As imagens viralizaram na internet e soube-se, então, que o
vídeo havia sido abafado pela emissora de televisão responsável pelo jornal por
mais de um ano. Diante da repercussão negativa, a emissora de televisão, que,
aliás, quase não tem negros em seu quadro de funcionários de destaque, afastou
o repórter e emitiu uma nota em tom formal na qual afirmava que a política da
empresa é “visceralmente contra o racismo e afasta o jornalista Willian Waack
até que a situação seja esclarecida... no vídeo alguém dispara uma buzina e Waack,
contrariado, faz comentários, ao que tudo
indica, de cunho racista... Waack afirma não se lembrar do que disse já que
o áudio não tem clareza mas pede
sinceras desculpas àqueles que se sentiram ultrajados pela situação. Willian
Waack é um dos mais respeitados profissionais brasileiros, com um extenso
currículo de serviços prestados ao jornalismo [retifica-se: à emissora em
questão] e blá, blá blá para conversar com Waack e decidir como se desenrolarão
os próximos passos”. Ou seja, tergiversou, tergiversou, e não admitiu o erro do
apresentador. Tal nota não poderia ser mais oportuna, Willian Waack é conhecido
por suas posições de direita e defesa intransigente dos interesses da emissora na
qual trabalha, como as reformas impopulares do governo Temer. Porém, não deixa
de ser descabida. Se, “ao que tudo indica”, Waack não se lembra e o áudio não
tem clareza, então por que as sinceras desculpas àqueles que se sentiram
ultrajados, não pela situação, mas por comentários de cunho racista? E o fato
do jornalista ser considerado pela emissora um dos mais respeitados
profissionais brasileiros não justifica sua atitude. No mais, passos não se enrolam
nem se desenrolam... Ganhar tempo e esperar baixar a poeira é o real conteúdo
da nota. Mas temos uma sugestão ainda melhor à emissora: contratar um perito,
destes mercenários, como aquele ex-professor, que conseguem provar até que o 7
a 1 da Alemanha contra o Brasil na Copa do Mundo foi miragem provocada por uma
ilusão de óptica graças a um defeito coletivo na lente das câmaras...
O mais espantoso, porém, é que toda a imprensa marrom se
solidarizou com o jornalista. Alguns colegas de profissão, todas brancos,
também vieram em sua defesa. Notórios pela parcialidade e discursos que
fomentam o ódio, estes colegas tentaram desviar o foco da polêmica com
argumentos dos mais estapafúrdios e disparatados, minimizando o fato do
repórter ter cometido um crime. Pouco importa se Waack é ou foi racista, a
culpa é da esquerda, dos policamente corretos, das feministas, dos negros!
Sim, a culpa é dos negros, que ousam reivindicar por direitos iguais... De fato, é coisa de preto!
A reação da imprensa apenas expressa bem a mentalidade
perversa e escravocrata de alguns setores da sociedade brasileira. O que
podemos aprender com o racismo brasileiro é que o Brasil é um grande latifúndio
tal como descreve José Saramago no seu romance “Levantado do chão”. A mensagem
é implícita, mas inequívoca. Diz o seguinte: um homem branco e rico pode ser,
sim, racista, mas desde que em seu foro íntimo, entre amigos e familiares, nunca
em público, pois é preciso manter o manto da hipocrisia, o mito do homem cordial
e a democracia racial, e outras bobagens do gênero.
Nada mais racista do que afirmar que no Brasil não existe racismo.
Nada mais racista do que afirmar que no Brasil não existe racismo.
A Liberdade é Negra
Fecaloma
Vivemos numa democracia racial
A lei diz que o branco é meu igual
A estatística diz que sou a maioria
A ideologia diz que sou a minoria
A mídia diz que no Brasil não há preconceito
Não há luta de classes, tudo é perfeito
Mas a televisão não é meu espelho
A televisão não é meu espelho
O galã da novela não é negro
Mas parece gringa aquela modelo
Na revista de bacana só lourinho na capa
Sorrisos indígnos sem vergonha na Caras
Na política , não sou eu que estou lá
Na universidade não me deixaram entrar
Na rua ou no shopping, seguem meus passos
A polícia espreita tudo que eu faço
E a história esconde que fomos seqüestrados
Por uma elite de brancos civilizados
Que a custa do nosso trabalho enriqueceu
Nos expulsou da festa e a maior fatia do bolo comeu
Negro, negro é lindo mas se tenta ser alguém
Acusam-lhe de racista e não pode ser ninguém
Negro, ponha-se no seu lugar
E o seu lugar é a liberdade, lutar por identidade
Negro, negro é lindo mas se tenta ser alguém
Acusam-lhe de fascista e não pode ser ninguém
Mas você, você tem raça
E eu também, também sou negro
E me chamo, me chamo Liberdade
E ninguém vai descolorir
Porque eu sou livre
Livre! Livre! Livre! Livre!
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