violento, e, tornados
governo, querem impor às massas, sob forma ditatorial ou democrática, seu
programa. Os anarquistas creem que, ao contrário, todo governo é mau e, por sua
própria natureza, destinado a defender uma classe privilegiada já existente ou
criar uma nova . Em vez de sonhar em assumir o lugar dos governantes atuais,
eles querem abater todo organismo que permita a alguns impor aos outros suas
próprias ideias e interesses, e dar a cada um plena liberdade e, evidentemente,
os meios econômicos para tornar a liberdade possível e efetiva. Eles também
querem escancarar a via da evolução para suas melhores formas de vida social
que surgirão da experiência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Parece impossível que,
ainda hoje, após o que se passou e se passa na Rússia, haja quem creia que a
diferença entre socialistas e anarquistas é unicamente há de querer a revolução
mais cedo ou mais tarde.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lenin é, sem dúvida, um
revolucionário e um revolucionário apressado, mas um autoritário, um fanático
que a história situará ao lado dos Torquemada e dos Robespierre, e, malgrado
suas divergências atuais com uma parte dos socialistas oficiais, ele é
certamente um socialista fazendo o que os anarquistas, há cinquenta anos, vêm
prevendo o que fariam os socialistas se eles conseguissem tomar o poder.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Escutar o que diz Maria
Spiridonova, a mártir do regime czarista, em sua carta aberta <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aos operários do Ocidente</i>. Ela demonstra
o quanto a revolução foi poderosa na Rússia antes que o bolchevismo a traísse.
A revolução estendia-se a todo o território Russo porque era apoiada
unanimemente pelos proletários dos campos e das cidades. Lenin, flanqueado por
seus devotos e com um autêntico dogmatismo marxista, serviu-se dos proletários da
cidade, que formam de 3 a 5% da população, contra as massas rurais não
organizadas, e, para submetê-las, recorreu também à antiga burocracia, à velha
casta militar, à polícia secreta do regime derrubado! Tendo cometido o erro,
diz Spiridonova, de empregar os métodos e os instrumentos czaristas, o Partido
Comunista (que é indubitavelmente socialista) erigiu a tirania em sistema para
lograr esse resultado - ainda segundo Spiridonova - pelo qual hoje os 95% dos trabalhadores
estão em revolta aberta ou secreta contra o governo. E ela acrescenta: a classe
fundamental do país, os trabalhadores da terra, sem a qual nenhuma obra econômica
criadora é possível entre nós, encontrou-se brutalmente rejeitada de toda
participação na revolução. Os trabalhadores camponeses tornaram-se simplesmente
um objeto de exploração por parte do Estado, fornecedores de matérias-primas,
gêneros alimentícios, gado e homens, sem ter a mínima possibilidade de exercer
qualquer influência política sobre o governo do país. A principal função do
Exército Vermelho é aterrorizar a massa camponesa. E o mesmo Exército Vermelho
aterrorizado e sustentado pelo fato bem conhecido segundo o qual, para toda
deserção, a família do desertor é ferozmente punida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Esta é uma questão
completamente diferente daquela de fazer a revolução um pouco mais cedo ou um
pouco mais tarde!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A principal razão que
fez nascer e durar o movimento anarquista é precisamente a previsão do que
seria necessariamente um governo socialista, previsão que encontrou sua
confirmação tão trágica na Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Isso não impediu que à
dissensão fundamental viesse somar-se aquela relativa à maneira de julgar as
diversas posições históricas e à necessidade de tentar ou não, em certas
ocasiões, um movimento revolucionário. Tornaremos a falar disso.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">MALATESTA, Errico.
<i>Escritos revolucionários</i>. Organização e tradução: Plínio Augusto Coêlho.
Editora Hedra: São Paulo, 2008.<o:p></o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-12816265997148848852021-11-15T03:00:00.002-08:002022-10-31T14:19:19.442-07:00A revolta dos marinheiros de Kronstadt, por Maurício Tragtenberg<p style="text-align: justify;"></p><div style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB0kJxA5iDi1QI7bQGy-732evsrB7eXK9n1iszrgdHdkb8jNcd3KbI-iOe7M5udQdsiYCQDupI17iI4s19rlCkyG_GyziKOEKM1dItvHXGev2kCm66tNEXsGhWcA_YHXW_3rAeYWLjr98E/s266/Mauricio+Tragtenberg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img alt="A revolta dos marinheiros de Kronstadt" border="0" data-original-height="266" data-original-width="190" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB0kJxA5iDi1QI7bQGy-732evsrB7eXK9n1iszrgdHdkb8jNcd3KbI-iOe7M5udQdsiYCQDupI17iI4s19rlCkyG_GyziKOEKM1dItvHXGev2kCm66tNEXsGhWcA_YHXW_3rAeYWLjr98E/s16000/Mauricio+Tragtenberg.jpg" title="Maurício Tragtenberg" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Uma situação semelhante
à makhnovitchina é percebida na <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">revolta de Kronstadt</a>. O local era uma fortaleza
naval da ilha de Kotlin, no Golfo da Finlândia, cerca de 35 milhas de São
Petersburgo. Ainda em 1921, no mês de março, defendendo os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">soviets</i> livres, Kronstadt explode a última grande revolta
revolucionária e contra a ditadura do partido bolchevique, durando16 dias e
sendo esmagada pelo Exército Vermelho. O mesmo Exército liderado por Trotsky,
que em 1917 afirmaram que os marinheiros da fortaleza naval eram “o orgulho e a
glória” da Revolução Russa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A revolta de Kronstadt
está inserida em um contexto mais profundo: a crise do chamado “comunismo de
guerra”. Esse modelo de gestão do Estado revolucionário soviético, adotado ao
longo da Guerra Civil, foi uma brutal centralização política bolchevique,
confiscos e expropriações do Estado sobre os camponeses e operários, sempre
priorizando o abastecimento do Exército Vermelho (em nome da Revolução). Porém,
uma grave crise se abateu sobre a Rússia e o Comunismo de Guerra parecia não
ter mais fim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No mês de março de
1920, representando o reforço da ditadura leninista, ao longo do IX Congresso
do Partido Comunista, na discussão sobre o papel dos sindicatos no comunismo, é
deliberado que “os sindicatos devem executar essas tarefas [econômicas e
educativas] não mais como força independente organizada à parte, mas no que
respeita à máquina principal do mecanismo governamental, guiado pelo Partido
Comunista”. Trotsky justifica o fim do sindicalismo não-bolchevique afirmando
que “os sindicatos pretendem defender os interesses da classe operária contra o
Estado, mas, uma vez que o Estado é ele próprio operário, essa defesa não tem
qualquer sentido (1). Tal fala não significa apenas que Trotsky defende
abertamente que os trabalhadores não devem possuir mecanismos de defesa na luta
de classe. Representa também que os trabalhadores deveriam continuar assistindo
ao Estado falir junto com a revolução e o fim da possibilidade de melhorias
sobre um novo regime político-econômico que resolveria a crise pela qual
passava a Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em 1921, a extração
mineradora e a produção fabril despencaram para 20% dos níveis de pré-guerra,
com muitos itens essenciais tendo um declínio ainda mais drástico, e, no mesmo
ano, a extensão das terras cultivadas encolheu para 62% da área anterior à
Primeira Guerra Mundial, e a colheita era apenas 37% do normal. Dessa forma, os
bolcheviques perdiam o apoio da população, que se tornava mais enfática na
demonstração de seu descontentamento com uma ditadura que em nada melhorava a
situação do país. O próprio Lenin admitia que “a essência do ‘comunismo de
guerra’ consistiu, na realidade, no confisco sobre os camponeses de todos os
seus excedentes e às vezes não apenas isso, mas também parte do cereal que este
necessitava para sua própria alimentação”. Ele afirma ainda que isso ocorreu
para “satisfazer os requerimentos do exército e sustentar os operários” (2).
Não sem razão, considerando somente o mês de fevereiro de 1921, pouco antes da
sedição de Kronstadt, explodiram 180 revoltas camponesas na Rússia (3).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Dessa forma, inserida
nas revoltas de esquerda para acabar com a ditadura bolchevique que estava
minando a revolução e (ainda mais sobre a pressão dos exércitos internacionais)
a própria Rússia, explode nos navios de guerra Petropavlosk e Sebastopol, em
março de 1921, a revolta de Kronstadt, combatendo por <i style="mso-bidi-font-style: normal;">soviets</i> livres, nova Assembleia Constituinte, liberdade de
expressão para organizações políticas de esquerda e a libertação de seus presos
políticos, etc. Basicamente, exigiam mais revolução e menos ditadura. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A resposta dos
bolcheviques veio rápida: repressão brutal! Além de temer perder a hegemonia
sobre os rumos da revolução, o Partido Comunista visava impedir que Kronstadt
servisse de “plataforma” para mais uma ação do Exército Branco. De fato, muitos
dos emigrados russos, que articularam a contrarrevolução de outros países, tentavam
encontrar na revolta de Kronstadt uma forma de acabar totalmente com o poder
bolchevique e, obviamente, de restaurar o poder nas mãos dos capitalistas. E
foi esse o argumento leninista contra a revolta na base naval. Atualmente está
fartamente documentado e comprovado que tal ideia era falsa e que, enquanto
durou a revolta, não houve qualquer tipo de associação entre os marinheiros de
Kronstadt, ou seus líderes, e as forças da contrarrevolução. Fora isso, basta
ler as exigências dos marinheiros para constatar que se tratava, sim, de uma
enorme mobilização de esquerda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sabendo do perigo que
poderia representar a vitória da sedição, o Exército Vermelho mobilizou mais de
50 mil soldados. Em 17 de março, Kronstadt rendia-se contabilizando milhares de
mortos. No dia seguinte, a imprensa bolchevique comemorava o aniversário de 50
anos da Comuna de Paris, 1871, enaltecendo os rebeldes da capital francesa.
Ironias à parte, o fato é que o levante dos marinheiros acabou constituindo-se
como a última mobilização antiditatorial na Rússia por algumas décadas. Era o
fim do processo revolucionário que se iniciara em 1917.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Posteriormente, Lenin
substituiria o Comunismo de Guerra pela Nova Política Econômica (NEP),
restituindo a iniciativa privada nos setores agrícolas, industrial e comercial
para tentar retirar a Rússia da crise na qual se afogava.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Como slogan, a NEP
afirmava dar “um passo atrás para dar dois à frente”... E dessa forma, mas à
frente, Stalin se consolidaria no poder, sustentando a situação de que a
revolução social na Rússia estava restrita aos desejos clandestinos, aos
exilados e fugitivos políticos de esquerda e aos campos de concentração da
Sibéria. Demonstrando que se o resultado da revolução de 1917 foi que as aldeias
revolucionárias teriam de trilhar novamente o caminho do medo e da
clandestinidade, era necessário, então, que se repensassem as formas de luta em
combate ao capitalismo (pp. 26-29).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(...)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Enquanto essas
discussões se davam no interior do partido, os marinheiros da base naval de
Kronstadt, inclusive os que prestavam serviço no encouraçado Potemkin –
chamados em 1917, por Trotski, de “a glória da revolução” –, revoltam-se contra
o governocentral de Moscou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A insurreição de
Kronstadt iniciou-se a 3 de março de 1921 e terminou a 16 de março do mesmo
ano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A irrupção da revolta
de Kronstadt está vinculada à situação do proletariado de Petrogrado. O inverno
em Petrogrado nos anos 1920-21 foi particularmente severo, embora sua população
tenha diminuído em dois terços. O abastecimento apresenta altos níveis de
deficiência, devido ao estado catastrófico dos meios de transporte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A crise de
abastecimento, especialmente em víveres, está ligada também à degenerescência
burocrática e à corrupção dos órgãos estatais da área.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A Rússia na época
pratica a troca dos produtos industriais, produzidos nas cidades, pelos
produtos agrícolas. O sal e o petróleo urbanos eram trocados por alguns quilos de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>batatas e um pouco de farinha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Oficialmente os
mercados não existiam, mas na prática eram tolerados. Contudo, por ordem de
Zinoviev, no verão de 1920, qualquer traço de comércio teria de desaparecer. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pequenos armazéns e
lojas foram lacrados pelo governo, porém o Estado não tinha possibilidade de
abastecer a cidade. Em janeiro de 1921 a <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Petrokommouna</i>
(órgão estatal encarregado do abastecimento da cidade) informava que os
trabalhadores da indústria pesada tinham direito a 800 gramas de pão preto e os
carteiros entre 400 a 200 gramas. O pão preto era nessa época o alimento
essencial do trabalhador russo, mas essas rações oficiais eram irregularmente
distribuídas e em quantidades menores que as estipuladas nos papéis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Parte da população que
possuía família em zona rural fugia da cidade. Esse dado importante desmente a
versão oficial das greves operárias em Petrogrado como consequência da presença
de camponeses não temperados pela ideologia proletária!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os trabalhadores da
usina de Troubotchni realizam a primeira greve a 24 de fevereiro de 1921. O
governo bolchevique envia contra eles destacamentos de cadetes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Isso não impede que a
greve se estenda à usina Baltiski, à usina Laferme, à fábrica de sapatos
Skorokhod, às usinas Ademiralteiski, Bormann e Metalicheski, atingindo no dia
28 a usina Putilov, a maior do país.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Enquanto algumas usinas
levantam reivindicações econômicas – como normalização do abastecimento à
cidade dos produtos das zonas rurais, restabelecimento do mercado, supressão da
fiscalização das milícias que se apropriam de alguns quilos de batatas que os
trabalhadores conseguiram em troca de produtos manufaturados –, outras formulam
reivindicações políticas, como liberdade de imprensa e liberdade dos
prisioneiros políticos. Em certas usinas os grevistas cassam a palavra dos
bolcheviques.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Resposta do governo:
medidas militares para enfrentar essas reivindicações através da constituição
de um Comitê de Defesa, que proclama <i style="mso-bidi-font-style: normal;">estado
de sítio na cidade de Petrogrado</i>. A circulação de pessoas fica proibida após
as 23 horas, assim como reuniões, comícios e agrupamentos, em locais abertos ou
fechados, sem autorização do comitê.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Infração a essas ordens
implica julgamento, com aplicação de leis previstas em tempo de guerra. São
mobilizados os membros do partido e os grevistas mais ativos são encarcerados.
Os marinheiros de Kronstadt enviam a 26 de fevereiro seus delegados a
Petrogrado, para informar-se a respeito das greves. Visitam inúmeras usinas,
voltando a Kronstadt no dia 28 do mesmo mês. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quais foram as reivindicações
dos marinheiros de Kronstadt que levaram a base naval a levantar-se contra os
bolcheviques?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">KRONSTADT:
A REVOLUÇÃO NA REVOLUÇÃO<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt, considerando
que os sovietes atuais não exprimiam mais a vontade dos operários e camponeses,
reivindicava: imediata eleição com voto secreto, com liberdade de desenvolver
campanha eleitoral; liberdade de imprensa e palavra para operários e
camponeses, anarquistas e socialistas de esquerda; liberdade de reunião para
todos os sindicatos operários e organizações camponesas; liberdade para todos
os socialistas prisioneiros políticos, assim como marinheiros e soldados do
Exército Vermelho presos durante os movimentos populares; eleição de uma
comissão encarregada de examinar os casos dos prisioneiros e dos internados em <i style="mso-bidi-font-style: normal;">campos de concentração</i>; supressão de
todos os departamentos políticos (em cada unidade fabril, militar e de bairro,
o partido possuía um departamento político); nenhum partido deve ter o
privilégio da propaganda política e ideológica nem receber nenhuma subvenção
governamental; no lugar dos departamentos políticos, formar Comissões de
Educação e Cultura financiadas pelo Estado; supressão imediata de todas as
barreiras militares; supressão dos destacamentos comunistas de choque em todas
as seções militares e da Guarda Comunista nas minas e usinas; se houver
necessidade de destacamentos, que sejam nomeados pelos soldados das seções
militares; se houver necessidade de guardas, que sejam escolhidos pelos
próprios trabalhadores; o camponês deve usufruir sua terra, sem empregar
trabalho assalariado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os marinheiros de
Kronstadt criticavam a formação de uma nova burocracia, a quem chamavam de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">comissiocracia</i>, e também a estatização
dos sindicatos. Inúmeros membros do Partido Bolchevique que residiam em
Kronstadt pedem publicamente demissão do partido, aceitando a crítica dos
marinheiros ao governo soviético.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Kronstadt mesmo se
autodenomina a “Terceira Revolução Russa”. Qual a posição das várias facções
políticas russas da época a respeito da rebelião?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Anarquistas</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
– Embora houvesse entre os membros do Comitê Revolucionário marinheiros que se
definiam como anarquistas, não se verificou intervenção direta dos anarquistas
enquanto grupo ou corrente organizada. A imprensa anarquista não se manifesta a
respeito da insurreição e Iarchouk, antigo anarcossindicalista, nada diz a
respeito no seu livro sobre a insurreição de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em caráter pessoal,
anarquistas como Emma Goldman e Ale-xandre Berkman se propuseram a ser os
mediadores entre os marinheiros e os bolcheviques; só a proposta de mediação já
mostra a escassa participação anarquista na rebelião.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quanto aos sovietes, na
revolução ucraniana Makhno já lutava por sovietes <i style="mso-bidi-font-style: normal;">livres</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A posição de Kronstadt
de confiar aos sindicatos tarefas importantes não é idéia exclusivamente
anarquista, pois os socialistas revolucionários de esquerda e os membros da
Oposição Operária também a defendiam. Ela traduzia o consenso daqueles que
pretendiam salvar a Revolução pela democracia operária, opondo-se à ditadura do
partido único.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Mencheviques</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
– Sempre tiveram escassa influência sobre os marinheiros. Embora tivessem
número razoável de deputados no soviete de Kronstadt, seu nível de popularidade
era baixo, enquanto os anarquistas, com três deputados somente, gozavam de
muito maior aceitação entre os marinheiros (em 1917, numerosos anarquistas não
distinguiam claramente suas diferenças com o bolchevismo, vendo em Lenin um
marxista-bakuninista).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Embora hostis aos
bolcheviques, os mencheviques nunca pregaram a revolução violenta contra o
governo. Tentam agir como oposição legal nos sovietes e no movimento sindical.
Esperavam eles que o término da guerra civil levasse o regime soviético a rumos
democráticos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Socialistas
revolucionários de direita</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> – Através de seu líder Viktor
Tchernov, apoiava Kronstadt e fazia crítica à ditadura bolchevique, receitando
como remédio aos males dos trabalhadores a convocação de uma Assembleia
Constituinte. Criticavam acremente os bolcheviques de sobreporem os sovietes à
Constituinte e até mesmo de fechá-la.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Socialistas
revolucionários de esquerda</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> – Apoiavam inteiramente as
reivindicações de Kronstadt, enunciadas anteriormente. No seu jornal oficial,
negavam terminantemente qualquer participação na insurreição.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Lenin</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">
– Liga a insurreição de Kronstadt ao elemento camponês, pressionando o governo
soviético. Denuncia a presença em Kronstadt de mencheviques, socialistas
revolucionários e outros antibolcheviques. Atribui a direção da rebelião a um
general czarista, Koslovski. Acusa Kronstadt de receber recursos do capital
financeiro internacional, como tentativa de deslocamento do poder em proveito
dos empresários urbanos e agrários. A argumentação de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Trotski </i>caminha no mesmo sentido que a de Lenin.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Porém, após Trotski ter
sido exilado por Stalin, no México escreve seu último livro – foi assassinado
no meio de sua redação por um agente da polícia secreta de Stalin –, intitulado
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Stalin</i>, onde confessa que a repressão
bolchevique a Kronstadt fora uma necessidade trágica; o mesmo vale para Makhno
e outros revolucionários, que, segundo ele, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">tinham
boas intenções mas agiram erradamente</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No real, o proletariado
russo perdera o controle das fábricas, dirigidas por delegados do Estado, a
insurreição camponesa autogestionária da Ucrânia, que derrotara os generais
Denikin e Wrangel, foi contida pelo Exército Vermelho, e a insurreição de
Kronstadt, que definia um programa de objetivos socialistas e libertários, foi
selvagemente reprimida pelo bolchevismo. A repressão fora dirigida pelo general
Tukatchevski, posteriormente fuzilado como “traidor” da Revolução por Stalin,
nos célebres processos de Moscou (1936-38). Diga-se de passagem, nesses
processos Stalin fuzilara todo o Comitê Central de Lenin (pp. 122-127).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(1) AVRON, Henry. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Revolta de Kronstadt</i>. São Paulo:
Editora Brasiliense, 1984, p. 4.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(2) AVRICH, Paul. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt, 1921</i>. Buenos Aires: Utopia
Libertaria, 2006, 15.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">(3) <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ibidem</i>, p. 19.</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">TRAGTENBERG, Maurício.
A revolução Russa. São Paulo: Faísca Publicações Libertárias, 2007.<o:p></o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-89204308048723017852021-11-01T04:00:00.003-07:002022-10-31T14:17:05.832-07:00Kronstadt e os Anarquistas Espanhóis (CNT), por José Peirats<p style="text-align: justify;"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMKJJ_OW0Nh8gmR-OeK2Yt1DOKI0T8Xsr4UOO4KLOLKLvxVlqJZ5ufyTY7RzuSMYjUIsVnxamBmooku0JNXNuyf0ZjSTBpEZIFts4d2QwOae1mzXE7X2nhKtdYvqXGKWD28lLiE7dgqqMj/s273/peirats.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="Kronstadt e os anarquistas espanhóis (CNT)" border="0" data-original-height="273" data-original-width="185" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMKJJ_OW0Nh8gmR-OeK2Yt1DOKI0T8Xsr4UOO4KLOLKLvxVlqJZ5ufyTY7RzuSMYjUIsVnxamBmooku0JNXNuyf0ZjSTBpEZIFts4d2QwOae1mzXE7X2nhKtdYvqXGKWD28lLiE7dgqqMj/w271-h400/peirats.jpg" title="José Peirats" width="271" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">José Peirats</td></tr></tbody></table><br /></p><div style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 18.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><a href="https://proporock.blogspot.com/2019/02/fecaloma-30-anos-de-punk-rock-entrevista.html" rel="nofollow" target="_blank">Tradução: Jean Fecaloma</a></span></div><p></p><p style="text-align: center;"><b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Socialismo
ou ditadura</span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em Berlim, [Ángel]
Pestaña, que havia saído de Barcelona em março de 1920, teve notícias do II
Congresso da Terceira Internacional, convocado para julho daquele mesmo ano. Logo
após ter obtido a designação de delegado da CNT, pôde entrar na Rússia em 26 de
julho. Em Moscou, foi convidado para as reuniões preliminares do congresso,
celebradas pelo Comitê Executivo da Internacional Comunista. Nelas seriam
planejadas uma nova Internacional sindical revolucionária. Porém, nas declarações
inicialmente esboçadas, havia um exaltado panegírico da ditadura do
proletariado. As organizações sindicais de caráter apolítico eram atacadas
desapiedadamente. Pestaña se negou a assinar todo o documento a este respeito,
não abrindo mão da seguinte ressalva: “Tudo o que se refere à conquista do
poder político, à ditadura do proletariado (...) será decidido em acordos
posteriores definidos pela CNT, tão logo eu regresse à Espanha e o Comitê Confederal
tome conhecimento do que aqui foi acordado”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pestaña afirmou que os
comunistas se dispuseram, inclusive, a emendar a redação do documento, no que
se referia à ditadura do proletariado. Entretanto, nem mal se ausentou o
delegado espanhol, para que se dessem publicidade ao texto original com a
assinatura de Pestaña.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sobre o desenvolvimento
do congresso propriamente dito, Pestaña relata que lhe chamou sobremaneira à
atenção a disputa que se produziu pela ocupação da presidência. Mas logo se
daria conta de que a presidência era o próprio Congresso, e esse sua caricatura.
A presidência elaborava o regulamento, presidia o congresso, modificada à sua
maneira as proposições, alterava a ordem do dia e apresentava proposições de
iniciativa própria. A forma com que manejava a guilhotina era um primor. Por
exemplo: Zinoviev pronunciou um discurso de uma hora e meia, apesar do tempo
reservado para as intervenções estivesse estipulado em 10 minutos. Pestaña se
propôs a rebater este discurso, mas foi interrompido pela presidência, relógio
na mão. O próprio Pestaña foi rebatido por Trotski, que discursou por longos 45
minutos. Quando Pestaña tentou refutar os ataques que Trotski lhe havia
dirigido, a presidência declarou o debate encerrado. Pestaña também protestou
contra a forma de seleção dos palestrantes. Teoricamente, cada delegado podia
fazer uma proposição, mas cabia à presidência escolher os “mais capacitados”.
Outro de seus assombros foi o fato de não se registrarem atas. Tampouco se
votava por delegações, senão por delegados. Era previsto o voto proporcional,
mas não se aplicava. O Partido Comunista Russo se assegurava assim de uma
maioria confortável. Para o cúmulo dos cúmulos, certos acordos não se davam no
salão das sessões, mas nos bastidores. Desta maneira, foi aprovado o seguinte:
“Nos próximos congressos mundiais da Terceira Internacional, as organizações
sindicais nacionais aderentes estarão representadas pelos Delegados do Partido
Comunista de seu país respectivo”. Qualquer manifestação de protesto por esse
acordo foi simplesmente ignorado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Pestaña abandonou a
Rússia no dia 6 de setembro de 1920, depois de uma breve troca de impressões
com Amando Borghi (delegado da União Sindical Italiana), que também regressaria
à Itália decepcionado com aquela infortunada experiência. Mas antes de saírem
de Moscou, ambos tiveram conhecimento de uma circular referente à organização
da Internacional Sindical Vermelha. Se o futuro congresso da Terceira
Internacional objetivava assegurar o predomínio dos partidos comunistas acima
das organizações sindicais, era de se supor que em uma Internacional Sindical
daria rédeas soltas às centrais obreiras submissas. Todo o contrário
demonstrava aquele infeliz projeto da Internacional Sindical Vermelha o qual
dispunha:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“1) Um comitê especial
deverá ser organizado em cada país pelo Partido Comunista. 2) O comitê se
encarregará de receber e distribuir a todas as organizações sindicais as
circulares e as publicações da Internacional Sindical Vermelha. 3) O Comitê
nomeará os redatores dos periódicos profissionais e revolucionários
inculcado-lhes os pontos de vista da Internacional contra a Internacional
adversária. 4) O Comitê intervirá com artigos próprios de orientação e
polêmica. 5) O Comitê trabalhará em estreita relação com o Partido Comunista,
ainda que este se constitua em um órgão diferente. 6) O Comitê deverá
contribuir para a convocação de conferências em que se discutam questões de
organização internacional e deverá escolher os oradores para a propaganda. 7) O
Comitê será composto de camaradas preferencialmente comunistas. As eleições
serão supervisionadas pelo Partido Comunista. 8) Nos países onde este método
não pode ser adotado serão enviados emissários do Partido Comunista a fim de
criar uma organização parecida”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Há quem não consiga
compreender que uma organização libertária como a CNT, tão rica em experiências
políticas e sociais, pudesse ser seduzida, sequer por um momento, pela ditadura
proletária e a Terceira Internacional. Muitos fatos explicam este fenômeno. A Espanha
atravessava um período revolucionário. A CNT estava em pleno auge de
crescimento e a chegada de militantes novatos suscitava uma ebulição de
correntes diversas. O clima de repressão constante fazia com que se cedesse com
certa facilidade ao oportunismo, em detrimento do rigor doutrinário. Um fato
transcendental dominava tudo: a grande chamada da Revolução Russa e seu
terrível impacto no espírito revolucionário espanhol. Todos os partidos e
organizações esquerdistas do mundo haviam sofrido influência desse impacto. O
Partido Socialista espanhol sofreria sob a forma de duas cisões. Quanto maior
era o bloqueio das potências ocidentais sobre a Rússia, tanto maior era o
hipnotismo da revolução. Por outra parte, em 1919, ainda não fora produzido a
avalanche crítica anticomunista. O livro de Luigi Fabbri, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ditadura e revolução</i>, muito embora escrito em 1919-20, não apareceu
em italiano senão em 1921. A edição espanhola desse mesmo livro foi publicada
na Argentina em 1923. Um dos primeiros folhetos anticomunista, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Soviete ou ditadura?</i>, de Rudolf Rocker,
não apareceu em castelhano senão em 1920 (Argonauta, Argentina). <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bolchevismo e anarquismo</i>, do mesmo
Rocker, foi escrito em 1921 e foi publicado na Argentina no ano seguinte. Até
1923, não havia sido publicado em alemão a obra de Piotr Archinov: <i style="mso-bidi-font-style: normal;">História do movimento makhnovista</i>. No
mesmo ano, lia-se nos Estados Unidos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Minha
desilusão na Rússia</i>, de Emma Goldman. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O
mito bolchevique</i>, de Alexandre Berkman, não se ofereceu ao público senão em
1925.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">É, pois, evidente que
no congresso de 1919 não se pôde esclarecer aos delegados tão preciosas informações.
De todas as maneiras, bem analisado o acordo do congresso de 1919, descobre-se
que nunca se optou por uma adesão incondicional. A moção reitera a fidelidade
da CNT aos princípios da Primeira Internacional “defendidos por Bakunin”. Em
seguida, ressalta o caráter provisório ao acordo de adesão. E, em último lugar,
subordina o acordo aos resultados de um congresso a realizar-se na Espanha, que
deverá, portanto, assentar as bases da “verdadeira” Internacional dos
trabalhadores. Assim, pois, o caráter condicional do acordo não poderia ser
mais rigoroso. Entretanto, havia mais: a CNT se restringia ao terreno da
realidade revolucionária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Os mais privilegiados
em ordem de informações verídicas foram os anarquistas do círculo de Berlim,
que, situados no corredor de ida e volta da Rússia, puderam ir absorvendo os
primeiros sinais desesperadores da realidade. O descrédito do mito comunista
não começou a produzir-se senão até 1921. Foram motivados pelos escandalosos
acontecimentos de <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" target="_blank" rel="nofollow">Kronstadt</a> (a destruição, pelas tropas de Trotski, daquele
reduto anarquista). Alguns anarquistas, que haviam ido à Rússia para contribuir
com a reconstrução revolucionária daquele país, já estavam de volta
decepcionados, pois haviam sido expulsos pelo novo despotismo. Entre eles,
figuravam Alexander Berkman, Emma goldman e Alexander Schapiro. Estes
proscritos do paraíso proletário levavam consigo manuscritos de livros e
preciosos materiais de informação. Sem hipérbole, seria possível afirmar que,
entre os precursores que puseram a nu o mito vermelho, estavam os anarquistas.
Esta conduta nunca lhes foi perdoada pelos seus “freres ennemis”. Outros
setores ou mesmo personalidades tocados pelo mito não tardaram senão muitos
anos em sacudir tão pegajosa influência. Entre os mais vulneráveis, destacavam-se
os intelectuais vanguardistas. No que diz respeito ao movimento sindical, Ángel
Pestaña e Armando Borghi foram os primeiros arautos no Ocidente daquele
dramática chantagem. A mensagem de Pestaña tardou, todavia, a chegar aos
sindicatos. Pestaña não retornou a Barcelona senão em 17 de dezembro de 1920,
sendo imediatamente detido e encarcerado. Até quase um ano depois, em novembro de
1921, não remeteu seu relatório ao Comitê Nacional da CNT. Em sua passagem pela
Itália, também lá fora detido. A polícia desse país havia apreendido de quantos
documentos era portador. Ángel Pestaña escreveu depois dois livros sobre a
Rússia. O primeiro, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Setenta dias na
Rússia</i>, publicado em 1924. O que significa dizer que não seria lido pelos
trabalhadores confederais senão no início da ditadura de Primo Rivera.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(...)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O
Congresso Nacional da CNT de 1919<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"></b></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggaHG65VxCtu8Cni40qLs36TZSIO33rBI5EixnSYbXvGsc9TC8QsMcRolaQtpwa9LMBoujqJDCsoc60A3kWMFBUOx-487HncZICL3Mr2YrOKWCoENozsG5KM8Yzp4iSqPW32EVNGvwj7e3/s330/cnt.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="153" data-original-width="330" height="148" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggaHG65VxCtu8Cni40qLs36TZSIO33rBI5EixnSYbXvGsc9TC8QsMcRolaQtpwa9LMBoujqJDCsoc60A3kWMFBUOx-487HncZICL3Mr2YrOKWCoENozsG5KM8Yzp4iSqPW32EVNGvwj7e3/s320/cnt.png" width="320" /></a></b></div><p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O
congresso a que se refere transcorreu nos seguintes termos:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O congresso Nacional da
CNT foi realizado em Madri entre 10 e 18 de dezembro de 1919. Pela extensão e
variedade da agenda, pela quantidade e qualidade dos delegados e o número de
aderentes representados, foi um dos comícios obreiros mais importantes de todos
os tempos celebrados na Espanha. Três problemas capitais foram tratados: a
fusão do proletário espanhol (rechaçada por 323.955 votos contra 169.125 e
10.192 abstenções); a nova estrutura orgânica constituída à base de Federações
Nacionais de Indústria (rechaçada por 651.472 votos contra 14.008); declaração
de princípios do comunismo libertário (adotada unanimemente por aclamação).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">No entanto, o debate
mais importante girou em torno de qual atitude tomar com relação à Revolução
Russa. Várias propostas foram sugeridas: “Quais meios poderemos pôr em prática
para prestar apoio à Revolução Russa e evitar o bloqueio (...) por parte dos
Estados capitalistas? É necessário o ingresso (...) na terceira Internacional
Socialista? Deve a Confederação aderir à Internacional imediatamente? Em qual Internacional
deve fazê-lo? Seria conveniente a realização de um Congresso Internacional na
Espanha?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Vários ditames foram
aprovados, porém cabe assinalar o seguinte:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">“A Confederação
Nacional do Trabalho se declara firme defensora dos princípios, defendidos por
Bakunin, que conceberam a Primeira Internacional. Declara que adere,
provisoriamente, à Terceira Internacional, pelo seu caráter revolucionário, até
organizar e realizar o Congresso Internacional na Espanha, que irá assentar as
bases que hão de reger a verdadeira Internacional dos Trabalhadores".<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Este acordo havia coroado
um debate de alto nível no qual tomaram parte os delegados mais proeminentes. A
discussão envolveu o significado da ditadura do proletariado. Eis aqui um
resumo do que foram as intervenções:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Manuel Buenacasa: “...Nós,
que somos inimigos do Estado, como o temos demonstrado em algumas moções
aprovadas por esse congresso, entendemos que a revolução russa, pelo fato de
ser uma revolução que tem transformado todos os valores econômicos ou, melhor
dizendo, pelo fato de ser uma revolução que tem dado ao proletariado o poder,
os instrumentos de produção e a terra, deve nos interessar nesse aspecto,
portanto devemos impedir que essa revolução, que esse governo dos sovietes,
fique estrangulado pelos Estados capitalistas...”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Hilário Arlandis: “...Começamos
pela ditadura do proletariado. Muitos companheiros (...) não aceitam a ditadura
do proletariado como não aceitam nenhuma classe de ditadura... naturalmente, em
princípio, não devemos aceitar nenhuma violência, porque toda violência é
ditadura. Mas nós não somos somente idealistas (...) temos de aceitar a
violência porque é uma necessidade mesmo da sociedade e das condições em que
vivemos... Justifica-se a teoria da ditadura do proletariado, não já como ideal
último (...), senão como uma solução intermediária, inevitável, necessária,
fatal, em suma, uma medida contraditória para derrocar de uma vez por todas e
por completo os poderes dos privilegiados, e, por outra parte, capacitar (...)
as massas obreiras, que tem sido durante séculos espoliadas e reduzidas a mais
cruel ignorância...”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eleuterio Quintanilla:
“...Faz-se constituído um governo forte de acordo com o conceito clássico da
revolução. Todo movimento, geralmente, deve se coroar de um governo revolucionário
que se encarregue do poder e represente os interesses da nova revolução,
organize a sociedade, estabeleça a nova ordem de coisas, constitua um novo
direito. Esse é o conceito de revolução clássica; esse é o conceito da
revolução marxista. Os federalistas bakuninianos internacionalistas dos primeiros
tempos, homens que estamos de acordo com o critério e o espírito libertários,
sempre combateram, e nós também, no terreno da própria ação de classe, esse
conceito, que é considerado por nós autoritário, centralista, castrador...
portanto, a ditadura russa responde ao nosso conceito libertário...? Não. A
ditadura russa, tal como tem sido exercida, constitui para nós um sério perigo
que, se não está ao nosso alcance combater, está, e deve estar, em não
aplaudir...”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Salvador Segui: “...Somos
partidários (...) por necessidade da realidade (...) não em teoria, de
ingressar na Terceira Internacional (...) porque isto vai endossar nossa
conduta no chamamento que a CNT vai fazer às organizações sindicais do mundo,
para construir a verdadeira, a única, a genuína Internacional dos trabalhadores...
sustentamos que há necessidade de incorporarmos na Terceira Internacional
circunstancialmente, e que logo a Confederação espanhola deverá convocar todas
as organizações sindicais do mundo para organizar definitivamente a verdadeira
Internacional dos Trabalhadores...”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">(...)<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A
formação do Partido Comunista Espanhol e a recusa da CNT<o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O comitê nacional da
CNT estava nas mãos de elementos inexperientes ou atacados pela epidemia
comunista. Andrés Nin, um jovem oriundo do Partido Socialista, recém-chegado à
CNT, fazia as funções de secretário-geral. Ainda não se conhecia, todavia, as
informações de Pestaña sobre a Rússia. Tais informações, repetimos, não seriam
escritas senão em novembro daquele mesmo ano. A plenária foi celebrada na
segunda quinzena de abril. Havia de se decidir sobre a convocatória de um novo
congresso na Rússia (o da Internacional Sindical Vermelha), marcado para junho.
Foi nomeada uma delegação, composta por quatro comunistas: o mesmo Andrés Nin,
Hilário Arlandis, Joaquim Maurín e Jesus Ibáñez, este último militante do
Norte. Os grupos anarquistas de Barcelona, talvez alertados pelo que ocorria na
Rússia, usaram do direito de agregar à comissão um delegado próprio. Assim sendo,
foi designado <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2020/05/coletividades-libertarias-na-espanha.html" rel="nofollow" target="_blank"><b>Gaston Leval</b></a>. A delegação se dividiu abertamente ao chegar a
Moscou. Gaston Leval se manteve separado dos quatro incondicionais comunistas.
Um dos méritos desta delegação foi ter intervido, à iniciativa de Alexander
Berkman e Emma Goldman, na greve de fome declarada pelos anarquistas e
socialistas revolucionários presos no cárcere de Moscou. O documento que
estabelece a negociação entre os grevistas e a toda poderosa Tcheca, leva a
assinatura de Hilário Arlandis e Gaston Leval.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quase na mesma ocasião
que a CNT, o Partido Socialista havia celebrado seu XII Congresso no dia 9 de
setembro de 1919. Este congresso extraordinário havia sido motivado por uma
crise da comissão executiva. Nesse congresso, a tendência chamada “terceiristas”
(partidária pelo ingresso na Terceira Internacional) havia sido batida por
escasso número de votos. No ano seguinte, houve uma cisão das juventudes
Socialistas. Ángel Pestaña escreveria a seguinte anotação: “Antes de minha
saída da Espanha (março de 1920), não existia o Partido Comunista. Estando eu
em Paris, soube que a Juventude Socialista havia se separado do Partido Socialista
e constituído o Comunista. Imprensa partidária: começaram a publicar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">O Comunista</i>”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Em junho de 1920, reuniu-se
um novo congresso do Partido Socialista. Desta vez, os “terceiristas” bateram
seus adversários, também por ligeira diferença de votos. A adesão à Terceira
Internacional também estava condicionada a uma viagem de reconhecimento que
fariam à Rússia os delegados representantes das diversas tendências. Os
delegados foram Daniel Arguiano e Fernando de los Rios. O primeiro regressou
como havia partido: firme de suas convicções comunistas. Fernando de los Rios
pesaria muito na retificação do acordo. Segundo Andrés Saborit, “as
conversações de Fernando de los Rios com o patriarca do anarquismo, Piotr Kropotkin,
foram determinantes para convencê-lo de que, se bem havia sido destronado o
odioso czarismo, estava surgindo na Rússia uma nova tirania de tipo pessoal, o
que fez com que suas decisões foram absolutamente contrárias ao ingresso na
Terceira Internacional".<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Um novo congresso do
Partido Socialista (9 de Abril) derrotou definitivamente os “terceiristas” por
uma margem confortável de votos. Mais terminada a votação, a minoria derrotada
se apressou a fazer público um manifesto (13 de Abril) encabeçado por quem se
tornaria o primeiro secretário do Partido Comunista espanhol: Oscar Pérez
Solís. Era um sinal da cisão do Partido Socialista que daria nascimento ao
Partido Comunista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Segundo Pierre Brué e
Émile Términe: “Três correntes haviam se encontrado para fundar o movimento
comunista na Espanha: as Juventudes Socialistas no princípio, com Andrade e
Portela; depois a minoria socialista, com Pérez Solís, García Quejido, Anguiano
e Lamoneda, e o grupo de dirigentes da CNT que animavam Andrés Nin e Joaquín
Maurín".<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A CNT necessitava a
todo transe realizar um congresso para revisar seus acordos à luz dos últimos
acontecimentos. Somente mediante um estratagema, e também à força do
proletariado saragociano, foi reunida uma modesta conferência. Este comício
teve lugar em Saragoça no mês de julho de 1922. Uma das principais tarefas foi
confrontar as medidas tomadas pelos delegados enviados para a Rússia. Os
relatórios eram três: o de Ángel Pestaña; um outro escrito por Gastón Leval e o
que fez pessoalmente Hilário Arlandis. Este foi demitido e a Conferência voltou
uma moção de censura contra o despotismo bolchevique.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Também foi adotada uma
proposição pela qual ficava retirada a adesão da CNT à Terceira Internacional
em favor do ingresso na Associação Internacional dos Trabalhadores, reorganizada
recentemente em Berlim.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">PEIRATS, José. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Repressión y Martirologio</i>, in: <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Los anarquistas: en la crisis política
española (1869-1939)</b>. Libros de Anarres (Utopia Libertaria): Buenos Aires,
2006, pp. 33-45. Os subtítulos não constam no original, as notas também foram
suprimidas e a ordem do texto foi alterada para atender os fins desta postagem
– N.T.<o:p></o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-35538305035304146352021-10-01T06:00:00.002-07:002023-02-05T17:23:54.479-08:00A rebelião de Kronstadt, por Alexander Berkman<p style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3RNriU4vSmEGVoz83C0emk1n7ZFDXU6velADqFeLygBEJsxHhUxUM0NG78X3mP5wC2VO3TrviOmfYMzYMVDuFa7YcBQBvjSnjwCFd3ZkO8WBHSyhHnWKTdk4ANJMgzNVHwt2m7v2LTs-G/s258/Alexander+Berkman.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Kronstadt" border="0" data-original-height="258" data-original-width="196" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3RNriU4vSmEGVoz83C0emk1n7ZFDXU6velADqFeLygBEJsxHhUxUM0NG78X3mP5wC2VO3TrviOmfYMzYMVDuFa7YcBQBvjSnjwCFd3ZkO8WBHSyhHnWKTdk4ANJMgzNVHwt2m7v2LTs-G/w304-h400/Alexander+Berkman.jpg" title="Alexander Berkman" width="304" /></a></span></div><p></p><p style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; text-align: justify;"><b><a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" rel="nofollow" target="_blank">A REBELIÃO DE KRONSTADT</a></b></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Alexander Berkman<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 18.6667px;">Tradução: Ateneu Diego Giménez / COB-AIT Piracicaba/SP.</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">1. DESORDENS OPERÁRIAS
EM PETROGRADO<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Era o início de 1921.
Os tempos de guerra mundial, de revolução e de guerra civil debilitaram a
Rússia até o extremo e puseram o povo à beira do desespero. Porém, no fim, a
guerra civil terminou: os numerosos frontes foram liquidados, e Wrangel – a última
esperança de intervenção da Entente e da contrarrevolução russa – foi
derrotado, concluindo sua atividade militar na Rússia. O povo esperava agora
com confiança um alívio do severo regime bolchevique. Se esperava que os
comunistas, terminando a guerra civil, aliviassem as pesadas cargas, abolissem
as restrições introduzidas durante a guerra, instaurassem certas liberdades
fundamentais e começassem a organização normal da vida. Longe de ser popular, o
governo bolchevique era, pelo contrário, suportado pelos operários devido a seu
plano, frequentemente anunciado, de empreender a reconstrução econômica do país
logo que cessassem as operações militares. O povo estava ansioso para cooperar,
para prestar sua iniciativa e seu esforço criador na obra de reconstrução do
país arruinado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Desgraçadamente, estas
esperanças foram logo frustradas. O Estado comunista não evidenciou, de nenhum
modo, ter a intenção de debilitar o jugo. Continuava a mesma política. A
militarização do trabalho escravizava ainda mais o povo, e isso se exacerbava
mais e mais pela opressão crescente e pela tirania. Tal estado de coisas paralisava
toda possibilidade de um renascimento industrial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Desaparecia a última
esperança e se reforçava a convicção de que o partido comunista estava mais
interessado em conservar o poder político do que em salvar a revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O elemento mais
revolucionário da Rússia, o proletariado de Petrogrado, foi o primeiro a
protestar. Lançou a acusação de que, entre outras causas, a centralização bolchevique,
a burocracia e a atitude totalitária para com os camponeses e os operários eram
diretamente responsáveis, em grande parte, pela miséria e pelos sofrimentos do povo.
Grande número de oficinas e fábricas de Petrogrado fecharam suas portas: os operários
literalmente morriam de fome. Organizaram reuniões para considerar a situação,
e foram dispersados pelo governo. O proletariado de Petrogrado, que suportou
todo o peso das lutas revolucionárias, e cujos enormes sacrifícios e heroísmos
salvaram a cidade contra Yudenitch, se irritaram com a manipulação do governo.
A animosidade contra os métodos empregados pelos bolcheviques continuava
crescendo. Os comunistas recusavam as menores concessões ao proletariado,
oferecendo ao mesmo tempo entenderem-se com os capitalistas da Europa e da
América. Os operários se indignaram. Com o fim de forçar o governo a examinar
suas exigências, foram declaradas greves na fábrica de munições de Patronny,
nas fábricas do Báltico e de Trubotchny, e na fábrica de Laferm. Porém em lugar
de discutir a questão com os operários descontentes, o “Governo dos Operários e
Camponeses” criou o Komitet Oborony (Comitê de Defesa) como no período da
guerra, com Zinoviev – o homem mais odiado de Petrogrado – como Presidente. O
fim desse comitê era o de estrangular o movimento grevista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 24 de fevereiro
foram declaradas as greves. No mesmo dia os bolcheviques enviaram os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kursanti</i> – os estudantes comunistas da
academia militar que se preparavam para os graus de oficiais do exército e da
marinha – para dispersar os trabalhadores que haviam se reunidos em
Vassilievsky Ostrov, o bairro operário de Petrogrado. No dia seguinte, 25 de
fevereiro, indignados, os grevistas de Vassilievsky Ostrov visitaram os estaleiros
do Almirantado e as docas da Galernaya e persuadiram os operários a associarem-se
contra a atitude autocrática do governo. A tentativa de manifestação dos grevistas
nas ruas da cidade foi dispersada pelos soldados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 26 de fevereiro, na
reunião do Soviete de Petrogrado, um conhecido comunista, Laskevitch, membro do
Comitê de Defesa e do Conselho Militar Soviético da República, denunciou o
movimento grevista nos termos mais amargos. Acusou os operários da fábrica de
Trubotchny de terem começado o descontentamento e de serem “homens que não
pensavam mais que em sua vantagem pessoal (shkurniki) e que eram contrarrevolucionários”,
e friamente propôs fechar a fábrica de Trubotchny, proposição aceitada pelo
Comitê executivo do Soviete de Petrogrado, do qual Zinoviev era Presidente. Os
grevistas de Trubotchny foram, então, bloqueados e privados automaticamente,
por consequência, de sua ração de víveres.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As medidas do governo
bolchevique serviram para azedar mais o antagonismo dos operários. Nas ruas de
Petrogrado começaram a aparecer proclames de greve.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Algumas delas levavam
já um caráter francamente político. O mais característico destes manifestos,
colocado nos muros da cidade em 27 de fevereiro, dizia: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Se
tornou necessário uma mudança completa na política do governo. Em primeiro
lugar, os operários e camponeses têm necessidade de liberdade. Não querem viver
segundo os decretos dos bolcheviques: querem controlar seus próprios destinos!
Camaradas, mantenham a ordem revolucionária! Exijam de um modo organizado e
decidido:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">-
A libertação de todos os socialistas e dos operários sem partido presos;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">-
A abolição do estado de sítio; a liberdade de expressão, de imprensa e de
reunião para todos os que trabalham;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">-
A eleição livre dos comitês de fábrica e dos representantes aos sindicatos e
aos sovietes.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Organize
reuniões, adote resoluções, envie vossos delegados às autoridades e trabalhe na
realização de vossas exigências!</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O governo respondeu
efetuando numerosas detenções e suprimindo várias organizações operárias. Esta
medida aumentou mais a efervescência do povo; as exigências reacionárias
começaram a aparecer. Assim, um proclame dos “Operários Socialistas do Distrito
de Nevsky” apareceu em 28 de fevereiro, terminando com um chamamento em favor
da Assembleia Constituinte:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sabemos
quem tem medo da Assembleia Constituinte. São os que não poderão roubar o povo
em seguida. Terão, ao contrário, que responder aos representantes do povo por
suas mistificações, seus roubos e seus crimes.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Abaixo
os comunistas odiados! Abaixo o governo soviético! Viva a Assembleia
Constituinte!</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Durante esse tempo, os
bolcheviques concentraram em Petrogrado consideráveis forças militares levadas
da província, e mandavam à capital do norte, a partir da linha de frente, os
regimentos comunistas mais fiéis. Petrogrado foi declarada em “lei marcial extraordinária”.
Os grevistas foram subjugados pela força e a agitação operária, esmagada com
mãos de ferro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">2. O MOVIMENTO DE
KRONSTADT<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os marinheiros de
Kronstadt se alarmaram visivelmente antes dos acontecimentos de Petrogrado. Sua
atitude para com as rigorosas medidas tomadas pelo governo contra os grevistas
estava longe de ser amistosa. Sabiam o que teve que suportar o proletariado revolucionário
da capital durante os primeiros dias da revolução, sua heroica luta contra Yudenitch,
a paciência com que toleraram as privatizações e a miséria. Porém Kronstadt estava
longe também de favorecer a Assembleia Constituinte, ou a experiência do
comércio livre de que se falava em Petrogrado. Os marinheiros eram, tanto espiritualmente
como na ação, antes de tudo, revolucionários. Eram os partidários mais decididos
do sistema dos Sovietes, porém eram contrários à ditadura de um partido político
qualquer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O movimento de simpatia
aos operários grevistas de Petrogrado começou primeiramente entre os
marinheiros dos barcos de guerra Petropavlovsk e Sevastopol, os mesmos navios
que em 1917 foram o apoio principal dos bolcheviques. O movimento se estendeu a
toda a frota de Kronstadt, e depois aos regimentos do Exército Vermelho
estacionados ali. No dia 28 de fevereiro a tripulação do Petropavlovsk adotou uma
resolução que obteve também o consentimento dos marinheiros do Sevastopol. A resolução
pedia, entre outras coisas, as reeleições livres do Soviete de Kronstadt, cujo mandato
foi logo expirado. Ao mesmo tempo foi enviada a Petrogrado uma comissão de marinheiros
para obter informações sobre a situação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No dia 1º de março se
celebrou uma reunião pública na praça da Âncora, em Kronstadt; foi convocada
oficialmente pelas tripulações da primeira e da segunda esquadra da frota do
Báltico. Dezesseis mil marinheiros, soldados do Exército Vermelho e
trabalhadores vieram até ela; foi presidida pelo presidente do Comitê executivo
do Soviete de Kronstadt, o comunista Vassiliev. O presidente da República socialista
federativa dos Sovietes, Kalinin, e o comissário da frota do Báltico, Kuzmin, estavam
presentes, e tomaram a palavra. Deve fazer-se notar aqui, como indicação da atitude
amistosa dos marinheiros ao governo bolchevique, que Kalinin, a sua chegada a Kronstadt,
foi recebido com as honras militares, com música e com bandeiras hasteadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A comissão de
marinheiros que havia sido enviada a Petrogrado apresentou seus informes no
comício. Estes informes confirmaram as piores apreensões de Kronstadt. A reunião
expressou abertamente sua indignação contra os métodos empregados pelos comunistas
para sufocar as aspirações dos operários de Petrogrado. A resolução adotada pelo
Petropavlovsk em 28 de fevereiro foi então apresentada aos reunidos. O
presidente da república, Kalinin, e o comissário Kuzmin atacaram ferozmente a
resolução, os grevistas de Petrogrado e os marinheiros de Kronstadt. Porém seus
argumentos não impressionaram a audiência e a resolução do Petropavlovsk foi
adotada unanimemente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Eis aqui o documento
histórico:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">RESOLUÇÃO DA REUNIÃO
GERAL DA PRIMEIRA E SEGUNDA ESQURADRA DA FROTA DO BÁLTICO, CELEBRADA EM 19 DE
MARÇO DE 1921. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Tendo
ouvido o informe dos representantes enviados a Petrogrado pela reunião, decide:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">1)
dado que os Sovietes atuais não expressam a vontade dos operários e dos
camponeses, celebrar imediatamente as novas eleições por voto secreto, tendo
completa liberdade de agitação entre os operários e camponeses na campanha
eleitoral;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">2)
estabelecer a liberdade de expressão e de imprensa para todos os operários e
camponeses, para os anarquistas e para os partidários socialistas da esquerda;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">3)
assegurar a liberdade de reunião para os sindicatos e para as organizações
camponesas;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">4)
convocar uma conferência independente dos operários, soldados do Exército
Vermelho e marinheiros de Petrogrado, Kronstadt e da província de Kronstadt,
antes de 10 de março de 1921;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">5)
libertação de todos os presos políticos socialistas e também de todos os
operários, camponeses, soldados e marinheiros encarcerados pelo delito de
participação nos movimentos operários e camponeses;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">6)
eleger uma comissão de revisão dos casos daqueles que se encontram nas prisões
e nos campos de concentração;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">7)
abolir todos os politotdeli (gabinetes políticos), porque nenhum partido deve
ter privilégios para a propaganda de seus ideais, nem receber ajuda financeira
do governo para tais fins. Em seu lugar será necessário instituir comissões de
educação e de cultura social, eleitas localmente e sustentadas materialmente
pelo governo;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">8)
abolir imediatamente os zagryaditelniye otryadi (1) (destacamentos de pedágio);<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">9)
igualar as rações para todos aqueles que trabalham em ofícios perigosos para
saúde;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">10)
abolição dos destacamentos comunistas de guerra em todas as seções do exército,
assim como da guarda comunista colocadas nas oficinas e nas fábricas; em caso
de necessidade, estes destacamentos ou pelotões de guarda deverão ser
designados pelo exército a partir das fileiras do mesmo, e nas fábricas segundo
os desejos dos operários;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">11)
dar aos camponeses plena liberdade de ação no que diz respeito às suas terras,
e também o direito a possuir gado, na condição de que os próprios camponeses
administrem com seus próprios meios; isto é, sem contratar trabalho empregado;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">12)
pedir a todas as seções do exército e a nossos camaradas militares kursanti que
aceitem nossas resoluções;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">13)
pedir à imprensa que dê a maior publicidade a nossas resoluções;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">14)
designar uma Comissão Itinerante de Controle;<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">15)
permitir a livre kustarnoye (pequena indústria doméstica) que não empregue
trabalho contratado.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Resolução
aprovada por unanimidade pela reunião da brigada, abstendo-se de:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">PETRITCHENKO<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Presidente
da Reunião da Brigada<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">PEREPELKIN<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Secretário<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Resolução
aprovada por maioria esmagadora pela guarnição de Kronstadt.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">VASSILIEV<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Presidente<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Junto com o camarada
Kalinin, Vassiliev vota contra a resolução. Esta resolução que, como já
dissemos, foi combatida ardentemente por Kalinin e Kuzmin, foi adotada apesar
de seu protesto. Depois da reunião, Kalinin pôde voltar a Petrogrado sem ser incomodado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nesta mesma reunião se
resolveu enviar a Petrogrado um comitê que explicaria para os trabalhadores e
para a guarnição da capital as exigências de Kronstadt e pediria que delegados
independentes (não pertencentes a nenhum partido) fossem enviados por eles a
esta cidade para informarem-se sobre o estado verídico das coisas e sobre as exigências
dos marinheiros. Este comitê, composto de trinta membros, foi detido em Petrogrado
pelos bolcheviques; seu destino foi sempre um mistério.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Como a existência legal
do Soviete de Kronstadt chegava ao seu término, a reunião da brigada decidiu
convocar uma conferência de delegados para 2 de março, a fim de discutir o modo
de celebrar as eleições. Na conferência tomavam parte representantes dos navios
de guerra, da guarnição, das diferentes instituições soviéticas, dos sindicatos
e das oficinas. Cada organização estava representada pelos delegados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Celebrou-se a
conferência de 2 de março na Casa de Educação (anteriormente Escola de
Engenheiros de Kronstadt), assistindo a ela trezentos delegados, entre os quais
se encontravam também comunistas. A reunião, aberta pelo marinheiro Petritchenko,
elegeu uma presidência de cinco membros. A principal questão a ser resolvida
pelos delegados dizia respeito às novas eleições do Soviete de Kronstadt, que deviam
cumprir-se logo, e estabelecer os princípios sobre os quais deveriam
celebrar-se.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A reunião teria também
que colocar em prática as resoluções, adotadas na véspera, e acordar os
melhores meios para ajudar o país a sair das condições lamentáveis criadas pela
fome e pela falta de calefação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O espírito da
conferência era claramente soviético; Kronstadt exigia os Sovietes livres de
toda intervenção e de todo partido político, Sovietes independentes que foram o
reflexo das aspirações dos operários e camponeses e expressavam sua vontade. A atitude
dos delegados era antagônica ao regime arbitrário dos comissários burocráticos,
porém simpática para com a orientação do partido comunista como tal. Eram
partidários dedicados do sistema dos Sovietes e sinceros em seu desejo de
encontrar amistosa e pacificamente uma solução a estes problemas urgentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O comissário da frota do
Báltico, Kuzmin, foi o primeiro a tomar a palavra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Homem de maior energia
do que de juízo, não se deu conta da grande importância do movimento. Não soube
se pôr à altura da situação; conquistar os corações e os cérebros desses homens
tão simples, marinheiros e trabalhadores, que haviam feito tantos sacrifícios
pela revolução e que estavam esgotados e desesperados. Os delegados haviam se
reunido para entenderem-se com os representantes do governo. Porém, em lugar
desse espírito conciliador, o discurso de Kuzmin foi uma tocha acesa lançada sobre
pólvora. Indignou a todos por sua arrogância e sua intolerância. Negou os tumultos
operários de Petrogrado, dizendo que a cidade estava tranquila e os operários satisfeitos.
Elogiou o trabalho dos comissários, pôs em dúvida os motivos revolucionários de
Kronstadt e falou dos perigos que ameaçavam por parte da Polônia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Chegou até a proferir
insinuações indignas e a rugir ameaças. “Se quereis a guerra aberta”, concluiu
Kuzmin, “a tereis, porque os comunistas não afrouxarão as rédeas do governo.
Lutaremos até o fim”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O discurso provocativo
e desprovido de tato do comissário da frota do Báltico foi um insulto aos
delegados. O discurso do presidente do Soviete de Kronstadt, o comunista
Vassiliev, que falou depois de Kuzmin, não causou nenhuma impressão; foi impreciso
e sem mérito. Quanto mais se desenvolvia o comício, mais francamente antibolchevique
se tornava a atitude geral. E, com certeza, os delegados esperavam sempre o
entendimento com os representantes do governo. Mas se advertia em seguida, dizia
o informe oficial (2), que “não podíamos ter confiança em nossos camaradas
Kuzmin e Vassiliev, e que havia sido necessário nos isolarmos temporariamente,
sobretudo porque os comunistas estão de posse das armas e nós não temos acesso
aos telefones. Os soldados têm medo dos comissários, do qual temos a prova na
carta lida na reunião da guarnição”. Kuzmin e Vassiliev foram então afastados
da reunião e aprisionados. Um traço característico do espírito da conferência
está no fato de que uma moção que pedia a prisão dos demais comunistas
presentes foi rejeitada pela imensa maioria.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os delegados
argumentaram que os comunistas deviam ser considerados de maneira igual aos
representantes das outras organizações e deveriam gozar dos mesmos direitos e
respeitos. Kronstadt estava sempre determinada a encontrar uma base de reconciliação
com o partido comunista e com o governo bolchevique.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As resoluções de 19 de
março foram lidas e adotadas com entusiasmo. Nesse momento a reunião se animou
e se excitou vivamente ao declarar um delegado que quinze caminhões de soldados
e de comunistas armados de fuzis e de metralhadoras haviam sido enviados pelos
bolcheviques com ordem de atacar os reunidos. “Esta informação”, continua o
informe do Izvestia, “promoveu um profundo ressentimento entre os delegados. A
investigação feita demonstrou que o informe carecia de todo fundamento, porém
persistiam os rumores de que um destacamento de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kursanti</i> com o famoso tchekista Dukiss no comando marchava já em
direção ao forte de Krasnaya Gorka”. Em vista desses novos acontecimentos e das
ameaças de Kuzmin e de Kalinin, a conferência decidiu imediatamente organizar a
defesa de Kronstadt contra o ataque bolchevique. O tempo pressionava e
decidiram transformar a presidência da conferência em um Comitê revolucionário
provisório, que teria o dever de manter a ordem e a segurança da cidade. O
Comitê devia se comprometer também com os preparativos necessários para
celebrar as novas eleições do Soviete de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">3. A CAMPANHA
BOLCHEVIQUE CONTRA KRONSTADT<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Reinava, em Petrogrado,
grande tensão nervosa. Estouravam novas greves e se difundiam persistentes
rumores sobre tumultos operários ocorridos em Moscou e rebeliões agrárias
surgidas no leste da Sibéria. A falta de imprensa em que se poderia confiar
fazia com que a população prestasse atenção aos rumores mais exagerados e mais
transparentemente falsos. Todos os olhares tinham se voltado para Kronstadt, na
espera de importantes sucessos. Os bolcheviques não perderam um instante para
organizar seu ataque a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Já em 2 de março, o
governo havia publicado uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">prikaz</i>
(ordem), assinada por Lenin e Trotsky, denunciando o movimento de Kronstadt
como um motim, uma rebelião contra as autoridades comunistas. Nesse documento,
os marinheiros foram acusados de serem instrumentos de ex-generais czaristas
que, junto com os traidores socialistas revolucionários, haviam preparado uma
conspiração contrarrevolucionária contra a República proletária.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O movimento de
Kronstadt foi qualificado por Lenin e Trotsky como “obra dos intervencionistas
da Entente e de espiões franceses”. “Em 28 de fevereiro”, dizia a ordem, “os
marinheiros do Petropavlovsk aprovaram resoluções que exaltam o espírito <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>da reação mais negra. Depois apareceu em cena
o grupo do antigo general Kozlovzky. Três de seus oficiais, cujos nomes não são
todavia desconhecidos, vão assumindo abertamente a direção da revolta. A
explicação dos últimos acontecimentos, portanto, se faz coincidente. Atrás dos
socialistas revolucionários se encontram de novo um general czarista. Tomando
tudo isto em consideração, o Conselho do Trabalho e da Defesa ordena: 1)
declarar o antigo general Kozlovzky e seus partidários fora da lei; 2) decretar
o estado de guerra na cidade e na província de Petrogrado; 3) pôr o poder
supremo de todo o distrito de Petrogrado nas mãos do Comitê de defesa de
Petrogrado”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Havia de fato um
ex-general Kozlovzky em Kronstadt. Foi Trotsky quem o estabeleceu ali como um
especialista em artilharia. Ele não desempenhou qualquer papel nos eventos de
Kronstadt. Porém, os bolcheviques exploraram com habilidade seu nome para
denunciar os marinheiros como inimigos da república soviética, e o movimento,
como contrarrevolucionário. A imprensa oficial bolchevique começou então sua
campanha de calúnias e difamações contra Kronstadt como “o ninho da conspiração
Branca dirigida pelo general Kozlovzky”, e agitadores comunistas foram enviados
aos operários das fábricas e das oficinas de Petrogrado e a Moscou com o fim de
chamar o proletariado “a associar-se ao suporte e à defesa do Governo dos
Operários e Camponeses contra a rebelião contrarrevolucionária de Kronstadt”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Longe de terem o menor
contato com generais e contrarrevolucionários, os marinheiros de Kronstadt
recusaram a ajuda do próprio Partido Socialista Revolucionário. O chefe do
partido, Victor Tchernov, que estava então em Reval, tentou inclinar os
marinheiros a favor de seu partido e de suas reivindicações, porém não recebeu
nenhum encorajamento do Comitê revolucionário provisório. Tchernov transmitiu a
Kronstadt o seguinte comunicado por rádio (3):<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
presidente da Assembleia Constituinte, Victor Tchernov, envia suas saudações
fraternais aos camaradas marinheiros heroicos, aos soldados do Exército Vermelho
e aos operários que, pela terceira vez depois de 1905, rompem o jugo da
tirania. Oferecemos ajuda para o envio de reforços e de provisões a Kronstadt
por intermédio das cooperativas russas no estrangeiro. Informem-nos do que lhes
faz falta e da quantidade necessária. Estou disposto a ir pessoalmente e pôr minhas
energias e minha autoridade ao serviço da revolução do povo. Tenho fé na
vitória final das massas trabalhadoras... Honra àqueles que são os primeiros a
hastear a bandeira da libertação do povo! Abaixo o despotismo da esquerda e da
direita!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Partido Socialista
Revolucionário enviou, ao mesmo tempo, a seguinte mensagem a Kronstadt:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A
delegação Socialista Revolucionária no estrangeiro..., agora que a taça de
cólera do povo está transbordando, se oferece a ajudá-los por todos os meios à
sua disposição na luta pela liberdade e pelo governo popular. Informem-nos
sobre a ajuda de que necessitem. Viva a revolução do povo! Vivam os Sovietes
livres e a Assembleia Constituinte!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Comitê Revolucionário
de Kronstadt negou a oferta dos socialistas revolucionários. Enviou a seguinte
resposta a Victor Tchernov: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
Comitê Revolucionário de Kronstadt expressa a todos seus irmãos do estrangeiro
sua profunda gratidão pela simpatia. O Comitê Revolucionário Provisório
agradece ao camarada Tchernov seu oferecimento, porém se abstém de aceitá-lo no
momento, quer dizer, até os próximos acontecimentos esclarecerem mais a
situação. Enquanto isso, tudo será levado em consideração.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">PETRITCHENKO<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Presidente
do Comitê Revolucionário Provisório<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A campanha de
insinuações continuou, não obstante, em Moscou, cuja estação T.S.F. enviou em 3
de março a seguinte mensagem ao mundo (algumas passagens são indecifráveis por
causa da intervenção de outra estação):<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Que
a revolta armada do ex-general Kozlovzky foi organizada pelos espiões da
Entente, como aconteceu em inúmeros complôs precedentes, se faz evidente pelo
periódico burguês francês Matin, que, duas semanas antes da revolta, publicou o
seguinte telegrama de Helsingfors: “Como resultado da recente rebelião de
Kronstadt, as autoridades militares bolcheviques tomaram medidas a fim de
isolar Kronstadt e impedir que os soldados e marinheiros de Kronstadt cheguem
em Petrogrado”. É evidente que o motim de Kronstadt foi preparado em Paris e
organizado pelo serviço secreto francês. Os socialistas revolucionários,
controlados e dirigidos também por Paris, tramaram estas rebeliões contra o
governo soviético, e não antes de que seus preparativos fossem completados,
apareceu o mestre verdadeiro, o general czarista.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O caráter das outras
numerosas informações enviadas por Moscou pode ser julgado pelo seguinte
informativo por rádio:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Petrogrado
está tranquila e calma, e mesmo as fábricas em que ultimamente haviam sido
lançadas acusações contra o governo soviético compreendem agora que tudo era
obra de provocadores. Compreendem aonde os agentes da Entente e da
contrarrevolução os tinham levado. Justamente no momento em que na América o
partido republicano assume de novo as rédeas do governo e se mostra inclinado a
retomar as relações comerciais com a Rússia soviética, a difusão de falsos
rumores e a organização de desordens em Kronstadt têm por único objetivo
impressionar o novo presidente americano para que ele mude sua tática para com
a Rússia. A Conferência de Londres foi celebrada neste mesmo período e a
disseminação de semelhantes rumores influenciou a delegação turca e a tornou
mais apta a ceder às exigências da Entente. A revolta da tripulação do
Petropavlovsk é, sem dúvida alguma, um ponto da grande conspiração para criar dificuldades
no interior da Rússia soviética e para desacreditar nossa situação
internacional. Este plano é posto em execução na própria Rússia por um general
czarista e por ex-oficiais, e suas atividades recebem o apoio dos mencheviques
e dos social-revolucionários.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O comitê de defesa de
Petrogrado, dirigido pelo seu presidente, Zinoviev, assumiu o controle completo
da cidade e da província de Petrogrado. Todo o distrito norte foi declarado em
estado de guerra e todas as reuniões estavam proibidas. Tomaram-se preocupações
extraordinárias para proteger as instituições governamentais e foram colocadas
metralhadoras no hotel Astoria, ocupado por Zinoviev e outros altos funcionários
bolcheviques. Decretos colados nos muros ordenavam a volta imediata dos grevistas
a suas fábricas, proibindo a suspensão do trabalho e prevenindo a população para
que não se reunisse nas ruas. “Em caso semelhante” – se dizia na ordem – “os soldados
recorrerão às armas. No caso de resistência, a ordem é fuzilar sumariamente”. O
Comitê de Defesa tomou medidas sistemáticas “para limpar a cidade”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Numerosos operários,
soldados e marinheiros suspeitos de simpatizar com Kronstadt foram
encarcerados. Todos os marinheiros de Petrogrado e vários regimentos do exército,
considerados “politicamente inconfiáveis”, foram enviados a pontos distantes, enquanto
as famílias dos marinheiros de Kronstadt que viviam em Petrogrado foram detidas
na qualidade de reféns. O Comitê de Defesa notificou a Kronstadt sua decisão por
meio de uma proclamação difundida na cidade em 4 de março por um avião na qual se
dizia: “O Comitê de Defesa declara que os encarcerados são tidos como reféns
pelo comissário da frota do Báltico, N. N. Kuzmin, pelo presidente do Soviete
de Kronstadt, T. Vassiliev, e outros comunistas. Ao menor dano que sofrerem
nossos camaradas presos, os reféns pagarão com suas vidas”. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Não queremos
derramamento de sangue. Nem um único comunista foi fuzilado por nós”, foi a
resposta de Kronstadt. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">4. AS ASPIRAÇÕES DE
KRONSTADT<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Uma nova vida reanimou
Kronstadt. O entusiasmo revolucionário se igualava ao das jornadas de outubro,
quando o heroísmo e a decisão dos marinheiros desempenharam um papel decisivo.
Pela primeira vez, depois do partido comunista ter tomado em suas mãos o
controle exclusivo da revolução e dos destinos da Rússia, Kronstadt se sentia
livre. Um novo espírito de solidariedade e fraternidade havia reunido os
marinheiros, os soldados da guarnição, os operários das fábricas e aos elementos
destacados que não pertenciam a nenhum partido, em um esforço comum pela causa
de todos. Até os próprios comunistas se contagiaram com a fraternidade de toda
a cidade e participaram dos preparativos para as eleições do Soviete de
Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Entre as primeiras
medidas tomadas pelo Comitê Revolucionário Provisório, deve-se mencionar as
referentes à conservação da ordem revolucionária de Kronstadt e a publicação do
órgão oficial do Comitê, o diário <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>.
Seu primeiro apelo ao povo de Kronstadt (nº 1, 3 de março de 1921),
caracterizava completamente a atitude e o espírito dos marinheiros. “O comitê
revolucionário”, se dizia ali, se preocupa sobretudo com que não haja
derramamento de sangue. Tem dedicado todos seus esforços para manter a ordem revolucionária
na cidade, na fortaleza e nos fortes. Camaradas e cidadãos, não parem o
trabalho! Operários, permaneçam em vossos estabelecimentos! Marinheiros e
soldados, não abandonem vossos postos! Todos os funcionários, todas as
instituições soviéticas devem continuar seu trabalho. O Comitê Revolucionário
Provisório os chama, camaradas e cidadãos, para prestarem ajuda. Sua missão é
organizar, em cooperação fraternal com vocês, as condições necessárias para as eleições
justas e honestas do novo Soviete”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As páginas do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> trazem provas abundantes da
profunda fé do Comitê revolucionário no povo de Kronstadt e em suas aspirações
aos sovietes livres como verdadeiro caminho da emancipação do jugo opressivo da
burocracia comunista. Em seu diário e nos informativos do rádio, o Comitê
Revolucionário levava a sério, com indignação, a campanha de calúnias, e se
dirigiu novamente ao proletariado da Rússia e do mundo em busca de compreensão,
de sua simpatia e de sua ajuda. O informativo de rádio de 6 de março mostrava a
ideia fundamental do chamado de Kronstadt:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nossa
causa é justa: defendemos o poder dos Sovietes, e não dos partidos. Nós
defendemos representantes das classes laboriosas livremente eleitos. Os
Sovietes substitutos, manipulados pelo Partido Comunista, sempre foram surdos
às nossas necessidades e às nossas exigências; a única resposta que nós já
recebemos foram tiros... Camaradas! Não apenas os enganam; eles deliberadamente
pervertem a verdade e recorrem à difamação mais desprezível... Em Kronstadt, todo
o poder está exclusivamente nas mãos dos marinheiros, dos soldados e dos
trabalhadores revolucionários – não nas de contrarrevolucionários liderados por
algum Kozlovsky, como a mentirosa rádio de Moscou tentar fazer vocês
acreditarem... Não tardeis, camaradas! Unam-se a nós, entrem em contato
conosco; exijam admissão de seus delegados em Kronstadt. Somente eles irão dizer-lhes
toda a verdade e irão expor a calúnia cruel sobre o pão finlandês e as ofertas
da Entente. Viva o proletariado e o campesinato revolucionários! Viva o poder dos
Sovietes livremente eleitos!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Comitê revolucionário
provisório tinha a princípio sua sede a bordo do barco insígnia, o
Petropavlovsk, porém depois de alguns dias foi transferida para a “Casa do Povo”,
no centro de Kronstadt, de modo que estivera, como escreve o <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>, “em contato mais próximo com a
população e para tornar mais fácil o acesso ao Comitê do que quando estava
bordo do navio”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Apesar da demência
virulenta que continuava na imprensa comunista contra Kronstadt que a
qualificava de “a rebelião contrarrevolucionária do general Kozlovsky”, a
verdade é que o Comitê Revolucionário era exclusivamente proletário, estando composto,
em sua maior parte, de operários de um passado revolucionário. O Comitê estava
composto dos quinze membros seguintes:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">1. Petritchenko,
primeiro escrivão, pavilhão Petropavlovsk;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">2. Yakovenko,
telefonista, distrito de Kronstadt;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">3. Ossossov, mecânico
do Sevastopol;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">4. Arkhipov, mecânico;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">5. Perepelkin, mecânico
do Sevastopol;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">6. Patrushev, mecânico
chefe do Petropavlovsk;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">7. Kupolov, primeiro
ajudante médico;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">8. Vershinin,
marinheiro do Sevastopol;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">9. Tukin, eletricista;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">10. Romanenko, guarda
dos campos de aviação;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">11. Oreshin,
administrador da Terceira Escola Técnica;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">12. Valk, carpinteiro;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">13. Pavlov, operário
das minas marinhas;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">14. Baikov, carreteiro;<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">15. Kilgast,
marinheiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não sem senso de humor,
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>, de Kronstadt, comentou esta
lista como se segue: “Eis aqui nossos generais, senhores Trotsky e Zinoviev,
enquanto os Brussilovs, os Kamenevs, os Tukhachevskis e as outras celebridades
do regime czarista estão em suas fileiras”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Comitê Revolucionário
Provisório gozava da confiança de toda a população de Kronstadt. Conquistou o
respeito geral estabelecendo o princípio de “direitos iguais para todos,
privilégios para ninguém”, e o mantendo rigorosamente. A <i style="mso-bidi-font-style: normal;">pahyok</i> (ração de alimentos) foi igualada. Os marinheiros, que, sob
o regime bolchevique, recebiam rações muito mais elevadas do que as
estabelecidas aos operários, decidiram não aceitarem mais do que se dava ao
cidadão e ao operário. Rações especiais e melhores eram distribuídas somente
nos hospitais e entre as crianças.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A atitude generosa e
justa do Comitê Revolucionário para com os membros do Partido Comunista em
Kronstadt – dos quais poucos foram presos, apesar das repressões bolchevistas e
da detenção das famílias dos marinheiros como reféns – ganhou o respeito até
mesmo dos comunistas. As páginas do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>
contêm comunicações numerosas de agrupações e organizações comunistas de Kronstadt,
que condenam a atitude do Governo Central e apoiam a linha de conduta e as
medidas tomadas pelo Comitê Revolucionário Provisório. Grande número de
comunistas de Kronstadt havia anunciado publicamente sua saída do partido em
sinal de protesto contra seu despotismo e contra sua corrupção burocrática. Em
diversos números do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> foram
publicados centenas de nomes de comunistas cujas consciências tornavam
impossível “a permanência no partido do executor Trotsky”, como alguns se expressavam.
As demissões do partido comunista foram em breve tão numerosas, que davam a
impressão de um êxodo geral (4). As cartas seguintes, tomadas aleatoriamente dentre
um grande monte, caracterizam suficientemente o sentimento dos comunistas de Kronstadt:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Compreendi
afinal que a política do partido comunista levou o país a um abismo. O partido
se tornou burocrático, não aprendeu nada e nada quer aprender. Recusou-se
escutar a voz de 115 milhões de camponeses, e não quer compreender que
unicamente a liberdade de expressão e a possibilidade de participar na
reconstrução do país por meios de métodos de eleição diferentes podem despertar
a nação de seu sono. Recuso-me de hoje em diante a me considerar membro do
Partido Comunista Russo. Aprovo completamente a resolução adotada na reunião de
toda a população em 19 de março e ponho de agora em diante minhas energias e
minhas atitudes à disposição do Comitê Revolucionário Provisório.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">HERMAN
KARNEV<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">KRASNY
KOMANDIR (Oficial do Exército Vermelho)<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Filho
de um exilado do Processo dos 1935.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Izvestia</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">,
nº 3, 5 de março de 1921<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">CAMARADAS,
MEUS PUPILOS DAS ESCOLAS INDUSTRIAIS, NAVAIS E DO EXÉRCITO VERMELHO!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Por
quase trinta anos eu vivi um amor profundo pelo povo, e levei a luz e o
conhecimento, o máximo que estava em meu poder, para todos que tinham sede dos
mesmos, até o momento atual. A Revolução de 1917 deu maior âmbito ao meu
trabalho, aumentou minhas atividades, e eu me devotei com maior energia ao
serviço do meu ideal. O lema comunista, “Tudo para o Povo”, me inspirou com sua
nobreza e sua beleza, e em fevereiro de 1920, eu entrei no Partido Comunista Russo
como candidato. Mas o “primeiro tiro” disparado contra a população pacífica,
contra minhas queridas crianças, das quais há aproximadamente sete mil em
Kronstadt, me preenche com horror de que possa ser considerado que eu
compartilho a responsabilidade pelo sangue dos inocentes derramado de tal
maneira. Eu sinto que não posso mais acreditar e propagar aquilo que se desgraçou
por este ato vil. Portanto, com o primeiro tiro eu deixei de me considerar um
membro do Partido Comunista.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">MARIA
NIKOLAYEVNA SHATEL<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">(Professora)<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Izvestia</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">,
nº 6, 8 de março de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Declarações semelhantes
apareceram quase em cada número do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>.
A declaração mais interessante foi a do Gabinete Provisório da Seção de
Kronstadt do Partido Comunista; seu manifesto aos membros da seção foi
publicado no Izvestia (nº 2, 4 de março):<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Que
cada camarada de nosso partido esteja à altura da importância do momento. Não
dê nenhum crédito aos falsos rumores de que foram fuzilados comunistas e de que
os comunistas de Kronstadt têm a intenção de rebelarem-se com armas em mãos.
Esses rumores são difundidos com o propósito de provocar o derramamento de
sangue.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Declaramos
que nosso Partido tem defendido sempre as conquistas da classe operária contra
todos os inimigos conhecidos e desconhecidos do poder dos Sovietes operários e
camponeses e continuará os defendendo.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
Gabinete Provisório do Partido Comunista de Kronstadt reconhece a necessidade
das novas eleições do Soviete e pede aos membros do partido comunista que
participem nelas. O gabinete provisório ordena aos membros do partido que
permaneçam em seus postos e não os impeçam e nem criem obstáculos às medidas do
Comitê Revolucionário Provisório. <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Viva
o poder dos Sovietes!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Viva
a união internacional dos trabalhadores!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">GABINETE
PROVISÓRIO DA SEÇÃO DE KRONSTADT DO<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">PARTIDO
COMUNISTA RUSSO:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">F.
PERVUSHIN<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Y.
YLYIN<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A.
KABANOV<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Diversas outras seções
civis e militares expressaram em termos análogos sua oposição ao regime de
Moscou e sua concordância com as exigências dos marinheiros de Kronstadt. Um
grande número de resoluções nesse sentido foram também adotadas pelos
regimentos do Exército Vermelho da guarnição de Kronstadt. A seguinte resolução
expressa o espírito e a tendência geral:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nós,
soldados do Exército Vermelho do Forte Krasnoarmeetz, estamos em corpo e alma
com o Comitê Revolucionário Provisório e defenderemos até o ultimo momento o
Comitê Revolucionário, os operários e os camponeses. Que ninguém acredite nas
mentiras das publicações comunistas disseminadas pelos aviões. Não temos aqui generais
nem oficiais czaristas. Kronstadt foi sempre a cidade dos operários e dos
camponeses, e seguirá sendo. Os generais estão a serviço dos comunistas. No
momento atual, quando a sorte do país está na balança, nós que tomamos o poder
em nossas mãos e que confiamos ao Comitê Revolucionário a liderança na luta,
declaramos para a guarnição inteira e para todos os trabalhadores que estamos dispostos
a morrer pela liberdade das classes laboriosas. Libertados do jugo e do terror
comunista de três anos de idade, preferimos morrer ao invés retroceder um único
passo.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Viva
a Rússia Livre do Povo Operário!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
DESTACAMENTO DO FORTE KRASNOARMEETZ<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Izvestia</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">,
nº 5, 7 de março de 1921<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt foi inspirada
pelo amor apaixonado pela Rússia livre pela fé ilimitada em Sovietes
verdadeiros. Estava certa de ganhar a ajuda de toda a Rússia, de Petrogrado sobretudo,
realizando assim a libertação completa do país. O <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de Kronstadt reitera essa esperança e essa atitude, e em
numerosos artigos e manifestos trata de esclarecer sua posição frente aos
bolcheviques e sua aspiração à fundação de uma nova vida livre para Kronstadt e
para o resto da Rússia. Este grande ideal, a pureza de seus motivos e a
fervente esperança de libertação se destacam de modo notável nas páginas do
órgão oficial do Comitê Revolucionário Provisório de Kronstadt, e expressam integralmente
o espírito dos soldados, dos marinheiros e dos operários. Aos ataques ferozes
da imprensa bolchevique, às mentiras infames semeadas pela rádio de Moscou que
acusava Kronstadt de contrarrevolução e de conspiração Branca, o Comitê Revolucionário
respondia com dignidade. Reproduzia muitas vezes em seu órgão as proclamações
de Moscou, de modo que a população de Kronstadt se desse conta de quão baixo os
bolcheviques eram capazes de ir. Ocasionalmente, os métodos comunistas eram
expostos e caracterizados pelo Izvestia com uma indignação legítima. Assim,
lemos no número 6, de 8 de março, sob o título “Nós e eles”:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não
sabendo como reter o poder que têm nas mãos, os comunistas empregam as mais vis
provocações. Sua imprensa desprezível tem mobilizado todas as forças para
incitar as massas e para fazer o movimento de Kronstadt parecer uma conspiração
da Guarda Branca. Neste momento, um bando de canalhas sem vergonha enviou ao mundo
a infame notícia de que Kronstadt havia se vendido à Finlândia. Seus periódicos
vomitaram fogo e veneno; tendo fracassado na tarefa de persuadir o proletariado
de que Kronstadt está nas mãos dos contrarrevolucionários, tratam agora de
apelar aos sentimentos nacionalistas. Todos os países já sabem, por nossos
informativos de rádio, por que lutam a guarnição de Kronstadt e os operários.
Porém, os comunistas tratam de desnaturalizar a importância dos acontecimentos,
esperando deste modo induzir ao erro nossos irmãos de Petrogrado. Petrogrado
está cercada pelas baionetas dos </span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">kursanti<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> e dos “guardas” do Partido, e Maliuta
Skuratov – Trotsky – não permite que os delegados dos operários e dos soldados
independentes venham a Kronstadt. Teme que averiguem toda a verdade aqui, e que
a verdade pare imediatamente os comunistas, dando para as massas operárias
instruídas a possibilidade de tomar o poder em suas próprias mãos calosas. Essa
é a razão pela qual o Petro-Soviete (Soviete de Petrogrado) não respondeu a
nosso telegrama de rádio em que pedíamos que fossem enviados a Kronstadt
camaradas verdadeiramente imparciais. Temendo por suas próprias peles, os chefes
comunistas estrangulam a verdade e disseminam a mentira de que Guardas Brancos
trabalham em Kronstadt, de que o proletariado de Kronstadt tem se vendido à
Finlândia e aos espiões franceses, de que os finlandeses já têm seu exército
organizado para atacar Petrogrado com a ajuda dos amotinados </i>myatezhnbiki<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> de Kronstadt, e assim sucessivamente. A
tudo isso temos só uma coisa a responder: Todo o poder aos Sovietes! Retirem
suas mãos deles, essas mãos que estão vermelhas com o sangue dos mártires da
liberdade que morreram lutando contra os Guardas Brancos, contra os
proprietários e contra a burguesia!<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em uma linguagem
simples e franca, Kronstadt tratava de expressar a vontade do povo, que
aspirava à liberdade e à possibilidade de determinar seu próprio destino. Sentia
que era a vanguarda, por assim dizer, do proletariado da Rússia, disposto a se levantar
para defender o grande ideal pelo qual o povo havia lutado e sofrido na Revolução
do Outubro. A fé de Kronstadt no sistema dos Sovietes era profunda e
persistente; seu lema universal, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Todo o
poder aos Sovietes e não aos partidos!</i>, era seu programa; não havia tempo
de desenvolvê-lo e nem de ocupar-se com teorias. Os esforços convergiam em
direção à emancipação do povo do jugo comunista. Este jugo, já insuportável,
fez necessária uma nova revolução, a Terceira Revolução. A rota para a liberdade
e para a paz passava pelos Sovietes livremente eleitos; esta era a pedra fundamental
da nova revolução. As páginas do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i>
testemunharam amplamente a retidão incorruptível e a abnegação sem limites dos
operários e dos marinheiros de Kronstadt, e a fé comovedora que teriam em sua
missão de iniciadores da Terceira Revolução. Estas aspirações e estas
esperanças estão claramente expostas no número 6 do <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Izvestia</i> de 9 março, no artigo principal intitulado “Por Que
Finalidade Combatemos”:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Com
a Revolução de Outubro, a classe trabalhadora havia esperado alcançar sua
emancipação. Porém dela resultou uma escravidão ainda maior da individualidade
humana. O poder da monarquia policial e gendarme caiu nas mãos dos usurpadores
– os comunistas – que, em lugar de dar liberdade ao povo, inspirou neles
somente um medo terrível da Tcheka, a qual, por seus horrores, supera o regime
policial do Czarismo... </span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Porém o pior e mais criminoso de tudo é a maquinação espiritual
dos comunistas: colocaram suas mãos também sobre o mundo interior das massas
laboriosas, obrigando cada um a pensar segundo sua fórmula comunista. </span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A Rússia
dos trabalhadores, a primeira a hastear a bandeira vermelha da emancipação do
trabalho, está inundada em sangue dos martirizados para a maior glória da
dominação comunista. Os comunistas afogam nesse mar de sangue todas as belas promessas
e possibilidades da revolução proletária. </span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">É evidente, na atualidade, que o partido
comunista russo não é o defensor das massas operárias, como finge ser. Os interesses
da classe operária lhe são estranhos. Uma vez obtido o poder, agora só tem o medo
de perdê-lo, e considera, portanto, todos os meios permissíveis: difamação, enganação,
violência, assassinato e vingança sobre as famílias dos rebeldes. Há um fim para
a longa e sofrível paciência. Aqui e ali o país está iluminado pelo incêndio da
rebelião na luta contra a opressão e a violência.</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As greves dos operários se multiplicaram,
porém o regime policialesco dos bolcheviques tomou todas as precauções contra a
conflagração da inevitável Terceira Revolução. Porém, apesar de tudo isso, ela
veio e é realizada pelas mãos das massas operárias. Os generais do comunismo
veem claramente que foi o povo que se levantou, o povo que se convenceu de que
os comunistas traíram as ideias do socialismo. Temendo por sua pele e sabendo
que não poderão esconder-se em nenhuma parte para escapar da cólera dos
trabalhadores, os comunistas ainda tentam aterrorizar os rebeldes com a prisão,
com a execução e com outras barbaridades. Porém a vida sob a ditadura comunista
é pior que a morte... Não existe um caminho intermediário. Triunfar ou morrer!</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O exemplo está sendo dado por Kronstadt, o terror da contrarrevolução da
direita e da esquerda. É aqui onde o grande ato revolucionário foi realizado. É
aqui onde foi hasteada a bandeira da rebelião contra a tirania desses três anos
e contra a opressão da autocracia comunista que fizeram empalidecer o
despotismo monárquico dos últimos trezentos anos. É aqui, em Kronstadt, onde
foi colocada a pedra fundamental da Terceira Revolução que romperá as últimas
correntes do trabalhador e abrirá a nova e ampla rota para a criatividade
socialista.</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Esta nova revolução sublevará as grandes massas do Oriente e Ocidente
e servirá de exemplo ao novo socialismo construtor, em oposição à “construção”
comunista mecânica e governamental. As massas operárias vão saber que tudo o
que tem sido feito até aqui em nome dos operários e camponeses não era o socialismo.
O primeiro passo foi dado sem um único disparo de fuzil, sem o derramamento de
uma só gota de sangue. Aqueles que trabalham não precisam de sangue. Eles só o derramarão
em caso de autodefesa.</span></i></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os operários e camponeses avançam: deixam para trás a
utchredilka (Assembleia Constituinte) com seu regime burguês e a Ditadura do Partido
comunista com sua Tcheka e seu Capitalismo de Estado, que tem estreitado o nó em
torno do pescoço dos trabalhadores e ameaça estrangulá-los. A mudança que acaba
de ter lugar oferece às massas laboriosas a possibilidade de assegurar, por
fim, os Sovietes livremente eleitos que poderão funcionar sem temor ao chicote
do partido; eles podem agora reorganizar os sindicatos governamentalizados em
associações voluntárias de operários, de camponeses e de trabalhadores
intelectuais. A máquina policialesca da autocracia, por fim, foi quebrada.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Assim estava concebido
o programa; estas foram as exigências imediatas, em resposta às quais o governo
bolchevique começou o ataque a Kronstadt em 7 de março de 1921, às 6:45 da
tarde.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">5. ULTIMATO BOLCHEVIQUE
A KRONSTADT<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt era generosa.
Nem uma gota de sangue comunista foi derramada, apesar de todas as provocações,
do bloqueio da cidade e das medidas repressivas do governo bolchevique.
Desprezava imitar o exemplo comunista de vingança, e chegou até a avisar a
população de Kronstadt de que não fosse culpada de excessos contra membros do partido
comunista. O Comitê Revolucionário Provisório publicou um manifesto para a população
de Kronstadt nesse sentido, mesmo depois que o governo bolchevique rejeitou a
exigência dos marinheiros para a libertação dos reféns detidos em Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A exigência de
Kronstadt, enviada por comunicado de rádio ao Soviete de Petrogrado, e o
manifesto do Comitê Revolucionário foram publicados no mesmo dia, 7 de março.
Os reproduzimos aqui:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em
nome da guarnição de Kronstadt, o Comitê Revolucionário Provisório de Kronstadt
exige que as famílias dos marinheiros, operários e soldados do Exército
Vermelho detidos como reféns pelo Petro-Soviete sejam postas em liberdade no
prazo de vinte e quatro horas. A guarnição de Kronstadt declara que os
comunistas gozam de plena liberdade em Kronstadt e que seus familiares estão absolutamente
fora de todo perigo. O exemplo do Petro-Soviete não será seguido aqui, porque
consideramos esses métodos [de fazer reféns] como os mais vergonhosos e
bárbaros, mesmo que sejam provocados pelo desespero. A história não conhece tal
infâmia.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">MARINHEIRO
PETRITCHENKO<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Presidente
do Comitê Revolucionário Provisório<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">KILGAST<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Secretário<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No manifesto para a
população de Kronstadt era dito, entre outras coisas:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A
opressão constante das massas laboriosas pela ditadura comunista tem produzido
uma indignação e um ressentimento completamente natural na população. Como
consequência desse estado de coisas, algumas pessoas, parentes de comunistas,
foram dispensadas de suas posições e boicotadas em algumas instâncias. Isto não
deve acontecer. Nós não buscamos a vingança – estamos defendendo nossos
interesses operários.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt vivia no
espírito de sua santa cruzada. Tinha completa fé na justiça de sua causa e se
considerava a verdadeira defensora da revolução. Neste estado mental, os marinheiros
não queriam crer que o governo os atacaria com armas em punho. Nesses filhos do
sol e do mar, persistia subconscientemente a ideia que a vitória não pode ser ganhada
apenas com violência. A psicologia eslava parecia acreditar que a justiça de
sua causa e a força do espírito revolucionário devem vencer. Em todo caso,
Kronstadt recusou-se a tomar a iniciativa. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Comitê Revolucionário
não quis escutar a opinião persuasiva dos peritos militares em favor de um
ataque imediato contra Oranienbaum, fortaleza de grande valor estratégico. Os
soldados e os marinheiros de Kronstadt tinham por fim o estabelecimento dos
Sovietes livres, e estavam dispostos a defenderem seus direitos contra qualquer
ataque, porém se negavam a converterem-se em agressores. Em Petrogrado circulavam
rumores persistentes de que o governo se preparava para agir militarmente
contra Kronstadt. Porém a população não acreditava nesses rumores; a coisa
parecia de tal modo repugnante, que já era considerada ridícula. Como foi dito anteriormente,
o Comitê de Defesa (chamado oficialmente de Conselho de Trabalho e de Defesa)
declarou a capital em “estado extraordinário de sítio”. Nenhuma assembleia era
permitida, nenhuma reunião nas ruas. Os operários de Petrogrado não sabiam nada
do que se passava em Kronstadt; as únicas informações eram procedentes da
imprensa comunista e os frequentes boletins que falavam que “O general czarista
Kozlovsky organizou uma rebelião contrarrevolucionária em Kronstadt”. A
população esperava com ansiedade a sessão convocada pelo Soviete de Petrogrado
que deveria decidir sobre a atitude frente a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Soviete de Petrogrado
se reuniu em 4 de março; só podiam assistir a essa reunião os convidados, e
estes, geralmente, eram os comunistas. O autor do presente trabalho – então em
boas relações com os bolcheviques e sobretudo com Zinoviev – esteve presente
nessa reunião. Como presidente do Soviete de Petrogrado, Zinoviev declarou
aberta a seção e pronunciou um longo discurso sobre a situação de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Confesso que havia ido
para reunião bem mais disposto a favor do ponto de vista de Zinoviev; estava
alerta contra o menor indício de uma tentativa contrarrevolucionária em
Kronstadt. Porém o discurso de Zinoviev bastou para convencer-me de que as acusações
comunistas contra os marinheiros eram uma pura invenção sem a menor sombra de
veracidade. Tinha ouvido Zinoviev em várias ocasiões anteriores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Considerava ele um
palestrante convincente, uma vez que suas premissas fossem admitidas, porém
nessa reunião todo o seu aspecto, a sua argumentação, o seu tom, as suas
maneiras – tudo refletia a falsidade de suas palavras. Eu podia sentir o
protesto de sua própria consciência.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A única “evidência”
apresentada contra Kronstadt era a famosa resolução do 1º de março, cujas
exigências eram justas e até moderadas. Foi somente com base nesse documento,
apoiada pela denúncia veemente e quase histérica de Kalinin contra os marinheiros,
que o passo fatal foi dado. Preparada de antemão e apresentada por <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Yevdokimov, o braço direito de Zinoviev, dotado
de uma voz retumbante, a resolução contra Kronstadt foi aceita pelos delegados
envoltos por um alto grau de intolerância e sede de sangue – aceita em meio de
um tumulto de protestos de vários delegados das fábricas de Petrogrado e do
representante dos marinheiros. A resolução declarou Kronstadt culpada de um
motim contrarrevolucionário contra o poder soviético e exigia sua rendição
imediata.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Isso era uma declaração
de guerra. Mesmo grande número dos comunistas se negavam a crer que a resolução
seria posta em execução; era monstruoso atacar com força armada o orgulho e a
glória da revolução russa, como Trotsky havia batizado os marinheiros de
Kronstadt. No círculo de seus amigos, muitos comunistas sensatos ameaçavam se
separarem do Partido caso se consumasse um ato tão sanguinário.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Trotsky devia se
dirigir ao Soviete de Petrogrado, e sua ausência era interpretada por alguns
como sinal de que a gravidade da situação era exagerada. Não obstante, chegou a
Petrogrado durante a noite, e no dia seguinte, 5 de março, publicou seu ultimato
a Kronstadt:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O
governo dos operários e camponeses decretou que Kronstadt e os navios em
rebelião devem se submeter imediatamente à autoridade da república soviética.
Ordeno, por consequência, a todos aqueles que levantaram sua mão contra a
pátria socialista que rendam imediatamente suas armas. Aqueles que resistirem
devem ser desarmados e entregues às autoridades soviéticas. Os comissários e outros
representantes do governo que se encontram presos devem ser postos em liberdade
imediatamente. Só aqueles que se renderem incondicionalmente podem contar com o
perdão da república soviética. Publico simultaneamente as ordens de preparar a
repressão da revolta e a submissão dos amotinados pela força armada. Toda a responsabilidade
dos danos que a população pacífica tiver que sofrer recairá inteiramente sobre
a cabeça dos insurrectos contrarrevolucionários. Esta advertência é final.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">TROTSKY<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Presidente
do Soviete Militar Revolucionário da República<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">KAMENEV<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Comandante
Chefe<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A situação piorava.
Forças militares consideráveis afluíam a Petrogrado e às suas redondezas. O
ultimato de Trotsky foi seguido de uma ordem que continha a ameaça histórica:
“Os abaterei como perdizes”. Vários anarquistas, então em Petrogrado, fizeram
um último esforço para induzir os bolcheviques a desistirem de atacar Kronstadt.
Consideravam ser seu dever, perante a revolução, a tentativa desse esforço, mesmo
sem esperança, para impedir o massacre eminente da flor revolucionária da Rússia,
os marinheiros e os operários de Kronstadt. Enviaram em 5 de março uma proposta
ao Comitê de Defesa, indicando as intenções pacíficas e as justas exigências de
Kronstadt, recordando os comunistas da história revolucionária heroica dos
marinheiros e propondo um meio de resolver o conflito próprio de camaradas e
revolucionários. Eis aqui o documento:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Ao
Conselho de Trabalho e Defesa de Petrogrado<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Presidente
Zinoviev:<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Permanecer
em silêncio agora é impossível, e até criminoso. Os acontecimentos recentes nos
compelem, como anarquistas, a falar francamente e a declarar nossa atitude na
situação atual. O espírito de descontentamento e de inquietude presente entre
os operários e marinheiros é o resultado de causas que exigem nossa mais séria atenção.
O frio e a fome geraram o descontentamento, e a ausência da menor possibilidade
de discussão e de critica está obrigando os marinheiros e os operários a
declararem abertamente suas queixas.</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os
bandos de Guardas Brancos querem e podem tentar explorar essa insatisfação em
beneficio de seus próprios interesses de classe. Ocultando-se atrás dos
marinheiros e dos operários, eles despejam lemas da Assembleia Constituinte, do
mercado livre e de outras exigências do mesmo gênero. Nós, anarquistas,
expusemos há muito tempo a ficção desses lemas, e declaramos ao mundo inteiro
que lutaremos com armas em mãos contra qualquer tentativa
contrarrevolucionária, em cooperação com todos os amigos da Revolução Soviética
e lado a lado com os bolcheviques. A respeito do conflito entre o Governo
Soviético e os operários e marinheiros, somos de opinião de que ele deveria ser
liquidado não pelas armas, mas por meio de acordo revolucionário fraternal.
Recorrer para o derramamento de sangue de parte do Governo Soviético não irá –
na situação atual – intimidar nem apaziguar os operários. Pelo contrário,
serviria apenas para agravar o assunto e para reforçar a manipulação da Entente
e da contrarrevolução interior. Ainda mais importante, o emprego da força pelo
Governo dos Operários e dos Camponeses contra operários e camponeses terá um
efeito reacionário no movimento revolucionário internacional e resultará em
todas as partes em um mal incalculável para a Revolução Social Camaradas
bolcheviques, reflitam antes que seja tarde demais! Não brinquem com fogo:
vocês estão prestes a dar um passo bastante sério e decisivo. Nós daqui em
diante submetemos a vocês a seguinte proposta: deixem uma Comissão ser eleita
consistindo de cinco pessoas, inclusive de dois anarquistas. A Comissão deve ir
a Kronstadt para resolver a disputa por meios pacíficos. Na situação atual,
esse é o método mais radical. Terá uma significância revolucionária internacional.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Petrogrado<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">5
de março de 1921<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">EMMA
GOLDMAN<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">PERKUS<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">PETROVSKY</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Zinoviev, que havia
sido informado de que um documento sobre o problema de Kronstadt devia ser
apresentado ao Soviete de Defesa, enviou seu representante pessoal para
buscá-lo. Se a carta foi ou não discutida por esse Conselho o escritor não
sabe. De qualquer modo, nenhuma ação sobre a questão foi tomada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">6. O PRIMEIRO TIRO<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt, heroica e
generosa, sonhava com a libertação da Rússia pela Terceira Revolução, que
estava orgulhosa de ter iniciado. Ela não formulou nenhum programa definitivo.
Liberdade e fraternidade universal era seu lema. Considerava a Terceira Revolução
como um processo gradual da emancipação, cujo primeiro passo era a ação livre
dos Sovietes independentes, sem o controle de um partido político qualquer, e
que expressassem a vontade e os interesses do povo. Estes marinheiros sinceros
e ingênuos proclamavam aos operários do mundo seu grande ideal, e chamavam o
proletariado para que unissem forças na luta, com plena confiança de que sua
causa encontraria um apoio entusiástico e de que, sobretudo e antes de tudo, os
operários de Petrogrado se apressariam para ajudar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No intervalo, Trotsky
reuniu suas forças. As divisões mais fieis de todas as frentes, os regimentos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kursanti</i>, os destacamentos da Tcheka e
unidades militares compostas exclusivamente de comunistas, haviam se reunido
nos fortes de Sestroretsk, Lissy Noss, Krasnaya Gorka e das posições vizinhas
fortificadas. Os melhores técnicos militares russos foram enviados ao centro de
operações para traçar os planos de bloqueio e de ataque a Kronstadt, enquanto o
famoso Tukhachevski foi designado comandante chefe durante o cerco de
Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 7 de março, às 6:45
da tarde, as baterias de Sestroretsk e de Lissy Noss descarregaram seus
primeiros tiros sobre Kronstadt. Era o aniversário do Dia da Mulher Trabalhadora.
Kronstadt, cercada e atacada, não esqueceu esse grande feriado. Debaixo de fogo
de numerosas baterias, os bravos marinheiros enviaram uma saudação por rádio às
mulheres trabalhadoras do mundo, ato característico do estado de espírito da
Cidade Rebelde. Eis aqui a mensagem: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Hoje
é um feriado universal – o Dia da Mulher Trabalhadora. Nós de Kronstadt
enviamos, em meio ao estrondo dos canhões, nossas saudações fraternais às
mulheres trabalhadoras do mundo. Que realizem em breve vossa libertação de toda
forma de violência e de opressão. Viva as trabalhadoras livres revolucionárias!
Viva a Revolução Social ao redor do mundo!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não menos
característico foi o grito de angústia de Kronstadt, “Que Todo o Mundo Saiba”,
publicado depois do primeiro disparo de canhão, no número 6 do Izvestia de 8 de
março:<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Soou
o primeiro disparo... O marechal Trotsky, manchado até os joelhos do sangue dos
trabalhadores, foi o primeiro a disparar contra a Kronstadt revolucionária que
se levantou contra a autocracia dos comunistas para estabelecer o verdadeiro
poder dos Sovietes.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sem
termos derramado uma só gota de sangue, nós, soldados do Exército Vermelho,
marinheiros e operários de Kronstadt, nos libertamos do jugo dos comunistas e
até mesmo conservamos suas vidas. Com a ameaça dos canhões querem agora nos
submeter, outra vez, à sua tirania.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não
querendo derramamento de sangue, pedimos que fossem enviados para nós delegados
independentes do proletariado de Petrogrado, para verem que Kronstadt combate
pelo Poder dos Sovietes. Porém os comunistas ocultaram nosso pedido dos
operários de Petrogrado, e agora abriram fogo – a resposta ordinária do pseudo Governo
dos Operários e Camponeses às demandas das massas laboriosas.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Que
os operários do mundo inteiro saibam que nós, os defensores do Poder Soviético,
estamos guardando as conquistas da Revolução Social. Venceremos ou pereceremos
sobre as ruínas de Kronstadt, lutando pela justa causa das massas
trabalhadoras. Os operários do mundo serão nossos juízes. O sangue dos
inocentes cairá sobre a cabeça dos fanáticos comunistas embriagados pelo poder.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Viva
o poder dos Sovietes!</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">7. A QUEDA DE KRONSTADT<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O bombardeio de
Kronstadt pela artilharia, começado na tarde de 7 de março, foi seguido de uma
tentativa de tomar por assalto a fortaleza. O ataque foi feito do norte e do
sul pela nata das tropas comunistas vestidas com lenços brancos, cuja cor se confundia
com a neve que cobria o golfo gelado da Finlândia. Estas primeiras tentativas terríveis
de tomar a fortaleza por assalto, mediante um sacrifício inconsequente de seres
humanos, foram profundamente lastimadas pelos marinheiros com condolências comovedoras
por seus irmãos de armas, enganados para que considerassem Kronstadt contrarrevolucionária.
Em 8 de março o Izvestia de Kronstadt dizia: <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Não
queríamos derramar o sangue de nossos irmãos, e nos recusamos ao fogo até que
nos obrigassem a ele. Devíamos defender a justa causa do povo operário e nos
vimos forçados a disparar – disparar sobre nossos próprios irmãos enviados para
a morte certa pelos comunistas, que engordaram às custas do povo.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Desgraçadamente
para vocês, rompeu um terrível turbilhão de neve e uma noite negra embrulhou
tudo em trevas. Não obstante, os executores comunistas os empurraram a todo
preço sobre o gelo, ameaçando vocês a partir da retaguarda com suas
metralhadoras manuseadas por destacamentos comunistas.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Muitos
de vocês pereceram esta noite na vasta extensão gelada do golfo da Finlândia. E
quando a madrugada chegou e a tempestade se apaziguou, somente os restos
miseráveis dos seus destacamentos, esgotados e famintos, quase incapazes de
marchar, vieram a nós com suas mortalhas brancas.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Contava-se
um milhar de vocês até a madrugada, e no curso do dia já não se podia contar.
Haveis pagado o preço de vosso sangue nessa aventura, e, depois de vossa
derrota, Trotsky foi a Petrogrado para trazer mais vitimas para o massacre, por
que o sangue de nossos operários e de nossos camponeses lhe custa pouco!<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt
viveu na fé profunda de que o proletariado de Petrogrado acudiria em sua ajuda.
Porém os operários da capital estavam aterrorizados e Kronstadt foi efetivamente
bloqueada e isolada, de modo que na realidade não era possível socorro de nenhuma
parte.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A
guarnição de Kronstadt estava composta de menos de 14.000 homens, dos quais 10.000
eram marinheiros. Esta guarnição teria que defender uma frente extensa e grande
número de fortes e baterias disseminadas pela extensão do golfo. Os ataques
contínuos dos bolcheviques, que recebiam sem cessar reforços do governo
central; a falta de abastecimento da cidade assediada; as longas noites de
frio, tudo isto abrandava a vitalidade de Kronstadt. E, apesar de tudo, os
marinheiros foram de uma perseverança heroica, confiando até o ultimo momento
que seu nobre exemplo de libertação seria seguido por todo o país e lhes
levariam assim, assim, ajuda e reforços.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em seu “Manifesto aos
Camaradas Operários e Camponeses”, o Comitê Revolucionário provisório declarou
(Izvestia nº 9, 11 de março):<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Camaradas
operários: Kronstadt luta por vocês, pelos famintos, pelos que sofrem do frio,
pelos sem casa. Kronstadt hasteou a bandeira da revolta, confiando que dezenas
de milhões de operários e camponeses responderão à sua chamada. É preciso que a
madrugada que acaba de sair em Kronstadt se converta no sol brilhante de toda a
Rússia. É preciso que a explosão de Kronstadt reanime a Rússia inteira, e, em primeiro
lugar, Petrogrado. <o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Porém a ajuda não
acudia, e cada dia que passava deixava Kronstadt mais esgotada. Os bolcheviques
continuavam reunindo tropas frescas contra a fortaleza assediada e a
debilitavam com ataques constantes. Os comunistas iam conseguindo vantagem
atrás de vantagem. Kronstadt não tem sido construída para sustentar um assalto
por trás. Os bolcheviques difundiram o rumor de que os marinheiros queriam bombardear
Petrogrado, e isso é de uma falsidade transparente. A famosa fortaleza tinha sido
construída com o único fim de servir de defesa a Petrogrado contra os inimigos
do exterior que a cercassem pelo mar. Aliás, caso caísse em poder do inimigo
exterior, as baterias das costas e os fortes de Krasnaya Gorka foram calculados
para uma batalha contra Kronstadt. Prevendo esta possibilidade, os construtores
propositalmente não reforçaram a retaguarda de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os bolcheviques
continuaram seus ataques quase todas as noites. Em toda a jornada de 10 de
março, a artilharia dos comunistas bombardeou sem cessar partindo do litoral do
sul e do norte. Na noite de 12¬13, os comunistas atacaram pelo sul, recorrendo
novamente às mortalhas brancas e sacrificando várias centenas de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kursanti</i>.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt
contra-atacava desesperadamente, apesar das numerosas noites sem dormir e da
falta de homens e de alimentos. Lutava com um heroísmo extraordinário contra os
assaltos simultâneos do norte, do leste e do sul, mesmo com as baterias de
Kronstadt sendo capazes de defender apenas seu lado ocidental. Os marinheiros
não tinham nem mesmo um navio quebra-gelo para impossibilitar a aproximação das
forças comunistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 16 de março, os
bolcheviques dirigiram um ataque concentrado por três setores de uma vez:
norte, sul e leste. “O plano de ataque”, descreveu mais tarde Dibenko,
ex-comissário bolchevique da frota, e mais tarde ditador de Kronstadt, “foi elaborado
em seus detalhes mais minuciosos segundo as diretrizes do comandante chefe,
Tukhachevsky e do estado-maior das Forças do Sul. Ao chegar a noite, foi iniciado
o ataque aos fortes. As mortalhas brancas e o valor dos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">kursanti</i> nos deram a possibilidade de avançar em colunas”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Na manhã de 17 de
março, já haviam sido tomados vários fortes. Pelos portões de Petrogrado, o
ponto mais débil de Kronstadt, os bolcheviques forçaram sua entrada na cidade,
e então começou o massacre brutal. Os comunistas, cujas vidas haviam sido salvas
pelos marinheiros, agora os traíam, atacando-os por trás. O comissário da frota
do Báltico, Kuzmin, e o presidente do Soviete de Kronstadt, Vassiliev,
libertados da prisão pelos comunistas, se lançaram ao combate fratricida. A
luta desesperada dos marinheiros e soldados de Kronstadt contra forças de uma
superioridade esmagadora continuou até chegar a noite. A cidade, que durante
quinze dias não havia feito mal algum a nem um único comunista, estava agora
inundada pelo sangue dos homens, das mulheres e das crianças de Kronstadt.
Nomeado comissário de Kronstadt, Dibenko foi investido com plenos poderes para
“limpar a cidade rebelde”. Seguiu-se uma orgia de vingança, e a Tcheka contava
numerosas vítimas de suas noturnas execuções em massa.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 18 de março, o
governo bolchevique e o Partido Comunista da Rússia festejavam publicamente a
Comuna de Paris de 1871, afogada nos sangue dos operários franceses por
Gallifet e Thiers. Celebraram ao mesmo tempo a “vitória” sobre Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Durante as semanas que
se seguiram, as prisões de Petrogrado estiveram repletas de centenas de
prisioneiros de Kronstadt. A cada noite, pequenos grupos destes prisioneiros
eram removidos por ordem da Tcheka e desapareciam – para não mais serem vistos
entre os vivos. Entre os últimos fuzilados estava Perepelkin, membro do Comitê
Revolucionário Provisório de Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nas prisões e nos
campos de concentração da região glacial de Arkangelsk e nos desertos do
distante Turquistão, morrem lentamente homens de Kronstadt que se levantaram
contra a burocracia bolchevique e proclamaram, em março de 1921, a propaganda
da Revolução de Outubro de 1917: “Todo o Poder aos Sovietes!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 18.6667px;">NOTAS</span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">(1) Destacamentos
armados organizados pelos bolcheviques para suprimir o tráfico e para confiscar
rações e outros produtos. A irresponsabilidade e a arbitrariedade desses
métodos eram proverbiais por toda a extensão do país. O governo aboliu estes
destacamentos na província de Petrogrado na véspera de seus ataques a Kronstadt
– uma propina ao proletariado de Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">(2) Izvestia, do Comitê
Revolucionário Provisório de Kronstadt, nº 9, 11 de março de 1921.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">(3) Publicado em
Revolutsionnaya Rossiya (Diário Socialista Revolucionário) nº 8, maio de 1921.
Veja também Izvestia (comunista) de Moscou nº 154, 13 de julho de 1922.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">(4) O Comitê Executivo
do Partido Comunista considerou sua seção de Kronstadt de tal modo
“desmoralizada” que, depois da derrota de Kronstadt, ordenou um novo registro
completo de todos os comunistas de Kronstadt.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">* Este texto é
originalmente parte do livro The Kronstadt Rebellion (Berlin, Der Sindikalist,
1922). No Brasil, foi publicado como Kronstadt (Ateneu Diogo Giménez, 2011:
http://anarkio.net/Pdf/kronstadt.pdf). Tradução: Ateneu Diego Giménez / COB-AIT
Piracicaba/SP. Seleção e edição por Pablo Mizraji. ITHA, 2017.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-48290733973372669762021-09-01T04:00:00.003-07:002022-10-31T14:13:40.572-07:00Do Comunismo de Guerra ao capitalismo de Estado<p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgePyhyphenhyphencMdQ3ZA3dM7j7ZQcmwG0ETd1YCO1FS2u2ucEWtr7LYB85TZpfk-2WN5gqr1XhjSw5bz2017SBKh71y784X8pWkoC2f3I54kxd5_YTL-V0v4LbpFSk8BcQIgN3jdSDocD8pX3Dq6l/s281/R%25C3%25BAssia+sovi%25C3%25A9tica.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="URSS" border="0" data-original-height="179" data-original-width="281" height="408" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgePyhyphenhyphencMdQ3ZA3dM7j7ZQcmwG0ETd1YCO1FS2u2ucEWtr7LYB85TZpfk-2WN5gqr1XhjSw5bz2017SBKh71y784X8pWkoC2f3I54kxd5_YTL-V0v4LbpFSk8BcQIgN3jdSDocD8pX3Dq6l/w640-h408/R%25C3%25BAssia+sovi%25C3%25A9tica.jpg" title="Rússia soviética" width="640" /></a></div><p></p><p style="text-align: justify;"><b><span style="font-family: "Times New Roman", serif; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><a href="https://br.rbth.com/historia/85012-como-era-russia-1921-fotos" rel="nofollow" target="_blank">Como era a Rússia em 1921</a></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">ALEKSANDRA GÚZEVA, 14
DE FEVEREIRO DE 2021<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O que esse ano significou para a história da Rússia, como eram as
pessoas e o que estava acontecendo nas ruas das cidades.<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">1. Após a Revolução de 1917, a Rússia se viu dividida pela Guerra Civil.
Em 1921, o confronto estava enfim perto de terminar. No entanto, ainda
aconteciam confrontos em diferentes partes do país. Uma das últimas tentativas
de lutar contra os bolcheviques foi a</span><a href="https://br.rbth.com/historia/82161-4-rebelioes-urss" target="_blank"><span style="color: #ee3048; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-decoration: none; text-underline: none;"> </span><span color="windowtext" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-decoration: none; text-underline: none;">rebelião de Kronstadt de 1921</span></a><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">, brutalmente reprimida após vários dias de cerco.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">2. A principal figura no país era Vladímir Lênin. Além de participar de
intermináveis reuniões e conferências partidárias, ele fazia discursos por
todo o país.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">3. A propaganda era a principal arma dos soviéticos. As autoridades
lançaram os chamados “agitprops”, que percorriam todo o país ensinando as
pessoas sobre como a Revolução e o novo regime eram bons. Os “agitprops” tinham
até tipografia própria e artistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">4. Os bolcheviques lutaram pelos direitos das mulheres, incluindo o
direito de voto – no qual a União Soviética se tornou um dos primeiros países
do mundo. As mulheres eram um público importante para os soviéticos e, entre as
conferências, foi organizado um encontro internacional de mulheres
comunistas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">5. Aleksandra
Kollontai foi considerada um símbolo feminino da Revolução. Era membro do
Partido Comunista Bolchevique e responsável pela educação das mulheres em todo
o país. Lutou por sindicatos para o proletariado. Em 1922, tornou-se uma das
primeiras diplomatas do mundo e representou a nova nação soviética nos países
escandinavos e no México.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">6. O progresso tecnológico seguia ritmo acelerado. A Rússia soviética
começou a desenvolver seu poderio militar, prejudicado pela Primeira Guerra
Mundial e Guerra Civil. A primeira escola de aviação foi inaugurada na cidade
de Iegorievsk, na região de Riazan.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">7. Os soviéticos perceberam os benefícios do progresso tecnológico.
Tentavam fornecer eletricidade para todo o país e desenvolver novos horizontes,
como suas forças aéreas. Restauraram o famoso dirigível da Primeira Guerra
Mundial “Astra” e o renomearam como “Estrela Vermelha”. A máquina voadora gigante
completou seis voos antes de cair.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">8. Ao mesmo tempo, a guerra, a política dura dos bolcheviques e a
apreensão de alimentos, além da colheita fraca, causaram fome em massa na
Rússia. A chamada “fome de Povoljie” (ou fome russa de 1921-22) ceifou a vida
de milhões de pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">9. Após a Revolução, a capital voltou a ser Moscou, considerada a
“cidade vermelha”, e o governo se estabeleceu no Kremlin. As carroças do
Exército Vermelho passariam pela Praça Vermelha fornecendo mercadorias e
garantindo a defesa das novas autoridades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">10. Moscou se tornou centro internacional do comunismo e da luta pela
revolução mundial. O verão de 1921 foi marcado pelo 3º Congresso Mundial
do Comintern, que contou com a presença de partidos comunistas de mais de 50
países.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">11. Depois de mudar a capital para Moscou, os bolcheviques começaram a
revitalizar a cidade velha – e uma das decisões mais importantes de 1921 foi
reconstruir o Teatro Bolshoi, que estava em mau estado, já que os teatros
imperiais de São Petersburgo eram mais preservados. Esta foi uma nova era para
o Bolshoi, que se tornou o mais famoso dos teatros da Rússia – e um dos mais
famosos do mundo, como é até hoje.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">12. Petrogrado (atual São Petersburgo) ficou seriamente danificada pela
Revolução e confrontos de rua subsequentes. A cidade estava um caos, as pessoas
sofriam com motins e saques, bem como fome e frio. Casas de madeira eram
desmontadas para fornecer lenha.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">13. Petrogrado foi salva pela Nova Política Econômica implementada em
1921, que permitia o pequeno comércio. Em 1921, os soldados do Exército
Vermelho foram, aos poucos, voltando da guerra para Petrogrado e
reestabelecendo a ordem local.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">14. O novo poder soviético apoiava a arte de vanguarda, que rejeitava
todas as formas e gêneros antigos e clássicos. Nas primeiras exposições, foram
apresentados jovens artistas como, por exemplo, o lendário Aleksandr
Ródtchenko.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">15. Para tornar a nova arte mais acessível para os proletários, os
soviéticos lançaram a série de porcelana de agitação. Pratos, canecas e estatuetas,
com logotipos soviéticos, foram projetados pelos melhores jovens artistas de
vanguarda. A foto abaixo retrata Lênin e sua famosa frase “Quem não trabalha,
também não come”.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 11.5pt 0cm 0.0001pt; text-align: center;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">*****</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://br.rbth.com/historia/84653-ultima-fracassada-tentativa-derrubar-bolchevique" rel="nofollow" target="_blank">Como foi aúltima (e fracassada) chance de derrubar os bolcheviques na Rússia</a><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">BORIS EGOROV, 16 DE NOVEMBRO DE 2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No outono de 1919, as
forças antibolcheviques quase triunfaram. Eles chegaram a centenas de
quilômetros do Kremlin, onde Lênin e outros líderes vermelhos residiam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No verão de 1919, no auge da Guerra Civil, a jovem República Soviética
Russa vivia cercada de inimigos. No noroeste, Petrogrado (como São Petersburgo
era então chamada) era ameaçada pelo general Nikolai Iudenitch; no oeste, os
bolcheviques lutavam com as forças polonesas, enquanto no leste combatiam as
tropas de Aleksandr Koltchak, que haviam sido reconhecidas pelos brancos
(forças contrarrevolucionárias) como o governante supremo da Rússia. No sul, o
Exército Vermelho era enfrentado pelas Forças Armadas do Sul da Rússia (FASR)
sob o comando de Anton Denikin, que decidiu que acabaria com o bolchevismo com
um golpe decisivo, ou seja, a captura de Moscou. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Denikin assinou a Diretiva nº 08878 ordenando uma
“marcha sobre Moscou” em 3 de julho de 1919, poucos dias após a captura da
cidade de Tsaritsin (futura Stalingrado), um grande centro industrial e de
transporte no Volga. Os sucessos de suas tropas na primavera, bem como as
revoltas em grande escala dos cossacos e camponeses contra o regime soviético,
criaram o ambiente no sul do país para lançar uma ofensiva na Rússia central.
“Moscou era, é claro, um símbolo”, escreveu Denikin em suas memórias,
Turbulência Russa. “Todos sonhavam em ‘marchar sobre Moscou’.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas não eram exatamente <em>todos </em>os
líderes da Guarda Branca que compartilhavam desse otimismo. O comandante do
Exército do Cáucaso, General Piotr Wrangel, acreditava que o pequeno
contingente das FASR (apenas 60.000 soldados) não estava à altura dessa
campanha. Segundo Wrangel, as forças deveriam ter reforçado suas posições e se
unido a Koltchak, cujos exércitos derrotados estavam recuando para além dos
Urais. Anos depois, em autoexílio, descreveu a diretiva “militarmente
incompetente” de Denikin como “uma sentença de morte para os exércitos do Sul
da Rússia”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Durante a rápida ofensiva das FASR no verão e no
outono de 1919, as cidades de Poltava, Odessa, Kiev, Voronej e Oriol foram
capturadas. Patrulhas de cossacos brancos chegaram à província de Tula, a
apenas 250 km de Moscou. Após furar a retaguarda da Frente Sul do Exército
Vermelho, o Quarto Corpo de Cavalaria do Don, sob o comando do General
Konstantin Mamontov, semeou por mais de um mês o pânico e o caos, queimando
armazéns e apreendendo armas e munições.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Reforçadas com soldados dos territórios
capturados, as FASR tinham agora 150 mil pessoas em suas fileiras. Cerca de 70
mil marcharam sobre Moscou, contra mais de 115 mil soldados do lado oposto –
apesar de superiores em quantidades, estes eram inferiores em treinamento de
combate. Além disso, o Exército Vermelho estava muito desmoralizado após uma
longa série de derrotas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em Moscou, Lênin instigou “Todos pela luta contra
Denikin!”, alertando se tratar de “um dos momentos mais críticos, com toda a
probabilidade, o momento mais crítico da revolução socialista”. Em suas
memórias, o comandante-chefe das Forças Armadas da República Soviética, Serguêi
Kamenev, cita o episódio: “Não consigo me lembrar de uma situação mais difícil
durante toda a Guerra Civil”.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No início de outubro,
começaram a chegar também notícias preocupantes de Petrogrado: em apoio à
ofensiva de Denikin no sul do país, o Exército do Noroeste, do general Iudenitch,
junto com as tropas da Estônia e a frota britânica, lançou a Operação Espada
Branca para tomar a antiga capital do Império Russo.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A ofensiva de Denikin
começou a perder força já em meados de outubro. Depois de tomar vastos
territórios desde o Mar de Azov até a cidade de Oriol, os brancos não tinham
forças suficientes para controlá-los efetivamente. Como resultado, no sudeste
da Ucrânia, o chamado Exército Insurgente Makhnovista, do anarquista Nestor
Makhno, rompeu repentinamente as posições enfraquecidas das FASR e se aproximou
de Taganrog, onde o quartel-general do General Denikin estava baseado. No
momento mais decisivo da ofensiva branca em Moscou, alguns regimentos tiveram
que ser retirados da frente para salvar as posições na retaguarda.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Enquanto os brancos
estavam perdendo gente, os bolcheviques viam suas fileiras aumentarem – a ajuda
veio inesperadamente da frente polonesa.<o:p></o:p></span></p>
<p style="background: white; line-height: 115%; margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O princípio de uma
“Rússia única e indivisível”, com o qual Denikin e outros líderes do Movimento
Branco estavam comprometidos, não era compatível com a ideia de um renascimento
nacional polonês. O líder polonês Józef Piłsudski acompanhava com apreensão o
sucesso das Forças Armadas do Sul da Rússia. Embora avançasse com sucesso na
Bielorrússia, o Exército Polonês selou inesperadamente uma trégua temporária
com os bolcheviques, o que permitiu que dezenas de milhares de soldados
poloneses fossem deslocados para Moscou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Após um embate violento por Oriol em meados de
outubro, as tropas da Frente Sul do Exército Vermelho lançaram uma
contraofensiva em grande escala. Apesar da vantagem numérica dos vermelhos, os
brancos conseguiram recuar de forma ordenada, evitando ser cercados, e fizeram
contra-ataques ao inimigo. “Moscou já se desvaneceu para nós. (...) No fundo,
muitos sentiam uma sensação de condenação”, escreveu o oficial Anton Turkul em
suas memórias “Os Drozdovitas sob Fogo”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="background: white; color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os exércitos brancos foram derrotados tanto no
sul quanto no norte (em novembro, Iudenitch foi vencido perto de Petrogrado). A
retirada ordenada das FASR gradualmente se transformou em uma fuga de pânico,
acompanhada por deserção em grande escala. A última linha de defesa branca no
sul foi a Crimeia, onde as tropas resistiram até novembro de 1920. O Movimento
Branco nunca mais teve outra chance de esmagar os bolcheviques como aquela em
outubro de 1919.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: center;">*****</p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 6.9pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;"><a href="https://br.rbth.com/historia/82161-4-rebelioes-urss" rel="nofollow" target="_blank">Quatro rebeliões que abalaram a Rússia Soviética</a><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: middle;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.35pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">BORIS EGOROV, 20 DE ABRIL DE 2019<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Revoltas e protestos acompanharam o regime totalitário soviético por
toda sua história. Alguns deles, porém, eram tão perigosos para o Kremlin que
podiam realmente acabar com o comunismo na Rússia.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">1. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Rebelião de Tambóv (1920-1921)</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No Império Russo, a província de Tambóv era uma das mais prósperas do
país, e seu campesinato estava entre os mais ricos. Mas quando os bolcheviques
aboliram o livre comércio e passaram a confiscar o pão para as “necessidades da
Revolução”, Tambóv rapidamente caiu na fome e na crise.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Intolerantes a isso, os camponeses locais pegaram em armas e iniciaram
uma guerra de partisans. Eles se intitularam de "verdes" e se opunham
tanto aos “vermelhos” quanto aos “brancos”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No seu auge, a Rebelião de Tambóv contava com mais de 50.000 homens, que
formaram dois exércitos e controlavam enormes territórios ao sul de Moscou.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Percebendo o perigo desta situação crítica, os líderes soviéticos
convocaram todas as forças possíveis para reprimir a rebelião. Com a
assistência da aviação, da artilharia e de carros blindados e trens, 55.000
soldados cercaram os insurgentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Pela primeira vez na história, um exército usou gás venenoso contra seu
próprio povo. Além disso, foram realizadas repressões generalizadas contra as
famílias dos rebeldes. No verão de 1921, a rebelião foi reprimida e seu líder,
Aleksandr Antonov, que estava escondido nas florestas, foi assassinado durante
uma operação especial no ano seguinte.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">2. <i style="mso-bidi-font-style: normal;"><a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" rel="nofollow" target="_blank">Rebelião de Kronstadt</a> (1921)</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Este levante de marinheiros contra o governo bolchevique, ocorrido na
base da Frota do Báltico em Kronstadt, balançou profundamente a liderança
soviética. “O orgulho e a glória da Revolução”, como Leon Trótski chamava os
marinheiros, era o núcleo mais confiável das forças revolucionárias. Se o “mais
confiável” podia trair a causa, o que esperar dos outros?<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os marinheiros exigiam a cessação da ditadura bolchevique e a
restauração das liberdades políticas para todos os movimentos socialistas no
país. Como os camponeses da região de Tambóv, os marinheiros (cuja maioria era proveniente,
principalmente, do campesinato) exigiam a restauração do livre comércio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O Exército Vermelho realizou dois grandes ataques à base, que resultaram
em milhares de vítimas de ambos os lados. No final da revolta, 8.000 rebeldes
conseguiram fugir para a Finlândia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A revolta foi seguida por repressões, durante as quais mais de 2.100
pessoas foram executadas e 6.459 foram sentenciadas à prisão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mas a Rebelião de Kronstadt alcançou parcialmente seu objetivo. Apenas
três dias após sua supressão, a Nova Política Econômica (NEP), permitindo o
comércio livre e pequenos negócios privados, foi introduzida no país.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">3. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Revolta de Norilsk (1953)</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Com mais de 30.000 presos envolvidos, esta foi a maior e mais longa
revolta na história do Gulag. Ela se iniciou em Gorlag, um campo principalmente
para presos políticos, próximo da cidade siberiana de Norilsk.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As razões para o levante eram as baixas rações alimentares, o exaustivo
dia de trabalho de 15 horas e a crueldade das autoridades do campo. O golpe
final foi a execução de um grupo de detentos por um guarda com um rifle de
assalto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A revolta, que durou 70 dias, foi algo mais parecido com uma greve. Os
prisioneiros organizaram um governo próprio, sabotavam o trabalho do campo e
exigiam melhores condições de vida e uma troca na liderança do campo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A supressão foi brutal e realizada com armas. Foram assassinados 150
presos e o campo foi fechado e desmantelado logo em seguida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">4. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Massacre de Novotcherkassk
(1962)</i><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No início dos anos 1960, o fracasso da política econômica da União
Soviética levou à escassez de bens e preços elevados, assim como uma
deterioração significativa nas condições de trabalho. Foram realizados
protestos em muitas cidades, em uma das quais as movimentações terminaram em
tragédia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mais de 5.000 manifestantes, principalmente trabalhadores da locomotiva
elétrica local, se reuniram na cidade de Novotcherkassk, em 1 de junho de 1962.
Os apelos para dispersar não tiveram efeito e as autoridades levaram tanques
para o local, o que revoltou ainda mais o povo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Depois de duas advertências e sem conseguir impedir que a multidão fosse
para a prefeitura, a polícia abriu fogo contra os civis, matando 26 pessoas e
ferindo 87.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A liderança soviética ordenou que se encobrisse o incidente. Os corpos
das vítimas não foram entregues aos parentes e foram enterrados durante a noite
em diversos cemitérios distantes da cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sete pessoas foram acusadas como criminosas e executadas, enquanto 105
foram condenadas a 10 a 15 anos de prisão, que tiveram que cumprir.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin: 11.5pt 0cm 6.9pt; text-align: center;">*****</p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.9pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;"><b><a href="https://br.rbth.com/historia/83889-por-que-mortes-fome-urss" rel="nofollow" target="_blank">Por que houve tanta fome em diferentes períodos daURSS?</a></b><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 12.0pt; margin: 12pt 0cm 0cm; text-align: justify; vertical-align: middle;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.35pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">BORIS EGOROV, 22 DE
MAIO DE 2020<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 12pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Secas, guerras e imprudência do governo resultaram até mesmo em
canibalismo. Os períodos de fome no país se transformaram em desastres em
escala nacional que custaram a vida de milhões de pessoas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">1. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fome de 1921<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A primeira fome em massa atingiu a Rússia soviética logo depois do fim
da Guerra Civil. Mas o conflito, que havia destruído a economia do país, não
foi a única razão – a seca severa de 1921 arrasou quase 20% todas as plantações
da União Soviética.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Devido à escassez de produtos agrícolas, o governo intensificou a
expropriação de grãos da população, o que piorou ainda mais a situação. Em
pouco tempo, a fome atingiu mais de 90 milhões de pessoas em todo o território
do país, das estepes do Cazaquistão até o sul da Ucrânia e Crimeia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O sociólogo Pitirim Sorokin, que visitou aldeias nas províncias de
Saratov e Samara no inverno de 1921, escreveu: “As casas estavam abandonadas,
sem tetos, sem janelas ou portas. Os telhados de palha foram removidos e
comidos há muito tempo. Na aldeia, obviamente, não havia animais – nem vacas,
nem cavalos, nem ovelhas, nem cabras, nem cães, nem gatos, nem mesmo corvos.
Tudo já tinha sido consumido. Um silêncio mortal pairava sobre as ruas cobertas
de neve”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A população começou a fugir, abandonando suas casas. As pessoas venderam
ou jogaram fora todos os seus bens e fugiram para qualquer outro lugar, sem
qualquer plano consciente. O canibalismo se espalhou rapidamente em algumas
regiões. Matava-se transeuntes nas ruas. Em casas começaram a matar crianças
pequenas para as salvar da agonia e evitar que morressem de fome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Durante muito tempo, o governo soviético escondeu a catástrofe, mas, no
verão de 1921, foi obrigado a abrir a situação ao mundo e pedir ajuda. Muitas
organizações de caridade responderam ao apelo. O explorador do Ártico Fridtjof
Nansen foi pessoalmente à Rússia com a ajuda humanitária. Esse apoio e a
colheita favorável de 1922 permitiram travar a catástrofe que custou mais de 5
milhões de vidas. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">2. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fome de 1932<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Quase 10 anos mais tarde, uma nova fome em massa se espalhou pela URSS.
O processo de coletivização – de transformação forçada de fazendas camponesas
privadas em fazendas coletivas, ou “kolkhózes” – e a desapropriação de
camponeses ricos forçaram milhões de camponeses a fugir para as cidades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O governo soviético não deu muita atenção à crise nas aldeias e mandou
aumentar a colheita de grãos. Quaisquer protestos dos camponeses eram
considerados sabotagem e severamente punidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Como resultado, entre 1932 e 1933, a fome atingiu vastos territórios da
Ucrânia, Cáucaso, Cazaquistão, Bielorrússia, Sibéria ocidental e algumas
regiões da porção europeia da Rússia. Os horrores que o país tinha
experimentado no início dos anos 1920 voltaram com tudo. Segundo as lembranças
dos moradores da região de Kuban, “ninguém prestou atenção aos mortos, não
havia forças, só indiferença completa”. Foram registrados novos casos de
canibalismo e suicídios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“O meu pai saiu em busca de pão e
não voltou. Logo, o meu irmão também saiu e desapareceu. Ficamos sozinhos com a
minha mãe”, lembrou o ucraniano Aleksêi Stepanenko, da região de Kherson. “A
minha mãe, sentindo que a morte estava chegando, me disse ‘quando for morrer,
vou sufocá-lo para que não sofra e não morra de fome’”, contou Aleksêi. “Na noite
daquele dia, ela, pobre, entregou a alma a Deus. Eu, com sete anos, fui levado
para um abrigo rural.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A fome de 1932 e 1933 resultou em mais de 7 milhões de mortes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">3. <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Cerco a Leningrado<o:p></o:p></i></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Mais de 630 mil habitantes de Leningrado (atual São Petersburgo) morreram
de fome durante o Cerco a Leningrado pelas tropas da Alemanha nazista, Itália e
Finlândia durante a Segunda Guerra Mundial, que durou 872 dias. Os moradores
locais comeram todos os cães e gatos, especiarias, comida para pássaros,
remédios, farelo de girassol, e até cola de madeira, peles de animais e cintos
cozidos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Aos poucos, as pessoas foram se desumanizando. “Eu estava atravessando
uma ponte, um homem alto caminhava lentamente à frente. Um passo, outro – ele
cai. Eu, estupidamente, passo por ele morto – e não me importo. Entro no prédio
onde moro, mas não consigo subir as escadas. Então pego um pé com as duas mãos
e coloco no degrau, depois o outro”, lembrou a moradora de Leningrado, Tatiana
Aksiónova. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Fome de 1946<o:p></o:p></span></i></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A fome de 1946 e 1947 foi consequência direta da Segunda Guerra Mundial
e da seca de 1946, que resultou em colheita fraca.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No entanto, a URSS tinha vastas reservas de grãos e era possível evitar
o desastre, mas o governo decidiu aumentar as exportações de grãos para o
exterior, para quase o dobro do nível pré-guerra. Além disso, temendo o risco
de uma nova guerra com os ex-Aliados, o governo quis manter as reservas
agrícolas e se recusou a distribuir alimentos para as regiões. Com isso, até
1,5 milhão de pessoas morreram de fome.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Percorríamos as aldeias, pedimos
esmolas, não ganhávamos quase nada, porque todos viviam mal”, lembra Aleksandra
Lójkina, que morava na região do Volga. “Voltei para casa um dia com um pouco
de comida que consegui achar, a minha mãe e irmão estavam deitados. Dei um
pedaço de pão à minha mãe, ela comeu e se levantou. Preparamos uma sopa. Ela
nos alimentou e disse: ‘Chura [apelido para Aleksandra], me dê outro pedaço de
pão’. Ela nunca tinha pedido pão antes, sempre deu tudo para nós. Só ganhamos
vida quando apareceram os primeiros vegetais: ervas, urtiga, azeda, depois
cogumelos e frutos silvestres.”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: center;">*****</p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.9pt; mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;"><a href="https://br.rbth.com/historia/81403-coletivizacao-urss-campesinato-industrializacao" rel="nofollow" target="_blank">Coletivização da URSS: destruição do campesinato ou mal necessário paraindustrialização?</a><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; vertical-align: middle;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.35pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">BORIS CHIBANOV, 28 DE OUTUBRO DE 2018</span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A coletivização, ou a transformação de fazendas individuais em
coletivas, foi um ataque às antigas tradições do campesinato russo. No entanto,
acelerou a industrialização e deu ao recém-nascido Estado soviético um rumo
firme ao desenvolvimento econômico.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A década de 1920 foi um momento difícil para a Rússia. Além de palco de
uma devastadora guerra civil, teve que lidar com a intervenção estrangeira, uma
profunda crise agrícola e o fracasso das reformas econômicas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O recém-formado Estado soviético precisava dar passos significativos e
radicais para consolidar seu desenvolvimento – e a coletivização foi uma dessas
medidas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A coletivização implicou uma série de reformas importantes no setor
agrícola da União Soviética.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A partir de 1927, o objetivo da coletivização era fazer com que as
terras e mão de obra individuais passagem para fazendas coletivas, chamadas
kolkhozes. Os trabalhadores não recebiam salário, mas recebiam parte do que
produziam na fazenda, para apenas cobrir suas necessidades e as de suas famílias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os líderes soviéticos esperavam que a coletivização aumentasse
significativamente a oferta de alimentos para a população urbana. Isso era de
suma importância, uma vez que o processo de industrialização estava
simultaneamente começando.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Se havia mais trabalhadores nas fábricas, isso significava que havia
demanda maior por comida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A coletivização se converteu em um processo em grande escala em 1929,
quando Iossef Stálin publicou o artigo “O Ano da Grande Ruptura”. O líder
soviético confirmou que os processos de coletivização e industrialização eram o
principal meio de modernizar o país. Paralelamente, Stálin declarou a
necessidade de liquidar a classe de camponeses abastados conhecidos como kulaks
(“punhos”, em russo).<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As kolkhozes estavam destinadas a se tornar um marco na ideologia
socialista soviética: tratava-se de comunidades de pessoas felizes trabalhando
juntas em um ambiente harmônico para o benefício de um Estado maior.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">No entanto, a realidade não era assim tão feliz.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A coletivização gerou um trauma profundo para o campesinato russo. O
confisco forçado de carne e pão levou a tumultos. Havia até camponeses que
preferiram sacrificar seu gado em vez de entregá-lo às fazendas coletivas. Às
vezes, o governo soviético usava o Exército para reprimir as revoltas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As antigas tradições do campesinato russo acabaram sendo destruídas em
meio ao processo. Os camponeses, que costumavam se interessar pelos frutos de
seu trabalho, foram perdendo esse interesse nos kolkhozes. Os primeiros anos de
coletivização se mostraram catastróficos. Em 1932 e 1933 houve uma grande fome
no país que ceifou com a vida de oito milhões de pessoas, devido, em grande
parte, à coletivização.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Até a década de 1970, um camponês de uma fazenda coletiva – chamado
kolkhósnik – não tinha o direito de obter um passaporte. Sem esse documento, um
fazendeiro não poderia se mudar para a cidade e estava oficialmente atado à sua
fazenda.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nem tudo foi negativo nesse período, contudo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A maioria dos camponeses que não sofreram coletivização mudaram-se para
cidades e se tornaram a força motriz por trás do processo de industrialização.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A coletivização permitiu que o Estado assumisse o controle do setor
agrícola e a distribuição de mantimentos. Isso teve especial importância depois
com o começo da Segunda Guerra Mundial.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.9pt; text-align: center; vertical-align: middle;">*****</p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; mso-outline-level: 1; text-align: justify;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-font-kerning: 18.0pt;"><a href="https://br.rbth.com/historia/80958-estado-sovietico-obteve-ajuda-ocidente-renegou" rel="nofollow" target="_blank">Como o recém-nascido Estado soviético obteve ajuda capitalista e depoisrenegou</a><o:p></o:p></span></b></p>
<p class="MsoNormal" style="background: white; text-align: justify; vertical-align: middle;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10pt; letter-spacing: 0.35pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-weight: bold; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; text-transform: uppercase;">BORIS EGOROV, 27 DE
JULHO DE 2018<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A indústria pesada
soviética, que ajudou o país a vencer a Segunda Guerra Mundial e se tornar uma
superpotência, foi criada em grande parte com a ajuda dos EUA. Mas as
autoridades soviéticas fizeram o que puderam para manter tudo em segredo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em meados da década de 1920, o jovem Estado soviético, após o batismo de
fogo na longa e devastadora Guerra Civil (1918 a 1922), era um país
enfraquecido, com um enorme setor agrícola, alto desemprego e indústria
atrasada. Como se isso não fosse ruim o suficiente, o território soviético
estava cercado por outras nações hostis.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Diante de tais circunstâncias, a liderança soviética percebeu a
necessidade urgente de transformar a URSS em um Estado forte – econômica e
militarmente –, ainda que fosse preciso fazê-lo do zero e em alta velocidade.
“Estamos 50 a 100 anos atrás dos principais países. Precisamos recuperar esse
prejuízo em dez anos”, declarou Stálin.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Teoria à parte, havia problemas práticos para superar. Especialistas
soviéticos tinham recursos, mas nenhuma experiência de construção industrial
moderna. Por isso, tomou-se a decisão de envolver os profissionais estrangeiros
do mundo capitalista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Arquiteto da Ford” na “terra dos soviéticos”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Diversas empresas estrangeiras renomadas foram convidadas a participar
da industrialização stalinista, entre elas a Siemens-Schuckertwerke AG, a Ford
Motor Company e a General Electric. Mas a marca mais significativa foi feita
pelo arquiteto industrial Albert Kahn e sua firma Albert Kahn Associates, com
sede em Detroit. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os arquitetos industriais da Kahn Associates projetaram e construíram instalações
industriais usando “correias transportadoras”. Dezenas de fábricas foram
construídas com esse sistema, acelerando o processo de construção e com custos
mínimos. Foi a Kahn Associates que projetou a sede da General Motors e quase
todas as fábricas de automóveis de Henry Ford, o que lhe rendeu o apelido de
“arquiteto da Ford”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-top: 11.5pt; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Kahn e sua metodologia foram uma verdadeira descoberta para a URSS, já
que no novo Estado soviético as decisões sobre a construção industrial eram, em
geral, não sistemáticas e espontâneas. A abordagem individual dos especialistas
soviéticos, sem uma visão geral de coisa, significava que as fábricas levavam
dois anos para ser construídas, enquanto Albert Kahn fazia o trabalho de em 3 a
6 meses. Foi o “pontapé inicial” que a industrialização soviética
precisava. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O nascimento dos
gigantes industriais<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 1928, dezenas de engenheiros da firma de Kahn chegaram à URSS sob a
direção de seu irmão Moritz. Embora o próprio Albert nunca tenha visitado a
“terra dos soviéticos”, ele via sua missão na Rússia como algo mais do que
apenas negócios.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">“Não acredito que o mundo possa se recuperar até que os outros povos
ajudem os russos a transformar seu país em uma sociedade industrial moderna que
se desenvolva em harmonia com o resto do mundo”, escreveu o norte-americano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Entre 1929 e 1932, em colaboração com especialistas soviéticos
interessados em adquirir experiência estrangeira, engenheiros dos EUA
construíram 571 instalações industriais em todo a União Soviética: de fábricas
gigantescas, como a planta de tratores em Tcheliabinsk, a oficinas menores.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Foram os arquitetos da Kahn que projetaram e construíram uma das
primeiras grandes empresas industriais da URSS – a famosa fábrica de tratores
de Stalingrado, que produzia e consertava os tanques T-34 durante a Grande
Guerra Patriótica. A fábrica foi construída nos EUA, desmontada e transportada
para a URSS, e depois remontada em solo soviético no intervalo de 6 meses com
supervisão de engenheiros americanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O sucesso foi tão grande que, em 1930, a empresa de Kahn se tornou a
principal projetista e consultora do governo em construção industrial. Mas esse
favoritismo não durou muito e logo a liderança soviética decidiu se livrar de
empresas estrangeiras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O adeus não tão longo<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em 1932, a URSS enfrentou as consequências da política mal calculada de
venda descontrolada de grãos no exterior para quitar a rápida industrialização.
A crise financeira e a fome que se seguiram obrigaram o governo a rescindir
contratos com empresas ocidentais, incluindo a Albert Kahn Associates.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Além disso, as fábricas civis soviéticas estavam sendo gradualmente
militarizadas. De acordo com o plano, as fábricas de construção de tratores
deveriam produzir não apenas máquinas agrícolas, mas também tanques, que se
mostraram eficazes na guerra subsequente contra a Alemanha nazista. Sob nenhuma
circunstância, os estrangeiros poderiam testemunhar a militarização secreta da
indústria soviética.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“Eles estão construindo fábricas
militares, mas não querem que saibamos disso”, escreveu Moritz Kahn a seu
irmão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A ideologia também começou a desempenhar seu papel. A ajuda das
potências imperialistas ocidentais na criação da indústria pesada era cada vez
mais subestimada.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Expressões anteriormente comuns como “portão ferroviário do tipo norte-americano”
ou “coluna metálica do tipo americana” foram apagadas de artigos científicos e
documentos oficiais em meados dos anos 1930, quando as empresas já haviam
saído.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A União Soviética tentou esconder a assistência inestimável prestada por
especialistas ocidentais, proclamando: “Fizemos tudo isso sozinhos e faremos
ainda mais”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0cm; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 11.5pt; margin: 11.5pt 0cm 0cm; text-align: justify;"><span style="color: black; font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Fonte: coletânea de textos extraídos do site <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Russia Beyond</i></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1737138655802924414.post-67029749462165113872021-08-01T04:00:00.009-07:002022-10-31T14:12:12.950-07:00Kronstadt, por Emma Goldman<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj0ohjm9HSwWpy2FVORvlnB8qyYnhdx9xEAAzsxG2jc4WoLBEkp1xMozx-dNk4N4pu6SNiEgTgdvw4-ycsUkHJPImxNmb98QB80oB9cTKPuoZCPryEOWgWtVHOfzM4YlMwqY4J4gxSXPTI/s238/emma.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="238" data-original-width="180" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj0ohjm9HSwWpy2FVORvlnB8qyYnhdx9xEAAzsxG2jc4WoLBEkp1xMozx-dNk4N4pu6SNiEgTgdvw4-ycsUkHJPImxNmb98QB80oB9cTKPuoZCPryEOWgWtVHOfzM4YlMwqY4J4gxSXPTI/w303-h400/emma.jpg" width="303" /></a></div><br /><p></p><p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">KRONSTADT<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Emma
Goldman<o:p></o:p></span></p>
<p align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Tradução:
Ateneu Diego Giménez / COB-AIT Piracicaba/SP.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No começo do meu
período russo, a questão das greves havia me intrigado bastante. As pessoas
tinham me dito que a última tentativa do tipo foi esmagada e os participantes
enviados à prisão. Eu não tinha acreditado nisso, e, como em todas as coisas
similares, eu fui atrás de Zorin por informações. “Greves sob a ditadura do proletariado?”,
ele exclamou, “Não existe isso”. Ele até me repreendeu por dar crédito a contos
tão loucos e impossíveis. Contra quem, de fato, os trabalhadores entrariam em greve
na Rússia soviética? Ele argumentou. Contra eles mesmos? Eles eram os mestres do
país, tanto política como industrialmente. Certamente, havia alguns entre os operários
que não tinham completa consciência de classe e não estavam cientes de seus próprios
verdadeiros interesses. Estes às vezes ficavam frustrados, mas eram elementos incitados
pelos shkurniky, por egoístas e inimigos da Revolução. Eles eram parasitas que
estavam propositalmente enganando o pobre povo. Eram o pior tipo de sabotazhniky,
não melhores do que contrarrevolucionários completos, e, é claro, as autoridades
soviéticas tinham que proteger o país contra o seu tipo. A maioria deles estava
na prisão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Desde então eu aprendi por
observação e experiência pessoal que os verdadeiros sabotazhniky,
contrarrevolucionários e bandidos nas instituições penais soviéticas eram uma
minoria insignificante. A maior parte da população prisional consistia de
hereges sociais que eram culpados de pecado capital contra a Igreja Comunista.
Pois nenhuma ofensa era considerada mais hedionda do que considerar visões
políticas em oposição ao partido, e a expressar qualquer protesto contra os
males e crimes do bolchevismo. Eu descobri que de longe o maior número era de
prisioneiros políticos, assim como camponeses e operários culpados de exigir
melhor tratamento e condições. Estes fatos, apesar de rigidamente guardados do
público, eram não obstante conhecimento comum, como de fato era a maioria das
coisas que estavam acontecendo secretamente por baixo da superfície soviética.
Como a informação proibida vazava era um mistério, mas ela de fato vazou e se
espalharia com a rapidez e a intensidade de um incêndio florestal.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dentro de menos de
vinte e quatro horas depois de nosso retorno a Petrogrado, nós descobrimos que
a cidade estava fervilhando com descontentamento e conversas sobre greve. A
causa disso era o sofrimento crescente devido ao incomum inverno severo assim
como parcialmente à habitual estreiteza de visão soviética. Pesadas tempestades
de neve haviam atrasado os magros suprimentos de comida e combustível para a
cidade. Além disso, o Petro-Soviete tinha cometido a estupidez de fechar várias
fábricas e cortar as rações de seus empregados quase pela metade. Ao mesmo
tempo, se tornou conhecido que os membros do partido nas oficinas tinham
recebido um suprimento novo de calçados e roupas, enquanto o resto dos
trabalhadores estava coberto e calçado miseravelmente. Para tapar o clímax, as
autoridades vetaram a reunião convocada pelos operários para discutir maneiras
de melhorar a situação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em Petrogrado, a
sensação comum entre os elementos não comunistas era que a situação era muito
grave. A atmosfera estava carregada até o ponto de explosão. Nós decidimos, é
claro, permanecer na cidade. Não que esperávamos impedir a confusão iminente,
mas queríamos estar presentes caso pudéssemos servir de ajuda ao povo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A tempestade irrompeu
antes mesmo que qualquer pessoa esperasse. Em fevereiro de 1921, os
trabalhadores de várias fábricas de Petrogrado entraram em greve. O inverno foi
excepcionalmente frio, e as pessoas da capital sofriam intensamente com o frio,
a fome e a exaustão. Eles pediam por um aumento de suas rações de alimentos,
por um pouco de combustível e por roupas. As reclamações dos trabalhadores,
ignoradas pelas autoridades, rapidamente assumiram um caráter político.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Começou com a greve dos
operários nas fábricas de Troubetskoy. Suas exigências eram modestas o
suficiente: um aumento em suas rações de alimento, como haviam lhes prometido
há tempos atrás, e também a distribuição dos calçados à mão. O PetroSoviete se
recusou a negociar com os grevistas até que eles retornassem ao trabalho. A tentativa
de manifestação dos grevistas na rua foi suprimida: companhias de kursanti armados,
consistindo de jovens comunistas treinados militarmente, foram enviadas para dispersar
os trabalhadores reunidos ao redor das fábricas. Os cadetes buscavam incitar a multidão
atirando no ar, mas infelizmente os operários estavam desarmados e não houve derramamento
de sangue. Os grevistas recorreram a uma arma mais poderosa, a solidariedade de
seus companheiros, resultando em empregados de outras cinco fábricas baixando
suas ferramentas e se juntando ao movimento grevista. Vieram quase todos os operários
das docas da Galernaya, das oficinas do Almirantado, das moendas de Patronny e
das fábricas de Baltiysky e Laferm.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Por todos os relatos,
eu levantei que o manejo dos grevistas não foi camarada de maneira alguma. Liza
Zorin, que de todos os comunistas que eu conheci havia permanecido como a mais
próxima do povo, estava presente na dispersão da manifestação. Mesmo uma
comunista fervorosa como Liza Zorin tinha sido incitada a protestar contra os
métodos utilizados. Liza e eu tínhamos nos afastado há muito tempo atrás,
portanto eu portanto muito surpresa dela sentir a necessidade de abrir seu
coração para mim. Ela nunca acreditaria que homens do Exército Vermelho fossem
avançar sobre operários, ela protestou. Algumas mulheres desmaiaram com a
visão, e outras ficaram histéricas. Uma mulher que estava de pé perto dela
tinha evidentemente reconhecido ela como membro ativo do partido e sem dúvida a
considerou responsável pela cena brutal. Ela ficou tão enraivecida com a
brutalidade dos militares que avançou sobre Liza violentamente e a acertou no
rosto em cheio, levando-a a sangrar profusamente. Apesar de cambalear pelo
golpe, a velha Liza, que sempre me provocou por minha sentimentalidade, disse à
sua agressora que aquilo não importava de maneira alguma. A última, fiel aos
seus instintos proletários, salvou a mulher da prisão e a acompanhou até sua
casa. “Para reassegurar à mulher distraída, eu implorei a ela que me deixasse
acompanhá-lha até sua casa”, Liza relatou. Lá ela encontrou as condições mais chocantes.
Em um quarto escuro e úmido, vivia uma família operária com seus seis filhos,
seminus no amargo frio. “Sua casa – era um buraco pavoroso que eu pensava que não
mais existia em nosso país. Um quarto escuro, frio e úmido, ocupado pela mulher,
seu marido e seus seis filhos. E pensar que eu tinha vivido no Hotel Astoria
todo este tempo!”, ela lamentou. Mais tarde, ela se mudou. Ela sabia que não
era culpa do seu partido que tais condições chocantes ainda prevaleciam na
Rússia soviética, ela continuou. Nem era a teimosia comunista a responsável
pela greve. O bloqueio e a conspiração imperialista mundial contra a República
Operária eram os culpados pela pobreza e pelo sofrimento. De qualquer maneira,
ela não podia mais permanecer em seu cômodo confortável. O quarto da mulher
desesperada e seus filhos com queimaduras de frio assombrariam os seus dias.
Pobre Liza! Ela era leal e fiel, e de caráter altíssimo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas oh, tão cega
politicamente!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O apelo dos operários
por mais pão e um pouco de combustível logo estourou em decididas exigências
políticas, graças à arbitrariedade e crueldade das autoridades. Um manifesto,
que foi colado nas paredes ninguém sabia por quem, convocava “uma mudança
completa na política do governo”. Ele declarava que, “antes de tudo, os operários
e os camponeses precisam de liberdade. Eles não querem viver sob os decretos
dos bolcheviques; eles querem controlar seus próprios destinos”. A cada dia a situação
crescia em tensão e novas exigências estavam sendo expressas por meio de proclamações
nas paredes e nos prédios. Por fim, apareceu um chamado pela Uchredilka, a
Assembleia Constituinte tão odiada e denunciada pelo partido dominante.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Lei marcial foi
declarada e os operários receberam a ordem de voltar para as oficinas sob pena
de serem privados de suas rações. Isso não teve qualquer efeito, e como
consequência alguns sindicatos foram liquidados, seus oficiais e os grevistas
mais insistentes colocados na prisão.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Com impotência
angustiante, nós vimos grupos de homens cercados por tchekistas e soldados
armados conduzidos por nossas janelas. Na esperança de fazer os líderes
soviéticos perceberem a loucura e o perigo de suas táticas, Sasha tentou falar com
Zinoviev, enquanto eu procurei Madame Ravich, Zorin e Zipperovich, líder do Sindicato
do Soviete de Petrogrado. Mas todos eles nos negaram com a desculpa de que estavam
muito ocupados defendendo a cidade de complôs contrarrevolucionários tramados
por mencheviques e socialistas revolucionários. Esta fórmula já tinha ficado conhecida
após ser repetida por três anos, mas ainda ajudava a jogar areia nos olhos da militância
de base comunista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A greve continuava a se
espalhar, a despeito de todas as medidas extremas. Eram feitas prisões atrás de
prisões, mas a própria estupidez com que as autoridades lidaram com a situação
serviram para encorajar os elementos sombrios. Proclamações antirrevolucionárias
e antissemitas começaram a aparecer, e rumores furiosos de supressão militar e
de brutalidade da Tcheka contra os grevistas encheram a cidade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os operários estavam
determinados, mas era aparente que em breve eles se submeteriam por causa da
fome. Não havia nenhuma maneira do público ajudar os grevistas mesmo se tivesse
qualquer coisa para dar. Todas as avenidas que levavam aos distritos
industriais da cidade foram cortadas por tropas concentradas. Ademais, a própria
população estava em uma carência pavorosa. O pouco que podíamos reunir em alimentos
e roupa era uma mera gota no oceano. Nós todos percebemos que as chances entre
a ditadura e os operários eram muito desiguais para permitir que os grevistas resistissem
por muito mais tempo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nesta situação tensa e
desesperada, logo foi introduzido um novo fator que manteve a esperança de
solução. Eram os <a href="https://geografia-sociedadenatureza.blogspot.com/2021/12/centenario-da-rebeliao-de-kronstadt.html" rel="nofollow" target="_blank">marinheiros de Kronstadt</a>. Quando os marinheiros de Kronstadt
souberam do que estava acontecendo em Petrogrado, eles expressaram sua
solidariedade com os grevistas em suas exigências econômicas e revolucionárias,
mas se recusaram a apoiar qualquer convocação para a Assembleia<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Constituinte. Fiéis às
suas tradições revolucionárias e à sua solidariedade com os trabalhadores, tão
lealmente demonstradas na revolução de 1905, e mais tarde nas sublevações de
março e outubro de 1917, agora eles novamente se levantaram em favor dos
proletários atacados em Petrogrado. De maneira nenhuma às cegas.
Silenciosamente e sem forasteiros saberem a respeito, eles haviam enviado um
comitê para investigar as alegações dos grevistas. Seu relato incitou os
marinheiros dos navios de guerra Petropavlovsk e Sevastopol a adotarem uma resolução
a favor das exigências de seus irmãos operários em greve. Eles se declararam
devotados à Revolução e aos Sovietes, assim como leais ao Partido Comunista.
Eles protestavam, todavia, contra a atitude arbitrária de certos comissários e
enfatizavam a necessidade de maior autodeterminação para os corpos organizados
dos trabalhadores. Eles também exigiram liberdade de reunião para sindicatos e
organizações camponesas e a libertação de todos os operários e prisioneiros
políticos das prisões soviéticas e dos campos de concentração.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O exemplo dessas
brigadas foi seguido pelos Primeiro e Segundo Esquadrões da Frota do Báltico
estacionados em Kronstadt. Em uma reunião a céu aberto em 1º de março,
realizada com o conhecimento do Comitê Executivo do Soviete de Kronstadt, à qual
compareceram 16.000 marinheiros, homens do Exército Vermelho e trabalhadores de
Kronstadt, resoluções similares foram adotadas por unanimidade com a exceção de
apenas três votos. Os dissidentes incluíam Vassiliev, Presidente do Soviete de Kronstadt,
que presidia a reunião; Kuzmin, o Comissário da Frota do Báltico; e Kalinin, Presidente
das Repúblicas Socialistas Soviéticas Federadas. Kalinin, Kuzmin e Vassiliev
falaram contra a resolução, a qual mais tarde se tornou a base do conflito
entre Kronstadt e o governo. Ela expressava a exigência popular por Sovietes
eleitos pela livre escolha do povo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dois anarquistas que
tinham comparecido à reunião retornaram para nos contar da ordem, do entusiasmo
e do belo espírito que havia prevalecido ali. Desde os primeiros dias de
Outubro eles não viam tal manifestação espontânea de solidariedade e camaradagem
fervente. Se nós estivéssemos lá..., eles lamentaram. A presença de Sasha, a
quem os marinheiros de Kronstadt tinham defendido valentemente quando esteve em
perigo de deportação à Califórnia em 1917, e de mim, a quem os marinheiros conheciam
por reputação, teria dado mais peso à resolução, eles declararam. Nós concordamos
que teria sido uma experiência maravilhosa participar da primeira grande reunião
de massa no solo soviético que não foi feita à máquina. Gorki tinha me assegurado
há muito tempo atrás que os homens da Frota do Báltico tinham nascido anarquistas
e que meu lugar era com eles. Eu frequentemente quis ir a Kronstadt conhecer as
tripulações e conversar com elas, mas eu senti que no meu estado mental confuso
e perturbado eu não podia lhes dar nada de construtivo. Mas agora eu sabia que se
fosse até eles, os bolcheviques iriam bradar que eu estava incitando os
marinheiros contra o regime. Sasha disse que ele não se importava com o que os
comunistas diriam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Ele se juntaria aos
trabalhadores em seu protesto a favor dos operários grevistas de Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nosso companheiros
enfatizaram que as expressões de simpatia por parte de Kronstadt com os grevistas
não poderia de forma alguma ser interpretada como ação antissoviética. Na
verdade, todo o espírito dos marinheiros e das resoluções aprovadas em suas
assembleias era completamente soviético. Eles se opunham fortemente à atitude autocrática
das autoridades de Petrogrado aos grevistas esfomeados, mas em nenhum momento a
reunião mostrou a menor oposição aos comunistas. Na verdade, a grande reunião
tinha sido realizada sob os auspícios do Soviete de Kronstadt. Para mostrar sua
lealdade, os marinheiros receberam Kalinin em sua cidade com música, e sua
palestra foi escutada com respeito e atenção. Mesmo depois que ele e seus
camaradas atacaram os marinheiros e condenaram sua resolução, Kalinin foi
escoltado de volta à estação da forma mais amigável, nossos informantes
afirmaram.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nós ouvimos o rumor de
que, em uma reunião de trezentos delegados da frota, da guarnição e do
Sindicato do Soviete, Kuzmin e Vassiliev foram presos pelos marinheiros. Nós
perguntamos a nossos dois companheiros o que eles sabiam sobre o assunto. Eles
admitiram que os dois homens tinham sido detidos. A razão para isso foi porque
na reunião Kuzmin havia denunciado os marinheiros como traidores, e os grevistas
de Petrogrado como shkurniky, e havia declarado que dali em diante o Partido Comunista
“iria combatê-los até o fim como contrarrevolucionários”. Os delegados também
tinham descoberto que Kuzmin tinha dado ordens para a remoção de toda a comida
e munição de Kronstadt, condenando desse modo a cidade à fome. Portanto, foi decidido
pelos marinheiros e pela guarnição de Kronstadt deter Kuzmin e Vassiliev e tomar
precauções para que nenhum suprimento fosse removido do município. Mas não houve
nenhuma indicação de quaisquer intenções rebeldes ou de que eles tinham deixado
de acreditar na integridade revolucionária dos comunistas. Pelo contrário, aos delegados
comunistas na reunião foi permitido igualdade de voz. Outra prova de sua confiança
no regime foi dada pelos delegados ao enviar um comitê de trinta homens para
conferenciar com o Petro-Soviete com vistas a um ajuste amigável da greve.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nos sentimos cheios de
orgulho com a esplêndida solidariedade dos marinheiros e soldados de Kronstadt
com seus irmãos grevistas em Petrogrado e esperávamos que um rápido fim da
confusão viesse em breve, graças à mediação dos marinheiros.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nossas esperanças foram
frustradas uma hora depois que recebemos a notícia da ação de Kronstadt. Uma
ordem assinada por Lenin e Trotsky se espalhou como um incêndio por Petrogrado.
Ela declarava que Kronstadt havia se amotinado contra o governo soviético, e
denunciava os marinheiros como “instrumentos de ex-generais czaristas que,
junto com traidores socialistas revolucionários, planejaram uma conspiração
contrarrevolucionária contra a República proletária”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">“Absurdo! Isso não é
nada menos que loucura!”, Sasha gritou quando leu a cópia da ordem. “Lenin e
Trotsky devem ter sido mal informados por alguém. Eles não poderiam acreditar
de forma alguma que os marinheiros eram culpados de contrarrevolução. Por quê?
As tripulações do Petropavlovsk e do Sevastopol particularmente tinham sido os
apoiadores mais fiéis dos bolcheviques em Outubro e desde então. E o próprio
Trotsky não os saudou como ‘o orgulho e a glória da Revolução’?”<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nós devemos ir a Moscou
de uma vez, Sasha declarou. Era imperativo ver Lenin e Trotsky e explicar a
eles que foi tudo um terrível mal entendido, uma trapalhada que pode mostrar-se
fatal à própria Revolução. Foi muito difícil para Sasha desistir de sua fé na
integridade revolucionária dos homens que tinham aparecido como apóstolos proletários
para milhões ao redor do mundo. Eu concordei com ele que Lenin e Trotsky tinham
sido enganados por Zinoviev, que esteve telefonando à noite para o Kremlin com
relatórios detalhados sobre Kronstadt. Zinoviev não era conhecido nem mesmo entre
seus próprios camaradas por ter coragem pessoal. Ele entrou em pânico com os primeiros
sintomas de descontentamento mostrado pelos trabalhadores de Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quando ele soube que a
guarnição local tinha expressado simpatia com os grevistas, ele perdeu a cabeça
completamente e ordenou que uma metralhadora fosse colocada no Astoria para sua
proteção. O levante de Kronstadt tinha colocado terror em seu coração e isso o
levou a bombardear Moscou com histórias malucas. Eu sabia tudo isso, assim como
Sasha, mas eu não pude acreditar que Lenin e Trotsky realmente achavam que os homens
de Kronstadt eram culpados de contrarrevolução ou eram capazes de cooperar com
Generais Brancos, como alegou-se na ordem de Lenin.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Lei marcial
extraordinária foi declarado sobre toda a Província de Petrogrado, e ninguém
além de oficiais especialmente autorizados poderia deixar a cidade. A imprensa
bolchevique iniciou uma campanha de calúnia e difamação contra Kronstadt, proclamando
que os marinheiros e soldados tinham ficado do lado do “General Czarista Kozlovsky”,
e declarando o povo de Kronstadt fora da lei. Sasha começou a perceber que a
situação envolvia muito mais que mera mal informação por parte de Lenin e Trotsky.
Este iria comparecer à sessão especial do Petro-Soviete onde o destino de Kronstadt
seria decidido. Nós decidimos estar presentes.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 4 de março, o
Soviete de Petrogrado deveria se reunir e se sentia geralmente que o destino de
Kronstadt seria então decidido. Trotsky iria falar na reunião, e como eu ainda
não havia tido a oportunidade de escutá-lo na Rússia, eu estava ansiosa por comparecer.
Minha atitude sobre a questão de Kronstadt ainda não estava decidida. Eu não
podia acreditar que os bolcheviques iriam deliberadamente fabricar a estória
sobre o General Kozlovsky como o líder dos marinheiros. A reunião do Soviete,
eu esperava, iria esclarecer o assunto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Era minha primeira
oportunidade na Rússia de ouvir Trotsky. Nós poderíamos lembrá-lo de suas
palavras de despedida em Nova Iorque, eu pensei: a esperança que ele tinha
expressado de que em breve fôssemos para a Rússia ajudar no grande trabalho que
se tornou possível pela queda do czarismo. Nós iríamos implorar a ele que nos
deixasse resolver a dificuldade de Kronstadt em um espírito amigável, dispor de
nosso tempo e de nossas energias, até mesmo de nossas vidas, no teste supremo
que a Revolução estava colocando diante do Partido Comunista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Infelizmente, o trem de
Trotsky se atrasou e ele não apareceu na sessão. Os homens que falaram à
reunião estavam além da razão e do apelo. Fanatismo desvairado estava em suas
palavras, e medo cego, em seus corações.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O Palácio Tauride
estava lotado. A atmosfera estava muito tensa. A plataforma estava fortemente
protegida por kursanti, e soldados tchekistas munidos de baionetas ficavam de
pé entre ela e a plateia. Zinoviev, que presidia, parecia à beira de um colapso
nervoso. Por várias vezes ele se levantava para falar e então se sentava
novamente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Todos esperavam por
Trotsky. Mas quando deu 10 horas e ele não havia chegado, Zinoviev abriu a
reunião.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quando ele finalmente
começou a falar, ele manteve sua cabeça virando para a esquerda e para a
direita como se temesse um ataque súbito, e sua voz, sempre fina como a de um
adolescente, subiu para um tom estridente, extremamente dissonante e de maneira
alguma convincente. Antes que ele tivesse falado por quinze minutos, eu estava convencida
de que ele mesmo não acreditava na história de Kozlovsky. “É claro que Kozlovsky
está velho e não pode fazer nada”, ele disse, “mas os Oficiais Brancos estão atrás
dele e estão enganando os marinheiros”. No entanto, por dias os jornais
soviéticos haviam anunciado o General Kozlovsky como o espírito motor da
“sublevação”. Ele denunciava o “General Kozlovsky” como o espírito maligno dos
homens de Kronstadt, apesar da maioria da plateia saber que aquele oficial
militar tinha sido colocado em Kronstadt pelo próprio Trotsky como especialista
em artilharia. Isso não evitou que Zinoviev, como presidente do especialmente
criado Comitê de Defesa, proclamasse que Kronstadt tinha se levantado contra a
Revolução e buscava realizar os planos de Kozlovsky e seus comparsas czaristas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kalinin se desvencilhou
de suas maneiras comumente bondosas e atacou os marinheiros em termos cruéis,
esquecendo as honras prestadas a ele em Kronstadt há apenas alguns dias. Ele, a
quem os marinheiros tinham permitido deixar Kronstadt ileso, delirou como um
peixeiro. Ele denunciou os marinheiros como contrarrevolucionários e clamou por
sua subjugação imediata. Vários outros comunistas o seguiram. “Nenhum medida
pode ser severa demais para os contrarrevolucionários que ousam levantar sua mão
contra nossa gloriosa Revolução”, ele declarou. As luzes menos brilhantes entre
os palestrantes falaram com o mesmo esforço, incitando seus zelotes comunistas,
ignorantes dos fatos reais, a um frenesi vingativo contra os homens que ontem
haviam sido aclamados como heróis e irmãos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quando a reunião foi
aberta para discussão, um operário do arsenal de Petrogrado exigiu ser
escutado. Sobre a gritaria da multidão que berrava e batia o pé, uma única voz lutava
para ser ouvida – a voz tensa e grave de um homem nas fileiras da frente. Ele
era delegado dos empregados grevistas nas fábricas do arsenal. Ele foi levado a
protestar, ele declarou, contra as deturpações proferidas da plataforma contra
os bravos e leais homens de Kronstadt. Ele falou com profunda emoção e,
ignorando as constantes interrupções, ele destemidamente declarou que os
operários haviam sido levados à greve por causa da indiferença do governo às
suas reclamações; os marinheiros de Kronstadt, longe de serem
contrarrevolucionários, estavam devotados à revolução. Encarando Zinoviev e
apontando seu dedo diretamente para ele, o homem esbravejou: “Foi a indiferença
cruel por parte de você e de seu partido que nos levaram a entrar em greve e que
incitaram a simpatia de nossos irmãos marinheiros, que lutaram lado a lado
conosco na Revolução. Eles não são culpados de nenhum outro crime, e vocês
sabem disso. Conscientemente, vocês os difamam e convocam sua destruição”.
Gritos de “Contrarrevolucionário! Traidor! Shkurnik! Bandido menchevique!”
transformaram a assembleia em um hospício. O velho operário continuou de pé,
com sua voz se elevando sobre o tumulto.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Encarando Zinoviev, ele
o lembrou de que as autoridades bolcheviques estavam agora agindo para com os
operários e marinheiros como o governo Kerensky havia agido para com os
bolcheviques. “Há mais ou menos três anos atrás, Lenin, Trotsky, Zinoviev e
todos vocês” ele gritou, “foram denunciados como traidores e espiões alemães.
Nós, os operários e marinheiros, viemos ao seu resgate e salvamos vocês do governo
de Kerensky. Fomos nós que colocamos vocês no poder. Vocês se esqueceram disso?
Agora vocês nos ameaçam com a espada. Lembrem-se, vocês estão brincando com
fogo. Vocês estão repetindo as trapalhadas e os crimes do governo Kerensky.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Cuidado para que um
destino semelhante não pegue vocês!”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O desafio fez Zinoviev
estremecer. Os outros na plataforma se moviam inquietamente em seus assentos. A
plateia comunista parecia temeroso por um instante pelo aviso portento, e
naquele momento outra voz ressoou. Um homem alto vestindo um uniforme de
marinheiro se levantou no fundo. Nada havia mudado no espírito revolucionário
de seus irmãos no mar, ele declarou. Até o último homem, eles estavam prontos
para defender a Revolução com cada gota de sangue. Ele se referiu ao glorioso passado
revolucionário de Kronstadt, apelou aos comunistas para que não cometessem fratricídio.
E então ele prosseguiu à leitura da resolução de Kronstadt adotada na reunião
de 1º de março. O tumulto que a sua ousadia provocou tornou impossível para qualquer
um que não estivesse perto dele o escutasse. Mas ele se manteve firme e continuou
a ler até o final.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas a voz destes filhos
do povo caiu sobre ouvidos surdos. A única resposta a estes dois resolutos
filhos da Revolução foi a resolução de Zinoviev exigindo a rendição completa e
imediata de Kronstadt sob a pena de extermínio. O Petro-Soviete, suas paixões
inflamadas pela demagogia bolchevique, aprovou a resolução. Ela passou pela sessão
em meio a um pandemônio de confusão, com todas as vozes opositoras amordaçadas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os marinheiros de
Kronstadt foram os primeiros a servirem à Revolução. Eles haviam desempenhado
um importante papel na revolução de 1905; estiveram nas fileiras da frente em
1917. Sob o regime de Kerensky, proclamaram a Comuna de Kronstadt e se opuseram
à Assembleia Constituinte. Eles foram a guarda pioneira na Revolução de
Outubro. Na grande luta contra Yudenitch, os marinheiros ofereceram a defesa
mais forte de Petrogrado, e Trotsky os elogiou como “o orgulho e a glória da Revolução”.
Agora, todavia, eles tinham ousado levantar sua voz em protesto contra os novos
soberanos da Rússia. Isso foi alta traição do ponto de vista bolchevique. Os marinheiros
de Kronstadt estavam condenados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Petrogrado estava
inflamada sobre a decisão do Soviete; mesmo alguns dos comunistas,
especialmente aqueles da seção francesa, estavam repletos de indignação.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Mas nenhum deles teve a
coragem de protestar, mesmo nos círculos do partido, contra o massacre
proposto. Assim que a resolução do Petro-Soviete se tornou conhecida, um grupo
de conhecidos homens letrados de Petrogrado se reuniram para conferenciar quanto
a se algo não poderia ser feito para evitar o crime planejado. Alguém sugeriu
que Gorki fosse abordado para encabeçar um comitê de protesto às autoridades
soviéticas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Esperava-se que ele
emulasse o exemplo de seu ilustre compatriota Tolstoi, que em sua famosa carta
ao czar havia levantado sua voz contra o terrível massacre de operários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Agora também tal voz
era necessária, e Gorki era considerado o homem certo a chamar os czares atuais
a refletirem. Mas a maioria dos presentes na reunião rejeitou a ideia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Gorki era dos
bolcheviques, eles disseram; ele não faria nada. Em várias ocasiões anteriores
haviam apelado a ele, mas ele se recusou a interceder. A conferência não trouxe
resultados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A atmosfera,
sobrecarregada com a histeria da paixão e do ódio, arrastou-se para dentro de
meu ser e me agarrou pela garganta. Por toda a noite eu quis esbravejar contra o
escárnio de homens que se rebaixavam às mais baixas trapaças políticas em nome
de um grande ideal. Minha voz parecia ter me deixado, pois eu não podia
pronunciar nenhum som. Meus pensamentos voltaram para uma outra ocasião onde o
espírito da vingança e do ódio havia entrado em frenesi – a véspera do
registro, 4 de junho de 1917, em Hunts Point Palace, Nova Iorque. Eu então fui
capaz de falar, completamente desatenta ao perigo dos patriotas ébrios com a
guerra. O que eu poderia fazer agora? Por que eu não marquei o fratricídio que
estava prestes a ser realizado pelos bolcheviques, como eu marquei o crime de
Woodrow Wilson que dedicou os jovens homens da América ao Moloque da guerra? Eu
tinha perdido a coragem que tinha me sustentado ao longo dos anos lutando
contra toda injustiça e todo erro? Ou foi o desamparo que paralisou minha
vontade, o desespero que se instalou em meu coração com a percepção crescente
de que eu tinha confundido um fantasma com uma força vital? Nada poderia alterar
aquela consciência esmagadora ou tornar qualquer protesto válido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No entanto, o silêncio
frente ao massacre iminente também era intolerável. Eu tinha que me fazer
ouvida. Mas não pelos obcecados, que sufocariam minha voz como haviam feito com
os outros. Eu tornaria minha posição conhecida em uma declaração ao poder
supremo da Defesa Soviética naquela mesma noite.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Quando estávamos a sós
e eu conversei com Sasha sobre o assunto, eu fiquei feliz em saber que meu
velho amigo tinha concebido o mesmo plano. Ele sugeriu que nossa carta fosse um
protesto conjunto e lidasse exclusivamente com a resolução assassina aprovada
pelo Petro-Soviete. Dois companheiros que estavam conosco na sessão compartilhavam
sua visão e se ofereceram a assinar seus nomes ao nosso apelo conjunto às
autoridades.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Eu não tinha esperança
de que nossa mensagem exercesse qualquer moderação ou controle sobre os eventos
decretados contra os marinheiros. Mas eu estava determinada a ter minha atitude
registrada de maneira a servir de testemunha futura de que eu não permaneci
calada à maior traição da Revolução pelo Partido Comunista.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Às duas da manhã, Sasha
entrou em contato por telefone com Zinoviev, para informá-lo de que tinha algo
importante a comunicar a ele em relação a Kronstadt.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Talvez Zinoviev tivesse
presumido que era algo que poderia ajudar a conspiração contra Kronstadt. De
outra forma, ele dificilmente teria se incomodado a enviar rapidamente Madame
Ravich até ele àquela hora da noite, dez minutos depois que Sasha havia falado com
ele. Ele poderia confiar nela absolutamente, dizia a nota de Zinoviev, e ela
deveria receber a mensagem [N.E.: Esta mesma nota encontra-se na pág. 23].<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A prova de que nosso
apelo caiu em ouvidos surdos nos veio no mesmo dia da chegada de Trotsky e de
seu ultimato a Kronstadt. Por ordem do Governo dos Operários e dos Camponeses,
ele declarou aos marinheiros e soldados de Kronstadt que ele iria “abater como
perdizes” todos aqueles que haviam ousado “levantar sua mão contra a pátria
socialista”. Os navios e as tripulações rebeldes receberam o comando de se submeterem
imediatamente às ordens do governo soviético ou serem subjugados pela força das
armas. Somente aqueles que se rendessem incondicionalmente poderiam contar com
a misericórdia da República Soviética.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O aviso final foi
assinado por Trotsky, como Presidente do Soviete Militar Revolucionário, e por
Kamenev, o Comandante Chefe do Exército Vermelho. Ousar questionar o direito
divino dos soberanos era novamente punível com a morte.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Trotsky manteve sua
palavra. Tendo sido ajudado a alcançar a autoridade pelos homens de Kronstadt,
ele estava agora em posição de pagar completamente seu débito com “o orgulho e
a glória da Revolução Russa”. Os melhores especialistas militares e estrategistas
do regime de Romanov estavam a seu serviço, entre eles o notório Tukhachevsky,
a quem Trotsky apontou comandante chefe do ataque a Kronstadt. Além disso,
havia hordas de tchekistas, com três anos de treinamento na arte do
assassinato; kursanti e comunistas especialmente selecionados por sua
obediência cega às ordens; e as tropas mais confiáveis de várias frentes. Entre
os dias 1º e 17 de março, vários regimentos da guarnição de Petrogrado e todos
os marinheiros do porto foram desarmados e enviados à Ucrânia e ao Cáucaso. Os
bolcheviques tinham medo de confiar neles na situação de Kronstadt: no primeiro
momento psicológico, eles teriam ajudado Kronstadt. De fato, muitos soldados
vermelhos do Krasnaya Gorka e das guarnições adjacentes também tinham simpatia
por Kronstadt e foram forçados sob mira de armas a atacarem os marinheiros. Com
tal força amontoada contra a cidade condenada, esperava-se que o motim fosse
facilmente reprimido, especialmente depois que os soldados e marinheiros da
guarnição de Petrogrado tinham sido desarmados e aqueles que expressaram
solidariedade com seus camaradas sitiados tinham sido removidos da zona de
perigo.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Da janela do meu quarto
no Hotel Internacional eu os vi sendo conduzidos em pequenos grupos, cercados
por fortes destacamentos de tropas da Tcheka. Seu passo tinha perdido seu
vigor, suas mãos pendiam aos seus lados e suas cabeças estavam curvadas em
pesar.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os grevistas de
Petrogrado não eram temidos pelas autoridades. Eles estavam enfraquecidos por
lento esfomeamento e sua energia se debilitou. Eles foram desmoralizados pelas
mentiras espalhadas contra eles e seus irmãos de Kronstadt, e seu espírito foi
quebrado pelo veneno de dúvida instilado pela propaganda bolchevique.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Eles não tinham mais
força ou confiança restantes para ajudar seus camaradas de Kronstadt que tão
altruisticamente apoiaram sua causa e estavam prestes a desistir de suas vidas
por eles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt foi
abandonada por Petrogrado e cortada do resto da Rússia. Ela ficou sozinha. Não
poderia oferecer quase nenhuma resistência. “Ela irá cair com o primeiro tiro”,
a imprensa soviética proclamava. Eles estavam enganados. Kronstadt não havia pensado
em motim ou resistência ao governo soviético. Até o último momento, estava determinada
a não derramar sangue. Ela apelou o tempo inteiro por compreensão e solução
amigável. Mas, forçada a se defender contra o ataque militar não provocado, lutou
como um leão. Durante dez dias e noites angustiantes, os marinheiros e os operários
da cidade sitiada resistiram contra fogo de artilharia contínuo vindo de três lados
e bombas despejadas por aviões sobre a comunidade não combatente.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Heroicamente, eles
repeliram as repetidas tentativas dos bolcheviques de invadir a fortaleza por
tropas especiais de Moscou. Trotsky e Tukhachevsky tinham toda a vantagem sobre
os homens de Kronstadt. Toda a maquinaria do Estado comunista os apoiava, e a
imprensa centralizada continuava a espalhar veneno contra os supostos “amotinados
e contrarrevolucionários”. Eles tinham suprimentos ilimitados e homens que
vestiam mortalhas brancas para se misturarem com a neve do golfo finlandês congelado
para camuflar o ataque noturno contra os homens de Kronstadt, que não suspeitavam
de nada. Estes não tinham nada além de sua coragem resoluta e sua fé persistente
na justiça de sua causa e nos Sovietes livres que eles defenderam como a salvação
da Rússia da ditadura. Eles não tinham nem mesmo um quebra-gelo para cessar a
investida do inimigo comunista. Eles estavam exaustos pela fome e pelo frio e por
noites de vigília em claro. No entanto, eles se mantiveram, lutando desesperadamente
contra a probabilidade esmagadora.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Durante o suspense
assustador, os dias e as noites que eram preenchidos com o estrondo de
artilharia pesada, não ressoou uma única voz entre o rugido das armas para gritar
contra ou convocar uma parada do terrível banho de sangue. Gorki, Maxim Gorki, onde
estava ele? Sua voz seria ouvida. “Deixem-nos ir com ele”, eu implorei com alguns
da inteligência. Ele nunca fez o menor protesto em graves casos individuais,
nem naqueles concernentes a membros de sua própria profissão, nem quando ele
sabia da inocência dos homens condenados. Ele não protestaria agora. Era
inútil.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A inteligência, os
homens e as mulheres que já tinham carregado a tocha revolucionária, líderes do
pensamento, escritores e poetas, estavam tão impotentes quanto eu e paralisados
pela futilidade do esforço individual. A maioria dos seus camaradas e amigos já
estava na prisão ou no exílio; alguns haviam sido executados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Eles se sentiam arrasados
demais pelo colapso de todos os valores humanos.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Eu me voltei para os
comunistas que conhecíamos, implorando para que fizessem alguma coisa. Alguns
deles perceberam o crime monstruoso que o seu partido estava cometendo contra
Kronstadt. Eles admitiram que a acusação de contrarrevolução era uma fabricação
absoluta. O suposto líder, Kozlovsky, era uma pessoa sem valor assustada demais
com o seu próprio destino para ter qualquer coisa a ver com qualquer protesto
dos marinheiros. Estes eram de altíssima qualidade, seu único objetivo era o bem-estar
da Rússia. Longe de ficarem do lado dos generais czaristas, eles tinham até mesmo
recusado a ajuda oferecida a eles por Tchernov, o líder dos socialistas revolucionários.
Eles não queriam ajuda externa. Eles exigiram o direito de escolher seus
próprios delegados nas próximas eleições ao Soviete de Kronstadt e justiça para
os grevistas em Petrogrado.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Estes amigos comunistas
passaram noites conosco – falando, falando – mas nenhum deles ousou levantar
sua voz em protesto aberto. Nós não percebíamos, eles disseram, as
consequências que isso traria. Eles seriam excluídos do partido, eles e suas famílias
seriam privados do trabalho e das rações e estariam literalmente condenados à morte
por fome. Ou eles simplesmente desapareceriam e ninguém jamais saberia o que havia
acontecido com eles. No entanto, não era o medo que entorpecia sua vontade,
eles nos asseguravam. Foi a completa inutilidade do protesto ou do apelo. Nada,
nada poderia parar a biga do Estado comunista. Ela passou por cima deles e não
deixou nenhuma vitalidade restante, nem mesmo para gritar contra ela.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Eu estava envolvida
pela terrível apreensão de que nós também – Sasha e eu – pudéssemos chegar ao
mesmo estado e consentíssemos covardemente como essas pessoas. Qualquer outra
coisa seria preferível a isso. Prisão, exílio, mesmo a morte. Ou escapar!
Escapar do horrível fingimento e presença revolucionários.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A ideia de que eu
poderia querer deixar a Rússia nunca havia passado antes pela minha mente. Eu
ficava espantada e chocada só de pensar. Eu, deixar a Rússia ao seu Calvário!
No entanto, eu senti que até mesmo daria esse passo ao invés de me tornar uma
engrenagem na máquina, uma coisa inanimada para ser manipulada à vontade.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O bombardeio de
Kronstadt continuou sem cessar por dez dias e noites e então veio a uma parada
súbita na manhã de 17 de março. A tranquilidade que caiu sobre Kronstadt era
ainda mais assustadora que os tiros incessantes da noite anterior. Ela deixou
todo mundo em um suspense agoniante, e era impossível saber o que tinha acontecido
e por que o bombardeio havia cessado. No final da tarde, a tensão deu lugar ao
horror mudo. Kronstadt tinha sido subjugada – dezenas de milhares assassinados
– a cidade encharcada de sangue. O rio Neva era uma cova para as massas de
homens, kursanti e jovens comunistas cuja artilharia pesada havia ultrapassado
o gelo. Os heroicos marinheiros e soldados tinham defendido sua posição até o
último suspiro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Aqueles que não tiveram
a sorte de morrer lutando tinham caído nas mãos do inimigo para serem
executados ou enviados para a lenta tortura nas regiões congeladas do norte da
Rússia.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 7 de março, Trotsky
iniciou o bombardeamento de Kronstadt, e no dia 17 a fortaleza e a cidade foram
tomadas, após numerosos ataques envolvendo um enorme sacrifício humano. Então,
Kronstadt foi “liquidada” e o “complô contrarrevolucionário” se extinguiu em
sangue. A “conquista” da cidade foi caracterizada por selvageria brutal, apesar
de nem um único comunista preso pelos marinheiros de Kronstadt ter sido ferido ou
morto por eles. Mesmo antes do assalto à fortaleza, os bolcheviques
sumariamente executaram numerosos soldados do Exército Vermelho cujo espírito
revolucionário e solidariedade lhes causaram a recusa a participarem no banho
de sangue.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nós estávamos
atordoados. Sasha, com o último fio de sua esperança nos bolcheviques rompido,
desesperadamente vagou pelas ruas. Chumbo estava em meus membros, uma fadiga
indescritível em cada nervo. Eu me sentei frouxa, olhando para a noite.
Petrogrado estava envolta por um manto negro, um corpo cadavérico. As lâmpadas
da rua brilhavam em amarelo, como velas em sua cabeça e seus pés.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Na manhã seguinte, 18
de março, ainda cansada de sono depois da falta deste durante dezessete dias
ansiosos, eu fui despertada pelos passos pesados de muitos pés.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Os comunistas
marchavam, bandas tocavam canções militares e cantavam a Internacional. Sua
melodia, que já foi exultante ao meu ouvido, agora soava como uma marcha
fúnebre para a esperança flamejante da humanidade. 18 de março – o aniversário
da Comuna de Paris de 1871, esmagada dois meses mais tarde por Thiers e Gallifet,
os açougueiros de trinta mil comunardos. Igualada em Kronstadt em 18 de março
de 1921. Em 17 de março, o governo comunista completou sua “vitória” sobre o proletariado
de Kronstadt e em 18 de março comemorou os mártires da Comuna de Paris. Foi
aparente para todos os que foram testemunhas mudas do ultraje cometido pelos
bolcheviques que o crime contra Kronstadt foi muito maior que o massacre dos comunardos
em 1871, pois foi feito em nome da Revolução Social, em nome da República
Socialista. A história não irá ser enganada. Nos anais da Revolução Russa os nomes
de Trotsky, Zinoviev e Dibenko serão adicionados aos de Thiers e Gallifet.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dezessete dias apavorantes,
mais apavorantes do que qualquer coisa que eu conheci na Rússia. Dias
agoniantes, por causa da minha impotência total frente às coisas terríveis que
aconteciam perante meus olhos. Foi justamente naquela época em que aconteceu de
eu visitar um amigo que era paciente em um hospital por meses. Eu o encontrei
bastante aflito. Muitos daqueles feridos no ataque a Kronstadt foram trazidos ao
mesmo hospital, a maioria kursanti. Eu tive a oportunidade de falar com um
deles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Seu sofrimento físico,
ele disse, não era nada comparado com sua agonia mental. Ele percebeu tarde
demais que foi enganado pelo grito de “contrarrevolução”. Nenhum general
czarista, nenhum Guarda Branco em Kronstadt havia liderado os marinheiros – ele
encontrou somente seus camaradas, marinheiros, soldados e operários, que tinham
lutado heroicamente pela Revolução.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As rações dos pacientes
comuns nos hospitais eram longe de satisfatórias, mas os kursanti feridos
recebiam o melhor de tudo, e um comitê seleto de membros comunistas foi designado
para cuidar de seu conforto. Alguns dos kursanti, entre eles o homem com quem
eu falei, se recusaram a aceitar os privilégios especiais. “Eles querem nos
pagar por assassinato”, eles disseram. Temendo que toda a instituição fosse
influenciada por estas vítimas acordadas, a gerência ordenou que fossem
removidos para uma ala separada, a “ala comunista”, como os pacientes a
chamavam.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A significância
completa da “liquidação” de Kronstadt foi revelada pelo próprio Lenin três dias
após o horror. No Décimo Congresso do Partido Comunista, realizado em Moscou
enquanto o cerco a Kronstadt estava em progresso, Lenin inesperadamente mudou
sua inspirada canção comunista para um igualmente inspirado canto de louvor à Nova
Política Econômica. Livre comércio, concessões aos capitalistas, contratação privada
do trabalho em fazendas e fábricas, tudo condenado por mais de três anos como uma
rançosa contrarrevolução e punida por prisão e até mesmo a morte, estava agora escrito
por Lenin na gloriosa bandeira da ditadura. Descaradamente como sempre, ele admitiu
o que as pessoas sinceras e pensantes dentro e fora do partido já sabiam há dezessete
dias: que “os homens de Kronstadt realmente não queriam os contrarrevolucionários.
Mas eles também não nos queriam”. Os ingênuos marinheiros tinham levado a sério
o lema da Revolução: “Todo o Poder aos Sovietes”, o qual Lenin e seu partido
tinham solenemente prometido cumprir. Essa tinha sido sua ofensa imperdoável.
Por isso eles tiveram que morrer. Eles tiveram que ser martirizados para fertilizar
o solo para a nova colheita de lemas de Lenin, que invertiam completamente o anterior.
Sua obra-prima, a Nova Política Econômica, o NEP. Ironia do bolchevismo!<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Lenin defendeu o livre
comércio – um passo mais reacionário que qualquer um de que os marinheiros de
Kronstadt foram acusados.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A confissão pública de
Lenin em relação a Kronstadt não parou a caça pelos marinheiros, soldados e
operários da cidade derrotada. Eles foram presos às centenas, e a Tcheka de
novo se ocupou com “tiro ao alvo”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Estranhamente, os
anarquistas não tinham sido mencionados em conexão com o “motim” de Kronstadt.
Mas no Décimo Congresso, Lenin tinha declarado que a guerra mais sem
misericórdia deveria ser travada contra a “pequena burguesia”, incluindo os elementos
anarquistas. As inclinações anarcossindicalistas da oposição operária provaram
que estas tendências tinham se desenvolvido dentro do próprio Partido Comunista,
ele disse. O chamado às armas de Lenin contra os anarquistas foi recebido com
uma resposta imediata. Os grupos de Petrogrado foram atacados e vários de seus membros
foram presos. Além disso, a Tcheka fechou os escritórios de impressão e publicação
do Golos Trouda, pertencente ao ramo anarcossindicalista de nossas fileiras.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Nós compramos nosso
bilhete para Moscou antes que isso acontecesse. Quando soubemos sobre as
prisões em massa, decidimos ficar um pouco mais caso também fôssemos
procurados. Nós não fomos incomodados, entretanto, talvez porque era necessário
ter algumas celebridades anarquistas à solta para mostrar que somente “bandidos”
estavam nas prisões soviéticas.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Kronstadt quebrou o
último fio que me prendia aos bolcheviques. O massacre bruto que eles
instigaram falou mais eloquentemente contra eles do que qualquer outra coisa.
Quaisquer que fossem seus pretextos no passado, os bolcheviques agora provaram
ser eles mesmos os inimigos mais perniciosos da Revolução. Eu não podia ter mais
nada a ver com eles.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">* Este texto é
originalmente parte do livro <i style="mso-bidi-font-style: normal;">The
Kronstadt Rebellion</i> (Berlin, Der Sindikalist, 1922). No Brasil, foi
publicado como <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Kronstadt</i> (Ateneu
Diogo Giménez, 2011: http://anarkio.net/Pdf/kronstadt.pdf). Tradução: Ateneu
Diego Giménez / COB-AIT Piracicaba/SP. Seleção e edição por Pablo Mizraji.
ITHA, 2017<o:p></o:p></span></p>João Montihttp://www.blogger.com/profile/11442166812627429148noreply@blogger.com0