quinta-feira, 15 de novembro de 2018

CINCO SÉCULOS DE USURA



Por Nílson Lage

No finzinho da Idade Média, quando os turcos cortaram a linha de comércio que abastecia a Europa dos melhores tecidos, artefatos e temperos.

Espanha e Portugal, reinos católicos, partiram em busca de novas rotas no grande Oceano. Tinham como capital inicial os bens confiscados de árabes e judeus, que haviam expulsado por hereges.

Com os custos da aventura, o dinheiro logo acabou. Os reis passaram, então, a recorrer aos agiotas – inicialmente holandeses (os Países Baixos eram província de Espanha) e, logo, ingleses – que não se fizeram de rogados, mas cobrariam caro.

A primeira grande fatura extrafinanceira veio quando a Invencível Armada hispano-lusitana foi desbaratada no Mar do Norte pelo pirata Francis Drake, em 1588. A Holanda ganhou independência 60 anos depois, pelo Tratado de Westfalia, não sem antes promover a bolha especulativa inaugural das bolsas de valores: na paixão dos lances, vendiam-se casas para comprar tulipas.

Quando Portugal se separou da Espanha, em 1640, os banqueiros ingleses vieram de novo socorrer. Em 1703, mandaram a conta: o Tratado de Methuen obrigou os portugueses a comprar panos na Inglaterra e não se industrializar. A gastança lisboeta duraria até que todo o ouro das Minas Gerais estivesse nos cofres da City londrina – e o Brasil gritasse sua independência. em 1822,já encalacrado.

Em troca, os ingleses beberam com exclusividade vinho português.

Depois de se livrar de Napoleão, imperador francês, derrotando-o em Waterloo, em 1815, a Inglaterra submeteu, na década de 1850, seu único credor: nas duas guerras mais imorais da História, impôs à China o tráfico de ópio.

A essa altura, tudo mudara na Europa: os produtos das colônias, baratos e de novas espécies (café, açúcar, milho, algodão etc,) haviam destruído em dois séculos a economia feudal. Multidões acorreram às cidades. Mercado amplo, dinheiro farto, mão de obra disponível, conhecimentos recuperados da antiguidade e ampliados após o Renascimento permitiram a Revolução Industrial.

Com ela, o proletariado. A luta de classes, antes escondida nos feudos, apareceria com escândalo. Surtos de agitação social sucederam-se até 1871, quando a França foi derrotada em guerra pela Prússia e se desfez a comuna de Paris, que governava a cidade havia quase dois meses.

Os banqueiros já tinham então a fórmula mágica para acalmar as massas: a recessão. Sujeitas a asfixia econômica, as pessoas não se rebelam, deprimem-se: mastigam o medo e o ódio, que explodiria, afinal, nas guerras mundiais. Fugindo da desgraça, milhões de europeus emigraram; para convencer o mundo a aceitá-los de bom grado, investiu-se no mito da superioridade biológica e mental dos brancos.

O dinheiro extra acumulado na Era Vitoriana foi aplicado em excentricidades e luxo, mas também em ciência: firmaram-se então as bases da revolução tecnológica e cultural do Século XX. Após a sangreira da Primeira Guerr , os bancos mudaram da City, que perdera o charme, para Wall Street, que esnobava o seu: quebraram a cara em 1929, mas se recompuseram com a ajuda de nova guerra quente, que antecedeu a guerra fria. Nesta, aprimoraram-se as técnicas de controle da opinião pública e concederam-se por meio século conquistas sociais sem precedentes, até que a contestação foi contida e se pode retomar a exitosa fórmula imperial.

Agora, a recessão é imposta a ferro, fogo e propaganda à gente do Sul, aos periféricos. Cabe a nós inflar a riqueza dos agiotas que nos exploram, pelo menos, desde a época do descobrimento.

O Primeiro Mundo que se vire, pois, com os imigrantes.

(Fonte: Tijolaço)

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

A ILUSÃO DO SUFRÁGIO UNIVERSAL



por Mikhail Bakunin

Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados. Eles estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos. Hoje depois de aprender com a experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos. Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a população?

Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo. Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição excepcional.

Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, veem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade. De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo. Quem fala de poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam. Esta é a eterna história do saber, desde que o poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa principal é apenas a mudança de posição e, portanto, de perspectiva.

Na suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa dos governados. Aqui, apesar da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o povo, operários e camponeses, que obedecem suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo. Portanto, na Suíça, como em outros países a igualdade política é apenas uma ficção pueril, uma mentira.

Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as ideias, e a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova isto. Na legislação e no governo, a burguesia é dirigida principalmente por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo.

É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou indiretamente, pelo povo. É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes? Na realidade, o controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção, já que no sistema representativo, o controle popular é apenas uma garantia da liberdade do povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.

Mikhail Bakunin, in Ouvres, Vol. II, 1907.


FECALOMA, "Nada vai mudar"


Nada
Nada vai
Nada
Nada vai
Nada vai mudar
E tudo pode piorar
Nada vai mudar

Não se anule
Vote nulo
A cidadania é uma farsa
Não passe em branco
Não seja um número
Senão nada vai mudar

Neste mundo de corrupção
Neste mundo de corrupção
Nada vai mudar