sábado, 4 de novembro de 2017

A ESTÓRIA DA RIQUEZA DO BRASIL


Mal o livro do sociólogo Jessé Souza “A elite do atraso: da escravidão à lava jato” saiu do prelo, a reação das elites não se fez por esperar, com a publicação de “História da riqueza do Brasil”, de Jorge Caldeira. O lançamento do referido livro não poderia ter sido mais bizarro: no televisivo Programa do Bial, e contou com a aparição de uma das figuras mais sinistras do mundo universitário. Quem? FHC. Elementar, meu caro Watson! O coronel tucano, que se tornou, graças aos dólares da CIA, via Fundação Ford, o “príncipe da sociologia (sic)”... quer dizer, “privataria”, foi convocado pelo intelectual de Big Brother... [pausa para rir]... Pedro Bial, numa das situações mais insólitas e patéticas da sociologia made in Brazil, para referendar o tal livro como, em suas palavras, um “clássico”. (Em se tratando de Fernando Henrique, melhor seria dizer crássico). Como se um livro se tornasse clássico, de um dia para a noite, por decreto, e prescindisse do debate intelectual, do tempo histórico, da repercussão acadêmica e social etc. etc. etc. Curiosamente, assim como o livro de Jesse Souza, o de Caldeira também se pretende revisionista, mas, sub-repticiamente, reforça todos os preconceitos da literatura canônica que “A elite do atraso” joga por terra. Na verdade, a “História da riqueza do Brasil” é uma total impostura. Nietzsche costumava criticar a tendência moderna em que o estilo jornalístico torna-se modelo de professores universitários como degeneração da cultura e da arte em entretenimento. Mas o que diria o grande filósofo alemão do marketing substituir a pesquisa acadêmica? É bem disso que se trata a “História da riqueza do Brasil”: uma obra de marqueteiro. Primeiro, porque o autor trata a velha econometria como se fosse uma grande novidade metodológica. Sim, o tal Jorge Caldeira relativiza a exaustiva pesquisa documental e deduz suas conclusões de preguiçosos modelos matemáticos e estatísticos. (Diga-se de passagem, nem os neoliberais da Escola Austríaca dão qualquer crédito à econometria, facilmente manipulável). Daí em diante tudo é permitido, como a singular afirmação de que os tupis eram empreendedores... (Desculpem-me, mas vou ter de usar de um expediente adequado a tamanha, digamos assim, trollagem: kkkkkkkkkkkkkkkkkk). Sim, pois, tais quais as inúmeras pérolas de FHC, nas palavras do autor, “tecnicamente, um catador de papelão é um empreendedor”. (kkkkkkkkkkkkk). Talvez, deva ter sido por isso que o capitalismo desenvolvido no Brasil nunca vingou, haja vista que, após o genocídio indígena, apenas 0,4 da população brasileira é atualmente composta por estes arrojados empreendedores nativos que, suponha-se, graças à catequese jesuítica (não a calvinista!), descobriram em si, no fundo de suas almas, o espírito capitalista na fumaça do cachimbo do pajé. Mas o genocídio é apenas um detalhe e racismo é tudo que não existe na sociedade brasileira, como todos nós, obviamente, sabemos! Continuando, segundo Caldeira, no Brasil, desde tempos imemoriais... sempre reinou a boa e velha democracia!... quer dizer, excetuando o “Estado Novo” (Getúlio). A julgar por esta afirmação, o voto de cabresto e de clientela é a mais pura definição de democracia e que Rousseau vai plantar batatas! Depois destes e outros disparates, que Marx chamaria de robsonadas e um historiador sério, anacronismos, o autor sustenta que, entre o fim do século XIX e 1970, o Brasil foi o país que mais cresceu economicamente no mundo e coloca todos os governos nacionalistas como responsáveis por desastres econômicos, ou melhor, as figurinhas carimbadas de Jango, Geisel, Lula e Dilma. Elementar, meu caro Watson! Na verdade, o livro de Caldeira segue a tradição que vai desde Joaquim Nabuco, Barão de Rio Branco e, claro, FHC, e, portanto, apregoa uma estreita dependência do Brasil aos EUA, sob o eufemismo de globalização. Outro argumento interessante é a afirmação de que, enquanto o executivo sempre foi instável, o parlamento sempre funcionou muito bem. Sem dúvida, com os milhões de reais pelos quais cada parlamentar recebe à surdina para legislar em causa própria e a favor da impunidade, nada poderia ser mais estável! Ora, se o executivo é frágil e o parlamento é forte, então presidente para quê? Sim, se você pensou no parlamentarismo, touché! Eis o programa completo do PSDB!!! Mas você deve estar se perguntando quem é esse Jorge Caldeira – e eu também me fiz essa pergunta – e a resposta, depois de muito procurar no Google, pode ser encontrada num verbete de cinco linhas da Wikipédia. Aqui vai o principal sobre o autor: “consultor do Projeto Brasil 500 Anos, da Rede Globo, editor-executivo da Revista Exame, editor do Caderno Ilustrada e da Revista da Folha, do jornal Folha de S. Paulo, editor de economia da Revista Isto É e editor da Revista do Cebrap” (Fonte: Wikipédia). Viu? Só gente fina. Quanto ao Cebrap, de FHC, é o caminho mais fácil para ser aprovado num concurso do prédio do meio... Ainda na entrevista ao intelectual de Big Brother Bial, o tal Jorge Caldeira mostrou-se alinhado com as reformas do governo Temer, e vangloriou-se por ter trabalhado 45 anos (o número não é apenas uma coincidência) e estar prestes a se aposentar com 50, contribuindo religiosamente a previdência social. (Evidentemente, FHC, em sua catedrática manifestação, omitiu o detalhe de que ele, FHC, se aposentou aos 37 anos). Esta afirmação de Jorge Caldeira é mais uma de suas sandices. Como se a atividade suave e bem remunerada de porta voz da mídia pudesse ser comparada ao trabalho suado e mal remunerado de um trabalhador braçal da construção civil, da metalurgia, da agroindústria canavieira, ou de motorista do transporte coletivo, ou mesmo professor do ensino público etc., etc., etc. O destino da miséria de a “História da riqueza do Brasil” já está traçado. Vai parar ao lado dos crássicos de seu mestre FHC: ninguém lê.

Nenhum comentário:

Postar um comentário