por Odette Carvalho de Lima Seabra
As
mercadorias são objetos úteis portadores de valor de troca. São elas que
fornecem a forma, a linguagem, o espelho da sociedade e não o trabalho social:
o que nos faz alienados da nossa condição real de vida porque encobre o fato de
ser o trabalho a substância de todas as coisas. É impossível compreender o
mundo das mercadorias sem compreender que nesse mundo cada objeto se torna um
signo e que cada signo pode ser desdobrado em signos de segundo grau, tal como
a letra de câmbio, o cheque representando dinheiro.
As
mercadorias cumprem função social na circulação. Elas se movem pela sociedade
tanto na forma relativa como na forma equivalente do valor: o valor de uma
mercadoria se expressa no valor de uso de outra mercadoria que, conectadas e
inseparáveis, se condicionam reciprocamente, são extremos excludentes e
contrapostos, como polos da mesma expressão do valor.
A
forma relativa do valor supõe que outra mercadoria contraponha-se sob a forma
de equivalente. Esta, na forma equivalente, não expressa seu valor, mas
empresta sua objetividade para que seja expressão do valor de outras
mercadorias.
A
posição da mercadoria como forma relativa ou equivalente depende exclusivamente
da posição que ocupa na expressão do valor. A forma equivalente não possui
qualquer determinação quantitativa de valor. Na troca de posições se confirma a
fantasmagoria da mercadoria.
Para
averiguar de que maneira a expressão simples do valor de uma mercadoria encerra
a relação de valor entre duas mercadorias é necessário dar precedência ao seu
aspecto quantitativo operando a redução a uma mesma unidade, tal como é o
trabalho (Aristóteles) socialmente necessário à produção de cada mercadoria. Só
a expressão das mercadorias ilumina o caráter específico do trabalho enquanto
formador de valor. Portanto, o que põe em relevo a natureza do valor de uma
mercadoria é a própria relação com outra mercadoria na condição de equivalente.
Salta à vista que o valor de uso se converte na forma valor.
A
forma geral do valor como gelatina de trabalho mostra em sua estrutura que é
expressão social do mundo da mercadoria e torna visível que, dentro desse
mundo, o caráter abstrato, humano geral do trabalho é especificamente social.
Texto extraído do livro de vários autores "Apontamentos diferenciais: por uma leitura crítica da (re)produção do espaço", Editora Tiragem Livre: São Paulo, 2019.
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