Por Nílson Lage
No finzinho da Idade
Média, quando os turcos cortaram a linha de comércio que abastecia a Europa dos
melhores tecidos, artefatos e temperos.
Espanha e Portugal,
reinos católicos, partiram em busca de novas rotas no grande Oceano. Tinham
como capital inicial os bens confiscados de árabes e judeus, que haviam
expulsado por hereges.
Com os custos da
aventura, o dinheiro logo acabou. Os reis passaram, então, a recorrer aos
agiotas – inicialmente holandeses (os Países Baixos eram província de Espanha)
e, logo, ingleses – que não se fizeram de rogados, mas cobrariam caro.
A primeira grande
fatura extrafinanceira veio quando a Invencível Armada hispano-lusitana foi
desbaratada no Mar do Norte pelo pirata Francis Drake, em 1588. A Holanda
ganhou independência 60 anos depois, pelo Tratado de Westfalia, não sem antes
promover a bolha especulativa inaugural das bolsas de valores: na paixão dos
lances, vendiam-se casas para comprar tulipas.
Quando Portugal se
separou da Espanha, em 1640, os banqueiros ingleses vieram de novo socorrer. Em
1703, mandaram a conta: o Tratado de Methuen obrigou os portugueses a comprar
panos na Inglaterra e não se industrializar. A gastança lisboeta duraria até
que todo o ouro das Minas Gerais estivesse nos cofres da City londrina – e o
Brasil gritasse sua independência. em 1822,já encalacrado.
Em troca, os ingleses
beberam com exclusividade vinho português.
Depois de se livrar de
Napoleão, imperador francês, derrotando-o em Waterloo, em 1815, a Inglaterra
submeteu, na década de 1850, seu único credor: nas duas guerras mais imorais da
História, impôs à China o tráfico de ópio.
A essa altura, tudo
mudara na Europa: os produtos das colônias, baratos e de novas espécies (café,
açúcar, milho, algodão etc,) haviam destruído em dois séculos a economia
feudal. Multidões acorreram às cidades. Mercado amplo, dinheiro farto, mão de
obra disponível, conhecimentos recuperados da antiguidade e ampliados após o
Renascimento permitiram a Revolução Industrial.
Com ela, o
proletariado. A luta de classes, antes escondida nos feudos, apareceria com
escândalo. Surtos de agitação social sucederam-se até 1871, quando a França foi
derrotada em guerra pela Prússia e se desfez a comuna de Paris, que governava a
cidade havia quase dois meses.
Os banqueiros já tinham
então a fórmula mágica para acalmar as massas: a recessão. Sujeitas a asfixia
econômica, as pessoas não se rebelam, deprimem-se: mastigam o medo e o ódio,
que explodiria, afinal, nas guerras mundiais. Fugindo da desgraça, milhões de
europeus emigraram; para convencer o mundo a aceitá-los de bom grado,
investiu-se no mito da superioridade biológica e mental dos brancos.
O dinheiro extra
acumulado na Era Vitoriana foi aplicado em excentricidades e luxo, mas também
em ciência: firmaram-se então as bases da revolução tecnológica e cultural do Século
XX. Após a sangreira da Primeira Guerr , os bancos mudaram da City, que perdera
o charme, para Wall Street, que esnobava o seu: quebraram a cara em 1929, mas
se recompuseram com a ajuda de nova guerra quente, que antecedeu a guerra fria.
Nesta, aprimoraram-se as técnicas de controle da opinião pública e
concederam-se por meio século conquistas sociais sem precedentes, até que a
contestação foi contida e se pode retomar a exitosa fórmula imperial.
Agora, a recessão é
imposta a ferro, fogo e propaganda à gente do Sul, aos periféricos. Cabe a nós
inflar a riqueza dos agiotas que nos exploram, pelo menos, desde a época do
descobrimento.
O Primeiro Mundo que se
vire, pois, com os imigrantes.
(Fonte: Tijolaço)
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