Em “A elite do atraso:
da escravidão à lava jato”, o sociólogo Jessé Souza defende a tese de que a
elite brasileira, leia-se oligarquia, para assegurar seus privilégios, nunca
teve compromisso com um projeto de desenvolvimento para o país. Segundo o sociólogo, com a
ascensão da classe média nos anos 30, a elite tratou de capturar esta classe
por meio de um acordo que visava somente garantir seus privilégios de classe
dominante, em direta contradição aos interesses gerais da sociedade. Para isso formou
um quadro de profissionais técnicos e especializados subjugados e oriundos da
classe média, bem como açambarcou toda opinião pública, por meio do controle da
imprensa e da formação de uma intelectualidade servil. É neste contexto que
surge a USP, encarregada de elaborar o pensamento da formação da sociedade
brasileira forjado sobre bases equivocadas – o patrimonialismo e o populismo –
quando o que a caracteriza, de fato, é a escravocracia. Tal ideologia de verniz
universitário contaminou toda a intelectualidade, sendo reproduzida
indiscriminadamente tanto pela direita quanto pela esquerda, e desviou o foco
dos verdadeiros problemas sociais. Sobre Sérgio Buarque de Hollanda e Raimundo
Faoro, Jessé Souza em entrevista concedida ao vlog o Cafézinho não tem meias
palavras: "Se você lê os caras (...) um liberalismo mais conservador, mais
absurdo, mais pueril, mais superficial, mais mal feito do que desses caras,
impossível!!!" (Jessé de Souza).
É preciso muita coragem para um intelectual
no Brasil criticar o totalitarismo desta igreja, denominada USP, que aqui
chamamos de Santo Ofício Universal do Estado de São Paulo. Recusar-se ao
beija-mão submisso, ao clientelismo autoritário, ao culto da autoridade, à reverência à hierarquia, ao
assédio moral e até mesmo sexual, sob a sanção da USP, é o mesmo que ser
excomungado de todos os círculos acadêmicos em âmbito nacional. Não é à toa que
a USP é tão recalcitrante ao sistema de cotas, encontrando apoio até mesmo nos
seus quadros de intelectuais supostamente de esquerda.
Jessé Souza é também
autor de “A Tolice da Inteligência Brasileira” e “A Radiografia do Golpe” e
pode ser considerado um dos intelectuais brasileiros mais importantes da
atualidade. Portanto, o livro “A elite do atraso: da escravidão à lava jato” é
imprescindível para entender a fundo as formas de dominação no Brasil, da
produção ideológica e a própria sociedade brasileira, após cem anos de
mentiras. Já é leitura obrigatória.
A ELITE DO ATRASO: DA
ESCRAVIDÃO À LAVA JATO
Editora LeYa Brasil: São
Paulo, 2017. (240 páginas).
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