quarta-feira, 1 de maio de 2024

A terceira revolução? Resistência camponesa ao governo bolchevique

por Nick Heath

Na onda de rebeliões e revoltas de operários e camponeses em toda a Rússia durante 1919-1921, os bolcheviques buscavam se consolidar no poder. Mas, ao contrário das alegações destes, tais movimentações não eram reacionárias. Os trabalhadores apoiavam os objetivos originais da revolução: o socialismo e a autogestão operária e camponesa. Tomados em conjunto, as revoltas podem ser entendidas como uma Terceira Revolução.

Durante a Guerra Civil na Rússia, o governo de Lenin enfrentou uma série de revoltas predominantemente camponesas que ameaçavam derrubar o regime. Teria sido justificada a acusação de que a série de insurgências eram lideradas por kulaks (camponeses ricos), por um lado, apoiados pela reação branca e, por outro, por camponeses pobres inconscientes de seus reais interesses de classe? Ou, na realidade, teria sido o início da “Terceira Revolução”, como alegaram oponentes à esquerda do bolchevismo?

“Todos aqueles que realmente levam a revolução social no seu coração devem deplorar essa separação fatal que existe entre o proletariado das cidades e do campo. Todos os seus esforços devem ser dirigidos para destruí-la, porque devemos estar conscientes de que se os trabalhadores da terra, os camponeses, não deram a mão aos trabalhadores da cidade, para uma ação revolucionária comum, todos os esforços revolucionários das cidades estarão condenados a fiascos inevitáveis”.

- Bakunin, Obras Completas, “Sobre o Pangermanismo Alemão”.

O marxismo ortodoxo desconsiderou o papel revolucionário do campesinato

Segundo o marxista alemão Karl Kautsky, o pequeno camponês estava condenado, apesar de taticamente útil para mobilizar as massas do campo. Em sua A Questão Agrária, Kautsky afirmou que os objetivos de curto prazo dos camponeses e da classe média baixa, para não mencionar a burguesia, estavam em oposição ao interesse de toda a humanidade, plasmado na ideia de sociedade socialista. "Quando o proletariado [significando a classe trabalhadora industrial] tentar explorar as conquistas da revolução, seus aliados - o campesinato - certamente se voltarão contra ele. Por sua natureza é burguês e mostra claramente sua essência reacionária. O campesinato deve ajudar o proletariado, não o proletariado o campesinato, na realização dos desejos deste último". Já Leo Jogiches disse no VI Congresso do Partido Social-Democrata Polaco, em 1908, que “ditadura do proletariado deveria ser apoiada pelo campesinato, que não poderia desempenhar funções autônomas”. Rosa Luxemburgo compartilhava a desconfiança de Jogiches em relação ao campesinato e só podia vê-los como uma força reacionária.

O próprio Lênin, extremamente flexível em nível tático e extremamente rígido em nível ideológico, estava consciente do que estava fazendo quando seu Partido lançou a palavra de ordem da ditadura do proletariado e do campesinato. Depois do triunfo bolchevique "seria ridículo falar da unidade do proletariado e do campesinato, do regime democrático... Agora, temos que pensar no socialismo, na ditadura do proletariado” (Duas táticas da Social Democracia na revolução democática, 1905).

De sua parte, Trotsky tinha uma atitude mais dura em relação ao campesinato e não estava convencido de uma aliança temporária entre operários e camponeses: "O proletariado entrará em conflito não apenas com os grupos burgueses que apoiaram o proletariado durante a primeira fase da luta revolucionária, mas também com as grandes massas camponesas (1905, escrito em 1922). (1905, obra escrita em 1907-1909).

Os bolcheviques definiram 'kulaks' como camponeses ricos, capazes de vender produtos no mercado, bem como orientar a produção para seu próprio usufruto e empregar mão de obra contratada para vender produtos excedentes. Eles eram vistos como representantes dos verdadeiros elementos pequeno-burgueses do campo, prontos para desenvolver a agricultura através dos avanços capitalistas. Na segunda fase da revolução, depois da etapa burguesa inicial, os kulaks (e uma “parte substancial do campesinato médio” - Lênin) passariam para o lado da burguesia, enquanto o proletariado mobilizaria o campesinato pobre. Mas, como aponta Ferro: "A busca pelos kulaks foi parcialmente falha, uma perseguição de sombras, uma vez que tinham desaparecidos ou afundaram à condição de mujiques, desde a Revolução de Outubro” [1]. O que é certo é que, em um nível prático, os bolcheviques expropriaram vastas massas do campesinato nos anos de “comunismo de guerra” de 1918 a 1921, sobretudo com a política de requisição de grãos e a repressão tchekista. Os bolcheviques tomaram por inimigos os kulaks no que tangia a luta de classes e ao fazê-lo superestimaram sua riqueza. Selunskaia alega que, de fato, apenas 2% deles poderiam ser classificados como genuinamente kulaks [2]. Uma estatística oficial revela os seguintes dados: em 1917, 71% dos camponeses cultivavam menos de 4 hectares, 25% tinham entre 4 e 10 hectares e apenas 3,7% tinham mais de 10 hectares. Em 1920, esta realidade havia mudando, respectivamente, para 85%, 15% e 0,5%. Outro critério de análise, a posse de um cavalo, segundo a mesma estatística, pode ser usada para mostrar a riqueza relativa: 29% não tinham nenhum, 49% tinham um, 17% tinham dois e 4,8% tinham mais de três (em 1917). Em 1920, os números haviam mudado respectivamente para 27,6%, 63,6%, 7,9% e 0,9% [3]. De fato, o número de kulaks - e aqui estamos nos referindo à classificação bolchevique sobre o que constituía “rico” - estava diminuindo e o processo de homogeneização continuava. Quanto à requisição, o dirigente bolchevique Kubanin admitiu que metade dos alimentos recolhidos apodreceu e muitos bovinos morreram em vagões ferroviários em trânsito, devido à falta de água e comida [4].

O comunismo de guerra

Como reação ao comunismo de guerra, uma série de insurreições eclodiram. No leste da Ucrânia, o movimento makhnovista, inspirado e liderado militarmente pelo camponês anarquista Nestor Makhno, foi um dos movimentos mais atuantes ideologicamente. Deve ser lembrado que os makhnovistas haviam controlado o leste da Ucrânia antes da chegada do Exército Vermelho, tendo derrotado sucessivamente as tropas austro-alemãs e os brancos. Os makhnovistas convidaram vários anarquistas que fugiam da perseguição dos bolcheviques do norte ou retornavam do exílio estrangeiro para trabalhar na Confederação de Anarquistas Nabat (Alarme) com propaganda, trabalho cultural e educativo entre os camponeses. Os makhnovistas viram a ameaça branca como um perigo maior do que os bolcheviques e concluíram uma série de alianças com estes últimos através de uma frente unida contra os líderes brancos, Denikin e Wrangel. Na verdade, parece haver muitas evidências de que Wrangel teria esmagado a Ucrânia e tomado Moscou, destruindo o governo bolchevique, se não fosse pelos esforços dos makhnovistas. No final de uma campanha conjunta contra os brancos na Crimeia, os comandantes makhnovistas foram convidados a comparecerem no quartel-general do Exército Vermelho onde foram fuzilados sumariamente. O próprio Makhno lutou por muitos meses, antes de ser forçado a cruzar a fronteira [5].

A Tcheka e os prodrazverstksa (esquadrões de requisição de alimentos) nunca se estiveram no núcleo makhnovista de Hulyai-Polye antes de 1919, mas os camponeses que viviam nas áreas de Ekaterinoslav e Alexandrovsk os conheciam muito bem. Em outras áreas de revolta, entretanto, a oposição inicial foi muito mais resultado direto das políticas de “comunismo de guerra” aplicada pelo bolchevismo.

Na Sibéria Ocidental (e, de fato, em toda a Sibéria - veja nosso artigo Makhnovschina na Sibéria), o regime enfrentou provavelmente sua pior ameaça, e é possível que tenha sido esse fato, mais do que a insurreição de Kronstadt que ocorreu no mesmo ano, que o forçou a mudar de rumo. Krasnaya Armiya (Exército Vermelho, publicado pela Academia Militar e destinado a um pequeno círculo de leitores comunistas) teve de admitir em sua edição de dezembro de 1921 que a realização das coletas de grãos na primavera de 1920 impulsionou o campesinato siberiano contra os comunistas e que “o movimento na região de Ishimsk se inspirava nos mesmos slogans que uma vez foram lançados pelos marinheiros de Kronstadt”. O Exército Vermelho teve de admitir que a inépcia, a má administração econômica e a expropriação 'criminosa' de propriedades estavam entre as principais causas da insatisfação camponesa. O jornal reconheceu seu efeito negativo sobre o humor dos camponeses quando estes viram os grãos requisitados apodrecendo nos vagões. “Ações provocatórias” por parte de representantes do governo nas agências de arrecadação de impostos frequentemente induziam levantes de aldeias inteiras. O jornal também relatou um movimento ‘muito singular’ nas regiões do Don e do Kuban, liderado por Maslakov, um ex-comandante do Exército Vermelho, que declarava guerra “aos usurpadores do poder soviético e ao alto ‘comissário comunista’” [6]. Na verdade, comandava uma brigada inteira do Exército Vermelho.

Ligações

De fato, a revolta de Maslakov em fevereiro de 1921 no leste da Ucrânia rapidamente se conectou com os makhnovistas através do destacamento comandado por Brova. Alguns comandantes do Exército Vermelho se revoltaram, como foi o caso do batalhão de Mikhailovka, liderado por Vakulin, seguido por Popov. No território ao norte do cossaco Don, (após dezembro de 1920), Vakulin apareceu à frente de uma força de 3.200 - seis vezes mais de quando se deslocou para o leste na região dos Urais e conseguiu capturar cerca de 800 soldados do Exército Vermelho. Mas em 17 de fevereiro de 1921, Vakulin perdeu a batalha que ceifaria sua vida. F. Popov, um socialista revolucionário, assumiu o seu lugar. A coluna Popov voltou para as províncias de Samara e depois de Saratov, ganhando força à medida que avançava. Foi estimada pelo Exército Vermelho em 6.000 homens e foi capaz de aprisionar um batalhão inteiro do Exército Vermelho. Parece que, se acreditarmos nas fontes bolcheviques, os revoltosos de Popov foram mais tarde inteiramente esmagados. Em Samara, um oficial da esquerda socialista revolucionária, Sapozhkov, do Exército Vermelho, rebelou-se juntamente com “elementos anarquistas e SR” (segundo o historiador soviético Trifonov). Ele próprio era filho de um camponês desta província. A revolta teve início em 14 ou 15 de julho de 1920, e contava com 2.700 homens. Sapozhkov caiu em batalha em 6 de setembro após 2 meses de luta. Seu lugar foi tomado por Serov, que ainda conseguiu reunir 3.000 combatentes e lutou até o verão de 1923, período mais longo de luta que até então havia sido travado por qualquer grupo rebelde, exceto Makhno.

Na região de Tambov, outra grave insurreição começou em agosto de 1920, sob o comando de Alexander Stepanovitch Antonov. Aqui novamente a revolta foi motivada e desencadeada pela requisição de grãos. O próprio Antonov era um ex-socialista revolucionário, da então SR de esquerda, que defendia tanto operários quanto camponeses contra os bolcheviques. Outros grupos divergentes incluíram os Socialistas Revolucionários de Esquerda, os SR de Direita e os anarquistas. Os antonovistas foram capazes de reunir imediatamente 21.000 combatentes. Um anarquista, Yaryzhka, comandou um destacamento do movimento antonovista sob a bandeira negra do anarquismo. Enquanto servia no exército durante a Primeira Guerra Mundial, por ter disparado em um oficial, em 1916, Yaryzhka foi preso, ocasião em que se converteu ao anarquismo. Começou suas operações no outono de 1918 e lutou até ser morto em ação pelos bolcheviques no outono de 1920.

Pode-se ver que todos esses levantes ou movimentos camponeses de oposição ao leninismo ocorreram mais ou menos na mesma época, entre o período 1920-1921. De fato, em consonância com o levante dos marinheiros em Kronstadt em 1921, formavam uma séria ameaça ao domínio bolchevique. Os objetivos dos insurgentes de Kronstadt parecem ter ecoado nos movimentos camponeses. Isso não é surpreendente, considerando que muitos marinheiros de Kronstadt tinham origens camponesas. O levante da Sibéria ocidental adotou as demandas de Kronstadt [6A], conforme observado por Krasnaya Armiya. Após a insurreição de Tambov, as autoridades soviéticas encontraram as resoluções de Kronstadt em um importante esconderijo antonovista. O próprio Antonov ficou tão entristecido com a notícia da repressão da revolta de Kronstadt que, dizem, se embriagou de vodka. Parece que alguns marinheiros de Kronstadt que escaparam à opressão se uniram à Antonovschina. Em 11 de julho, a cavalaria bolchevique lutou contra um pequeno, mas de elite, bando de antonovistas, operários socialistas revolucionários e marinheiros, que lutou com uma "firmeza impressionante" até o fim quando os poucos sobreviventes atiraram em seus cavalos e depois em si mesmos, de acordo com o relato do tchekista Smirnov,. Um bolchevique observou em 1921 que “os anarquistas-makhnovistas na Ucrânia reimprimiram o apelo dos kronstadtinos e em geral não escondiam sua simpatia por eles”. [7]

Acusações

É claro que os habitantes de Kronstadt se opunham à restauração czarista e foram fundamentais para derrubar o regime de Kerensky. Os makhnovistas foram igualmente implacáveis ​​com os brancos. Nenhuma aliança foi sequer considerada que implicasse uma luta contra os bolcheviques. De fato, os makhnovistas formaram alianças com os bolcheviques para combater os brancos, e a última delas causaria sua derrota, como visto acima. O movimento foi profundamente influenciado pelo anarquismo e dificilmente toleraria a colaboração com um de seus inimigos mortais. Quanto a Maslakov, ele tinha sido um comandante vermelho de confiança e parece ter lutado por um comunismo sem comissários. Krasnaya Armiya admitiu que os insurgentes nas regiões do Don e de Kuban “condenam e lutam contra a reação da Guarda Branca". Quanto a Antonov, “não empreendeu nenhuma ação que impusesse embaraços aos bolcheviques, como cortar as comunicações na retaguarda das linhas do front, mas apenas se limitou a combater os destacamentos punitivos enviados contra os camponeses” [8]. Antonov havia sido preso sob o czarismo por suas atividades como socialista revolucionário durante e após a Revolução de 1905, sendo sentenciado a 12 anos na Sibéria. Além disso, movimento camponês de Antonov dificilmente teria auxiliado um retorno aos velhos tempos.

Outra acusação contra os movimentos camponeses eram de que foram liderados por kulaks e que arrastaram o resto do campesinato em seu rastro. Pelo menos no caso makhnovista, uma análise dos líderes do movimento refuta tal afirmação. Trotsky deu a entender que o “assassinato de Makhno não significaria o fim da Makhnovschina, pois suas raízes estão nas massas de camponesas ignorantes". Mas todos os principais makhnovistas sobre os quais temos informações biográficas vieram do campesinato depauperado, incluindo o próprio Makhno e, em alguns casos, do campesinato médio. Como disse Malet: “os bolcheviques interpretaram totalmente equivocadamente a natureza do movimento de Makhno. Não era um movimento de kulaks, mas de uma ampla massa de camponeses, especialmente camponeses pobres e médios” [9]. Temos pouca evidência empírica para a identificar a extração social das revoltas camponesas nas áreas do Don e de Kuban. Radkey forneceu algumas informações sobre a insurreição de Tambov através de pesquisas em condições difíceis e descobriu que Antonov era filho de um artesão de uma cidade pequena - dificilmente um kulak! Há evidências de que alguns dos principais antonovistas eram de origem kulak (com base em arquivos bolcheviques), mas um historiador da Tcheka teve de admitir que uma “parte considerável do campesinato médio” apoiou a insurreição [10]. Há evidências de que Antonov tinha o apoio do campesinato empobrecido e de alguns trabalhadores da província [11].

Ressalvas

Deve-se ter reservas sobre as alegações do “caráter kulak” dessas revoltas. Mesmo admitindo-se que alguns kulaks participaram dos levantes, deve-se admitir, por outro lado, a partir das poucas evidências disponíveis, que outras classes do campesinato também tiveram uma participação ativa neles. O que se pode concluir das alegações de que, longe de serem contrarrevolucionárias, as revoltas camponesas foram o início de uma “Terceira Revolução” (desde as revoluções de fevereiro e outubro)? A expressão parece ter sido cunhada por anarquistas dentro do movimento makhnovista, aparecendo em uma declaração de um de seus órgãos, o Soviete Militar Revolucionário, em outubro de 1919, e reapareceu durante a insurreição de Kronstadt. Anatoli Lamanov registrou-a nas páginas do Izvestia de Kronstadt, o jornal dos rebeldes, do qual era editor. Lamanov era um líder da União dos Socialistas Revolucionários Maximalistas em Kronstadt, e concebia Kronstadt como o estopim de uma “Terceira Revolução”, que derrubaria a “ditadura do Partido Comunista, sua Tcheka e o capitalismo de Estado”, transferindo todo o poder “para os sovietes livremente eleitos” e transformando os sindicatos em “associações livres de trabalhadores, camponeses e operários intelectuais operários” [12]. Os maximalistas, uma cisão dos socialistas revolucionários, exigiam uma imediata revolução social agrária e urbana, uma República dos Trabalhadores de sovietes federados, e eram antiparlamentaristas e desconfiavam dos partidos. Há pouca evidência sobre as ligações entre eles e os makhnovistas, embora seja improvável que o slogan “Terceira Revolução” tenha surgido em dois lugares totalmente independentes. “Aqui, em Kronstadt, foi lançada a primeira pedra da Terceira Revolução, derrubando os últimos grilhões das massas trabalhadoras e abrindo um novo e amplo caminho para a criatividade socialista", proclamaram os kronstadtinos [13].

O termo “Terceira Revolução”, no entanto, parece vago, sem uma ideia clara de como essa Revolução seria realizada. Teve seus adeptos em círculos makhnovistas, e possivelmente na Sibéria Ocidental e com Maslakov, mas nunca inspirou uma abordagem unificada para o desenvolvimento de sua implementação. O que distinguia o movimento makhnovista de Tambov era a ideologia específica do primeiro. O movimento de Antonov não tinha ideologia, além da “consciência daquilo de que eram contra... e a mais nebulosa noção de como organizar a Rússia na hora da vitória" [14]. Os Antonovistas eram um movimento local com perspectivas locais. Os makhnovismo era abrangente e manteve ligações com Maslakov. O próprio Makhno fez campanha até o Volga, percorrendo a área do Don, articulando grupo semelhantes. Um destacamento makhnovista sob o comando de Parkhomenko foi enviado para a área de Voronezh no início de março de 1921 numa tentativa de estabelecer uma conexão com destacamentos antonovistas sob a liderança de Kolesnikov.

Mas a vasta extensão da União Soviética reduziu as ligações entre os movimentos. Parece ter havido uma ignorância mútua generalizada sobre a existência ou os objetivos dos diferentes movimentos camponeses.

Onde havia consciência, parece ter havido pouco esforço para associar os movimentos em um ataque unificado contra o governo bolchevique. A insurreição de Kronstadt foi mais tarde considerada prematura por alguns de seus líderes [15]. O localismo e a falta de uma estratégia mais global paralisaram Antonov e os movimentos nas regiões do Don, de Kuban e o oeste da Sibéria, assim como a própria espontaneidade destes levantes. Os makhnovistas podem ter tido uma melhor compreensão da situação, mas não conseguiram unir a oposição, tendo que se aliar mais uma vez aos bolcheviques, apesar de infelizes experiências anteriores. No entanto, a soma desses levantes representou uma ameaça muito grave para o regime bolchevista, forçando-o a pelo menos passar do comunismo de guerra para a Nova Política Econômica.

Nick Heath

Editado por libcom

Publicado pela primeira vez no Organize! #63

Notas

[1] Ferro, p. 138.

[2] Izmeniia 1917-20, in Atkinson.

[3] L Kritsman, The Heroic Period of the Great Russian Revolution, 1926 in Skirda.

[4] Kubanin ‘The anti-Soviet peasant movement during the years of civil war (war communism) 1926, in Skirda.

[5] Palij, Malet, Skirda, todos citam evidências dos destacamentos makhnovistas salvando a capital bolchevique.

[6] Maximoff, p.148.

[7] Lebeds, citado por Malet.

[8] Radkey, p.82.

[9] Malet, p122.

[10] Sofinov, em Radkey, p.106.

[11] Radkey, p107-110.

[12] Ver Getzler.

[13] Avrich, p.243.

[14] Radkey, p.69.

[15] Ver Avrich

 

Bibliografia

Avrich, P., Kronstadt 1921. Princeton (1970).

Atkinson,D., The end of the Russian Land Commune 1905-1930. Stanford (1983).

Lewin, M., Russian Peasants and Soviet Power. Allen & Unwin (1968).

Mitrany, D., Marx and the Peasant. Weidenfeld & Nicholson (1951).

Malet, M., Nestor Makhno in the Russian Civil War. MacMillan (1982).

Palij, M., The Anarchism of Nestor Makhno. Washington (1976).

Radkey, O., The Unknown Civil War in Soviet Russia. Hoover (1976).

Maximoff, G. P., The Guillotine at Work. Cienfuegos (1976).

Skirda, A., Nestor Makhno, Le Cosaque de l’Anarchie. Paris (1982).

Ferro, M., The Bolshevik Revolution, A Social History of the Russian Revolution. RKP (1985).

Getzler, I., Kronstadt 1917-1921, the Fate of a Soviet Democracy. Cambridge University Press (1983).

 

Glossário

Kulak – elite camponesa.

Muzhik – camponeses mais pobres.

Brancos – reação à Revolução Russa que se reuniu em torno dos tzaristas.

Socialistas-Revolucionários – partido revolucionário que viu nos camponeses um papel chave e pensou ser possível que a sociedade russa evitasse o capitalismo e fosse direto à sociedade socialista.

Socialistas Revolucionários de Esquerda – dissidência radical dos Socialistas Revolucionários.


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