O
livro "Which Path to Persia?", produzido por especialistas da Brookings Institution, representa muito
mais do que um simples exercício acadêmico. Esta obra constitui um documento
fundamental para compreender a arquitetura estratégica que orientou a política
externa norte-americana no Médio Oriente no pós-11 de setembro. A sua análise
meticulosa das opções relativas ao Irã não pode ser dissociada do contexto mais
amplo da chamada "Estratégia dos Sete Países", um plano real e
discutido em círculos neoconservadores e no aparato de segurança nacional dos
EUA. A premissa de que se tratava de um projeto de reordenamento radical da
região, onde o Irã surgia como o último e mais complexo elo da cadeia, é
essencial para uma leitura correta do livro.
O Irã no Contexto do Grande
Tabuleiro
A
análise apresentada em "Which Path to Persia?" deve ser entendida
como o capítulo final de um livro de estratégia mais vasto. A chamada
"Estratégia dos Sete Países" - que incluía Iraque, Síria, Líbano,
Líbia, Somália, Sudão e Irã - não era uma teoria conspiratória, mas sim uma
diretriz de ação, conforme atestado por fontes de alto nível como o General
Wesley Clark. O seu testemunho sobre a existência de um memorando do Pentágono,
que delineava a derrubada destes sete governos em cinco anos, fornece a chave
para contextualizar a análise da Brookings.
O Iraque foi o primeiro grande teste; o Irã era sempre o prêmio final, o eixo
da resistência antiamericana na região. O livro, portanto, não surge no vazio.
Ele opera dentro deste paradigma estratégico, procurando a melhor forma de
completar um projeto já em andamento.
As Vias Estratégicas para o
Objetivo Final
Ao
examinar as cinco vias estratégicas para o Irã, o livro revela a evolução do
pensamento estratégico americano após os reveses no Iraque e no Afeganistão. A
via da Dissuasão ou Contenção representava uma posição mais cautelosa, um
reconhecimento de que a campanha de remodelação regional tinha encontrado
obstáculos maiores que o esperado. No entanto, esta opção era vista como um
plano B, uma forma de gerir o ambiente até que novas oportunidades para ação
mais decisiva surgissem. A Opção Militar, analisada em detalhe, era a
continuação lógica da lógica aplicada anteriormente ao Iraque. Os autores,
embora listando os riscos de uma retaliação iraniana - o encerramento do
Estreito de Ormuz, ataques de procuração - estavam a mapear os custos de uma
operação considerada inevitável por certos setores, não a rejeitá-la de forma
absoluta. Era um exercício de antecipação de problemas, não de dissuasão da
ação.
A
via da Mudança de Regime refletia as lições aprendidas com as longas e
dispendiosas ocupações do Iraque e do Afeganistão. Em vez de uma invasão
terrestre massiva, preferia-se explorar fraturas internas no Irã, fomentar
agitação étnica e apoiar grupos de oposição para provocar um colapso do sistema
a partir de dentro. Esta abordagem de "guerra híbrida" era vista como
um meio mais eficaz e com menor custo político para alcançar o mesmo objetivo
final: a neutralização do regime teocrático. A via Diplomática, por sua vez,
era apresentada não como um genuíno desejo de entendimento, mas como um
instrumento tático. A oferta de negociações servia para isolar
internacionalmente o Irã e criar um pretexto para a escalada subsequente de
pressões, caso o regime, como esperado, se mostrasse intransigente.
A
estratégia híbrida de "Engajamento com Sanções" emergia assim como a
opção operacionalmente mais sofisticada. Esta era a "cenoura e o
bastão" concebida para o estágio final da estratégia mais ampla. O
objetivo não era chegar a um acordo, mas sim asfixiar economicamente a
República Islâmica, fomentar o descontentamento interno e criar condições para
uma intervenção mais direta, justificada pela suposta intransigência iraniana.
A conclusão do livro, que aponta esta via como a mais realista, confirmava a
transição para uma abordagem de guerra econômica e política como prelúdio para
a confrontação final, alinhando perfeitamente com o objetivo de longo prazo de
concluir a remodelação do "Grande Médio Oriente".
A Confirmação de um Padrão
Estratégico
A
ligação entre "Which Path to Persia?" e a Estratégia dos Sete Países
é, portanto, direta e orgânica. O livro não é a origem do plano, mas sim um dos
seus refinamentos técnicos mais elaborados. Ele trata do último e mais difícil
alvo da lista. A negação desta conexão ignora o testemunho de atores-chave como
Wesley Clark e o padrão consistente de ações norte-americanas na região durante
a primeira década do século XXI. A análise da Brookings não era um mero exercício hipotético; era a blueprint para a fase final de um
projeto geopolítico concertado, que visava desmantelar sistematicamente todas
as fontes de poder autônomo e resistência à hegemonia dos EUA no coração do
mundo islâmico. A história subsequente, com as intervenções e mudanças de
regime na Líbia, Síria e Iêmen, e a pressão máxima contínua sobre o Irã, veio
confirmar a persistência desta arquitetura estratégica, da qual o livro foi um
dos documentos definidores.
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