sexta-feira, 1 de novembro de 2024

A Revolução Russa e os Anarquistas


A ânsia de destruir é também o impulso de criar”. Bakunin escreveu estas palavras em 1842, e os anarquistas russos ansiaram sempre por uma revolução social que varresse a ordem czarista e inaugurasse o advento do milênio que seria destituído de Estado. Em fevereiro de 1917, este sonho, há muito acalentado, parecia finalmente tornar-se realidade. Quando a rebelião irrompeu em Petrogrado e reduziu a monarquia a pó, os anarquistas saudaram-na jubilosamente como a sublevação espontânea das massas que Bakunin tinha previsto cerca de setenta e cinco anos antes. A revolução convenceu-os de que a Idade do Ouro havia chegado e que deviam se lançar à tarefa de eliminar o que restava do Estado e transferir as terras e as fábricas para o controle do povo.

Em questão de semanas, foram criadas federações anarquistas em Petrogrado e Moscou, com o objetivo de transformar as capitais irmanadas em comunas igualitárias, tendo por base um modelo idealizado e consagrado pela lenda que os anarquistas faziam da Comuna de Paris de 1871. “Da Revolução Social à Comuna Anarquista” eram suas palavras de ordem – uma revolução destinada a demover o governo e a propriedade, as prisões e os quartéis, o dinheiro e os lucros, para posteriormente inaugurar uma sociedade sem Estado, fundada na cooperação voluntária de indivíduos livres. “Salve a anarquia! Parasitas, governantes e sacerdotes enganadores, tremerão!” [1]

À medida que a revolução ganhava impulso, o movimento espalhava-se rapidamente para outras cidades e vilas. Na maioria dos locais, os grupos anarquistas enquadravam-se em três categorias: anarquistas comunistas, anarcossindicalistas e anarquistas individualistas. Os anarcocomunistas, inspirandos em Bakunin e Kropotkin, imaginaram uma federação livre de comunidades na qual cada membro seria recompensado de acordo com suas necessidades. Projetando o advento do milênio num espelho romântico, que refletia uma Rússia pré-industrial de comunas agrícolas e cooperativas artesanais, eles viam pouca utilidade na indústria de grande escala ou nas organizações laborais burocráticas. Na turbulência que se seguiu à Revolução de Fevereiro, seus militantes confiscaram uma série de residências privadas - as mais importantes foram a dacha de P. P. Durnovo, em Petrogrado, e o antigo Clube dos Mercadores em Moscou (rebatizado de Casa da Anarquia) – para transformá-las em sede de suas comunas igualitárias.

Os anarcossindicalistas, por outro lado, depositaram suas esperanças nos comitês de fábrica como células da futura sociedade libertária. A perspectiva de um novo mundo centrado na produção industrial não os repelia em nada. Na verdade, por vezes exibiam uma devoção quase futurista ao culto da máquina. A admiração deles era a mesma dos ocidentalizadores pelo progresso tecnológico, em contraste com a era irrecuperável que talvez nunca tivesse existido manifesta no anseio eslavófilo dos anarquistas comunistas. No entanto, os sindicalistas não cederam a uma adoração acrítica da produção em massa. Profundamente influenciados por Bakunin e Kropotkin, anteciparam o perigo que a tecnocracia industrial significava ao desenvolvimento de uma sociedade descentralizada em organizações laborais nas quais os trabalhadores pudessem verdadeiramente ser donos do seu próprio destino. Com o seu slogan de “trabalhadores no controle”, os sindicalistas passaram a exercer uma influência nos comitês de fábrica bastante desproporcional ao seu pequeno número. Mas pelo fato de repudiaram um aparelho partidário centralizado dominante, nunca estiveram em posição de liderar a classe trabalhadora em grande escala. No final, coube aos bolcheviques, que estavam equipados não só com uma organização partidária eficaz, mas também com uma vontade consciente de poder que faltava aos sindicalistas, conquistar a lealdade dos trabalhadores industriais nos comitês de fábrica e nos sindicatos.

Os anarquistas individualistas rejeitaram tanto a questão comunal agrário-camponesa quanto a possibilidade de ficarem presos às engrenagens e alavancas de uma máquina industrial centralizada. Suspeitam das comunas dos anarquistas comunistas como das organizações operárias dos sindicalistas. Acreditavam que apenas indivíduos desorganizados estavam a salvo da coerção e da dominação, o que lhes permitiriam permanecer fiéis aos ideais do anarquismo. Seguindo o exemplo de Nietzsche e Max Stirner, exaltavam o “Eu” individual acima das reivindicações coletivas e, em alguns casos, exibiram um estilo distintamente aristocrático de pensamento e ação. O anarco-individualismo atraiu um pequeno séquito de artistas e intelectuais boêmios e, ocasionalmente, bandidos solitários que encontraram expressão para sua exclusão social na violência e no crime, transformando o assassinato em uma forma última de autoafirmação e fuga definitiva do tecido discriminatório da sociedade organizada. Aqui e ali, pelo contrário, grupos tolstoianos pregavam o evangelho da não violência cristã e, embora tivessem poucos laços com os anarquistas revolucionários, o seu impacto moral no movimento foi considerável.

Para todos os grupos anarquistas – anarquistas comunistas, anarcossindicalistas, individualistas – as grandes esperanças despertadas pela Revolução de Fevereiro rapidamente se transformaram em amarga decepção. A monarquia foi derrubada e, ainda assim, o Estado permaneceu de pé. O que aconteceu em fevereiro? perguntou um jornal anarquista em Rostov-on-Don. “Nada de especial. No lugar de Nicolau, o Sanguinário, subiu ao trono Kerensky, um novo Sanguinário” [2]. Os anarquistas não poderiam descansar até que o Governo Provisório, tal como o seu antecessor czarista, fosse também derrubado. Em pouco tempo, encontraram um ponto em comum com os seus adversários ideológicos, os bolcheviques, o outro grupo radical na Rússia que pressionava pela destruição imediata do Estado “burguês”.

A intensa hostilidade sentida pelos anarquistas em relação a Lenin dissipou-se rapidamente à medida que 1917 avançava. Impressionados por uma série de declarações ultrarradicais que Lenin vinha fazendo desde o seu regresso à Rússia, alguns anarquistas passaram a acreditar que o líder bolchevique tinha tirado a sua camisa de força do marxismo e vestido uma nova teoria da revolução, bastante semelhante à dos anarquistas. As Teses de Abril de Lenin, por exemplo, continham uma série de proposições iconoclastas que os pensadores anarquistas há muito acalentavam: a transformação da guerra “imperialista predatória” numa luta revolucionária contra a ordem capitalista; a renúncia ao governo parlamentar em favor de um regime de sovietes inspirado na Comuna de Paris; a abolição da polícia, do exército e da burocracia; o nivelamento dos salários [3]. Embora a preocupação de Lenin com a tomada do poder tenha feito com que alguns hesitassem, não foram poucos os anarquistas que consideraram as suas opiniões suficientemente harmoniosas com as suas, para servirem de base para uma possível cooperação. Quaisquer que fossem as suspeitas que ainda nutriam, foram, por ora, colocadas de lado. O apelo de Lenin por “uma ruptura e uma revolução mil vezes mais poderosa que a de fevereiro” [4] tinha um tom distintamente bakuninista e era precisamente o que a maioria dos anarquistas queria ouvir. Na verdade, um líder anarquista em Petrogrado estava convencido de que Lenin pretendia inaugurar o anarquismo quando propôs “definhar o Estado” no momento em que o controle estatal passasse para as mãos dos revolucionários [5].

Assim aconteceu que, durante os oito meses que separaram as duas revoluções de 1917, tanto anarquistas como bolcheviques concentraram todos os seus esforços sobre o mesmo objetivo: a destruição do governo provisório. Embora persistisse um certo grau de cautela em ambos os lados, um anarquista proeminente observou que na maioria das questões vitais existia “um paralelismo perfeito” entre os dois grupos [6]. Os seus slogans – “Abaixo a guerra! Abaixo o governo provisório! Trabalhadores no controle das fábricas! A terra para os camponeses!” – uniram outrora antagonistas sob um propósito comum. Quando um conferencista marxista disse a uma plateia de trabalhadores fabris em Petrogrado que os anarquistas estavam perturbando a solidariedade do trabalhador russo, um ouvinte irado gritou: “Já chega! Os anarquistas são nossos amigos!” Uma segunda voz, porém, foi ouvida murmurando: “Deus nos salve desses amigos!” [7]

Embora os anarquistas e os bolcheviques estivessem unidos na sua determinação de derrubar o governo provisório, surgiu uma discórdia entre eles quanto à questão do momento certo para isso. Durante a primavera e o verão de 1917, os militantes anarquistas comunistas na capital e em Kronstadt pressionaram por um levante imediato, enquanto o comitê bolchevique de Petrogrado argumentava que o momento ainda não estava maduro, que uma rebelião indisciplinada dos anarquistas e das bases bolcheviques poderia ser facilmente esmagada, causando danos irreparáveis ao partido e à revolução. Os anarcocomunistas, no entanto, não tinham qualquer interesse em contemporizar com qualquer grupo político, incluindo os bolcheviques. Impacientes pelo advento do milênio, avançaram com os seus planos para uma insurreição armada. Os agitadores anarquistas exortaram o povo à revolta sem mais demora, assegurando-lhe que não era necessário nenhum apoio de organizações políticas, “pois a Revolução de Fevereiro também ocorreu sem a liderança de um partido” [8].

Os anarquistas não tiveram que esperar muito. Em 3 de julho, multidões de soldados, marinheiros de Kronstadt e trabalhadores irromperam em uma rebelião aberta na capital, exigindo que o soviete de Petrogrado assumisse o poder (embora os anarquistas entre eles estivessem mais interessados em destruir o Estado do que em transferir as rédeas da autoridade para o soviéticos). O soviete de Petrogrado, contudo, recusou-se a apoiar a insurgência extemporânea e, após alguns dias de distúrbios esporádicos, os desordeiros foram enfim reprimidos. Seria um exagero chamar as Jornadas de Julho de uma “criação anarquista”, como fez um orador numa conferência anarquista em 1918 [9]. Por outro lado, o papel dos anarquistas não deve ser minimizado. Juntamente com os militantes da base bolchevique e os radicais apartidários, agiram como moscas, incitando os soldados, os marinheiros e os trabalhadores a uma revolta de antemão abortada.

Na sequência das Jornadas de Julho, os receios do comitê bolchevique concretizaram-se em parte, pois os líderes do partido foram presos ou forçados a esconder-se. Os bolcheviques, porém, estavam longe de ser esmagados. Na verdade, em outubro eles eram suficientemente fortes para lançar a sua insurreição bem sucedida contra o regime de Kerensky, uma insurreição na qual os anarquistas estavam mais uma vez entre os participantes mais entusiásticos. (Havia pelo menos quatro membros anarquistas do Comitê Militar Revolucionário, dominado pelos bolcheviques, que arquitetou o golpe de Estado de 25 de outubro). Esquecendo-se das pregações de Bakunin e Kropotkin contra os golpes políticos, os anarquistas participaram da tomada de poder, apoiados na crença de que o poder uma vez capturado seria de algum modo eliminado.

Porém, mal se passou um dia, antes que eles pudessem reconsiderar tal ideia. Em 26 de outubro, quando os bolcheviques proclamaram um “governo soviético” e criaram um Conselho Central de Comissários do Povo (Sovnarkom), composto exclusivamente por membros do seu próprio partido, os anarquistas recordaram das advertências de Bakunin e Kropotkin, de que a “ditadura do proletariado” significaria na verdade “a ditadura do partido socialdemocrata” [10]. Imediatamente começaram a protestar, argumentando que um tipo de concentração do poder político como esse destruiria a revolução social iniciada em fevereiro. O sucesso da revolução, insistiram, dependia da descentralização da autoridade política e econômica. Portanto, oss sovietes e os comitês de fábrica deveriam continuar a ser unidades descentralizadas, livres do domínio dos chefes do partido ou dos chamados comissários do povo. Caso contrário, se algum grupo político tentar convertê-los em instrumentos de coerção, o povo deve estar pronto para pegar em armas mais uma vez [11].

Os círculos anarquistas em Petrogrado logo estavam fervilhando de conversas de “uma terceira e última etapa da revolução”, uma luta final entre “o poder socialdemocrata e o espírito criativo das massas, entre os sistemas autoritários e libertários, entre o princípio marxista e o princípio anarquista” [12]. Havia murmúrios ameaçadores entre os marinheiros de Kronstadt no sentido de que, se o novo Sovnarkom ousasse trair a revolução, os canhões que tomaram o Palácio de Inverno também tomariam o Smolny (sede do governo bolchevique). “Onde a autoridade começa, a revolução acaba!” [13]

As queixas dos anarquistas acumularam-se rapidamente. Em 2 de novembro, o novo governo publicou uma Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia, que afirmava o “direito inalienável” de cada nacionalidade de expressar a sua autodeterminação através do estabelecimento de um Estado independente; o que representava um retrocesso em relação ao ideal internacionalista e apátrida. Na primavera de 1918, uma nova polícia política, a Tcheka, foi criada; a terra foi nacionalizada; os comitês de fábrica foram subordinados a uma autoridade; os sindicatos controlados pelo Estado – em suma, um “Estado-comissário” havia sido erguido, “a úlcera do nosso tempo”, como a Associação Anarquista Comunista de Kharkov o descreveu amargamente [14]. De acordo com um panfleto anarquista anônimo desse período, a concentração de autoridade nas mãos do Sovnarkom, da Tcheka e do Vesenkha (Conselho Econômico Supremo) havia cortado toda a esperança de uma Rússia livre: “O bolchevismo, dia após dia, passo a passo, prova que o poder do Estado possui características inalienáveis; pode mudar o seu rótulo, a sua “teoria” e os seus servidores, mas, em essência, apenas permanece o mesmo poder e despotismo sob novas formas” [15].

A Comuna de Paris, outrora invocada como a sociedade ideal para substituir o governo provisório, tornou-se agora a resposta anarquista à ditadura de Lenin. Os trabalhadores industriais foram instruídos a “rejeitar as palavras, ordens e decretos dos comissários” e criar suas próprias comunas libertárias segundo o modelo de 1871 [16]. Ao mesmo tempo, os anarquistas fomentavam igual desprezo pelo “fetichismo parlamentar” dos cadetes, socialistas revolucionários e mencheviques. Não menos simbólico foi o fato de que, em janeiro de 1918, a Assembleia Constituinte foi encerrada em um único dia por um destacamento liderado por um marinheiro anarquista de Kronstadt, Anatolii Zhelezniakov [17].

A torrente de invectivas contra o governo soviético atingiu o auge em fevereiro de 1918, quando os bolcheviques retomaram as negociações de paz com os alemães em Brest-Litovsk. Os anarquistas juntaram-se a outros “internacionalistas” dos SRs de esquerda, internacionalistas mencheviques, comunistas – para protestar contra qualquer acomodação com o “imperialismo” alemão. Os anarquistas responderam que os exércitos profissionais se encontravam obsoletos em qualquer caso, que a defesa da revolução era agora a missão das massas populares organizadas em destacamentos partidários, um líder anarquista-comunista, Aleksandr Ge, pronunciou-se veementemente contra a conclusão do tratado de paz: “Os anarquistas comunistas conclamam o terror e a guerra partidária em duas frentes. É melhor morrer pela revolução socialista mundial do que viver sob a tutela de um acordo com o imperialismo alemão” [18]. Os anarcocomunistas e os seus camaradas sindicalistas argumentavam que bandos de guerrilheiros, organizados espontaneamente nas localidades, iriam perseguir e desmoralizar os invasores, acabando por destruí-los, tal como o exército de Napoleão foi derrocado em 1812. Volin, um líder sindicalista, esboçou esta estratégia em termos vívidos: “A tarefa toda é aguentar, resistir, para não ceder; lutar, para travar uma guerra partidária implacável – aqui, ali e em todo lugar. Avançar ou recuar, para destruir, atormentar, assediar, atacar o inimigo [19].

Mas os apelos dos anarquistas caíram em ouvidos moucos. O tratado de Brest-Litovsk, ainda mais duro do que Ge e Volin temiam, foi assinado pela delegação bolchevique em 3 de março de 1918. Lenin insistiu que o acordo, por mais severo que fosse, proporcionava um período de respiro desesperadamente necessário que permitiria a seu partido a consolidação da revolução e depois levá-la adiante. Para os anarquistas indignados, contudo, o tratado foi uma capitulação humilhante às forças da reação, uma traição à revolução mundial. Foi de fato uma “paz obscena”, disseram eles, ecoando as palavras do próprio Lenin [20]. Quando o Quarto Congresso dos Sovietes se reuniu em 14 de março para ratificar o tratado, Aleksandr Ge e os seus colegas delegados anarquistas (eram 14 no total) votaram com a oposição [21].

A disputa sobre o tratado de Brest-Litovsk trouxe à tona o crescente distanciamento entre anarquistas e o partido bolchevique. Com a derrubada do Governo Provisório em outubro de 1917, o casamento de conveniência atingiu a sua meta. Na primavera de 1918, a maioria dos anarquistas tinha ficado suficientemente desiludida com Lenin para procurar uma ruptura completa, enquanto os bolcheviques, por sua vez, começaram a contemplar a supressão dos seus antigos aliados, que tinham sobrevivido à sua utilidade e cujas críticas incessantes eram um incômodo ao novo regime, que não se podia mais tolerar. Além disso, os anarquistas, para além dos seus irritantes ataques verbais, começavam a apresentar um perigo mais tangível. Em parte, na preparação da antecipada guerra de guerrilha contra os alemães e, em parte, para desencorajar manobras hostis por parte do governo soviético, os clubes anarquistas locais vinham organizando destacamentos de “Guardas Negros” (a bandeira preta era o emblema anarquista), armados com rifles, pistolas e granadas.

Uma ruptura aberta ocorreu em abril de 1918, quando a Tcheka lançou uma campanha para remover as células anarquistas mais perigosas de Moscou e Petrogrado. Em protesto, os anarquistas denunciaram os bolcheviques como uma casta de intelectuais egoístas que traíram as massas e a revolução. O poder político, declararam, sempre corrompe aqueles que o exercem, roubando a liberdade do povo. Mas se a Idade do Ouro estava escapando de seu alcance, os anarquistas recusavam-se a se desesperar. Agarraram-se tenazmente à crença de que, em última análise, a sua visão de uma utopia sem Estado triunfaria. “Continuemos a lutar”, proclamaram, “e o nosso lema será: A Revolução está morta! Viva a Revolução” [22].

Paul Avrich, Os Anarquistas na Revolução Russa. In: Russian Review, Volume 26, Edição 4 (10/1967), 341-350.

Tradução: Jean Fecaloma

Notas

[1] Volnyi Kronshtadt, 12 de outubro de 1917, p. 4.

[2] Anarkhist (Rostov), 22 de outubro de 1917, p. 3.

[3] V. I. Lenin, Sochineniya, 2º final., 31 vols., Moscou, 1931-35, XX, 76-83.

[4] Leninskii sbornik, 35 vols., Moscou, 1924-45, IV, 290.

[5] Bertram D. Wolfe, Introdução a John Reed, Ten Days That Shook the World, Nova York, 1960, p. xxxi.

[6] Voline, La Révolution inconnue (1917-1921), Paris, 1943, p. 185.

[7] Novaya Zhizn, 15 de novembro de 1917, p. 1.

[8] Leon Trotsky, The History of the Russian Revolution (13 vols. in 1). Ann Arbor, 1957, II, 82.

[9] Burevestnik, 11 de abril de 1918, p. 2.

[10] Svobodnaia Kommuna, 2 de outubro de 1917, p. 2.

[11] Golos Truda, 3 de novembro de 1917, p. 1.

[12] Voline, La Révolution inconnue, pp.

[13] Ibid., pág. 200; Golos Truda, 4 de novembro de 1917, p. 1.

[14] Bezolastie, março de 1918, p. 1.

[15] Velikii opyt (np, 1918).

[16] Burevestnik, 9 de abril de 1918, p. 2.

[17] Voline, La Révolution inconnue, p. 211.

[18] Pravda, 25 de fevereiro de 1918, p. 2.

[19] Volin, Revoluutsiya i anarkhizm, Kharkov, 1919, p. 127.

[20] Diktatura Bolchevique v svete anarkhizma, Paris, 1928, p. 10.

[21] Izvestiya VTSIK, 17 de março de 1918, p. 2; Lenin, Sochineniya, XXII, 618.

[22] G. P. Maximoff, The Guillotine at Work, Chicago, 1940, p. 23.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

O grande Outubro da Ucrânia

 Anarquista

Por Nestor Makhno

O mês de Outubro de 1917 é uma grande etapa histórica da Revolução Russa. Esta etapa consiste na tomada de consciência dos trabalhadores - das cidades e do campo - dos seus direitos de controlar as suas próprias vidas e o seu patrimônio social e econômico: o cultivo da terra, as habitações, as fábricas, as minas de carvão, os transportes e, enfim, a instrução, que servia outrora para destituir os nossos antepassados de todos esses bens.

Entretanto, do nosso ponto de vista, dar a Outubro todo o conteúdo da Revolução Russa seria afastar-se muito da realidade. A Revolução Russa foi preparada durante os meses que precederam Outubro, período no qual os camponeses e os operários se apoderaram do mais importante. A Revolução de Fevereiro pôde servir de símbolo para os trabalhadores da sua libertação ulterior do jugo econômico e político aos quais estavam submetidos. Constataram, sem hesitar, que a Revolução de Fevereiro tomou na sua evolução, a forma degenerada de um produto da burguesia liberal e, como tal, foi incapaz de se colocar na via da ação social. Os trabalhadores ultrapassaram imediatamente os limites instaurados pela Revolução de Fevereiro, e puseram-se a romper às claras todos os elos com o seu aspecto pseudorrevolucionário e os seus objetivos.

Esta ação revestiu dois aspectos na Ucrânia: no momento em que o proletariado das cidades, devido à fraca influência exercida sobre ele pelos anarquistas, por um lado, e a falta de informação, por outro, sobre as posições reais e os problemas internos dos partidos, considerava que colocar os bolcheviques no poder era o dever mais importante na luta iniciada para o desenvolvimento da revolução, a fim de substituir a coligação dos socialistas- revolucionários de direita e da burguesia.

Durante esse tempo, no campo, em particular na parte zaporogue da Ucrânia, lá onde a autocracia nunca pôde abolir inteiramente o espírito livre, o campesinato trabalhador revolucionário considerava como o seu dever mais imperativo e importante o fato de empregar a ação revolucionária direta para se libertar o mais rápido possível dos pomestchikis e dos kulaks [1], estimando que esta emancipação facilitaria a vitória contra a coligação político-social-burguesa.

É por isso que os camponeses começaram, na Ucrânia, a sua ofensiva, ao confiscar as armas dos burgueses (a marcha do general Kornilov sobre Petrogrado em muito contribuiu para isto, em Agosto de 1917), recusando pagar, em seguida, a segunda parcela anual de impostos sobre a terra aos proprietários e kulaks.

Essa terra, que os agentes da coligação se esforçavam, com zelo, para retirar das mãos dos camponeses, para conservá-la nas mãos dos proprietários, com o pretexto de que o governo devia observar o status quo até à decisão da Assembleia Constituinte.

Os camponeses puseram-se, então, a expropriar diretamente os pomestchikis, kulaks, dos mosteiros e das terras do Estado, assim como do gado, instituindo, sempre diretamente, comitês locais de gestão desses bens, para a sua repartição entre os diferentes vilarejos e comunas.

Um anarquismo instintivo transparecia em todas as intenções dos camponeses da Ucrânia naquele momento, exprimindo um ódio não dissimulado por toda a autoridade estatal, acompanhada de uma aspiração a dela se libertar. Esta aspiração era muito forte entre os camponeses. Consistia, em substância, em libertar-se das instituições da polícia, do juiz enviado do centro pela burguesia, e assim por diante. Essa aspiração exprimiase, na prática, em muitas regiões da Ucrânia. Há inúmeros exemplos testemunhando de que maneira os camponeses das províncias de Ekaterinoslav, de uma parte de Tavripol e de Kherson, de Poltava e Kharkov expulsaram a polícia dos vilarejos, ou, então, retiraram-lhe o direito de prender, sem antes se dirigir aos comitês de camponeses e às assembleias dos vilarejos; os polícias estavam reduzidos a representar o papel de mensageiros das decisões tomadas... O mesmo ocorria com os juízes.

Os próprios camponeses julgavam todos os delitos, durante as assembleias ou reuniões, privando de todo o direito de jurisdição os juízes enviados pela autoridade central. Os juízes caíam, às vezes, em tal desgraça junto aos camponeses que, amiúde, eram obrigados a fugir e a esconder-se.

Tal comportamento dos camponeses para com os seus direitos individuais e sociais obrigou-os naturalmente a temer que a palavra de ordem “Todo o poder aos sovietes” se transformasse num poder de Estado: estes temores não se manifestavam, talvez, tão claramente no proletariado das cidades, que estava mais sobre influência dos socialdemocratas e dos bolcheviques.

Para os camponeses, o poder dos sovietes locais significava transformar esses órgãos em unidades territoriais autônomas, sobre a base do agrupamento revolucionário e autogestionário socioeconômico dos trabalhadores, na via da construção de uma nova sociedade. Assim compreendendo esta palavra de ordem, os camponeses fizeram-na sua, aplicaram-na, desenvolveram-na e defenderam-na contra os ataques dos socialistas revolucionários de direita, dos cadetes e da contrarrevolução monarquista.

Outubro ainda não havia ocorrido quando os camponeses, em inúmeras regiões, recusaram-se a pagar os impostos de arrendamento aos pomestchikis e aos kulaks, confiscaram-lhes as terras e o gado, em nome das suas coletividades, enviaram, em seguida, delegados ao proletariado das cidades para se entender com ele quanto ao controle das fábricas, empresas, etc., e estabelecer elos fraternos a fim de construírem, juntos, a nova e livre sociedade dos trabalhadores.

Naquele momento, a aplicação prática das ideias do “Grande Outubro” não tinha sido adotada pelos seus inimigos, e era muito criticada nos grupos, organizações, partidos, e seus comitês centrais. Desse modo, o Grande Outubro, na sua designação cronológica oficial, aparece aos camponeses revolucionários da Ucrânia como uma etapa já alcançada.

Durante as Jornadas de Outubro, o proletariado de Petrogrado, Moscou e outras grandes cidades, assim como os soldados e camponeses se avizinhavam destas cidades, sob a influência dos anarquistas, dos bolcheviques e dos socialistas revolucionários de esquerda, regularizaram e expressaram politicamente com maior precisão o motivo que levou os camponeses revolucionários de inúmeras regiões da Ucrânia a lutar ativamente, já a partir do mês de agosto, em condições muito favoráveis do ponto de vista do proletariado urbano.

As repercussões da vontade proletária de Outubro chegaram à Ucrânia com um mês e meio de atraso. Ela manifestou-se, inicialmente, por apelos de delegados e partidos, em seguida, por decretos do Soviete dos Comissários do Povo, em relação aos quais os camponeses ucranianos se conduziram com desconfiança, não tendo participado na sua designação.

Grupos de guardas vermelhos apareceram em seguida, vindos em parte da Rússia, atacando, em todos os lugares, os nós de comunicação e as cidades, para expulsar as tropas contrarrevolucionárias dos cossacos da Rada central ucraniana, tão contaminada pelo chauvinismo que não pôde ver nem compreender com quem e a que se aparentava a população trabalhadora ucraniana, nem o seu espírito revolucionário manifestado no combate pela sua independência social e política.

Ao fazer esta análise do Grande Outubro, no seu 10º aniversário, devemos ressaltar que o que fazíamos na Ucrânia, nos campos, integrou-se perfeitamente, ao fim de dois meses, às ações dos trabalhadores revolucionários de Petrogrado, de Moscou e das outras grandes cidades.

Tanto estimamos a fé revolucionária e o orgulho manifestado pelos camponeses ucranianos antes de Outubro, como celebramos, também, e nos inclinamos diante das ideias, da vontade e da energia manifestadas pelos operários, camponeses e soldados russos durante as Jornadas de Outubro.

É verdade que, ao tratar do passado, não é possível passar ao lado do presente, ligado de um modo ou de outro a Outubro.

Não podemos deixar de exprimir uma profunda dor moral pelo fato de, após dez anos, as ideias que encontraram a sua expressão em Outubro serem achincalhadas por aqueles, que em seu nome, chegaram ao poder e dirigem a partir daí a Rússia.

Nós exprimimos a nossa solidariedade entristecida por todos aqueles que lutaram conosco pelo triunfo de Outubro, e que apodrecem atualmente nas prisões e nos campos de concentração, cujos sofrimentos, sob a tortura e a fome, chegam até nós, e obrigam-nos a sentir, em vez de alegria pelo 10ª aniversário do grande Outubro, uma profunda aflição.

Por dever revolucionário, elevamos mais uma vez a nossa voz para além das fronteiras da URSS: devolvam a liberdade aos filhos de Outubro, devolvam-lhes os seus direitos de se organizar e propagar as suas ideias.

Sem liberdade e sem direitos para os trabalhadores e para os militantes revolucionários, a URSS asfixia-se e mata tudo aquilo que tem de melhor nela. Os seus inimigos alegram-se com isso, e preparam-se em todos os lugares do mundo, com a ajuda de todos os meios possíveis, para esmagar a Revolução e a URSS com ela.

Notas

1 Pomestchikis: grandes proprietários de terras; kulaks: ricos fazendeiros.

2 Rada: Assembleia Constituinte dos deputados na Ucrânia em 1918.

Referência

Texto extraído de Os Anarquistas na Revolução Russa, outubro de 1927. Organizado por Alexandre Skirda. Retirado da Revista Libertárias nº 1, Outubro/Novembro de 1997, São Paulo. Tradução: Plínio A. Coêlho.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

As origens de Ashkenaz, dos judeus asquenazes e do iídiche


Autores: Ranajit Das, Paul Wexler, Mehdi Pirooznia e Eran Elhaik*

Recentemente, as origens geográficas dos judeus asquenazes (AJs) e sua língua nativa, o iídiche, foram investigadas aplicando a Estrutura Geográfica da População (GPS) a uma coorte [1] de AJs multilíngues e de língua exclusivamente iídiche. O GPS localizou a maioria dos AJs ao longo das principais rotas comerciais antigas no nordeste da Turquia, adjacentes a aldeias primitivas com nomes que lembram a palavra “Ashkenaz”. Essas descobertas foram compatíveis com a hipótese de uma origem iraniano-turco-eslava para AJs e uma origem eslava para o iídiche em desacordo com a hipótese da Renânia, que defende uma origem levantina para os AJs e origens alemãs para o iídiche. Discutiremos como essas descobertas promovem três debates em andamento sobre: (1) o significado histórico do termo “Ashkenaz”; (2) a estrutura genética dos AJs e suas origens geográficas, conforme inferidas a partir de vários estudos que empregam DNA moderno e antigo e análises originais de DNA antigo; e (3) o desenvolvimento do iídiche. Fornecemos validação adicional para a origem não levantina dos AJs usando DNA antigo do Oriente Próximo e do Levante. Devido à crescente popularidade das ferramentas de geolocalização para resolver questões de origem, discutiremos brevemente as vantagens e limitações das ferramentas populares com foco na abordagem GPS. Nossos resultados reforçam as origens não levantinas dos AJs.

Contexto

A origem geográfica dos “Ashkenaz” bíblicos, dos judeus asquenazes (AJs) e do iídiche estão entre as questões mais antigas da história, da genética e da linguística.

As incertezas sobre o significado de “Ashkenaz” surgiram no século XI, quando o termo mudou de uma designação dos citas iranianos para se tornar o de eslavos e alemães e, finalmente, de judeus “alemães” (ashkenazic) nos séculos XI ao XIII (Wexler, 1993). A primeira discussão conhecida sobre a origem dos judeus alemães e do iídiche surgiu nos escritos do gramático hebraico Elia Baxur, na primeira metade do século XVI (Wexler, 1993).

Está bem estabelecido que a história também se reflete no DNA através das relações entre genética, geografia e linguagem (por exemplo, Cavalli-Sforza, 1997; Weinreich, 2008). Max Weinreich, o decano do campo da linguística iídiche moderna, já enfatizou e avidência de que a história do iídiche reflete a história dos seus falantes. Essas relações levaram Das et al. (2016) a abordar a questão da origem iídiche analisando os genomas de AJs de língua iídiche, AJs multilíngues e judeus sefarditas, utilizando-se da Estrutura Geográfica da População (GPS), que localiza os genomas que experimentaram o último grande evento de mistura. O GPS rastreou quase todos os AJs até as principais rotas comerciais antigas no nordeste da Turquia, adjacentes a quatro aldeias primitivas cujos nomes se assemelham a “Ashkenaz”, a saber: İşkenaz (ou Eşkenaz), Eşkenez (ou Eşkens), Aşhanas e Aschuz. Avaliados à luz das hipóteses da Renânia e do Irão-Turco-Eslavo (Das et al., 2016, Tabela 1), os resultados apoiaram esta última, implicando que o iídiche foi criado por comerciantes judeus eslavos-iranianos que operavam nas Rotas da Seda. Discutiremos essas descobertas a partir de perspectivas históricas, genéticas e linguísticas e calculamos a semelhança genética de AJs e populações do Oriente Médio com genomas antigos da Anatólia, do Irã e do Levante. Por último, revisamos brevemente as vantagens e limitações das ferramentas de biolocalização e sua aplicação na pesquisa genética.

O significado histórico de Ashkenaz

“Ashkenaz” é um dos topônimos bíblicos mais controversos. Aparece na Bíblia Hebraica como o nome de um dos descendentes de Noé (Gênesis 10:3) e como uma referência ao reino de Ashkenaz, profetizado para ser convocado junto com Ararate e Minnai para travar guerra contra a Babilônia (Jeremias 51:27) . Além de rastrear AJs até as antigas terras iranianas de Ashkenaz e descobrir as aldeias cujos nomes podem derivar de “Ashkenaz”, a origem parcial iraniana de AJs, inferida por Das et al. (2016), foi ainda apoiada pela semelhança genética dos AJs com os judeus sefarditas da montanha e os judeus iranianos, bem como a sua semelhança com as populações do Oriente Próximo e as populações “nativas” da Turquia e do Cáucaso.

Há boas razões, portanto, para inferir que os judeus que se consideravam Ashkenazic adotaram este nome e falavam das suas terras como Ashkenaz, uma vez que se consideravam de origem iraniana. O fato de encontrarmos evidências variadas do conhecimento da língua iraniana entre judeus e caraítas marroquinos e andaluzes antes do século XI é um ponto de referência convincente para avaliar as origens iranianas compartilhadas pelos judeus sefarditas e asquenazes (Wexler, 1996). Além disso, os judeus de língua iraniana no Cáucaso (os chamados Juhuris) e os judeus de língua turca na Crimeia, antes da Segunda Guerra Mundial, autodenominavam-se “Ashkenazim” (Weinreich, 2008).

A hipótese da Renânia não pode explicar por que um nome se referia aos “citas” [2] e estava associado ao Oriente Próximo tornou-se correlacionado a terras alemãs entre os séculos XI e XIII (Wexler, 1993). Aptroot (2016) sugeriu que os imigrantes judeus na Europa transferiram nomes bíblicos para as regiões em que se estabeleceram. Isto não é convincente. Os nomes bíblicos eram usados como nomes de lugares apenas quando tinham sons semelhantes. Não apenas a Alemanha não compartilha de sons semelhantes a Ashkenaz como já era denominada “Germaina” ou “Germamja”, no Talmud iraniano (“babilônico”) (concluído no século V d.C.), e, não menos surpreendente, referia-se a Gomer, neto de Noé (Talmud, Yoma 10a). A adoção de nomes também ocorreu quando havia dúvida das denominações exatas dos lugares, como no caso de Sefarad (Espanha). Mas não é o caso aqui, como também observa o Aptroot, uma vez que “Ashkenaz” possuía uma afiliação geográfica conhecida e clara (Tabela 1). Finalmente, a Alemanha era conhecida por estudiosos franceses, como RaDaK (1160–1235), por “Almania” (Sp. Alemania, Fr. Allemagne) em homenagem às tribos Almani, um termo que também foi adotado por estudiosos árabes. Se o estudioso francês Rashi (1040?-1105) tivesse interpretado aškenaz como “Alemanha”, isso teria sido conhecido por RaDaK, que usava a simbologia de Rashi. Portanto, a proposta de Wexler de que Rashi usasse aškenaz no significado de “eslavo” e que o termo aškenaz assumiu um significado isolado nas “terras alemãs” somente após o século XI na Europa Ocidental, como resultado da ascensão do iídiche, é mais razoável (Wexler , 2011). Isto também é apoiado pelas principais descobertas de Das et al. A respeito das únicas aldeias primitivas conhecidas cujos nomes derivam da palavra “Ashkenaz” localizadas nas antigas terras de Ashkenaz. Nossa inferência é, portanto, apoiada em evidências históricas, linguísticas e genéticas, legitimada por uma causa simples que pode ser facilmente explicada, em oposição a um cenário complexo que envolve múltiplas extrapolações para se justificar.

A estrutura genética dos judeus asquenazes

Os AJs foram localizados na Turquia moderna e considerados geneticamente mais próximos das populações turcas, do sul do Cáucaso e iranianas, sugerindo uma origem comum nas terras “Ashkenaz” iranianas (Das et al., 2016). Tais descobertas são mais compatíveis com uma origem irano-turco-eslava para AJs e uma origem eslava para o iídiche do que com a hipótese da Renânia, que carece de suporte histórico, genético e linguístico (Tabela 1) (van Straten, 2004; Elhaik, 2013). Ademais, destacam os fortes laços socioculturais e genéticos do judaísmo Ashkenazic e iraniano e as suas origens iranianas partilhadas (Das et al., 2016).

Até agora, todas as análises destinadas para a geolocalização (Behar et al., 2013, Figura 2B; Elhaik, 2013, Figura 4; Das et al., 2016, Figura 4) identificaram a Turquia como a origem predominante dos AJs, em que pese o uso de abordagens e conjuntos de dados diferentes em apoio à hipótese iraniano-turco-eslava (Figura 1A, Tabela 1). A existência de ancestrais importantes do sul da Europa e do Oriente Próximo nos genomas de AJ também são fortes indicadores da hipótese irano-turco-eslava fornecida pela história greco-romana da região ao sul do Mar Negro. (Baron, 1937; Kraemer, 2010). Recentemente, Xue et al. (2017) aplicaram o GLOBETROTTER a um conjunto de dados de 2.540 AJs genotipados em 252.358 SNPs. O perfil de ancestralidade inferido para AJs foi de 5% da Europa Ocidental, 10% da Europa Oriental, 30% do Levante e 55% do Sul da Europa (uma ancestralidade do Oriente Próximo não foi considerada pelos autores). Elhaik (2013) retratou um perfil semelhante para os judeus europeus, consistindo em 25-30% de ancestrais do Oriente Médio, grande Oriente Próximo-Cáucaso (32-38%) e da Europa Ocidental (30%). Notavelmente, Xue et al. (2017) também inferiu um “tempo de mistura” de 960–1.416 DC (≈24–40 gerações atrás), que corresponde à época em que os AJs experimentaram grandes mudanças geográficas à medida que o reino Khazar judaizado diminuía e suas redes comerciais entravam em colapso, forçando-os a se mudarem para Europa (Das et al., 2016). O limite inferior dessa data corresponde à época em que o iídiche eslavo se originou, até onde sabemos.

A origem não levantina dos AJs é ainda apoiada por uma antiga análise de DNA de seis natufianos e um neolítico levantino (Lazaridis et al., 2016), alguns dos mais prováveis progenitores judeus (Finkelstein e Silberman, 2002; Frendo, 2004). Numa análise de componentes principais (PCA), os antigos levantinos agruparam-se predominantemente com os palestinos e beduínos modernos e marginalmente sobrepuseram-se aos judeus árabes, enquanto os AJs agruparam-se longe dos indivíduos levantinos e adjacentes e próximos dos neolíticos da Anatólia e europeus do Neolítico Final e da Idade do Bronze. Para avaliar essas descobertas, inferimos os antigos ancestrais dos AJs usando a análise de mistura descrita em Marshall et al. (2016). Resumidamente, analisamos 18.757 SNPs autossômicos genotipados em 46 palestinos, 45 beduínos, 16 sírios e oito libaneses (Li et al., 2008) ao lado de 467 AJs [367 AJs analisados anteriormente e 100 indivíduos com mãe AJ) (Das et al., 2016) que se sobrepuseram tanto ao GenoChip (Elhaik et al., 2013) quanto aos dados de DNA antigo (Lazaridis et al., 2016). Em seguida, realizamos uma análise supervisionada de ADMIXTURE (Alexander e Lange, 2011) usando três caçadores coletores do Leste Europeu da Rússia (EHGs) ao lado de seis levantinos epipaleolíticos, 24 anatólios neolíticos e seis iranianos neolíticos como populações de referência (Tabela S0). Notavelmente, os AJs exibem um iraniano dominante (88%) e levantino residual (3%) ancestrais, em oposição aos beduínos (14% e 68%, respectivamente) e palestinos (18% e 58%, respectivamente). Apenas dois AJs exibem ancestrais levantinos típicos das populações levantinas (Figura 1B). Repetindo a análise com qpAdm (AdmixTools, versão 4.1) (Patterson et al., 2012), descobrimos que a mistura de AJs poderia ser modelada usando três (anatólios neolíticos [46%], iranianos neolíticos [32%] e EHGs [ 22%]) ou ondas de migração bidirecionais (iranianos neolíticos [71%] e EHGs [29%]) (Texto Suplementar). Essas descobertas deveriam ser reavaliadas quando o DNA medieval estiver disponível. No geral, os resultados combinados estão em forte concordância com as previsões da hipótese irano-turco-eslava (Tabela 1) e descartam uma antiga origem levantina para AJs, que é predominante entre as populações levantinas modernas (por exemplo, beduínos e palestinos). Isto não é surpreendente, uma vez que os judeus diferiam em práticas e normas culturais (Sand, 2011) e tendiam a adotar costumes locais (Falk, 2006). Muito pouca cultura judaica palestina sobreviveu fora da Palestina (Sand, 2009). Por exemplo, o folclore e os costumes dos judeus no norte da Europa são distintamente de origem alemã pré-cristã (Patai, 1983) e eslava, que desapareceu entre estes últimos (Wexler, 1993, 2012).

O debate linguístico sobre a formação do iídiche

A hipótese de que o iídiche tem origem alemã ignora a mecânica da relexificação, o processo linguístico que produziu o iídiche e outras línguas “judaicas antigas” (ou seja, aquelas criadas entre os séculos IX e X). Compreender como funciona a relexificação é essencial para compreender a evolução das línguas. Este argumento tem um contexto semelhante ao da evolução do voo motorizado. Rejeitar a teoria da evolução pode levar à conclusão de que as aves e os morcegos são parentes próximos. Ao desconsiderar a literatura sobre a relexificação e a história judaica no início da Idade Média, os autores (por exemplo, Aptroot, 2016; Flegontov et al., 2016) chegam a conclusões que têm fraco apoio histórico. A vantagem de uma análise de geolocalização é que nos permite inferir a origem geográfica dos falantes de iídiche, onde residiam e com quem se misturavam, independentemente de controvérsias históricas, o que fornece uma visão baseada em dados sobre a questão das origens geográficas. Isto permite uma revisão objetiva das potenciais influências linguísticas no iídiche (Tabela 1), o que expõe os perigos da adoção de uma visão de “criacionismo linguístico” na linguística.

A evidência histórica a favor de uma origem iraniano-turco-eslava para o iídiche é fundamental (por exemplo, Wexler, 1993, 2010). Os judeus desempenharam um papel importante nas Rotas da Seda do século IX ao XI. Em meados do século IX, aproximadamente nos mesmos anos, os comerciantes judeus em Mainz e em Xi'an receberam privilégios comerciais especiais do Sacro Império Romano e da corte da dinastia Tang (Robert, 2014). Estas estradas ligavam Xi'an a Mainz à Andaluzia, e posteriormente à África Subsaariana através da Península Arábica e da Índia-Paquistão. As Rotas da Seda forneceram a motivação para a colonização judaica na Afro-Eurásia nos séculos IX ao XI, uma vez que os judeus desempenharam um papel dominante nestas rotas como uma guilda comercial neutra, sem agendas políticas (Gil, 1974; Cansdale, 1996, 1998). Assim, os comerciantes judeus tiveram contacto com uma riqueza de línguas nas áreas que atravessaram (Hadj-Sadok, 1949; Khordadhbeh, 1889; Hansen, 2012; Wexler TBD) que trouxeram para as suas comunidades aninhadas em grandes centros comerciais (Rabinowitz, 1945, 1948). As Rotas da Seda Eurasiáticas centrais eram controladas pelos governos iranianos, o que proporcionava oportunidades aos judeus de língua iraniana, que constituíam a esmagadora maioria dos judeus do mundo desde a época de Cristo até ao século XI (Baron, 1952). Não deveria ser uma surpresa descobrir que o iídiche (e outras línguas judaicas antigas) contém componentes e regras de uma grande variedade de línguas, todas faladas nas Rotas da Seda (Khordadhbeh, 1889; Wexler, 2011, 2012, 2017) .

Além dos contactos linguísticos, as Rotas da Seda também forneceram a motivação para a conversão generalizada ao Judaísmo por parte de populações ansiosas por participar do comércio extremamente lucrativo, que se tinha tornado um quase monopólio judaico ao longo das rotas comerciais (Rabinowitz, 1945, 1948; Baron, 1957). Estas conversões são discutidas na literatura judaica entre os séculos VI e XI, tanto na Europa como no Iraque (Sand, 2009; Kraemer, 2010). O iídiche e outras línguas judaicas antigas foram todas criadas pelos comerciantes peripatéticos como línguas secretas que os isolariam de seus clientes e parceiros comerciais não-judeus (Hadj-Sadok, 1949; Gil, 1974; Khordadhbeh, 1889; Cansdale, 1998; Robert, 2014). O estudo da gênese do iídiche, portanto, necessita do estudo de todas as línguas judaicas antigas deste período.

Há também uma quantidade quantificável de elementos iranianos e turcos no iídiche. O Talmud Babilônico, concluído no século VI d.C., é rico em influências linguísticas, legalistas e religiosas iranianas. Do Talmud, um grande vocabulário iraniano entrou no hebraico e no judaico-aramaico, e de lá se espalhou para o iídiche. Este corpus é conhecido desde a década de 1930 e é de conhecimento comum aos estudiosos do Talmud (Telegdi, 1933). No Império Khazar, os judeus eurasianos, que navegavam nas Rotas da Seda, tornaram-se falantes do eslavo - uma língua importante devido às atividades comerciais dos Rus' (pré-ucranianos), com os quais os judeus eram, sem dúvida, aliados nas rotas que ligavam Bagdá e a Baviera. Isto é evidente pela existência do hebroidismo recentemente inventado, inspirado nos padrões eslavos de discurso em iídiche (Wexler, 2010).

Defendemos a perspectiva de uma compreensão mais evolutiva na linguística. Isso inclui dar mais atenção ao processo linguístico que altera as línguas (por exemplo, relexificação) e obter mais competência em outras línguas históricas. Ao estudar a origem dos judeus asquenazes e do iídiche, esse conhecimento deve incluir a história das Rotas da Seda e das línguas irano-turcas.

Inferência de Origens Geográficas

Decifrar a origem das populações humanas não é um desafio novo para os geneticistas, mas apenas na última década foram aproveitados dados genéticos de alto rendimento para responder a estas questões. Aqui, discutimos brevemente as diferenças entre as ferramentas disponíveis baseadas na identidade por distância. As abordagens existentes de PCA ou semelhantes a PCA (por exemplo, Novembre et al., 2008; Yang et al., 2012) podem localizar os europeus em países (entendidos como o último local onde ocorreu um grande evento de mistura ou o local onde os quatro ancestrais vieram de indivíduos “não misturados”) com menos de 50% de precisão (Yang et al., 2012). As limitações do PCA (discutidas em Novembre e Stephens, 2008) parecem ser inerentes à estrutura onde as populações continentais plotadas ao longo dos dois PCs primários se agrupam nos vértices de uma forma semelhante a um triângulo e as populações restantes se agrupam ao longo ou dentro das bordas (por exemplo, Elhaik et al., 2013). Há, portanto, razões para questionar a aplicabilidade de métodos ambiciosos baseados em PCA (Yang et al., 2012, 2014) com o objetivo de inferir múltiplas localizações ancestrais fora da Europa. No geral, a localização precisa de indivíduos em todo o mundo continua a ser um desafio significativo (Elhaik et al., 2014).

A estrutura do GPS assume que os humanos são mistos e que a sua variação genética (mistura) pode ser modelada pela proporção de genótipos atribuídos a qualquer número de populações ancestrais supostas regionais fixas (Elhaik et al., 2014). O GPS emprega uma análise supervisionada de ADMISTURA onde os componentes da mistura são fixados, o que permite avaliar tanto os indivíduos de teste quanto as populações de referência em relação às mesmas populações ancestrais putativas. O GPS infere as coordenadas geográficas de um indivíduo combinando suas proporções de mistura com as das populações de referência. Populações de referência são populações conhecidas por residirem em uma determinada região geográfica por um período substancial de tempo em um período de centenas a mil anos e podem ser previstas para suas localizações geográficas enquanto estiverem ausentes do painel populacional de referência (Das et al., 2016). ). A localização geográfica final de um indivíduo de teste é determinada convertendo a distância genética do indivíduo para m populações de referência em distâncias geográficas (Elhaik et al., 2014). Intuitivamente, as populações de referência podem ser pensadas como “puxando” o indivíduo em sua direção com uma força proporcional à sua similaridade genética até que um consenso seja alcançado (Figura S1). A interpretação dos resultados, especialmente quando a localização prevista difere da localização contemporânea da população estudada, exige cautela.

A estrutura populacional é afetada por processos biológicos e demográficos como a deriva genética, que pode atuar rapidamente em populações pequenas e relativamente isoladas, em oposição a grandes populações não isoladas, e a migração que ocorre com mais frequência (Jobling et al., 2013). Compreender as relações geografia-mistura exige saber como o isolamento relativo e a história da migração afetaram as frequências alélicas das populações. Infelizmente, muitas vezes faltam informações sobre ambos os processos. O GPS aborda este problema analisando as proporções relativas de mistura numa rede global de populações de referência que nos fornecem diferentes “instantâneos” de eventos históricos de mistura. Estes eventos de mistura globais ocorreram em momentos diferentes através de diversos processos biológicos e demográficos, e o seu efeito duradouro está relacionado com a nossa capacidade de associar um indivíduo ao seu evento de mistura correspondente.

Em populações relativamente isoladas, o evento de mistura é provavelmente antigo, e o GPS localizaria um indivíduo de teste com a sua população parental com mais precisão. Por outro lado, se o evento de mistura fosse recente e a população não mantivesse relativo isolamento, a previsão do GPS seria errônea (Figura S2). Este é o caso das populações caribenhas, cujas proporções de mistura ainda refletem os enormes eventos de miscigenação dos séculos XIX e XX, envolvendo nativos americanos, europeus ocidentais e africanos (Elhaik et al., 2014). Embora o nível original de isolamento permaneça desconhecido, estes dois cenários podem ser distinguidos comparando as proporções de mistura do indivíduo testado e das populações adjacentes. Se esta similaridade for alta, podemos concluir que inferimos a provável localização do evento de mistura que moldou a proporção de miscigenação do indivíduo testado. Se o oposto for verdadeiro, o indivíduo ou é misto e, portanto, viola os pressupostos do modelo GPS ou as populações parentais não existem nem no painel de referência do GPS nem na realidade. Na maioria das vezes (83%) o GPS previu indivíduos não misturados para suas verdadeiras localizações, com a maioria dos indivíduos restantes previstos para países vizinhos (Elhaik et al., 2014).

Para compreender como a migração modifica as proporções de mistura das populações migratórias e hospedeiras, podemos considerar dois casos simples de migração pontual ou massiva seguida de assimilação e um terceiro caso de migração seguida de isolamento. Os eventos de migração pontual têm pouco efeito nas proporções de mistura da população anfitriã, especialmente quando absorve uma escassez de migrantes, caso em que as proporções de mistura dos migrantes se assemelhariam às da população anfitriã dentro de algumas gerações e seu local de descanso representaria o da população anfitriã. Os movimentos demográficos massivos, tais como invasões ou migrações em grande escala, que afetam uma grande parte da população, são raros e criam mudanças temporais nas proporções de mistura da população hospedeira. A população hospedeira apareceria temporariamente como uma população mista bidirecional, refletindo os componentes das populações hospedeira e invasora (por exemplo, europeus e nativos americanos, no caso dos porto-riquenhos), até que as proporções miscigenadas homogeneizassem toda a população. Se este processo for concluído, a assinatura de mistura desta região pode ser alterada e a localização geográfica da população hospedeira representaria novamente o último local onde o evento de mistura ocorreu tanto para as populações hospedeiras como para as invasoras. O GPS iria, assim, prever a localização da população hospedeira para ambas as populações. Prevê-se que as populações que migram de A para B e mantêm o isolamento genético apontarão A na análise populacional deixada de fora. Embora as migrações humanas não sejam incomuns, manter um isolamento genético perfeito durante um longo período de tempo é muito difícil (por exemplo, Veeramah et al., 2011; Behar et al., 2012; Elhaik, 2016; Hellenthal et al., 2016), e as previsões GPS para a grande maioria das populações mundiais indicam que estes casos são de fato excepcionais (Elhaik et al., 2014). Apesar das suas vantagens, o GPS tem diversas limitações. Primeiro, produz as previsões mais precisas para indivíduos não misturados. Em segundo lugar, a utilização de populações migratórias ou altamente mistas (ambas são detectáveis através da análise populacional deixada de fora), como populações de referência, pode distorcer as previsões. São necessários mais desenvolvimentos para superar estas limitações e tornar o GPS aplicável a grupos populacionais mistos (por exemplo, afro-americanos).

Conclusão

O significado do termo “Ashkenaz” e as origens geográficas dos AJs e do iídiche são algumas das questões mais antigas da história, genética e linguística. No nosso trabalho anterior, identificamos a “antiga Ashkenaz”, uma região no nordeste da Turquia que alberga quatro aldeias primitivas cujos nomes se assemelham a Ashkenaz. Aqui, elaboramos o significado deste termo e argumentamos que ele adquiriu o seu significado moderno somente depois que uma massa crítica de judeus asquenazes chegou à Alemanha. Mostramos que todas as análises de biolocalização situaram AJs na Turquia e que as origens não-levantinas dos AJs são apoiadas por análises de genoma antigo. No geral, estas descobertas são compatíveis com a hipótese de uma origem irano-turco-eslava para os AJs e uma origem eslava para o iídiche e contradizem as previsões da hipótese da Renânia, que carece de apoio histórico, genético e linguístico (Tabela 1).

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Figura 1. A localização dos AJs e suas antigas proporções de mistura em comparação com as populações vizinhas. (A) Previsões geográficas de indivíduos analisados em três estudos separados empregando ferramentas diferentes: Elhaik (2013, Figura 4) (azul), Behar et al. (2013, Figura 2B) (vermelho) e Das et al. (2016, Figura 4) (verde escuro para AJs que têm quatro avós AJ e verde claro para os demais). A média de correspondência de cores e o desvio padrão (barras) da longitude e latitude são mostrados para cada coorte. Como não tivemos sucesso na obtenção dos dados de Behar et al. (2013, Figura 2B), do autor correspondente, obtivemos 78% dos pontos de dados de sua figura. Devido à baixa qualidade dos seus números, não conseguimos extrair de forma confiável os restantes pontos de dados. (B) resultados de ADMISTURA supervisionada. Para resumir, as subpopulações foram reduzidas. O eixo x representa indivíduos. Cada indivíduo é representado por uma coluna vertical empilhada de proporções de mistura codificadas por cores que refletem as contribuições genéticas de antigos caçadores-coletores, da Anatólia, do Levante e do Irã.

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Tabela 1. Principais questões em aberto sobre a origem do termo “Ashkenaz”, AJs e iídiche conforme explicado por duas hipóteses concorrentes:

Questões em aberto

Hipótese da Renânia

Termo “Ashkenaz”

Originalmente associado às pessoas que viviam ao norte da Israel bíblica (Aptroot, 2016) ou ao norte do Mar Negro (Wexler, 1991). Usado em fontes hebraicas e iídiches a partir do século XI, para se referir a uma região ao que hoje é aproximadamente o sul da Alemanha (Wexler, 1991; Aptroot, 2016).

A origem ancestral dos judeus asquenazes

Judeus que viveram na Judéia até 70 d.C. foram exilados pelos romanos (King, 2001) e permaneceram em relativo isolamento das comunidades não-judaicas vizinhas durante e após a diáspora (Hammer et al., 2000; Ostrer, 2001). Este cenário não tem suporte histórico (Sand, 2009) nem genético (Figura 1B) (por exemplo, Elhaik, 2013, 2016; Xue et al., 2017).

A chegada dos judeus às terras alemãs

Após a chegada dos judeus palestinos às terras romanas, mercadores e soldados judeus chegaram às terras alemãs com o exército romano e ali se estabeleceram (King, 2001). Este cenário não tem suporte histórico (Wexler, 1993; Sand, 2009).

O surgimento do iídiche no século IX

Entre o século IX e X, imigrantes judeus de língua francesa e italiana adotaram e adaptaram os dialetos alemães locais (Weinreich, 2008).

Crescimento dos Judeus da Europa Oriental

Um pequeno grupo de judeus alemães migrou para a Europa Oriental e multiplicou-se através de um chamado “milagre demográfico” (Ben-Sasson, 1976; Atzmon et al., 2010; Ostrer, 2012), que resultou numa taxa de crescimento não natural (1,7- 2% anualmente) (van Straten e Snel, 2006; van Straten, 2007), ao longo de meio milênio, incidindo apenas em judeus residentes na Europa Oriental. Esta explicação não é comprovada pelos dados.

Hipótese Irã-Turco-Eslava

Termo “Ashkenaz”

Refere-se a um povo iraniano “próximo da Armênia”, presumivelmente os citas, conhecidos como aškuza, ašguza ou išguza nas inscrições assírias do início do século VII a.C. (Wexler, 2012, 2016).

A origem ancestral dos judeus asquenazes

Uma minoria de emigrantes judeus compôs-se a uma maioria de iraniano-turco-eslavos que se convertem ao judaísmo (Wexler, 2012).

A chegada dos judeus às terras alemãs

Judeus do Império Khazar e do antigo Império Iraniano que trabalhavam nas antigas rotas comerciais romanas (Rabinowitz, 1945, 1948) e nas Rotas da Seda começaram a se estabelecer nas terras mistas germano-sórbias [3] durante o primeiro milênio (Sand, 2009; Wexler, 2011).

O surgimento do iídiche no século IX

Ao chegarem às terras alemãs, os eslavos ocidentais e orientais passaram por uma relexificação para o alemão, criando o que ficou conhecido como iídiche (Wexler, 2012).

Crescimento dos Judeus da Europa Oriental

Durante o meio milênio (740-1.250 dC), as terras Khazar e iranianas abrigaram os maiores centros judaicos da Eurásia. Judeus Ashkenazic, Khazar e iranianos migraram suas ramificações para as terras eslavas (Baron, 1957; Sand, 2009).

Evidências a favor da hipótese Irã-Turco-Eslava

Termo “Ashkenaz”

A análise GPS descobriu quatro aldeias primitivas no nordeste da Turquia cujos nomes se assemelham a “Ashkenaz”, pelo menos uma das quais é anterior a qualquer grande colonização judaica na Alemanha (Das et al., 2016). “Ashkenaz” é, portanto, um nome de lugar associado ao Oriente Próximo e aos seus habitantes, tanto judeus como não-judeus. AJs exibem alta similaridade genética com populações que vivem na Turquia e no Cáucaso (Das et al., 2016). Todas as análises de biolocalização previram AJs para a Turquia (Figura 1A). Análises de DNA antigas fornecem fortes evidências da ancestralidade neolítica iraniana de AJs (Figura 1B) (Lazaridis et al., 2016).

A origem ancestral dos judeus asquenazes

Os judeus asquenazes foram previstos como um centro de antigas rotas comerciais do Oriente Próximo que ligavam a Europa, a Ásia e o norte do Cáucaso (Das et al., 2016). As conclusões implicam que a migração para a Europa ocorreu inicialmente através de rotas comerciais que iam para o oeste e mais tarde através de terras Khazar.

A chegada dos judeus às terras alemãs

O “tempo de mistura” inferido por Xue et al. (2017) de 960-1.416 DC corresponde a um período de tempo durante o qual AJ passou por grandes mudanças demográficas. Naquela época, especulava-se que os AJs teriam absorvido o povo eslavo, desenvolvido o iídiche eslavo e intensificado a migração para a Europa (Das et al., 2016).

Crescimento dos Judeus da Europa Oriental

A maioria dos judeus asquenazes foram previstos para o nordeste da Turquia e os indivíduos restantes agruparam-se ao longo de um gradiente que vai da Turquia às terras da Europa Oriental (Das et al., 2016). Isto está de acordo com as conversões registradas de populações que vivem ao longo da costa sul do Mar Negro ao Judaísmo (Baron, 1937). A origem alemã dos AJs não é apoiada pelos dados (Figura 1A).

(A evidência genética produzida por Das et al. (2016) é mostrada no último bloco). [4]

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Contribuições do autor

Eran Elhaik concebeu o artigo. Mehdi Pirooznia processou os antigos dados de DNA. Ranajit Das e Eran Elhaik realizaram as análises. Eran Elhaik co-escreveu com Paul Wexler e Ranajit Das. Todos os autores aprovaram o artigo.

Declaração de conflito de interesse

Eran Elhaik é consultor do Centro de Diagnóstico de DNA. Os demais autores declaram que a pesquisa foi realizada na ausência de quaisquer relações comerciais ou financeiras que pudessem ser interpretadas como potencial conflito de interesses.

O revisor Pavel Flegontov declarou coautoria anterior com um dos autores ao Editor responsável, que garantiu que o processo, no entanto, atendesse aos padrões de uma revisão justa e objetiva.

Agradecimentos

Eran Elhaik foi parcialmente apoiado pelo prêmio Royal Society International Exchanges para Eran Elhaik e Michael Neely (IE140020), prêmio MRC Confidence in Concept Scheme, 2014, University of Sheffield para Eran Elhaik (Ref: MC_PC_14115) e uma concessão da National Science Foundation DEB-1456634 para Tatiana Tatarinova e E. E. Agradecemos aos muitos participantes por doarem suas sequências de DNA para estudos científicos e ao banco de dados do The Genographic Project por nos fornecer seus dados.

Material suplementar

O Material Suplementar deste artigo pode ser encontrado online AQUI.

Referências

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Palavras chave: iídiche, Judeus asquenazes, Ashkenaz, estrutura geográfica da população (GPS), Arqueogenética, Hipótese Renânia, DNA antigo

Como citar: Das, R., Wexler, P., Pirooznia, M. e Elhaik, E. (2017), As origens de Ashkenaz, judeus asquenazes e o iídiche. Front. Genet. 8:87. doi: 10.3389/fgene.2017.00087

Recebido: 2 outubro de 2016.

Aceite: 7 de junho de 2017.

Publicado: 21 junho de 2017.

Editado por: Stéphane Joost, Escola Politécnica Federal de Lausanne, Suíça.

Revisado por: Pavel Flegontov, Universidade de Ostrava, República Tcheca; Lounès Chikhi, Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), França; Erika Hagelberg, Universidade de Oslo, Noruega.

Copyright © 2017 Das, Wexler, Pirooznia e Elhaik. Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da Licença Creative Commons Attribution (CC BY). O uso, distribuição ou reprodução em outros fóruns é permitido, desde que o(s) autor(es) original(ais) ou licenciantes sejam creditados e que a publicação original nesta revista seja citada, de acordo com a prática acadêmica aceita. Não é permitido uso, distribuição ou reprodução que não esteja em conformidade com estes termos.

Fonte: Frontiers / Frontiers in Genetics

*Correspondência: Eran Elhaik, e.elhaik@sheffield.ac.uk

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Notas da Tradução

[1] Em Estatística, coorte é um conjunto de pessoas que têm em comum um evento que se deu no mesmo período; exemplo: coorte de pessoas que nasceram entre 1960 e 1970; coorte de mulheres casadas entre 1990 e 2000; coorte de vítimas do terremoto do Haiti; etc. Wikipédia

[2] Os citas eram um antigo povo Iraniano de pastores nómadas equestres que por toda a Antiguidade Clássica dominaram a estepe pôntico-cáspia, conhecida à época como Cítia. Na Antiguidade Tardia os sármatas, povo com o qual os citas tinham forte parentesco, acabaram por dominar a região. Wikipédia

[3] Sórbios ou sorábios (em alto sorábio: Serbja, em baixo sorábio: Serby) são um povo eslavo ocidental relativamente pequeno, vivendo como minoria na região conhecida como Lusácia nos estados alemães da Saxônia e Brandemburgo. Também são conhecidos como lusácios, wends, serbo-lusácios ou sérvios da Lusácia. Wikipédia

[4] A tabela 1 foi transposta para a forma de blocos subdivididos em itens para facilitar a leitura.