quinta-feira, 1 de julho de 2021

Autogestão em Kronstadt, em 1917

Autogestão em Kronstadt

(Exertos)

Efim Yartchuk

Na sessão seguinte do soviete, um projeto de socialização das moradias foi apresentado, elaborado pelo grupo dos anarquistas e socialistas revolucionários de esquerda do soviete. (...)

Os bolcheviques, referindo-se à importância do problema e à necessidade de estudá-lo a fundo, pediram para adiar por uma semana o debate do projeto da socialização das moradias. Neste ínterim, foram a Petrogrado e, tendo recebido instruções do centro, exigiram, na sessão seguinte do soviete, a retirada deste projeto da ordem do dia, pois, segundo declaravam, uma questão tão séria só poderia ser resolvida em escala de toda a Rússia, e Lenin já preparava um decreto neste sentido; por esta razão, no interesse do assunto em questão, o soviete de Kronstadt devia esperar instruções do poder central. (...)

Finalmente, apesar da sabotagem dos bolcheviques, comitês de residências, de bairros e outros comitês foram criados em toda Kronstadt. Quando chegou o momento da repartição equitativa das moradias, revelou-se que, ao lado da miséria dos trabalhadores, alojando-se em subsolos pavorosos, havia pessoas que ocupavam até 10 ou 15 cômodos. (...)

O projeto foi aplicado. Aqueles que viviam nos subsolos imundos e úmidos, em pardieiros miseráveis, em celeiros, instalaram-se em apartamentos decentes; o princípio “todos devem ter uma moradia decente” foi realizado. Foram previstos até mesmo vários hotéis para as pessoas em trânsito. Em cada comitê de distrito foram criadas oficinas para trabalhar nas modificações e reformas das moradias.

Somente muito tempo depois, quando os principais argumentos dos bolcheviques para com seus adversários de esquerda tornaram-se a prisão, a baioneta e a bala, é que foi destruída, pelos bolcheviques, esta organização com todas as suas bases criadoras.

(História do Anarquismo/tradução: Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Faísca: Imaginário, 2008, p. 123).