quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Kronstadt: Lamanov, Anatoli Nikolaevich

 

Rebelião de Kronstadt
Lamanov (ou A. H. Лamahob) é o primeiro, à esquerda.

Lamanov, Anatoli Nikolaevich 1889-1921

Uma breve biografia de Anatoli Lamanov, a voz do ideólogo da Revolta de Kronstadt

por Nick Heath

Anatoli Lamanov nasceu em 3 de julho de 1889. Seu pai, Nikolai P. Lamanov, era, em 1913, tenente-coronel e chefe de tripulação da frota russa na principal base naval de Kronstadt. Sua mãe tinha simpatias populistas e seu irmão mais velho era o tenente da frota Piotr Lamanov, que também comandou e participou das primeiras agitações revolucionárias em Kronstadt durante o ano de 1917.

Aluno do terceiro ano da Universidade Nacional de Química, conhecido por ministrar palestras sobre história natural, geografia e tecnologia, durante os anos da guerra, Anatoli Lamanov angariou grande simpatia dos trabalhadores, marinheiros e soldados de Kronstadt. Mas ao contrário de seu irmão mais velho, que tinha envolvimento com os socialistas revolucionários, Anatoli, aparentemente, não manteve ligações diretas com nenhum grupo político.

Ele é descrito pelo inglês Morgan Phillips Price, correspondente em Moscou do Manchester Guardian, como tendo “cabelos compridos, olhos sonhadores e o olhar distante de um idealista”, além de “sério, amigável e um tanto enigmático”.

Lamanov se tornou chefe do treinamento vocacional do departamento municipal de educação em Kronstadt. Ao mesmo tempo, foi eleito para o Comitê do Movimento pelos funcionários do laboratório químico de Kronstadt. Foi presidente do Soviete de Trabalhadores de Kronstadt em março e abril e, a partir de maio, do Soviete de Trabalhadores e Soldados. Nas sessões do Soviete, proferia discursos contundentes, assumindo a liderança, ao lado de Ippolitov, Rivkin e Zverin, de uma facção apartidária. Em agosto, o grupo sem partido mudou de nome ao juntar-se à esquerda radical e à divisão antiparlamentar dos Socialistas Revolucionários, a União dos SR-Maximalistas. Como Getzler afirma: “...o grupo rejeitou o facciosismo partidário, defendeu o sovietismo puro e assim se adaptou admiravelmente na paisagem revolucionária e marcadamente soviética de Kronstadt...” (p. 37).

Lamanov também foi editor do jornal de Kronstadt, o Izvestia. Foi descrito nas memórias do astuto bolchevique F. F. Raskolnikov como sendo um “cem por cento filisteu” (filisteu era uma palavra muito usada na época pelos bolcheviques, especialmente por Lênin e Trotsky, para desqualificar seus oponentes políticos). Entretanto, longe de ser um filisteu, Lamanov foi um incansável defensor da democratização (por falta de uma palavra melhor) da revolução e de uma iniciativa educacional e cultural de massa, inclusive por meio do teatro: “... o teatro complementa o que vemos e ouvimos na vida e lemos nos livros; injeta novas ideias nas mentes dos espectadores, ideias que são novas não por causa de seu conteúdo, mas pelo palco, diante de nós, proporcionar-nos a sua plena incorporação”.

O Soviete abriu-se a muitos oradores de todos os grupos revolucionários, bolcheviques, socialistas revolucionários e anarquistas.

Os bolcheviques sempre foram uma minoria dentro do Soviete de Kronstadt, ainda que tenham feito grandes esforços para manipular e controlar a organização. Mas Lamanov lembrava aos bolcheviques que foi o povo, e não o partido, que fez a Revolução de Fevereiro.

Muito embora os maximalistas mantivessem um grande número de delegados no soviete, ao longo de sua história, Lamanov renunciou ao grupo no final de 1919, já que não queria se associar ao atentado à sede do Partido Comunista de Moscou, condenado e compreendido por ele como sendo obra dos maximalistas.

Lamanov se candidatou a membro candidato do partido bolchevique em algum momento do ano de 1920. Durante o levante dos marinheiros, não participou dos movimentos iniciais da revolta e tampouco integrou o Comitê Revolucionário. No entanto, continuou a editar o Izvestia de Kronstadt e, em suas páginas, sugeriu os lemas “Terceira Revolução” e comunismo sem “comissariocracia”. Lamanov anunciou sua renúncia ao Partido Comunista em março (de 1921), justificando que sempre foi um maximalista. Assim, o Izvestia tornou-se porta-voz dos insurgentes de Kronstadt, enchendo suas páginas com cartas e declarações de muitos dos rebeldes envolvidos na revolta.

Foi preso em 18 de março de 1921, pelas tropas soviéticas. Os rigores do interrogatório da Tcheka parecem tê-lo alquebrantado, pois Lamanov prontamente apresentou provas contra os outros líderes da revolta. A princípio, forneceu o seguinte testemunho: “O motim de Kronstadt foi uma surpresa para mim. Eu o vi como um movimento espontâneo”. Porém, mais tarde, em seu depoimento, afirmou que o motim havia sido planejado desde o início pelos SRs de Esquerda!

Condenado à morte em 20 de abril pela Tcheka de Petrogrado, como “contrarrevolucionário”, foi fuzilado no dia seguinte e seu corpo enterrado em Petrogrado.

Nick Heath

8 de outubro de 2009

Referência:

Getzler, I. Kronstadt 1917-1921: The Fate of a Soviet Democracy. (“Kronstadt 1917-1921: O Destino de um Soviete Democrático”).