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Lamanov (ou A. H. Лamahob) é o primeiro, à esquerda. |
Lamanov,
Anatoli Nikolaevich 1889-1921
Uma
breve biografia de Anatoli Lamanov, a voz do ideólogo da Revolta de Kronstadt
por Nick Heath
Anatoli Lamanov nasceu
em 3 de julho de 1889. Seu pai, Nikolai P. Lamanov, era, em 1913,
tenente-coronel e chefe de tripulação da frota russa na principal base naval de
Kronstadt. Sua mãe tinha simpatias populistas e seu irmão mais velho era o tenente
da frota Piotr Lamanov, que também comandou e participou das primeiras
agitações revolucionárias em Kronstadt durante o ano de 1917.
Aluno do terceiro ano
da Universidade Nacional de Química, conhecido por ministrar palestras sobre
história natural, geografia e tecnologia, durante os anos da guerra, Anatoli
Lamanov angariou grande simpatia dos trabalhadores, marinheiros e soldados de
Kronstadt. Mas ao contrário de seu irmão mais velho, que tinha envolvimento com
os socialistas revolucionários, Anatoli, aparentemente, não manteve ligações
diretas com nenhum grupo político.
Ele é descrito pelo
inglês Morgan Phillips Price, correspondente em Moscou do Manchester Guardian,
como tendo “cabelos compridos, olhos sonhadores e o olhar distante de um
idealista”, além de “sério, amigável e um tanto enigmático”.
Lamanov se tornou chefe
do treinamento vocacional do departamento municipal de educação em Kronstadt.
Ao mesmo tempo, foi eleito para o Comitê do Movimento pelos funcionários do
laboratório químico de Kronstadt. Foi presidente do Soviete de Trabalhadores de
Kronstadt em março e abril e, a partir de maio, do Soviete de Trabalhadores e
Soldados. Nas sessões do Soviete, proferia discursos contundentes, assumindo a liderança,
ao lado de Ippolitov, Rivkin e Zverin, de uma facção apartidária. Em agosto, o
grupo sem partido mudou de nome ao juntar-se à esquerda radical e à divisão
antiparlamentar dos Socialistas Revolucionários, a União dos SR-Maximalistas.
Como Getzler afirma: “...o grupo rejeitou o facciosismo partidário, defendeu o
sovietismo puro e assim se adaptou admiravelmente na paisagem revolucionária e
marcadamente soviética de Kronstadt...” (p. 37).
Lamanov também foi
editor do jornal de Kronstadt, o Izvestia.
Foi descrito nas memórias do astuto bolchevique F. F. Raskolnikov como sendo um
“cem por cento filisteu” (filisteu era uma palavra muito usada na época pelos
bolcheviques, especialmente por Lênin e Trotsky, para desqualificar seus
oponentes políticos). Entretanto, longe de ser um filisteu, Lamanov foi um
incansável defensor da democratização (por falta de uma palavra melhor) da
revolução e de uma iniciativa educacional e cultural de massa, inclusive por
meio do teatro: “... o teatro complementa o que vemos e ouvimos na vida e lemos
nos livros; injeta novas ideias nas mentes dos espectadores, ideias que são
novas não por causa de seu conteúdo, mas pelo palco, diante de nós,
proporcionar-nos a sua plena incorporação”.
O Soviete abriu-se a
muitos oradores de todos os grupos revolucionários, bolcheviques, socialistas revolucionários
e anarquistas.
Os bolcheviques sempre
foram uma minoria dentro do Soviete de Kronstadt, ainda que tenham feito grandes
esforços para manipular e controlar a organização. Mas Lamanov lembrava aos
bolcheviques que foi o povo, e não o partido, que fez a Revolução de Fevereiro.
Muito embora os
maximalistas mantivessem um grande número de delegados no soviete, ao longo de
sua história, Lamanov renunciou ao grupo no final de 1919, já que não queria se
associar ao atentado à sede do Partido Comunista de Moscou, condenado e compreendido
por ele como sendo obra dos maximalistas.
Lamanov se candidatou a
membro candidato do partido bolchevique em algum momento do ano de 1920. Durante
o levante dos marinheiros, não participou dos movimentos iniciais da revolta e
tampouco integrou o Comitê Revolucionário. No entanto, continuou a editar o Izvestia de Kronstadt e, em suas páginas,
sugeriu os lemas “Terceira Revolução” e comunismo sem “comissariocracia”. Lamanov
anunciou sua renúncia ao Partido Comunista em março (de 1921), justificando que
sempre foi um maximalista. Assim, o Izvestia
tornou-se porta-voz dos insurgentes de Kronstadt, enchendo suas páginas com
cartas e declarações de muitos dos rebeldes envolvidos na revolta.
Foi preso em 18 de
março de 1921, pelas tropas soviéticas. Os rigores do interrogatório da Tcheka
parecem tê-lo alquebrantado, pois Lamanov prontamente apresentou provas contra
os outros líderes da revolta. A princípio, forneceu o seguinte testemunho: “O
motim de Kronstadt foi uma surpresa para mim. Eu o vi como um movimento
espontâneo”. Porém, mais tarde, em seu depoimento, afirmou que o motim havia
sido planejado desde o início pelos SRs de Esquerda!
Condenado à morte em 20
de abril pela Tcheka de Petrogrado, como “contrarrevolucionário”, foi fuzilado
no dia seguinte e seu corpo enterrado em Petrogrado.
Nick Heath
8 de outubro de
2009
Referência:
Getzler, I. Kronstadt
1917-1921: The Fate of a Soviet Democracy. (“Kronstadt 1917-1921: O Destino de um Soviete Democrático”).
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