sábado, 4 de outubro de 2025

Uma Análise sobre o Irã e a Estratégia dos Sete Países

 

O livro "Which Path to Persia?", produzido por especialistas da Brookings Institution, representa muito mais do que um simples exercício acadêmico. Esta obra constitui um documento fundamental para compreender a arquitetura estratégica que orientou a política externa norte-americana no Médio Oriente no pós-11 de setembro. A sua análise meticulosa das opções relativas ao Irã não pode ser dissociada do contexto mais amplo da chamada "Estratégia dos Sete Países", um plano real e discutido em círculos neoconservadores e no aparato de segurança nacional dos EUA. A premissa de que se tratava de um projeto de reordenamento radical da região, onde o Irã surgia como o último e mais complexo elo da cadeia, é essencial para uma leitura correta do livro.

O Irã no Contexto do Grande Tabuleiro

A análise apresentada em "Which Path to Persia?" deve ser entendida como o capítulo final de um livro de estratégia mais vasto. A chamada "Estratégia dos Sete Países" - que incluía Iraque, Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e Irã - não era uma teoria conspiratória, mas sim uma diretriz de ação, conforme atestado por fontes de alto nível como o General Wesley Clark. O seu testemunho sobre a existência de um memorando do Pentágono, que delineava a derrubada destes sete governos em cinco anos, fornece a chave para contextualizar a análise da Brookings. O Iraque foi o primeiro grande teste; o Irã era sempre o prêmio final, o eixo da resistência antiamericana na região. O livro, portanto, não surge no vazio. Ele opera dentro deste paradigma estratégico, procurando a melhor forma de completar um projeto já em andamento.

As Vias Estratégicas para o Objetivo Final

Ao examinar as cinco vias estratégicas para o Irã, o livro revela a evolução do pensamento estratégico americano após os reveses no Iraque e no Afeganistão. A via da Dissuasão ou Contenção representava uma posição mais cautelosa, um reconhecimento de que a campanha de remodelação regional tinha encontrado obstáculos maiores que o esperado. No entanto, esta opção era vista como um plano B, uma forma de gerir o ambiente até que novas oportunidades para ação mais decisiva surgissem. A Opção Militar, analisada em detalhe, era a continuação lógica da lógica aplicada anteriormente ao Iraque. Os autores, embora listando os riscos de uma retaliação iraniana - o encerramento do Estreito de Ormuz, ataques de procuração - estavam a mapear os custos de uma operação considerada inevitável por certos setores, não a rejeitá-la de forma absoluta. Era um exercício de antecipação de problemas, não de dissuasão da ação.

A via da Mudança de Regime refletia as lições aprendidas com as longas e dispendiosas ocupações do Iraque e do Afeganistão. Em vez de uma invasão terrestre massiva, preferia-se explorar fraturas internas no Irã, fomentar agitação étnica e apoiar grupos de oposição para provocar um colapso do sistema a partir de dentro. Esta abordagem de "guerra híbrida" era vista como um meio mais eficaz e com menor custo político para alcançar o mesmo objetivo final: a neutralização do regime teocrático. A via Diplomática, por sua vez, era apresentada não como um genuíno desejo de entendimento, mas como um instrumento tático. A oferta de negociações servia para isolar internacionalmente o Irã e criar um pretexto para a escalada subsequente de pressões, caso o regime, como esperado, se mostrasse intransigente.

A estratégia híbrida de "Engajamento com Sanções" emergia assim como a opção operacionalmente mais sofisticada. Esta era a "cenoura e o bastão" concebida para o estágio final da estratégia mais ampla. O objetivo não era chegar a um acordo, mas sim asfixiar economicamente a República Islâmica, fomentar o descontentamento interno e criar condições para uma intervenção mais direta, justificada pela suposta intransigência iraniana. A conclusão do livro, que aponta esta via como a mais realista, confirmava a transição para uma abordagem de guerra econômica e política como prelúdio para a confrontação final, alinhando perfeitamente com o objetivo de longo prazo de concluir a remodelação do "Grande Médio Oriente".

A Confirmação de um Padrão Estratégico

A ligação entre "Which Path to Persia?" e a Estratégia dos Sete Países é, portanto, direta e orgânica. O livro não é a origem do plano, mas sim um dos seus refinamentos técnicos mais elaborados. Ele trata do último e mais difícil alvo da lista. A negação desta conexão ignora o testemunho de atores-chave como Wesley Clark e o padrão consistente de ações norte-americanas na região durante a primeira década do século XXI. A análise da Brookings não era um mero exercício hipotético; era a blueprint para a fase final de um projeto geopolítico concertado, que visava desmantelar sistematicamente todas as fontes de poder autônomo e resistência à hegemonia dos EUA no coração do mundo islâmico. A história subsequente, com as intervenções e mudanças de regime na Líbia, Síria e Iêmen, e a pressão máxima contínua sobre o Irã, veio confirmar a persistência desta arquitetura estratégica, da qual o livro foi um dos documentos definidores.

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