sexta-feira, 15 de maio de 2020

BRASIL: CONTRASTE SOCIAL PNAD 2019



PNAD Contínua 2019: rendimento do 1% que ganha mais equivale a 33,7 vezes o da metade da população que ganha menos

Em 2019, o rendimento médio mensal real do trabalho do 1% da população com os rendimentos mais elevados era de R$ 28.659, o que corresponde a 33,7 vezes o rendimento dos 50% da população com os menores rendimentos (R$ 850).

Em 2019, a massa mensal de rendimento habitual foi de aproximadamente R$ 213,4 bilhões, 2,2% maior que a estimada para 2018 e 12,0% maior que a de 2012. Já a massa mensal de rendimento domiciliar per capita alcançou R$ 294,4 bilhões. A parcela dos 10% com os menores rendimentos da população detinha 0,8% dessa massa, enquanto os 10% com os maiores rendimentos detinham 42,9%.

O número de pessoas com rendimento de todos os trabalhos subiu de 43,4% da população (90,1 milhões) em 2018 para 44,1% (92,5 milhões) em 2019.

Já a aposentadoria ou pensão era recebida por 14,7% da população em 2019, mantendo estabilidade em relação a 2018 (14,6%) e subindo 1,6 ponto percentual em relação a 2012 (13,1%).

O rendimento médio real de todas as fontes, após subir 2,8% em 2018 (para R$ 2.247), manteve-se praticamente inalterado em 2019 (R$ 2.244). O Sudeste registrou o maior valor (R$ 2.645), seguido pelo Sul (R$ 2.499) e pelo Centro-Oeste (R$ 2.498), enquanto os menores valores estavam no Nordeste (R$ 1.510) e no Norte (R$ 1.601).

Em 2019, permanecem as grandes discrepâncias entre o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos das pessoas brancas (R$ 2.999), pardas (R$ 1.719) e pretas (R$ 1.673). Também perduram as diferenças de gênero: o rendimento de todos os trabalhos dos homens (R$ 2.555) é 28,7% mais alto que o das mulheres (R$ 1.985).

O rendimento médio dos trabalhadores com ensino superior completo (R$ 5.108) era, aproximadamente, 3 vezes maior que o daqueles com somente o ensino médio completo (R$ 1.788) e cerca de 6 vezes o daqueles sem instrução (R$ 918).

O percentual de domicílios atendidos pelo Bolsa Família caiu de 13,7% em 2018 para 13,5% em 2019. Em 2012, 15,9% dos domicílios do país recebiam o Bolsa Família. Já o BPC-LOAS era recebido em 3,7% dos domicílios do país em 2019, percentual praticamente igual ao de 2018 (3,6%) e 1,1 ponto percentual acima do de 2012 (2,6%).

O Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita teve ligeira queda entre 2018 e 2019, variando de 0,545 para 0,543. Já o Gini para o rendimento de todos os trabalhos ficou estável em 0,509 no mesmo período, mantendo-se no maior nível, desde 2012.

Essas e outras informações fazem parte do módulo Rendimento de Todas as Fontes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua.

Em 2019, havia 209,5 milhões de pessoas residentes no País, sendo que o Sudeste concentrava a maior parte da população (42,2%) e o Centro-Oeste (7,7%), a menor parte. Os demais representam 27,2% (Nordeste), 14,3% (Sul) e 8,6% (Norte).

Os que possuíam algum tipo de rendimento eram 131,2 milhões (62,6% da população), tendo o Sul apresentado o maior percentual em todos os anos da série (68,1%), enquanto Norte (54,5%) e Nordeste (58,5%), os menores.

14,7% da população recebem aposentadoria ou pensão

O contingente de pessoas que possuíam rendimento de todos os trabalhos subiu de 43,4% da população (90,1 milhões) em 2018 para 44,1% (92,5 milhões) em 2019. Já o percentual com rendimento proveniente de outras fontes passou de 24,9% (51,8 milhões) para 25,1% (52,7 milhões) no período.

A região Sul tem o maior percentual de pessoas com rendimento habitualmente recebido de todos os trabalhos (49,1%) e o segundo maior percentual com rendimento proveniente de outras fontes (26,5%). Por outro lado, o Nordeste permaneceu com o menor percentual de pessoas com rendimento recebido de todos os trabalhos (36,6%) em 2019 e o maior percentual daquelas que recebiam de outras fontes (28,4%).

Entre as outras fontes, a aposentadoria ou pensão alcançou 14,7% da população em 2019. Houve certa estabilidade nesse índice em relação a 2018 (14,6%), mas alta de 1,6 ponto percentual em relação a 2012 (13,1%). Para esta categoria, o maior percentual está no Sul (18,3%) e o menor no Norte (8,8%).

Seguro-desemprego, programas de transferência de renda do governo e rentabilidade da poupança (outros rendimentos) são alguns dos rendimentos de 7,8% dos brasileiros; pensão alimentícia, doação ou mesada, de 2,5%; e aluguel e arrendamento, de 2,1%..

Os percentuais de pessoas que recebiam outros rendimentos se destacaram no Norte (10,2%) e no Nordeste (12,1%) com valores superiores à média do País (7,8%). No Norte, inclusive, esse percentual foi superior ao dos que recebiam quaisquer das outras fontes de rendimento não oriundas do trabalho, o que não é observado nas demais regiões.


Rendimento de todas as fontes do Sudeste é 75,2% maior que o do Nordeste

O rendimento médio real de todas as fontes manteve estabilidade. O valor teve crescimento de 5,0% de 2012 a 2014, passando de R$ 2.150 para R$ 2.258; queda de 3,1% em 2015, passando para R$ 2.188 e se mantendo relativamente estável até 2017; e alta de 2,8% em 2018, quando passou de R$ 2.185 para R$ 2.247. Em 2019, ficou em R$ 2.244.

O Sudeste registrou o maior valor (R$ 2.645), seguido pelo Sul (R$ 2.499) e pelo Centro-Oeste (R$ 2.498). Já os menores valores foram verificados no Nordeste (R$ 1.510) e no Norte (R$ 1.601), com diferenças acima de R$ 1 mil em relação às demais regiões.

De 2018 para 2019, houve redução de 6,4% no rendimento de todas as fontes no Norte e aumento de 3,1% no Nordeste. Nas demais regiões as variações ficaram abaixo de 1,0%.

Já o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos foi de R$ 2.308 em 2019. O maior valor da série ocorreu em 2014, quando foi de R$ 2.364. Após queda de 4,1% em 2015 (R$ 2.267), ficou praticamente estável nos anos de 2016 e 2017, registrou expansão de 2,3% em 2018 (R$ 2.317) e teve recuo (R$ 2.308) em 2019.

Nordeste (R$ 1.588) e Norte (R$ 1.687) também registraram os menores valores para o rendimento habitual do trabalho, ao passo que as Regiões Sudeste (R$ 2.650), Centro-Oeste (R$ 2.506) e Sul (2.549), os maiores.

Já o rendimento médio mensal real proveniente de outras fontes acumulou ganho de 1,9% de 2012 (R$ 1.442) a 2015 (R$ 1.469). Em 2016, registrou perda de 1,2% (R$ 1.452), que foi revertida nos dois anos seguintes, atingindo valor médio de R$ 1.534 em 2018 e R$ 1.539 em 2019. O Norte registrou a menor média (R$ 1.014) e o Sudeste (R$ 1.891), a maior, em 2019.

A aposentadoria ou pensão foi a categoria de maior média dentre as outras fontes (R$ 1.963), em todas as regiões. O Centro-Oeste apresentou o maior valor (R$ 2.403) e o Nordeste, o menor (R$ 1.625). O crescimento dessa categoria de rendimento entre 2018 e 2019 foi de 1,1% e de 8,5% em relação a 2012.

Os rendimentos provenientes de aluguel e arrendamento tiveram valor médio de R$ 1.679, apresentando queda de 0,7% frente a 2018 e de 5,0% frente a 2012. A pensão alimentícia, doação ou mesada de não morador totalizavam, em média, R$ 642, valor 2,6% menor que o estimado para 2018 e 6,3% maior no confronto com 2012.

Já as pessoas que declararam possuir outros rendimentos, recebiam em média R$ 606, que representam estabilidade em relação a 2018 (0,3%) e queda (10,4%) frente a 2012. O valor dos outros rendimentos foi maior na Região Sudeste (R$ 888) e menor na Região Nordeste (R$ 396).

Rendimento domiciliar per capita tem trabalho como principal fonte

O rendimento médio mensal domiciliar per capita em 2019 foi 72,5% composto por rendimento de todos os trabalhos. Os 27,5% provenientes de outras fontes se dividiam em rendimentos de aposentadoria ou pensão (20,5%) em sua maioria, mas também em aluguel e arrendamento (2,5%), pensão alimentícia, doação ou mesada (1,1%) e outros (3,4%).

Até 2014 houve aumento da parcela do rendimento de todos os trabalhos no rendimento domiciliar per capita, quando atingiu 75,2%. A partir de 2015, aumentou a parcela relativa a outras fontes de rendimento, motivado pelo comportamento de alta das aposentadorias e pensões, que alcançou 20,5% em 2018 e 2019.

A participação do rendimento de todos os trabalhos foi mais baixo no Nordeste (65,8%) e mais alto no Centro-Oeste (76,3%). Já o rendimento proveniente de aposentadoria ou pensão teve menor participação no Norte (16,7%) e Centro-oeste (17,5%) e maior no Nordeste (25,5%), no Sul (20,4%) e no Sudeste (19,7%).

O rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1.406 em 2019, contra R$ 1.387 em 2018. O Norte e o Nordeste apresentaram os menores valores (R$ 872 e R$ 884) e o Sudeste, o maior (R$ 1.720).

De 2018 para 2019, apenas a região Norte apresentou redução no rendimento médio domiciliar per capita (-5,3%). Já o Nordeste obteve o maior incremento no período (4,5%).

Gini do rendimento domiciliar per capita tem ligeira queda

Em 2019, o índice de Gini do rendimento médio mensal real domiciliar per capita para o Brasil foi estimado em 0,543. Entre 2012 e 2015 houve redução do índice de Gini do rendimento domiciliar per capita (de 0,540 para 0,524), que foi revertida a partir de 2016, quando o índice aumentou para 0,537, chegando ao maior valor da série em 2018 (0,545).

A Região Nordeste tinha a maior desigualdade medida pelo índice de Gini em 2019 (0,559), e foi a única onde o índice cresceu, entre 2018 e 2019. A Região Sul apresentou o menor índice (0,467) e a Região Norte apresentou a maior redução no período (de 0,551 para 0,537).


Gini do trabalho se mantém no maior nível da série

O índice de Gini do rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos foi de 0,509 em 2019. Entre 2012 e 2015 houve uma tendência de redução deste indicador, passando de 0,508 para 0,494. A partir de 2016, entretanto, o índice voltou a aumentar para 0,501, valor no qual se manteve em 2017, chegando a 0,509 nos dois últimos anos da série.

As Regiões Sul (0,451) e Centro-Oeste (0,485) apresentaram os menores índices e, na Região Nordeste, ele alcançou 0,531 em 2019. De 2018 para 2019, as Regiões Norte (de 0,517 para 0,504) e, em menor medida, Sudeste (de 0,508 para 0,504) e Centro--Oeste (de 0,486 para 0,485) tiveram redução desse indicador, enquanto nas Regiões Nordeste e Sul houve elevação do índice, com destaque para a primeira, que passou de 0,520 para 0,531.


Pessoas pretas têm rendimento 27,5% menor que a média nacional

O rendimento médio mensal real de todos os trabalhos dos homens (R$ 2.555) é cerca de 28,7% mais alto que o das mulheres (R$ 1.985) na média brasileira. No Norte e no Nordeste, as diferenças de rendimento entre os sexos são bem menores: R$ 1.736 contra R$ 1.608 no primeiro e 1.683 contra R$ 1.456 no segundo. No Sul, a diferença é a maior: R$ 2.894 dos homens contra R$ 2.107 das mulheres.

Há discrepâncias também entre o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos das pessoas brancas (R$ 2.999), pardas (R$ 1.719) e pretas (R$ 1.673). Em 2019, as pessoas de cor branca apresentaram rendimentos 29,9% superiores à média nacional (R$ 2.308), enquanto as pardas, 25,5% inferiores e as pretas, 27,5% inferiores.

Ensino superior eleva renda em até 3 vezes em relação a quem só tem ensino médio

Quanto maior o nível de instrução, maior o rendimento. As pessoas que não possuíam instrução apresentaram o menor rendimento médio (R$ 918). Por outro lado, o rendimento das pessoas com ensino fundamental completo ou equivalente foi 60,3% maior, chegando a R$ 1.472. Por fim, aqueles que tinham ensino superior completo registraram rendimento médio aproximadamente três vezes maior (R$ 5.108) que o daqueles que tinham somente o ensino médio completo (R$ 1.788) e cerca de seis vezes o daqueles sem instrução.


Massa de rendimento do Sudeste é três vezes maior que a de outras regiões

Em 2019, o rendimento médio mensal real habitualmente recebido de todos os trabalhos resultou em uma massa mensal de rendimento 2,2% maior que a estimada para 2018, ficando em aproximadamente R$ 213,4 bilhões. A massa de rendimento teve movimento de expansão entre 2012 e 2014, de queda entre 2015 e 2017 e de recuperação de 6,2% entre 2017 e 2019. Frente a 2012, a massa de rendimento registrou expansão de 12,0%.

O Sudeste registrou a maior massa de rendimento mensal em 2019 (R$ 111,5 bilhões), seguida pelo Sul (R$ 37,4 bilhões), cujo valor, no entanto, correspondia a um terço do registrado na primeira. A menor massa foi registrada no Norte (33,1 bilhões).

Já a massa mensal de rendimento domiciliar per capita alcançou R$ 294,4 bilhões em 2019, ao passo que em 2018, esse valor foi de R$ R$ 288,1 bilhões. A parcela dos 10% com os menores rendimentos da população detinha 0,8% da massa. Por outro lado, os 10% com os maiores rendimentos detinham 42,9%, parcela que foi superior à dos 80% da população com os menores rendimentos (41,5%).

O Sudeste apresentou a maior massa de rendimento domiciliar per capita do país (R$ 151,9 bilhões), o que correspondia a 51,6% da massa total e cerca de três vezes a massa do Sul (R$ 50,9 bi) ou do Nordeste (R$ 50,3 bi). A massa do Norte (R$ 15,8 bi), a menor do país, representou 10,4% da do Sudeste e, a do Centro-Oeste (R$ 25,5 bi), 16,8%.

Entre 2018 e 2019, apenas a Região Norte apresentou redução na massa de rendimento domiciliar per capita (-4,0%), ao passo que a Região Nordeste foi a que apresentou maior crescimento (5,1%), seguida pela Região Sul (3,2%).

Rendimento do 1% mais rico da população é 33,7 vezes o dos 50% mais pobres

Metade dos trabalhadores com menores rendimentos receberam, em média, R$ 850. Em relação a 2018, esse rendimento ficou praticamente estável (R$ 851); já na comparação com 2012, registrou-se aumento de 4,3% na média nacional (R$ 815).

Na análise regional, observam-se diferenças importantes na ordem de grandeza dos rendimentos locais. O Sul (R$ 1.102), em 2019, apresentou a maior média de rendimento habitual do trabalho para a metade da população com menor rendimento, e Norte (R$ 633) e Nordeste (R$ 569), as menores. Entre 2018 e 2019, apenas o Norte não apresentou aumento neste indicador (queda de 5,0%). Entre as demais regiões, o Sul apresentou o maior crescimento do rendimento médio dos 50% da população com menores rendimentos (9,0%).

A análise da concentração de rendimento mostrou, em 2019, que as pessoas que estavam no último percentil de rendimento, ou seja, aquelas que faziam parte do 1% da população com rendimentos mais elevados (cujo rendimento médio mensal real era R$ 28.659) recebiam, em média, 33,7 vezes o rendimento da metade da população com os menores rendimentos (R$ 850) – a segunda maior razão da série, ficando abaixo apenas da estimada para 2018 (33,8 vezes).

De 2012 para 2019, as classes compostas pelos 20% com menores rendimentos registraram variação negativa, sobretudo a primeira faixa (queda de 3,0%); já aquelas de 20% a 30% em diante tiveram ganhos que chegaram a 8,5% para este grupo e a 6,3% para a parcela de 1% da população com rendimentos mais elevados.

Por outro lado, na comparação entre 2018 e 2019, as duas primeiras classes de rendimento (até 10%) apresentaram crescimento em torno de 1,5%, havendo uma oscilação nas classes subsequentes com uma pequena redução do rendimento da parcela de 1% da população com rendimentos mais elevados (-0,5%).

Indicador de desigualdade permanece no nível mais alto da série

O índice de Gini é um indicador que mede concentração e desigualdade econômica e varia de 0 (perfeita igualdade) até 1 (máxima concentração e desigualdade). Quando calculado para o rendimento médio mensal recebido de todos os trabalhos, ele se manteve em 0,509 em 2019. O índice tinha caído entre 2012 (0,508) e 2015 (0,494), mas subiu para 0,501 em 2016, mantendo-se o valor em 2017, e depois para 0,509 em 2018.

O Sul (0,451) e o Centro-Oeste (0,485) apresentaram os menores índices e o Nordeste o maior (0,531). De 2018 para 2019, o Norte (de 0,517 para 0,504) e, em menor escala, o Sudeste (de 0,508 para 0,504) e o Centro-Oeste (de 0,486 para 0,485) tiveram redução desse indicador, enquanto no Nordeste e no Sul houve elevação do índice, com destaque para a primeira, que passou de 0,520 para 0,531.

Já o índice de Gini do rendimento domiciliar per capita para o Brasil foi estimado em 0,543 – uma queda com relação ao maior valor da série, de 0,545 em 2018. O Nordeste, com a maior desigualdade (0,559), foi a única região onde houve aumento do índice em 2019. Por outro lado, o Sul apresentou o menor índice (0,467) e o Norte a maior redução (de 0,551 para 0,537).

Acesso a bens e serviços é menor entre beneficiários de programas do governo

No Brasil, 13,5% dos domicílios particulares permanentes recebiam, em 2019, dinheiro referente ao Programa Bolsa Família, contra 13,7% em 2018. Esta proporção era de 15,9% dos domicílios em 2012 e vem se reduzindo a cada ano.

As regiões Norte e Nordeste tinham as maiores proporções de domicílios com beneficiários do programa: 25,0% e 27,6%, respectivamente. Por outro lado, o Sul tinha a menor proporção (4,7%). O Nordeste sofreu a maior redução proporcional (-6,1%) de domicílios com beneficiários do programa entre 2012 e 2019.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC-LOAS) era recebido por 3,7% dos domicílios do país em 2019, percentual praticamente igual ao de 2018 (3,6%) e 1,1 ponto percentual acima do de 2012 (2,6%).

O Norte e o Nordeste novamente apresentaram os maiores percentuais (6,0% e 5,6%, respectivamente). Mas, entre 2012 e 2019, houve aumento na proporção de domicílios com beneficiários do BPC em todas as regiões, sobretudo no Norte (2 pontos percentuais).

O rendimento mensal domiciliar per capita nos domicílios que recebiam o Programa Bolsa Família foi de R$ 352 e naqueles que não recebiam foi de R$ 1.641. Para os domicílios que recebiam o BPC-LOAS o rendimento médio domiciliar per capita foi de R$ 755 e, para os que não recebiam, R$ 1.433.

O acesso a serviços básicos nos domicílios que recebiam algum programa também era diferente daqueles que não recebiam. Entre aqueles com o Bolsa família, por exemplo, 39,5% tinham esgotamento sanitário com rede geral ou fossa séptica ligada a rede geral, já nos domicílios que não recebiam 72,2% tinham o serviço.

O mesmo comportamento foi verificado em relação à posse de bens, principalmente máquina de lavar e microcomputador. Enquanto entre os domicílios que recebiam o Bolsa Família em 2019, 32,0% tinham máquina de lavar e 12,6% tinham microcomputador, entre os que não recebiam 71,4% tinham máquina e 45,6%, computador.


Fonte: Agência IBGE de Notícias – Editoria: Estatísticas Sociais - 06/05/2020

sexta-feira, 1 de maio de 2020

COLETIVIDADES LIBERTÁRIAS NA ESPANHA - GASTÓN LEVAL


Governo e partidos


A colaboração política



(tradução: Jean Fecaloma)

Muito embora o objetivo deste livro seja a descrição, tão exata quanto possível, das realizações socioeconômicas da revolução libertária espanhola no período de 1936-1939, o autor crê necessário expor, ainda que de modo muito resumidamente - para facilitar a melhor compreensão de alguns fatos - as condições políticas dentro das quais estas realizações têm sido levadas a cabo. Já entramos neste aspecto no capítulo intitulado Materiais para uma revolução, mas é necessário acrescentar, especialmente para os leitores correntes das ideias e doutrinas libertárias, algumas precisões indispensáveis.

Temos insistido repetidas vezes que esta revolução expressava a resistência da extrema esquerda ao ataque fascista. Esta extrema esquerda, composta, nesse caso, pela CNT e FAI, havia professado, e continua a professar, um antigovernamentalismo e um anti-estatismo intransigentes. Todavia, pela primeira vez na história, vemos a organização libertária mais poderosa do mundo, que sempre havia proclamado a superioridade da ação direta e que, portanto, havia rechaçado como uma piada de mau gosto a hipótese de um dia tomar parte de um ministério governamental, enviar ao governo quatro ministros: Juan Peiró, ministro da Indústria; Federica Montseny, ministra da Saúde; Juan Garcia Oliver, Ministro da Justiça; e Juan Lopes, Ministro do Comércio Exterior.

Sem dúvida, anteriormente, outros três ministros, chamados conselheiros, já haviam entrado no governo Catalão residente em Barcelona, chamado Generalidad.

Quando estas decisões foram tomadas, o autor deste livro não se encontrava na Espanha, já que residia na República da Argentina, e não teve a menor responsabilidade nessa extraordinária metamorfose. Quando pôde desembarcar em Gibraltar, e transladar-se logo a Málaga, com vários meses de atraso, causado pela situação ilegal perante as autoridades consulares de seu país, os novos ministros já haviam tomado posse de seus cargos. Portanto, esta contingência confere ao autor maior objetividade para desenvolver uma explicação que lhe parece necessária. Pois, a colaboração ministerial e a participação até então inédita na administração dos municípios têm exercido uma influência negativa – sobretudo, no primeiro caso - ou positiva - no segundo caso -, tendo sido, frequentemente, decisiva no movimento libertário e no curso da revolução.

Digamos, então, que o que motivou a organização libertária a tomar parte do governo espanhol foi a guerra propriamente dita, o ataque franquista e o temor ante a consolidação na Espanha de um governo fascista cujas consequências catastróficas podiam ser facilmente prevista, como de fato se verificou depois.

Com efeito, apesar das mentiras e dos excessos retóricos a que se davam os governantes republicanos, os oradores, os periodistas, os porta-vozes dos partidos e, também, certos tribunos libertários – acredito que para conceder algum alento à resistência -, a dúvida sobre a vitória final vicejou em certos espíritos antes mesmo das forças franquistas chegarem a Madrid, ao aeroporto de Gatafe, e, ao norte, tomado certas cidades ou sitia-las. É bem verdade que foram bloqueadas na Sierra de Guadarrama; mas a posição dos antifascistas era defensiva e carecia dos elementos de ataque necessários para intentar uma contraofensiva vitoriosa. Por outra parte, a ajuda da Itália fascista e da Alemanha nazista às tropas de Franco fez com que surgissem numerosas interrogações a todo espírito reflexivo sobre o êxito das forças antifascistas.

Era perfeitamente lógico que a grande maioria da população da Espanha republicana estivesse dominada pelo temor da vitória franquista, e não compreendesse que as forças políticas e sociais organizadas em partidos e setores revolucionários antifascistas não constituiam uma frente única necessária para fazer frente ao assédio fascista. Indiferente aos problemas de índole filosófica, desejava que a CNT e a FAI - esta última muito menos poderosa - entrassem no governo a fim de assegurar a união de um bloco que podia assegurar a vitória.

Os líderes da CNT e, depois, os da FAI, que frequentemente eram os mesmos, começaram por resistir a dar passo nessa direção; sem dúvida alguma, inspirados por sua oposição tradicional a todo governamentalismo e, por conseguinte, à política partidária. Mas como, com efeito, ante o perigo cada vez maior, e, daí, a mais ampla unificação parecia se impor, imaginaram eles uma solução revolucionária: o governo deixaria de existir e seria substituído por um conselho de defesa composto por cinco membros da CNT, cinco da UGT e quatro membros dos partidos políticos. Isso estabeleceria a supremacia das organizações sindicais sobre todos os partidos, matando dois coelhos com uma cajadada só.

Baseada nas forças numéricas dos distintos setores, esta representação podia parecer justificada. Mas também era verdade que, se os partidos políticos tinham, comparativamente, pouquíssimos aderentes, tinham com eles o apoio de seu eleitorado. Numa Espanha em que metade de seu território encontrava-se invadido pelo fascismo, a CNT e a UGT contavam ainda com 1.200.000 aderentes cada uma - talvez o número nas fileiras da UGT era menor. No entanto, os militantes da UGT estavam, em sua grande maioria, sobre a influência de seus quadros socialistas. Já a CNT contava com quadros libertários e a maioria de seus aderentes não aceitariam uma manobra tão demasiadamente explícita, pelo qual significaria uma capitulação de princípios.

Tampouco aceitariam se submeter a homens de estado, políticos, profissionais do governo, republicanos, socialistas e regionalistas - catalães ou bascos -, cuja influência perdurava sobre a maioria da população regional ou nacionalmente considerada. A participação no governo estava fadada ao fracasso.

Todavia, a necessidade de um bloco unificado se impunha inclusive a certos libertários ou sindicalistas revolucionários. Um deles, Horácio Pietro – que, então, era secretário da CNT e que se encontrava em Madrid - decidiu convencer os seus companheiros da necessidade de dar um passo que lhe parecia necessário, aderindo ao gabinete de união antifascista. Com efeito, tomou contato com Largo Caballero, a quem acabava de ser nomeado presidente do Conselho porque era considerado, nas altas esferas políticas, como o homem que - por sua verbosidade revolucionária – podia melhor incitar as massas para a luta. E Largo Caballero, velho profissional do poder e da politicagem, que, para manter sua popularidade nas massas, havia tomado atitudes de um esquerdismo intransigente no Partido Socialista antes do ataque franquista, pensou que poderia formar uma aliança com os ministros cenetistas contra seus adversários do momento, que eram especialmente comunistas, cuja influência crescia rapidamente após a Rússia (URSS) enviar armas... devidamente vendidas mediante pagamento adiantado em ouro do Banco da Espanha.

Assim, os dois homens se puseram de acordo. A CNT decidiu então integrar o governo e ocupar cargos (dois sindicalistas revolucionários e dois militantes faístas). Por outra parte, dois anarquistas e um sindicalista cenetista haviam entrado no governo Regional de Catalunha.

Pode se atribuir, esse abandono de princípios, a razões subjetivas, de caráter discutível. Contudo, quem analisa os fatos com o desejo sincero de compreender e explicar o que realmente aconteceu, deve reconhecer que a situação era sumamente complexa. O único modo de escapar ao dilema da colaboração governamental ou enfraquecimento da resistência perante o franquismo seria a formação de uma organização autônoma de combate, ainda que solidária ao exército oficial republicano, mas mantendo uma força própria e aplicando o método de uma amplíssima guerra de guerrilha. Mas, digamos, sem ressalvas, faltavam as qualidades de organização, a envergadura e a preparação necessárias para tanto. Desde 1931, no livro Problemas Económicos de La Revoluçión Española, o autor destas linhas havia dedicado um capítulo referente à luta armada, de onde, sem querer dar lições de estratégia militar - pois nunca foi um soldado -, recordava a forma de combate pelo qual se distinguiam tantos caudilhos, como El Empecinado, durante a guerra antinapoleônica, na qual os mais destacados generais (Massena e outros "meninos mimados da vitória", como os chamava o Imperador) foram batidos por camponeses armados de foices e facões. Explicava aos companheiros o erro que implicaria adotar métodos dos exércitos modernos em lugar de recorrer às táticas da guerra revolucionária, nascidas muito antes que Mao-tse Tung houvesse intentado a definir à sua maneira.

Os que se improvisavam chefes e comandantes de tropa não tinham consciência formada sobre esses problemas e careciam de iniciativas. Deixou-se ao adversário tempo suficiente para aumentar o seu armamento, a possibilidade de ganhar terreno e o momento mais favorável para atacar. O gênio tático de um Makhno, que obrigou o general Denikin na Ucrânia interromper sua marcha sobre Moscou, faltou por completo.

E, desgraçadamente, os homens destacados pelo nosso movimento não puderam estar à altura no terreno político tanto quanto no terreno militar. Sendo quatro ministros contra doze, sua influência foi nula.

A única obra séria que se fez durante a guerra civil foi, precisamente, a revolução, à margem do poder. As coletivizacões industriais, as sindicalizacões da indústria e dos serviços públicos, a socialização agrária, enfim, tudo o que resistiu por cerca de três anos, sem o qual Franco teria triunfado em algumas semanas, tem sido obra dos libertários, que criaram e organizaram tais realizações sem se preocupar com os ministros e os ministérios. Do ponto de vista da dinâmica da guerra - a resistência a Franco - nossos ministros não puderam lograr nada de útil. E, às vezes, enganados por falsas notícias oficiais, fizeram eco à responsabilização dos nossos combatentes por derrotas inevitáveis provocadas pelo abandono deliberado das frentes de batalha, como foi o caso da queda de Málaga. Não puderam impedir a sabotagem da frente de Aragão, ao qual o governo de Madrid deixou sem artilharia, sem aviação, sem defesa antiaérea. Durante o primeiro ano da guerra era possível desfazer o ataque fascista; as forças militares inimigas se compunham de alguns milhares de homens, dirigindo suas caminhonetes, acudindo aqui e ali, onde o perigo surgia. Com cinquenta mil combatentes, devidamente equipados, seria possível conquistar Saragoça. E, precisamente, esta era a intenção de Durruti. Mas foi impossível, pela ausência de granadas e balas, o que impediu afrouxar o cerco de Madrid. As armas disponíveis, sempre pagas adiantado com ouro do Banco de Espanha, eram enviadas à frente do Centro - invulnerável, se temos em conta as posições estratégicas ocupadas pelos fascistas - mas de onde os generais russos ditavam a lei e de onde mandavam quase unicamente os comunistas. A mesma situação se produziu na frente andaluz e extremenho, onde as ofensivas tinham lugar, em condições tais, que estavam condenadas ao fracasso.  Frequentemente, nossas forças enviadas ao ataque se encontravam com as forças inimigas infinitamente mais numerosas que as obrigavam a abrir caminho à baioneta calada para evitar o aniquilamento, mas deixando assim inumeráveis companheiros tombados. Era como se os generais fascistas e stalinistas estabelecessem um acordo para desencadear tais matanças. Há de se reconhecer que Stalin era capaz disso e muito mais: muitos relatos da guerra permitem conjeturar esta hipótese. Recordemos também o pacto firmado com Hitler.

Outro aspecto da sabotagem que contribuiu com a derrota foi a negativa do governo de Valência a prestar ajuda financeira a Barcelona para a compra armas ou o material para a sua fabricação. Este fato, ao qual fomos informados tão prontamente quando chegamos a Barcelona, nos fez duvidar da vitória derradeira, que não podia se assegurar com manifestações de rua cujos participantes desfilavam com o punho cerrado para o alto e gritavam: “Não passarão!”

Contra tais manobras e muito mais, nossos ministros nada puderam. Seus protestos caíram no vazio, e comprometidos pela solidariedade antifascista sabiamente explorada, evitaram “o espetáculo das nossas divergências”. Atitudes de homens como o stalinista Jesus Hernandes, que, por ordem de Moscou, derrubaram o ministro Largo Caballero, denunciavam, um pouco tarde demais, o modo como a política do governo era dirigida, por maioria, segundo as ordens do Komintern, e puderam assegurar que esses mestres da intriga não davam o menor caso aos desacordos e protestos dos nossos ministros. Enfim, esta inserção no mundo governamental oferece um balanço absolutamente negativo.

Nota sobre a tradução: Fiz uma tradução quase literal, alterando apenas os trechos de difícil compreensão. O prazo de entrega no Primeiro de Maio, a tradução feita na véspera e uma forte enxaqueca me impediram de fazer uma revisão. Peço desculpas de antemão. Jean Fecaloma

LEVAL, Gastón. Gobierno y partidos: La colaboración política in: “Colectividades libertarias en españa” - Tomo 2, Editorial Proyección: Buenos Aires.