Autogestão
em Kronstadt
Efim Yartchuk
Na sessão seguinte do
soviete, um projeto de socialização das moradias foi apresentado, elaborado
pelo grupo dos anarquistas e socialistas revolucionários de esquerda do
soviete. (...)
Os bolcheviques,
referindo-se à importância do problema e à necessidade de estudá-lo a fundo,
pediram para adiar por uma semana o debate do projeto da socialização das moradias.
Neste ínterim, foram a Petrogrado e, tendo recebido instruções do centro,
exigiram, na sessão seguinte do soviete, a retirada deste projeto da ordem do
dia, pois, segundo declaravam, uma questão tão séria só poderia ser resolvida
em escala de toda a Rússia, e Lenin já preparava um decreto neste sentido; por
esta razão, no interesse do assunto em questão, o soviete de Kronstadt devia
esperar instruções do poder central. (...)
Finalmente, apesar da
sabotagem dos bolcheviques, comitês de residências, de bairros e outros comitês
foram criados em toda Kronstadt. Quando chegou o momento da repartição
equitativa das moradias, revelou-se que, ao lado da miséria dos trabalhadores,
alojando-se em subsolos pavorosos, havia pessoas que ocupavam até 10 ou 15
cômodos. (...)
O projeto foi aplicado.
Aqueles que viviam nos subsolos imundos e úmidos, em pardieiros miseráveis, em
celeiros, instalaram-se em apartamentos decentes; o princípio “todos devem ter
uma moradia decente” foi realizado. Foram previstos até mesmo vários hotéis
para as pessoas em trânsito. Em cada comitê de distrito foram criadas oficinas
para trabalhar nas modificações e reformas das moradias.
Somente muito tempo
depois, quando os principais argumentos dos bolcheviques para com seus adversários
de esquerda tornaram-se a prisão, a baioneta e a bala, é que foi destruída,
pelos bolcheviques, esta organização com todas as suas bases criadoras.
(História do
Anarquismo/tradução: Plínio Augusto Coelho. São Paulo: Faísca: Imaginário,
2008, p. 123).